sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Recordar é viver

Andava a passear por perfis e páginas de amigos, na net,e encontrei fotos antigas.
Todas reflectem felicidade e amizade.
Decidi partilhar convosco:






bbbrrr. que medo



21 de Dezembro de 2008
Escrito no voo Sofia-»Munique

Não sei onde estou, não sei que horas são mas sei que estou borrada de medo.
O avião balança muito. Talvez porque estou no penúltimo lugar, junto à cauda.
À minha frente tenho uma foto deliciosa dos meus sobrinhos com a minha irmã e um livro que eles costumavam usar no banho. Tenho também uma fotografia com o Padre Cruz. Não sei bem quem foi mas o meu padrasto deu-me antes de partir para a MKD. Acho que ele também não é muito crente mas ás vezes é bom termos as nossas muletas espirituais. Quando a vida aperta conosco é bom chamar por alguém sobre o qual não sabemos muito. Sabemos apenas que nos vai confortar.
Esta noite não dormi muito bem.Estou esgotada. Quero descansar mas com este treme-treme do avião não consigo.
De verdade que sinto um certo fascínio pelo Leonardo da Vinci, sobretudo depois de ter visto pessoalmente algumas das suas obras mas ,por vezes,odeio-o por ter pensado nos aviões e odeio todos aqueles que sonharam e contribuiram para que o avião seja hoje um meio de transporte essencial.
Oxalá ninguém se tivesse lembrado desta maquineta. Em contrapartida o comboio, o meio de transporte mais charmoso e propício à socialização, teria sido desenvolvido e seria hoje o único rei entre os meios de transporte do planeta


(*o comandante do avião acabou de dizer que estamos a sobrevoar Budapeste)

Sónia em Sofia









































21 de Dezembro de 2008

Estou sentada num mercado coberto em Sofia, Bulgária.
Nesta cidade as fatias de pizza são enormes e custam menos de 2 BLG (cerca de 1€). São boas e reforçam a minha teoria de que as piores pizzas do mundo comem-se em Itália.
Gosto de Sofia. Confesso que o meu coração está dividido entre Sofia e Belgrado.Ambas são as cidades mais interessantes que visitei nos Balcãs.
A Bulgária tem caracterísiticas de um país em desenvolvimento. Entrou na União Europeia em 2007 e isso é visível no poder de compra: os carros, as lojas, as roupas, as obras públicas. Enfim, a confiança dos cidadãos. Desde 2007 sabem que nada de muito mau lhes poderá acontecer porque terão sempre o suporte da UE. Claro, um dia quando os campos estiverem desertos, quando a sociedade for predominantemente terciária (em prole da agricultura nos países ricos e fortes e da indústria implementada em países onde a mão-de-obra é barata)os búlgaros vão provar o fel da UE. Ainda assim acho preferível pertencer a esta grande união que nos protege com uma mão e nos empurra para o precipício com a outra. As vantagens sobrepõem-se e, talvez, a tão aguardada 1ª geração europeísta nunca sofra as consequências nefastas.
É interessante ver a evolução destes novos países-membros.Como se sabe é característica dos países em desenvolvimento a ostenção de bens materiais. Em Portugal também passámos por este processo, nos anos 80. Inicialmente não comprávamos porque não tínhamos dinheiro. Depois começámos a comprar mais porque tínhamos mais dinheiro. Quando começámos a ter ainda mais dinheiro, deixou de ser suficiente para os nossos hábitos de consumo e começamos a usar cartões de crédito. Agora já não usamos dinheiro porque estamos cerca de 115% endividados mas contínuamos a gastar, talvez até um pouco mais.
A grande diferença em relação a estes novos países reside no processo de adaptação ao mercado capital. Talvez porque a sociedade de massas fosse bastante mais humilde e naquela altura tínhamos como veículos de informação o rádio, a televisão e as revistas que chegavam de Espanha e traziam notícias com algumas semanas de atraso.
Lembro-me que quando era mais miuda (ainda sou miuda) tinha de escolher: se quisesse os ténis de marca tinha de me contentar com as Levis dos ciganos e as blusas do continente.Não existia a urgência de comprar que se verifica hoje.Agora a MTV, a internet não permitem atrasos. Aqui em Sofia não se vêm Zaras ou Bershkas. Não existe o meio-termo. As grandes avenidas estão recheadas de lojas caras como Miss Sixty, Calvin Klein, Stella McCartney, Lee Cooper e todo um cardápio de consumo topo de gama. Os búlgaros já não precisam esperar e tudo isto está espelhado nas ruas. As pessoas têm uma excelência aparência.
Não os invejo, nem os condeno. É tudo uma questão de auto-valorização. E de verdade que gosto de olhar para estes povos no Balcãs e vê-los sempre tão produzidos, como se estivessem sempre prontos para irem para uma festa de Sábado à noite. It´s evolution, baby!
Sofia é uma cidade lindíssima, com grandes monumentos e avenidas a perder de vista. Merece gente bonita, actualizada e com charme.
Nota-se que há Europa nesta cidade. Ao fim de 3 meses e 1 semana nem imaginam como é reconfortante encontrar "semelhantes sociais" e rever notas de Euro.
Dentro de 4 horas apanho os aviões para Lisboa. Estou ansiosa por namorar outra vez a minha cidade e ver o que mudou. Ver a evolução e comparar.
Não é pecado comparar. Quero que o mundo que tenho visto me torne uma portuguesa construtiva. Não somos melhores, nem piores, somos apenas diferentes. Temos a nossa cultura. Por vezes gostava que Portugal tivesse gerido melhor a oportunidade europeia porém encontro nos outros países mais ricos as mesmas dificuldades e a mesma dependência chocante do cartão de crédito.
No fundo não nos saímos assim tão mal e...todos gostam de nós.

Até já Portugal.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

"Soneto do Amor Total" a um louco, como eu!



















Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinicius de Moraes
Passaram 3 meses e 3 dias desde que cheguei a Macedonia.
Ultrapassados os dias de estar so (rejeito o termo solidao), o receio de me confrontar com o meu “eu” desconhecido, ter de gerir as minhas emocoes perante os outros, ter de comunicar sem ter outra hipostese , ter de confrontar-me com o meu lado mais timido e selectivo sinto que estou adaptada.
Nao sinto que faco parte da Macedonia porque, de verdade, nao faco mas sinto que a Macedonia ja faz parte de mim, para sempre. Sinto uma simpatia enorme por este povo de sorriso aberto e acolhedor.
Penso que nao e obrigatorio gostarmos de nos proprios todos os dias. Nao e vergonha dizer que vivo confrontos interiores na busca da minha auto-passividade. Por vezes odeio o espelho e a sociedade mas nao os culpo pelos meus desastres. Sinto agora maior simpatia por mim. Continuo sem compreender muitas coisas mas entendi que o tempo me vai ajudar a atingir os meus objectivos. Por exemplo, desisti de tentar decorar os rios, os vales, os lagos e as capitais dos 56 paises africanos. Tenho 25 anos. A esperanca media de vida para as mulheres da minha geracao esta fixada nos 81 anos . Tenho, portanto, 56 anos para aprender a geografia africana e tantas outras coisas que desejo aprender mas que nao consigo.
Descobri um prazer enorme em viajar e conhecer mundos. Todos os dias a minha lista de sitios a conhecer aumenta. Todos sao realizaveis. Talvez a Patagonia seja o destino que mais me preocupa pela nao-facilidade em conhecer quer pela distancia, quer pelos custos, quer pelo medo que tenho em andar de aviao.
Nao quero fazer balancos ao que ja vivi aqui. Provavelmente esta experiencia nunca me vai permitir quantificar os resultados. Sinto que o que aprendo aqui se vai prolongar por muitos anos alem do termino do projecto em Junho de 2009.
Agora vou regressar a Portugal. Quero ver a minha familia. Quero ver a minha cidade (em Bitola conheci uma americana que ja viajou por meio mundo. Disse-me que perante esse meio-mundo nunca conseguiu esquecer Lisboa).

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O Lago Ohrid e a Felicidade


















A água foi e será sempre uma inspiração para os seres humanos. Talvez por, segundo os cientistas, a vida Humana ter começado na água...Talvez porque a água nos transmite verdade, paz, terror, miséria. Enfim, sentimentos inerentes à condição humana.
Há alguns dias tive o privilegio de conhecer um sitio povoado de magia e História: o Lago Ohrid no Sul da Macedónia.
Para os Macedónios Ohrid é o Mundo. Falam dele como de um precioso tesouro. Talvez seja tendo em conta que a Macedónia não tem muitos pontos que atraiam turistas , excepto Ohrid e as pequenas vilas contíguas, que no Verão se enchem de gente de todos os cantos do mundo que vêm brindar a este pequeno grande paraíso. À parte a realidade turisitica, Ohrid é um lugar cheio de História. Chamam-lhe a "Pérola dos Balcãs". Foi lá que Saint Clement aperfeiçoou a escrita cirilica etc...
Quanto aquilo que vivi e senti.Quanto à magia do lugar e dos meus sentimentos confesso que tendo em conta todas as referências que tinha de Ohrid fiquei um pouco desiludida. Esperava uma grandiosidade fora de comum mas talvez seja apenas porque a minha grandiosa referência é o Oceano Atlântico... Contudo foi inspirador olhar para aquele Lago de águas límpidas, rodeado de montanhas cobertas de neve e ,ainda assim, sentir o sol de Inverno aquecer-me a pele, queimar-me as sardas no rosto, abrir-me um sorriso e encher-me a alma de alegria.É bom estar num sitio onde as águas ainda são claras-mesmo transparentes-ver barquinhos de madeira atracados a estacas artesanais,escarpas com pequenas casinhas, ruas pequeninas com pavimento provavelmente colocado na Era Otomana. Encontrar igrejas, Castelos e vestígios arqueológicos de um tempo que o meu cérebro não consegue alcançar pela quantidade de zeros.( as vezes dou-me conta que a Humanidade já existe há tanto tempo....).
Sentei-me no muro de uma dessas igrejas ortodoxas construídas em rochas que se debruçam sobre a agua do Lago(ver foto).Inspirei o ar fresco.Senti o vento e a energia. Algures nas montanhas do lado direito estava uma das fronteiras com a Albânia(um dos antipáticos vizinhos). Pensei na vida. Na situação privilegiada. Imaginei o futuro e não vislumbrei nada. Pensei que as vezes a vida é como o Lago Ohrid. As águas são aparentemente paradas mas no interior há sempre nascentes que trazem novo fôlego e que fazem com que o Lago seja tão límpido, transparente e fresco. Há sempre algo que acontece. Há 1 ano atrás estava a trabalhar no Serviço Pós-Venda da Worten. Era extremamente infeliz mas descobri tantas coisas sobre mim. Agora estou aqui tão longe dos que amo mas a aprender a amar outros. Talvez não torne a ver os amigos que aqui fiz mas serão sempre meus amigos. Sem eles não seria igual. Eles não sabem (talvez saibam) mas ajudam-me a entender aquilo que tenho e a aceitar aquilo que os outros têm. Às vezes choco-me, outras vezes emociono-me. Na maioria das vezes amo a herança cultural portuguesa.
Nestes dias em Ohrid vivi novamente momentos que me marcaram profundamente.
Aqui vivo numa espécie de Torre de Babel. Por vezes quase morro de prazer. Outras vezes assusto-me com as diferenças e a violência expressa nestas diferenças.
Claro que, perto do Lago, acompanhada ou só, a paz existe. Ou talvez nunca exista realmente. Ou talvez eu queira muito que ela exista. Falo agora da paz interior, ou seja, paz de espírito. Será possível alcançar a paz de espírito mesmo quando se é extremamente feliz?Silenciar, por segundos, os sonhos, as ambições, os medos, o sofrimento, as recordacões? E como se faz para se aprender a ser ainda mais feliz?E como se faz para fazer os outros felizes?E ainda mais felizes?
Percebi que nunca se vive totalmente em paz. Percebi que a felicidade é escolhida por nós sem influências astrológicas ou raio que o parta(ao Zodíaco).
Ora reparem, eu estava quase em cima do Lago Ohrid e não estava mesmo feliz. Pensei " E se o Lago fosse o meu Atlântico é que eu era mesmo feliz". Em Portugal passo meses sem ver o Oceano e sou feliz e sou infeliz. Significa que não preciso dele para ser mesmo feliz.
Portanto, concluo que a felicidade é comandada pela nossa vontade.
Assim, sugiro que sejam bons comandos e criem os vossos momentos de felicidade. Por exemplo eu sinto-me muito feliz quando sinto que estou viva. Sinto, sinto, sinto!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Sonia.fm













O que toca na minha Playlist:

-Dyer Maker-Led Zeppelin
-Time-Pink Floyd
-You could be mine- Guns N Roses
-Crazy Mary- Pearl Jam

-Menina dos Olhos d'Agua-Pedro Barroso
-Nao queiras saber de mim- Rui Veloso
-Alfama- Madredeus
-Os Buzios- Ana Moura

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Hoje fiz 1 amigo

Às vezes, no silêncio da noite eu fico a imaginar tantas coisas. Imagino muitos posts que vou escrever neste blog. A maioria das ideias nascem nas noites de sonhar acordada. Na primeira oportunidade sento-me num dos 1001 magníficos cafés-lounge de Skopje , peco um café ou chá turco-outras vezes peço um chá de tília porque me lembro da minha avó- e as palavras atropelam-se nas linhas do meu caderno amarelo e, mais tarde, no computador com teclado eslavo.
Às vezes risco e outras vezes improviso. Leio e releio. Se soa bem sigo em frente, se não, reescrevo, refaço ou, num impulso, publico como esta.
No inicio desta aventura tinha ideias novas de 5 em 5 minutos. A minha cabeça parecia uma fábrica de ideias.
Tudo era novidade: as caras, os hábitos, os cheiros, as cores, as tradições, os lugares, as cores. Algumas vezes precipitei-me na interpretação daquilo que via. Noutras acertei.Muitas das coisas que vejo, ainda que já não sejam novidade, continuam a ser novas para mim.(um dia, com mais tempo, falar-vos-ei dos problemas étnicos).
As ideias, a curiosidade ainda me assolam mas "hoje fiz 1 amigo e coisa mais preciosa no mundo não há".
Já não passo tempo sozinha e, se passo, é porque é a minha escolha.
Já não tenho tempo para ir à ginástica. Tenho sempre uma companhia agradável para petiscar algures. A minha barriga e o meu rabo estão a aumentar. Para o ano faço dieta! Agora quero aproveitar todos os momentos.
Os últimos 2 meses e meio passaram rápido. Já falo um bocadinho Macedónio, continuo a cruzar-me com amantes da língua portuguesa e o Inglês esta melhor.

O tempo urge. Vemo-nos em breve

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Chinese Democracy numa manha de nevoeiro


Um dia tinha de acontecer...
Aproveitem. Eu continuo sem palavras. Acho que estou outra vez apaixonada...
http://www.myspace.com/gunsnroses

sábado, 22 de novembro de 2008

Que beleza Mia Couto

Embora nao seja grande fa de Mia Couto quero que vejam uma cronica que ele escreveu para o jornal Savana, na semana passada. Quando crescer quero saber dizer estas coisas, desta maneira...

E se Obama fosse africano?


Por Mia Couto



Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?

1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).

5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.

Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Direito de Antena


















Ha dias disse-me um amigo, de quem gosto muitíssimo, que me acha ,ainda, muito ligada a Portugal.
Subscrevo a opinião desse amigo. Embora seja impossível dissolver a minha ligação ao meu país e cultura, nos dias que passei fora da Macedónia reflecti sobre este tópico e conclui que está na hora de aceitar e adaptar-me a esta gente, costumes e país. Será o melhor que posso e devo fazer por mim. Não há programas de gestão de saudades, não há servico de encomendas de emoções, não há milagres. A haver um milagre terá de ser empreendido por mim. Portanto, eis-me aqui, a 4000Km de Portugal, a felicitar o meu novo povo.
Este é o meu desejo. Talvez, antes da globalização dos Media, fosse fácil realizar- só assim encaro a forma como a minha familia e antepassados sobreviveram a longos periodos de emigração - porém estamos no seculo XXI. Todos os dias abro os jornais portugueses e delicio-me, ou nem tanto, com as noticias do meu país.
De Portugal, não me apraz saber que os Professores refutam a possibilidade de serem avaliados. Não sei o que os move contra a ideia de terem um sistema profissional como todos os outros. Porque deverão ser privilegiados? Oxalá, a avaliacão no sector público já se fizesse há muitos anos. Oxalá a avaliacao dos Professores fosse uma prática antiga.
Poderia ocupar-vos durante uma tarde com histórias de professores que fui conhecendo ao longo da minha vida académica. Alguns pecam por excesso de incompetência e outros, posso afirmar, que foi um prazer ser aluna deles. Todos eles mereciam ser avaliados. Talvez assim se fizessem conhecer as suas reais capacidades. Talvez nós, os alunos tantas vezes irracionais, os pudessemos valorizar como eles são na realidade.
Estou a lembrar-me do Professor de Matemática do 9º Ano, Arsénio Rosa. Não era mau professor. Decidimos tomá-lo de ponta e fizemos-lhe a vida num verdadeiro inferno.Por outro lado, o professor de EVT do 7º Ano, pedia que o tratássemos por tu. Todos gostávamos da postura dele. Era cool ir ás aulas. Ele, amigalhaco, lá ia passando a mão pela perna das alunas mais formosas.
Custa-me saber, que algures numa escola do Cacém, a óptima e amiga professora de Alemão, está entregue a turmas de selvagens incapazes de perceber que teem diante deles um ser maravilhoso dotado de competências pedagógicas e humanas.
Por outro lado penso nalguns dos professores que tive na Faculdade. Pergunto-me porque teem um lugar ao Sol. Que fizeram eles para merecerem pseudo-formarem, com tamanha arrogância, estudantes do Ensino Superior? Por vezes basta recuarmos 1 ou 2 gerações para percebermos que estamos perante “peixe graudo”…Assim foi o avô, assim foi o pai, assim será o filho…

Congratulo-me, pois, com a persistência dos estudantes. Embora muitas vezes “os crescidos” não entendam porque nos manifestamos, porque lutamos. Muitas vezes, nem nós, sabemos porque o fazemos (confesso que participei em muitas manifestacões de estudantes deitada na minha cama, a dormir profundamente e a aproveitar o dia de folga).
Para as vozes que se revoltam contra estes jovens que teem o sonho…de qualquer coisa…(mesmo que seja o sonho de experimentar ir para a rua fazer uma pequena revolucão, o sonho de atirar ovos contra a parede das escolas ou mesmo que seja o sonho de ficar a manhã na cama) lembrem-se que foi com revolucões, com a organizacão das massas, que as grandes e justas mudanças no Mundo se concretizaram:os Direitos dos trabalhadores na Era da Revolucão Industrial, as Sufragistas,o Maio de 1968, o bendito 25 de Abril, a formacão de Portugal em 1143 etc...etc...
A Educacão é um Direito e tambem um Dever. Parece-me que estes jovens se manisfestam pelos Direitos. E se é um Direito aprender tambem é um Direito aprender com qualidade.
O meu coracao está com a “new-geracao rasca” .

Para que nao me chamem pro-anarquista deixo-vos um link relativo a uma cronica de Ricardo Araujo Pereira,onde este expressa um ponto de vista diferente do meu
http://aeiou.visao.pt/Opiniao/ricardoaraujopereira/Pages/OovodaCSCristovaoColombo.aspx

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Jugoslavia bonita





"



































Jugoslavia bonita, filha da Europa, fronteiras malditas, que o odio devora, Sarajevo, Sarajevo" UHF


Esta curta viagem de 11 dias por alguns dos países Balcãs foi uma escola de vida!
Muitas coisas me impressionaram e mudaram alguma coisa dentro de mim. Espero que para sempre.
Sinto que levei um banho de Historia, de vida, de Humanidade.
Tenho tanto de que falar. Quero partilhar tudo o que observei sem falhar nada.
A primeira constatação de que estava fora do meu mundo confortável e conhecido ocorreu nas fronteiras terrestres. Todas elas.
Vêm policias com cara de maus, levam o nosso passaporte, voltam passado algum ou bastante tempo. As vezes levam alguém para revistar e interrogar " o que e que vais fazer?", "Onde moras?", Porque e que estas a entrar/sair deste pais?"
500M mais a frente, na outra fronteira,a historia repete-se: policias com cara de maus, passaportes,1 desgraçado que e revistado, tensão, tensão. E assim a vida segue fora do Espaço Schengen.
A seguinte e muito forte constatação de que estava fora do meu mundo de sempre ocorreu na bonita e sofrida Sarajevo.
Os edifícios antigos são lindíssimos. Alguns com influencia Otomana, outros com influencia AustroHungara porem, toda a cidade- e por todo o pais que vi- há marcas de guerra.Muitos, muitos buracos, buraquinhos e buracoes nas paredes, que espelham disparos, talvez intimidadores, talvez contra alguém que, por fim, morreu contra aquelas paredes.
Memoriais a civis que morreram em atentados. Montes a volta da cidade,mesmo perto,minados. Não podem, pois, ser usufruídos por todos.
Talvez para os habitantes da Bósnia e Herzegovina estas sejam marcas de um quotidiano que eles não querem esquecer. Simbolizam ódios seculares, que, por razoes históricas, insistem em perpetuar.
Para mim,portuguesa de um Portugal com mais de 800 anos de fronteiras fixas e mais de 150 anos sem guerra em território nacional, foi um choque.
Nunca tinha estado tão próxima de um cenário de evidencias de guerra. Parece-me, ate, que imaginei tudo aquilo. Olhava para os rostos dos mais velhos e pensava "Concerteza viveram tudo isto. Perderam familiares, quem sabe os filhos...".
Ainda na BosniaH, já de regresso a Servia, no meio do nada, o revisor percebeu que tinha apanhado o autocarro errado. Disse-me, numa língua estranha para mim, que teria de sair para apanhar o autocarro certo na Estacao Central. Estava sozinha. Entregue a minha capacidade de resistência e negociação. Comecei a chorar incontrolavelmente. Mostrei-lhe o Passaporte e fi-lo perceber que estava assustada. Não queria sair ali.Vendeu-me um bilhete por 39MK e olhou-me com ternura.Talvez tenha pensado nos filhos.
Quando passadas 5 horas de uma interminável viagem entrei na Servia suspirei de alivio e pensei "Aqui tenho um Sr.Embaixador que me vai defender".
Não posso deixar de me sentir grande por tudo o que vi. Oxalá, vocês em Portugal tivessem oportunidade de ver todos estes sinais de violência e multi-etnicidade.
Apercebi-me que nos, portugueses, criamos os nossos próprios problemas étnicos porque...não os temos.
Somos um fantástico pais que vive em Paz. Os Mirandenses nunca reclamaram Independência porque, calculo,sabe mesmo bem ser do pais do FADO. Ate o Alberto João Jardim, fala,fala,fala mas não o vemos a fazer nada. E bem melhor comer Bacalhau a Traz que Banana da Madeira a Bulhão Pato.
Perante tanta calmaria inventamos ódio aos pretos, aos brasileiros, aos espanhóis, aos ingleses, aos gregos (desde o Euro'2004).
Porque não canalizamos a nossa privilegiada situação para o entendimento da Historia de Portugal, do Mundo e dos portugueses com o Mundo?
Seria bom estudarmos Historia de África e percebermos que embora os africanos não sejam santos, nos dividimos-lhes a terra, a família e a Vida no maldito Mapa Cor-de-Rosa. Talvez devessemos sair de Africa, para sempre, e não usarmos mais a anti-pedagógica Ajuda Humanitária como desculpa para continuarmos a explora-los .
Aos 30% que desejam ser espanhóis sugiro que parem para pensar. Será que querem pertencer a um pais dividido em 7 ou 8 Identidades diferentes?Será que e bom viver com medo da ETA? E os 900E que eles recebem, em media?
Vale a pena vender a alma por isto? E como pensam gerir as Saudades?(se tiverem alguma estratégia comuniquem-me.Preciso muito.)

Não obstante todo este cenário pouco perfeito quero dizer-vos que não presenciei qualquer violência física nos Balcãs. Tudo o que vi são marcas de uma guerra que, enfim, acabou.
Conheci gente da Bósnia, da Herzegovina, da Servia. A maioria bastante agradáveis.E todo este tempo senti saudades da Macedónia. Começo a acha-los cada vez mais parecidos com "o meu Sul". Poleka, Poleka, que com o tempo isto vai la!!

domingo, 2 de novembro de 2008

O passeio a Belgrado






















Em 2007, aquando da minha estadia na Residência Universitária do Campo Grande, tive o enorme prazer de conhecer uma pessoa incrível:Lela Novakovic.
Tem 25 anos, nasceu em Montenegro e desde 2001 vive em Belgrado. Aconteceu apaixonar-se pela Língua Portuguesa, estuda-la e candidatar-se a uma bolsa do Instituto Camões.Ganhou. Claro!
Viveu 1 ano lectivo em Lisboa. Estou Língua e Cultura Portuguesa, na Faculdade de Letras.
Foi amante das ruas de Lisboa e amiga intima do Bairro mais Alto que os sonhos.
Hoje sabe bem o que significam as SAUDADES.
Revê-la foi, sem duvida,mais bonito que o Parlamento, as largas avenidas, o ambiente cosmopolita e urbano de Belgrado. Ouvir as suas gargalhadas, ver o brilho no olhar quando fala de Lisboa, de Portugal, dos portugueses e dos 10 tipos diferentes de homens portugueses(muito apreciáveis, segundo ela- e segundo mim, também-).
Deixo-vos um texto que ela escreveu para uma aula, em Lisboa.

Sei que não tiveste vida facil,Lisboa.Construiram-te destruiram-te e influenciaram-te muitos.E tiveste que te defender de muitos,dos mouros dos espanhois da peste,dos terramotos e dos portugueses.

E és forte.Parabéns.

E és bela ,cheiras bem,cheiras às castanhas assadas,ao nevoeiro.

Aos descobrimentos e,ao mar,ao medo à luz,cheiras aos mendigos do bairro e às lagrimas.

À felicidade.A criança inocente e à dama de companhia.

Lisboa menina e moça,com as calçadas molhadas e escorregadias,com as colinas fatigosas

com tejo e cristo e o maior coração do mundo.

Um canadiense disse-me uma vez que não entendia a admiração

das gentes por ti .Disse que eras velha mas ,ele é superficial.Não percebe.É tão facil apaixonar-se por ti.Tens um animo sempre vivo,um espirito encantador,uma vida cheia de emoções que sai de cada canto teu.brilhas ,cheiras ,choras e mimas.

E ainda mais ,deixas agente com saudades tuas quando ainda estamos perto de ti.


sábado, 1 de novembro de 2008

Beogrado:o prazer e todo meu!






Belgrado, Belgrado, Belgrado: Milo Mio

Vou ficar aqui para Sempre mas com uma condicao: nao se atrevem a dizer mal da miiiiinha Republica da Macedonia :)

http://www.youtube.com/watch?v=szoKZVKN_vQ

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Agenda Cultural





Portugueses e Portuguesas

Partilho agora convosco um dos eventos culturais dos quais, felizmente, fui vitima:

Monsieur Jacquet

http://uk.youtube.com/watch?v=bjdhL65WoYA

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O Amor a Portugal



A minha Pátria é a Língua Portuguesa

É
com estes famosos versos de Pessoa que vos dou a conhecer o surpreendente, também para mim, amor dos Macedónios a Portugal.
Comecei a escrever este post há mais de 1 semana porém faltam-me sempre as palavras para vos descrever o que tenho ouvido e visto.
São sentimentos de estupefacao e gratidão aqueles que sinto.
Imaginem a Faculdade de Filologia de Skopje,2 turmas de estudantes Macedónios cheios de vontade de aprender português. 1 Professora, cerca de 40 anos, que viveu no Brasil 1 ano e esteve apenas 2 vezes em Portugal, que tem a maior vontade de ensinar. Pelo meio 2 apresentações de 1 peça de teatro sobre a História de Portugal construída, em conjunto, por todos eles.Uma oferta colossal do Instituto Camões ao Departamento de Românicas da Faculdade(depois de muita persistência da Professora) e lotação esgotada nas aulas. Tudo isto em pouco mais de 1 ano.
Entretanto 1 jovem Macedónio,cerca de 30 anos,que gosta tanto de Portugal, embora nunca tenha visitado, que os amigos lhe chamam carinhosamente "Gustaf, o português". Insiste em tirar uma fotografia comigo e com a nossa bandeira. Este "português"não fala muito bem inglês portanto, mais uma vez, falamos a "Língua da boa-vontade". Entendemo-nos.
Também um Espanhol, actualmente a viver em Skopje, solicita a minha ajuda para aprender a "língua mais encantadora de todas"(palavras dele).Finalmente vai realizar um sonho: viver em Lisboa.
Pelo meio uma Moçambicana branca, cerca de 49 anos, casada com um Britânico. Viveu em 1001 países mas não abdica das ferias anuais em Portugal. As filhas, 11 e 15 anos, falam português fluentemente.
Também uma Professora de Inglês, bastante jovem, que há alguns anos decidiu estudar português numa escola particular. Está feliz porque finalmente conheceu alguém de Portugal. Também um australiano que, sabe-se la porquê, sabe falar português e sente um fraquinho pela nossa língua.
Sinto-me atraída por todos eles. Admiro-os. Perco-me em sorrisos de admiração e muitos "o prazer é todo meu" quando me dizem " que prazer que é conecer você. Eu goxto multo de Madredeus"
Sem saberem, estes seres deveras interessantes, ajudam-me a empreender o meu projecto pessoal: amar a Lusofonia, divulga-la e torná-la um projecto do MUNDO.
Aqui tão longe do abraço português é tão claro que "esta tristeza que trago foi de vós que a recebi".
Sou portuguesa. Concerteza!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Saudades disto tudo

















"Conchita Cintron eu hoje estou chicharreiro como dizem os alentejanos e apetece-me verdadeiramente falar contigo..."Papá Lopes

MARGEM SUL (CANÇÃO PATULEIA)

Ó Alentejo dos pobres,
reino da desolação,
não sirvas quem te despreza,
é tua a tua nação.

Não vás a terras alheias
lançar sementes de morte.
É na terra do teu pão
que se joga a tua sorte.

Terra sangrenta de Serpa,
terra morena de Moura,
vilas de angústia em botão,
doce raiva em Baleizão.

Ó margem esquerda do Verão
mais quente de Portugal,
margem esquerda deste amor
feito de fome e de sal.

A foice dos teus ceifeiros
trago no peito gravada,
ó minha terra morena
como bandeira sonhada.

Terra sangrenta de Serpa,
terra morena de Moura,
vilas de angústia em botão,
doce raiva em Baleizão.

Poema: Urbano Tavares Rodrigues
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira
(in "Margem Sul", Orfeu, 1967; "Obra Completa", Movieplay, 1994)


Sugiro leitura dos livros do Dr.Bento Caldeira, Edicoes Colibri

sábado, 11 de outubro de 2008

Pergunto ao vento que passa noticias do meu País

"Posso escrever os versos mais tristes esta noite..." Neruda


Quando acedi aos sites dos jornais portugueses não queria acreditar. À noite, quando vi na Euronews, o meu mundo de crenças no socialismo ruíu.
Não deixa de ser irónico que, no mesmo dia em que foi anunciado o Prémio Nobel da Paz 2008, a maioria dos deputados na Assembleia da República Portuguesa, votaram contra o casamento entre Homossexuais ( a ironia aumenta se tivermos em consideração que no mesmo dia o julgamento da Fátima Felgueiras, a puta chique do momento, foi adiado...O saco que é azul vai perder a cor de tanto esperar pela justiça)
Não pude conter lágrimas de revolta. Como podem injuriar os Homossexuais desta maneira?Que direito teem os deputados de segregar-lhes o amor ?
Aqueles que teem mais preguiça de pensar (Para quê pensar?dá tanto trabalho...) defendem que o casamento existe para ser consomado entre pessoas do mesmo sexo porque o objectivo final é a procriação.
Assumo-me como Heterossexual.Assumo que coloco a hipótese de não ter filhos. Deverei, por isto, colocar de parte a hipótese de casar com o meu namorado?
Os pseudo-conservadores vão mais longe e, além de excluírem a possibilidade dos Homossexuais casarem, excluem totalmente a hipótese destes adoptarem filhos sob a índole preconceituosa de que a maioria dos pedófilos são homossexuais.
Como se sabe os pedófilos são pessoas doentes, que não merecem o nosso respeito, ponto final. Se bem me lembro há casos bastantes conhecidos de pedofilia heterossexual, ou seja, homens que violam meninas e mulheres que violam meninos.
O problema da adopção por casais do mesmo sexo
está em nós, não está neles. Somos nós que vamos dizer "olha, lá vai o Joãozinho, filho dos maricas do 2C. Não quero que o meu Pedrinho brinque com ele..."
A paternidade é tão só uma questão de AMOR. Não passa por fertilidade. Se assim fosse deveríamos segregar os estéreis. Deveríamos debater o seu futuro em Assembleia de Republica.
Desde que cheguei à Macedónia convivo diariamente com um casal homossexual. São felizes. São simpáticos. São meus amigos. São normais.
Quanto à fisiologia, tal como nós, 70% do corpo é composto por água e, tal como nós, precisam ingerir 5 doses de fruta e 3 porções de legumes, por dia, para serem saudáveis.
O sangue deles é vermelho e quando estão constipados fazem "atchim". Tudo me leva a crer que são Seres Humanos. Felizmente, um deles é Espanhol portanto quando se sentirem preparados podem casar-se e ter uma vida normal. É o mais justo tendo em conta que pagam tanto de IVA como nós.
A situação dos Homossexuais em Portugal recorda-me Penelope de Homero esperando pelo seu amor Ulisses enquanto, à revelia de todos, desmanchava a tapeçaria durante a noite.
Assim estão eles, esperando que os deputados desfaçam a tapeçaria da demagogia e entendam finalmente que vivemos numa Democracia.
Penelope esperou 20 anos. Quantos anos terão de esperar estes homens e mulheres?

Mais uma vez reitero a minha confiança, admiração e respeito pelo Manuel Alegre. Provavelmente ele é o meu ultimo ídolo vivo. Mais uma vez reitero a minha crença na Esquerda politica. Poderão trazer-me exemplos de regimes opressores. Dir-vos-ei que a Esquerda estará sempre mais próxima dos Seres Humanos.

SHOW MUST GO ON

Façam copy paste:

http://blitz.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=bz.stories/34042


( foto tirada no Rock in Rio 2006)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Auto-suficiencia



"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes
mas não esqueço que a minha vida é a maior empresa do mundo.E que posso evitar que ela vá à falência.Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios.Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e tornar-se autor da própria história.É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da alma.É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não".É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.Pedras no caminho? Guardo-as todas, um dia vou construir um castelo... "

Fernando Pessoa

My hips dont lie


Quase tudo corre bem por aqui. Já tenho 2 reportagens para fazer ( talvez uma seja capa na Edição de Dezembro). Sinto-me mais ocupada. Finalmente descobri um ginásio para fazer Aeróbica, 7 vezes por semana, apenas 1000Denares. As aulas serão dadas no ginásio de uma escola Secundaria. Aqui e normal as escolas alugarem espaços e entidades privadas. Penso que e uma excelente forma de auferirem rendimentos sem, no entanto, desresponsabilizarem o Estado pelo Sector Publico.
Assisti a uma aula e a professora tem uma assistente, ou seja, uma sombra que faz tudo o que ela faz. Confesso que não percebi muito bem para que serve esta assistente. Talvez apenas para confundir as alunas! Ainda não por cima não dança nada bem e e esquelética. Alias, as mulheres aqui são muito bonitas, elegantes mas tem um problema gravíssimo: não tem rabo. Mesmo assim, eles e elas, gostam de apregoar que são povos do Sul. Talvez sejam de um Sul diferente do meu. No meu Sul as mulheres tem ancas e rabos proeminentes e tem orgulho disso porque simbolizam a herança genética de um tempo em que as mulheres eram usadas como objectos reprodutores. No meu Sul as pessoas tocam-se, cumprimentam-se com 2 beijos. Falam mal da politica, dos policias e dizem que a juventude esta perdida.
Apesar destas diferenças entre diferentes "sules" (loci= local de enunciação) continuo a acha-los simpatiquissimos e de sorriso aberto (apenas o sorriso, não o abraço).
No Sábado visitei a Dr. Hanna. Disse-me que tenho sinusite e receitou-me antibióticos. Estou feliz. Ha mais de 1 semana que tenho dificuldades em respirar e dormir. Sonho com o dia em que vou voltar a cheirar e a sentir o sabor dos alimentos.
De Portugal não tenho boas noticias. O meu tio Augusto esta doente. Ternura e Amizade são duas palavras-chave para o descrever. Há cerca de 10 anos teve um AVC que lhe roubou a capacidade de falar e alguns dos movimentos. Disseram-lhe que ficaria invalido. Com muita forca de vontade contrariou todos os cenários negros que lhe diagnosticaram. Actualmente, não e independente mas e autónomo. Não fala mas imite sons muito perceptíveis porque lhe saem do coração.

Deixo-vos 1 foto antiga de mulheres da minha família (a minha avo esta no meio). Sempre foram a forca-motriz mas nem sempre foram convenientemente tratadas. Tiveram muitos filhos, enviaram-nos para a Guerra, trabalharam muito. Sofreram. Algumas suspiraram de alivio quando os maridos morreram. Finalmente podiam saborear o sol da vida. Ainda assim há historias bonitas que mais tarde vos contarei...

Pheretima Hawayana


Não há só coisas boas a acontecerem por aqui.
Apesar da simpatia extrema de todos, de ser um pais civilizado,de todas as crianças irem escola (há imensas escolas na cidade), há muitos aspectos que requerem atenção urgente.
Se a Republica da Macedónia não tivesse o tal diferendo diplomático com a Grécia possivelmente seria um excelente candidato a entrada na União Europeia.
porem desde a total inexistência de Ecopontos em Skopje (talvez em todo o pais), não utilização de capacetes e cintos de segurança, passando pela ausência de infraestruturas para deficientes físicos, há uma serie de aspectos que deverão ser revistos porque comprometem Direitos Humanos e Desenvolvimento Ambiental.
O que vos vou contar de seguida compromete seriamente a saúde publica. Por todo o lado há cafés e tasquinhas com um aspecto andrajoso. Da ideia que algumas pessoas acordam de manha e pensam "tenho ali o meu quintalinho. Ponho la umas mesas, uso a minha velha frigideira com óleo acumulado por mais de 30 anos e abro o meu estabelecimento publico". A Tasca do Largo da Misericórdia, em Lisboa, ao pé de alguns destes estabelecimentos parece o Palácio de Cristal. Os funcionários da Asae aqui entravam em depressão.
Apesar destas contrariedades tenho sempre ouvido uma voz na minha cabeça a dizer "come e cala-te que e barato.não penses, não penses" porem há dias aconteceu algo que mesmo adoptando uma postura acéfala considero inadmissível: estava uma minhoca transparente na minha salada xopska e, por 5 segundos,não foi parar ao meu estômago. Decidi alertar o funcionário. Ajudou-me a controlar o nojo e no fim não paguei.
Aprendi a lição e a partir de hoje vou voltar a pensar enquanto como porque...só vou comer em casa!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O outono em Portugal


















O Outono é a minha estação do ano preferida. Recorda-me o início das aulas, as composições, e as aulas de EVT sobre observação do meio natural. Traz-me o conforto da família, da sopa quente e das pantufas de lã.Viver o Outono noutro pais é um privilégio. Aqui também existem arvores a ficarem despidas e também existe um rio: o Rio Vardar. É óptimo passear pelas suas margens, ouvir o curso da água e sentir o Outono a chegar devagarinho. Primeiro é só uma brisa, depois o pescoço frio, um arrepio e finalmente o cachecol.Ao final da tarde, quando o corpo pede, volto para casa. Não tenho a minha espera a família nem as pantufas. É duro! E também não tenho Lisboa e o Tejo com as gaivotas e os cacilheiros. A calçada escorregadia e cheia de buracos inimigos dos tornozelos.O homem das castanhas e aquele fumo absurdo que é sempre bom atravessar. Provavelmente é o único fumo agradável neste mundo. Que inveja de vocês!Não vos peço que matem o Outono em Portugal mas se poderem roubar um bocadinho do seu perfume, metê-lo num frasco e enviar-me para aqui...
(Cliquem no titulo)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Estava novamente enganada. Voltei a Txartxia sozinha (precisava comprar 1 pente, 1 espelho, 2 cadernos=70Den) e, finalmente, tentaram enganar-me. Numa banca um homem pediu-me 500Den por um rádio de plástico daqueles do chinês que custara no máximo 100den. Almocei um hambúrguer gigante e uma salada só por 110 Den e depois fui a "Cidade Universitária". O porteiro era diferente de todos os que vi até agora. Imaginem um homem gordo, com cerca de 30 anos, de fato de treino e sapatos pretos, pés em cima da secretária, musica rock aos altos berros e um pau a acompanhar os solos de guitarra. Sublime! Apeteceu-me abraça-lo pela peculiaridade. Foi impossível não pensar no porteiro do Liceu de Queluz. Um homem irascível a quem nos, pelas costas, chamávamos " Vesgo" ou "Coxo" ou simplesmente " parvalhão do ca#@!". Na Faculdade de Letras, (não e o nome real) conheci um anarquista, estudante de Filosofia, chamado Damian. Ajudou-me a encontrar o Departamento de Românicas (vou conhecer a professora de português em Outubro) e disse-me que conhecia Portugal por causa do Boom Festival, em Castelo Branco. Falou muito contra a Globalização e Capitalismo. Quando lhe expliquei que todas as minhas roupas estão preparadas para o clima Mediterrânico e, que por isso, morro de frio ele sugeriu-me imediatamente o "Rammstore Hall",o maior e mais internacional shopping de Skopje. Espero não ferir susceptibilidades mas, na minha opinião, os anarquistas são pessoas que usam o anarquismo como desculpa para não trabalharem e para não tomarem banho. Uma sociedade anárquica e uma sociedade injusta onde impera a lei do mais forte/desenrascado. Numa Democracia podemos expressar-nos, embora na maioria das vezes ninguém no ouça, mas existe uma ordem social. O problema não esta na Democracia mas no uso que fazemos dela: o chico-espertismo. Se todos cumprirmos com a nossa parte a Democracia chega para todos. E desta vez recuso a etiqueta de Utópica, sonhadora e iludida.
Oxalá não tivesse deixado em Portugal o portátil e o cabo da máquina digital. Há tantas coisas interessantes que gostaria de fotografar para vos mostrar

Macedonia n' Roses




Estava enganada! Na mesma noite voltei aquele lado da cidade, Txartxia, para me divertir com novos amigos num Festival da Cerveja. Assistimos a um concerto de uma velha banda rock, os Vlada Divljan( comparavel aos UHF ou Xutos). Conheci um tipo divertido do Partido Comunista. Disse-me que, apesar dos pais estar a ser governado pelo partido de direita, em Skopje (onde reside 40% da população) a maioria das pessoas são de Esquerda portanto os Comunistas não se sentem perseguidos. Combinamos ir juntos a uma festa do PC e pedi-lhe que me mostrasse também a festa de um partido de Direita. Disse-me que sim mas, cá entre nos, duvido que o faca!
Antes dos Festival da Cerveja tinha estado num bar de musica rock: 4Non Blondes Pink Floyd,The Cranberries e....Guns n' Roses. Definitivamente sinto-me quase em casa.
Uma das coisas que mais estou a apreciar e a inexistência de tensão sexual. Todos os dias se conhecem novas pessoas mas ninguém faz olhinhos a ninguém. E fantástico porque a comunicação flui mais livre.
No Sábado fomos caminhar pela montanha em frente a nossa casa. Confesso que foi duro. Para cima custou muito. Para baixo estávamos sempre a rebolar e a "dançar sevilhanas" mas do cimo da Montanha a vista era perfeita. Via-se toda a Área Metropolitana de Skopje e,mesmo em frente, a fronteira natural com o Kosovo. Depois desta aventura radical caminhei 40 minutos ate ao centro da cidade. Estava tão esfomeada e cansada que entrei na primeira pastelaria que encontrei. Pedi 1 pacote de leite com chocolate e um bolo semelhante as nossas Bolas de Berlim mas com chocolate por dentro e por fora. O bolo era tão grande que a empregada deu-me um garfo e uma faca. Pensei:" que mariquice, onde já se viu comer 1 bola de Berlim desta maneira?" e comecei a comer com as mãos. Só depois de ter terminado e ter chocolate do nariz ao queixo e em todos os dedos percebi que eles não põem guardanapos de papel nas mesas!
A parte algumas coisas menos positivas como a poluição e algumas preocupacoes sociais que tenho como a discrepância entre ordenados médios e preços de bens essências,gosto da maneira simpática dos macedónios. Todos eles, velhos e novos, sabem falar Inglês e estão sempre disponíveis para nos ajudar. Nunca me senti enganada com os trocos e nem senti que me cobram outros preços porque sou estrangeira. Acreditem, sinto-me tão ocupada que, desde que cheguei, nunca mais roí as unhas!
Vemo-nos no meu próximo passeio.

http://www.youtube.com/watch?v=CPxraOqthho (a banda que actuou no Festival de Cerveja)

http://www.youtube.com/watch?v=oobDQ0vdm8M (nunca e demais recordar)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A primeira, a segunda e a bilionésima impressao



Quarta à noite tive a minha primeira saída nocturna. Fomos a um bar de música latina. Têm as mesmas músicas que os bares portugueses "movimento sexy" e a do touro enamorado por la luna!
Conheci tanta gente internacional: franceses, espanhóis, italianos,macedónios, romenos. Alguns sao voluntários nalguma coisa outros estudam ou trabalham em organismos públicos e privados.
Talvez um dia destes o Embaixador de Espanha ou alguns funcionários venham cá a casa. Aqui o meio social é tao pequeno que este tipo de informalidades acontecem com naturalidade.
Falei com um belga, Professor de Francês na Universidade de Skopje,que me contou que costuma ver o Embaixador da Bèlgica em conferências formais, com gravata e postura de grande respeito. Há dias entrou num Pub, aqui em Skopje, e o respeitável Embaixador estava tao bêbedo e feliz que ele próprio distribuía as cervejas pela "malta"!
Apresentaram-me,em inglês, uma francesa chamada Beatriz. De repente, em português do Brasil perfeito, disse-me "Entao, vamos falar em português?". Fiquei tao feliz que nao resisti a um gritinho e a um pulinho de felicidade. Demos um abraço de irmandade. A Beatriz esteve no Brasil há 4 anos a fazer voluntariado e, ficou tao encantada, que quando voltou para França decidiu fazer uma Licenciatura em Português. Adora Eça de Queirós e Lobo Antunes.
Fomos para casa de tàxi por volta da meia-noite, depois dos bares fecharem. Aqui podemos chamar os táxis com o dedo como em Nova York. Aliás, nao me lembro de ter visto uma Praça de Táxis.
Quando chegámos à praçinha perto da minha casa a mercearia ainda estava aberta e comprei uma beringela lindìssima e gigante por 20 Denares.
Ontem foi o meu primeiro dia sózinha na cidade. Estava muito ansiosa por atravessar a velha ponte e conhecer o lado albanês-mulçumano (eu vivo do lado ortodoxo).
Quando cheguei ao outro lado senti imediatamente diferença na arquitectura dos edifìcios e na fisionomia dos transeuntes. Nao tinha mapa comigo portanto decidi caminhar sem destino e, simplesmente, sentir as ruas. Automáticamente senti a agressividade e falta de classe com que os homens mulçumanos olham as mulheres ocidentais.
Comprei um gelado óptimo (só 10 denares) e fui ter a um mercado central com tudo e mais alguma coisa, talvez comparável com a Praça de Espanha, em Lisboa.
Caminhei, caminhei, caminhei e de repente estava perdida no meio do mercado, em ruas estreitas, numa espécie de medina. Nao encontrava a saída para as ruas.
Ali, no meio das bancas com trajes femininos mulçumanos, sózinha e insultada pelo olhar daqueles homens e mulheres cobertas com lenços, senti uma fragilidade muito grande.
Encontrei a saída e apressei-me a caminhar para o meu lado da cidade.
No meu primeiro dia na Macedónia disseram-me para nao ter medo porque podemos andar a qualquer hora na rua porque ninguém rouba ninguém. Em casa, as nossas portas estao sempre abertas. De facto sente-se uma segurança incrível porém, admito que possa estar a ser preconceituosa, mas hoje senti um nervosísmo incómodo quando estive naquele lado da cidade. Provavelmente, enquanto me lembrar desta sensaçao, nao volto lá sózinha.

(fotos da ponte velha e das ruas da cidade velha)

Sónia com pânico de voar: Round 1

Entrei para o aviao da companhia Mat Airlines pelas 11horas, de 15 de Setembro. Quase nao tinha espaco para mexer as pernas e o meu lugar nao tinha janelas. Pensei todo o tempo "se isto cair nem sei as coordenadas da minha morte"
Nunca consegui perceber porque e que os comandantes dos avioes falam. Normalmente nao se percebe o que dizem. No meio deste vôo o comandante disse qualquer coisa como "Tal como vos prometi no início da viagem vamos falar mais um pouco sobre a História dos Balcas"!
Também nao consigo perceber porque é que as hospedeiras têm sempre um sorriso tao standard(desculpa Sara). O meu sonho é encontrar uma hospedeira antipática, com nenhum sorriso para oferecer.
Cerca das 12h30 comecámos a sobrevoar a Macedonia.Vista de cima é ainda mais verde,montanhosa e bonita. Comecei a pensar que sou totalmente louca por vir viver para este fim do mundo. Por outro lado senti orgulho em mim pela minha coragem de aceitar este modo de vida tao diferente.
Agora, 4 dias depois, vejo que tudo e muito diferente-as ruas, o transito, as casas, as leis-mas mais do que nunca tenho a certeza que fiz a escolha certa. Escolhi o país mais pobre da Europa para viver mas sinto um enorme privilégio por estar aqui.
Acreditem que esta Europa é muito diferente da que estamos habituados. A ordem social das coisas é totalmente diferente.

Sónia com medo de voar: Round 0

A aventura comecou num check-in com 26,5 kg. Perante o olhar curioso de turistas e transeuntes tive de deixar com a minha mae as minhas sabrinas, os meus livros do Saramago e Dr.Bento Caldeira e , pior que tudo isto, os meus cremes e produtos de beleza. Para me auto-compensar desta tragédia coloquei na bagagem de mao um sabonete Nìvea. Quando passei pelos segurancas, nos dois aeroportos, pedira-me para revistar a bagagem porque havia um objecto nao identificado através do RaioX. Tive de tirar novamente cuecas, cds, peúgas dos meus sobrinhos até chegar ao maldito sabonete.
Mais tarde, já dentro do aviao, sentada do lado da janela, fiquei bloqueada por um casal ariano e feio. Como as minhas pastilhas estavam perdidas na minha bagagem e , preciso delas para os ouvidos nao estalarem, perguntei-lhes, em inglês, se tinham uma pastilha para mim. Olharam para mim com um ar indiferente e disseram que nao. Senti-me uma verdadeira freak!Através da janela do aviao, despedi-me de Portugal, cheio de luzinhas nocturnas e percebi que este foi apenas o meu primeiro obstáculo cultural. Se tivesse pedido uma pastilha a um português, ser-me-ia oferecido o pacote e ainda ouvia a historia da compra "sabe menina, eu tenho um primo, que tem um vizinho, que é casado com a irma do tio de um tipo que trabalha na fábrica das pastilhas. Tenho lá em casa um armário cheio, até ao tecto, de pastilhas"
Como o vôo foi durante a madrugada, muitas pessoas aproveitaram para dormir. Ressonaram, tiraram os sapatos etc...(entendem-me)Quando aterrámos em Viena descobri que a minha mala cor-de-rosa estava toda suja e molhada!Fiquei 5horas no aeroporto de Viena com uma ex-mala bonita. Durante este tempo consegui perceber que eles sao muito trabalhadores e stressados. Era de madrugada e havia um movimento incrível de engravatados. Corriam de um lado para o outro com pequenos trolleys e sempre a olhar para o relogio.



To be continue...

sábado, 13 de setembro de 2008

Encantada


Este é o ultimo fim-de-semana que respiro o ar de Portugal em 2008. Estarei de volta daqui a alguns meses. Levo comigo ilusões, receios, expectativas e um desejo sem fim de partilhar com o mundo a minha herança cultural: a Lusófonia.
Quero que todos conheçam os autores da Presença e os génios do intervencionismo: Ary, Gedeão e Sophia. Quero que todas as mulheres se deslumbrem com Vinicius e Eugénio d´Andrade e que todos se percam na doçura das mornas cabo-verdianas e na vida do Sr.Napumoceno da Silva Araújo. Quero que o Pepetela mude a vida de alguém como fez comigo. Quero conseguir falar da paixão do Professor Horta. Conseguirei descrever a emoção que a Odete Santos (mulher) transmite quando declama Calçada de Carriche?E o cheiro do Bacalhau a Bráz?O sabor da Ginja de Óbidos?
Levo tanta força comigo, um grande sorriso e um bocadinho de vocês dentro de mim.

Por favor cliquem no link e ouçam a música que escolhi para vos dizer ATÉ JÁ

http://www.youtube.com/watch?v=oZaEKpz7FkQ&feature=related
(Na foto: Inês, Cátia, Natacha, Sónia, Marta, Filipa, na Rua da Trindade em Lisboa,na semana passada)

domingo, 7 de setembro de 2008

Top disto, Top daquilo....


Todos temos as nossas manias e peculiaridades que fazem de nós seres individuais.
Há dias reparei numa peculiaridade minha, que se repete há anos e me leva a crer que já se trata de um vício: sou capaz de ficar dias inteiros sentada no sofá a ver tops. Top dos 100 melhores rifs, top das 100 piores músicas, top das casas mais caras do mundo, top das melhores vozes de sempre. Lembro-me que em criança já era assim. Ao Domingo nunca queria sair de casa para poder ver o TOP+ (ainda apresentado pela Catarina Furtado muito jovem e por um gadelhudo da rádio).
O melhor deste vício é a oportunidade de rever clássicos sempre agradáveis e nostálgicos (Ugly Kid Joe, The Beatles, 2Unlimited) e de sonhar com casas que nunca serão minhas enquanto reponho o stock de Donuts no organismo. O pior é que tenho sempre de rever clássicos aborrecidos como Boyzone, Celine Dion e Nirvana (não há pachorra!).
Esta questão do vício dos tops levou-me a reflectir sobre outra questão mais profunda e sensível: a necessidade de termos ídolos.
Todos nós, nalguma altura da nossa vida, almejamos ser alguém que, estupidamente, consideramos ser melhor que nós. Essa figura até poderia ser Deus porém somos demasiado mundanos e pecadores para desejarmos ser como Ele. Voltamo-nos para Ele apenas nas horas de aflição porque nas horas de descontracção procuramos pessoas reais, que nos façam sonhar acordados.
Assim, deixo-vos aqui o meu top5 (ordenado aleatóriamente) de pessoas que considero imprescindíveis na minha lista de ídolos (se quiserem enviem-me os vossos tops para debatermos):
1- Combatentes em guerras, opositores de regimes ditatoriais e seus familiares: pelas horas de solidão. (Leiam os relatos dos clandestinos do PCP durante o Estado Novo);
2-Jesus Cristo e Ghandi: ao contrário de Deus, uma figura exclusivamente espiritual, eles foram humanos como nós e resistiram a todas as hostilidades (excepto à morte) com um sorriso de tolerância nos lábios;
3-Ao feminismo e à feminilidade: são tão importantes as mulheres que recusam as convenções sociais como as que as aceitam em prol da crença na Família como pilar-base de uma sociedade equilibrada. Infelizmente, algumas ainda são traídas pela sociedade-lobo com pele de cordeiro mas o Equilíbrio e a Igualdade hão-de chegar a todas;
4-Aos intelectuais que só falam, falam, falam e não produzem nada: a eles se deve a oposição à ordem social previamente estabelecida;
5-Às crianças: são elas o futuro. É para elas que devemos canalizar as nossas melhores inspirações. Um dia serão cidadãos activos e farão como viram fazer.
6- Decidi improvisar esta alínea no top porque não posso deixar de contemplar o Trifene200. Obrigada por todos os momentos de alívio. Vales mesmo a pena!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Super-Sónica

Já tenho as reservas dos vôos para a Macedónia.
Este não será concerteza o primeiro dia do resto da minha vida porque tenho a minha Identidade assente em experiências únicas-por vezes boas, por vezes más-mas será certamente um presente (por vezes envenenado) que irá contribuir mais um pouco para a conquista do meu espaço no mundo real e o melhor de tudo: é totalmente patrocinado pela União Europeia!
Acredito profundamente na Multiculturalidade, num mundo sem fronteiras, com iguais oportunidades para todos. "You may say that I'm a dreamer But I'm not the only one I hope someday you'll join us And the world will be as one .."
A vida é tão breve , simples e bela e,em respeito a esta crença, tento sempre ter o máximo de experiências genuínas. Tenho feito opções que primeiramente me dão muito prazer.
Talvez esta seja apenas uma forma de fugir à realidade das "nove às cinco" mas quando se está num aeroporto estranho, com companheiros de viagem desconhecidos até há poucos dias, com as bagagens perdidas há mais de 4 horas e encontramos espírito para brincar com o cheiro da "alma" podre do caldo-verde sem termos vontade de esmurrar o homem do guiché é porque somos pessoas inteligentes com um enorme sentido de humor e a nossa mente não tem fronteiras.
Dedico este texto aos meus colegas de Estudos Africanos (contra tudo e contra todos), à Solange Tchuda, Paula Leite,à Célia Miguel pela incansável busca do prazer no trabalho, ao Manuel Tibério pelos intercâmbios feitos nas férias em lugar da corrida ao Algarve, ao Diogo (tu sabes que no fundo eu entendo essa indecisão entre ser o homem da mochila às costas ou o Yuppie com poder de compra)

Deixo-vos este presente de todas as cores:


quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Uma imagem vale mais que mil palavras


E esta vale mais que 1000€ e serve como resposta a todos aqueles que me perguntam como me sinto a poucos dias de ir para a Macedónia...
Obrigada pela vossa amizade

A vós me confesso Senhores


















Caros Leitores
Depois de 3 posts parece-me que este é o momento de partilhar convosco os meus maiores pecados mortais.
Depois de puxar pela memória (já são 25 ináuditos anos) ocorreu-me que o maior pecado seriam as traquinices da adolescência.
Haverá algo pior que chamar pizzas e táxis para a vizinha mais coscuvilheira só para a ouvir dizer" Alguém me anda a tramar, logo a mim que sou tão séria e tenho tanto juízo", ou colocar açucar no tapete de outra vizinha ao ponto de ela ter pensado que que se tratava de bruxarias e outras superstições do Diabo.
Recentemente encontrei na Estação de Santa Apolónia um telemóvel 3G, Samsung E880. Estava com pouca bateria por isso decidi, cheia de remorsos, acelerar o processo de descarregamento e desliguei-o. Tenho procurado, em vão, em todas as casas da especialidade um carregador compatível.Não encontro.Bem feita para mim!
Poderia continuar a minha epopeia de pecados e falar-vos de episódios relacionados com Gula(tenho muitos) mas o momento pecaminoso que mais me perturba a mente e corrói a consciência há alguns anos chama-se "velha aldeia da luz" e foi provocado pela mais vil Avareza.
Aconteceu assim: poucas semanas antes da velha Aldeia da Luz-Baixo Alentejo ter sido cruelmente engolida pela águas do Guadiana fui visitá-la.
Era final de tarde de um Inverno assassíno. A aldeia, outrora com vida, parecia deserta e fantasmagórica. Sabia, por ter ouvido na comunicação social, que ainda a habitavam 2 ou 3 famílias mais retinentes em abandonar memórias.
Reparei numa casa com luzes acessas e na proeminente roseira do quintal da frente que ostentava 3 lindíssimas rosas vermelhas. Decidi ROUBAR 1 delas. Queria o meu souvenir. Algum tempo depois, já na Azambuja, a rosa murchou.
Até hoje essa má atitude permanece na minha mente como uma faísca quente e ansiosa. Oxalá eu lhes pudesse devolver a memória que se perdeu na voragem do tempo e nas águas do rio.
O povo alentejano, o mais puro e lutador de Portugal, já passou por tantas provações ao longo da História. Depois do país lhes roubar a Identidade e afogar o passado que direito tinha eu de lhes roubar aquela rosa, cor de Paixão?
(nota:a imagem mostra a aldeia da Luz a ficar submersa)

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Aguarde um momento por favor....Muito Obrigada por ter aguardado


Ouvi nas notícias que será inaugurado pela PT, um call-center em Santo Tirso que dará emprego a 1200 trabalhadores,que tenham no mínimo o 12º Ano.
Não gosto de me comportar como o Velho do Restelo . Defendo que devemos enaltecer- primária e primeiramente- as qualidades e só depois as menos qualidades, as assim-assim, as esquisitas e finalmente as más.
É claro que estou contente por St.Tirso, é claro que estou contente pelos 1200 porém reparem no 12º Ano anunciado estratégicamente como requisito mínimo. Parece-me que o call-center se destina apenas a Licenciados e alguns "afilhados" menos qualificados.
Neste ponto acho importante referir que sou apologista da extinção do estigma associado aos call-centers. Se repararmos são apenas escritórios onde é desenvolvido trabalho administrativo (o Fernando Pessoa, quando não produzia arte literária, desenvolvia um trabalho bastante semelhante).
Ora, o que me chateia é apenas o pronúncio do agenciamento destes 1200 em empresas de trabalho temporário.
Quem trabalhou em call-centers sabe que mais angustiante que o estigma social é o desânimo de sabermos que uma parte significativa do nosso ordenado ( se o dinheiro é nosso qualquer parte é significativa) vai directamente para estas agências que fazem o favor de nos conseguir um emprego que conseguiríamos de qualquer forma mesmo que elas não existissem!
Ah, estava a esquecer-me de vos contar que o Primeiro- Ministro Sócrates estava na assinatura do Protocolo entre a PT, o Município e o Ministério do Trabalho e que o Secretário de Estado disse sem demagogias (admiro esta sinceridade súbita) que não sabe que tipo de contratos serão celebrados...