quinta-feira, 23 de junho de 2011

28 anos



Faltam 3 horas em Espanha e 4 em Portugal para entramos no dia do meu 28ª aniversário.
Bah, parece incrível! Ainda ontem tinha 13 anos, vivia num sofrimento atroz provocado pela dolorosa adolescência, passava os dias a escrever, a ouvir Guns n´Roses, a apaixonar-me e agora tenho uma vida das 8 às 17h!! O que me mais me impressiona é o constante dejà-vous. Constatar que as frases que durante tanto tempo ouvia e me resultavam tão infamiliares “foi há 15 anos...”, “não via o António há pelos menos 20 anos”, “aiiiii quando eu tinha 18 anos...” afinal são o pão nosso de cada dia e retraram a rapidez com que o tempo passa. Muitas vezes comparo tudo isto com os jogos de consola e sinto uma angústia tremenda quando percebo que não há vidas extra, que só me resta viver esta e aproveitá-la ao máxima. E então a angústia torna-se mais aguda porque por mais que viva a vida ao máximo , como há tantas coisas para fazer, tanto por encontrar, tanto por visitar, fico sempre com a sensação que ainda não fiz nada e que, no fim das contas, não vou ter tempo nem para alcançar 1% das minhas ambições. Sobretudo angustia-me o fato de saber que não vou poder vivir em todos os países do mundo e, pior, que por falta de tempo na agenda da esperança média de vida, nem sequer vou poder visitar grande parte deles.

Também me dói pensar que com 28 anos uma pessoa já não vai para jovem. Até aos 26 anos todos se compadacem de nós. Se temos um acidente de carro ou ficamos doentes ou nos passa algo muito grande, todos são unânimes em dizer que éuma pena, que era tão jovenzinho mas no mesmo cenário pessimista, se o ator principal tiver 28 anos a coisa já não é bem assim porque “devia era ter juizínho”. Além disso um jovem de 26 anos desempregado por opção, a viver na casa dos país e a terminar a licenciatura há 8 anos é considerado pela maioria um jovenzinho esperto “ele é que é esperto que sabe gozar a vida. Para que é que ele se há-de meter em complicações de empréstimos e casas. Ele que aproveite o bem-bom da comida da mamã. Não lhe faltará tempo para conhecer o fel da vida”, mas já um jovem de 28 anos na mesma situação é brindado com frases como “é mas é um espertalhão. Não quer fazer nenhum. Está todo o dia de corpinho bem feito em casa, a explorar os pais que trabalharam tanto para agora andarem a sustentar um/a marmanjão/ona. Ele que vá mas é trabalhar....”

Bom, se pensarmos também na forma como somos manipulados pela especulação no mercado laboral chegamos à triplamente angustiante conclusão que a coisa começa a ficar apertada para nós. Ora vejamos, com 26 anos não nos contratam porque ainda não tivemos tempo para fazer 2 mestrados, falar 3 idiomas fluentemente, ter a carta de condução, experiência laborais internacionais e toda essa parfenália ridicula que costumam ser os requisitos mínimos numa oferta de trabalho. No entanto, com essa idade, ainda vamos muito a tempo para um estágio não remunerado. Com 28 anos já estamos obsoletos, já estamos cansados para ir atrás dos não-sei-quantos mestrados etc...etc...e também já não há uma oferta muito grande estágios que se compadeçam com a nossa data de nascimento.

Mas não me tomem como uma péssimista. Já sabem que não sou. Na verdade o que mais gosto de tudo isto de ir ficando mais velha é, além da variedade de cremes anti-rugas que tenho à disposição no mercado, a sensação de já ter vivido isto antes e, portanto, poder escolher entre diferentes opções. É este princípio de maturidade. É o ter consciência que, embora as coisas não sejam fáceis e compreensíveis, o tempo ajuda a secar feridas e a apaziguar os ânimos. E o melhor é que mesmo tendo necessidades materiais, na maioria dos casos já fico enusitadamente satisfeita com pequenos detalhes. Não almejo presentes opulentos, nem caprichos. Há outras mariqueces que me fazem feliz, como por exemplo, viajar por Espanha ou receber a foto dos meus sobrinhos, ela com sarampo e ele com maquilhagem de sarampo. No entanto, creio que este ano, poucos presentes, serão superiores ao texto que la madre que me parió escreveu para mim. Sinceramente, acertou na muge e amoleceu-me o coração com a descrição muito parecida da pessoa que sou eu.

Mas para que este texto não se fique só pela rama dos meus desejos, partilho convosco que se, eventualmente, esta noite me aparecesse o génio da lâmpada e me concedesse apenas 1 desejo, por mais filosofia pró-humanista que eu defenda e apregoe, eu pedir-lhe-ia, mesmo correndo o risco de ser egoísta, uma porta de entrada em África...porque posso ir ultrapassando obstáculos que eu mesma me proponho mas o sonho de ir lá, onde tudo começou, e poder aportar algo ao desenvolvimento da Humanidade, far-me-ia a pessoa com 28 anos mais feliz do mundo.

Obrigada

“Pelo segundo ano consecutivo,estaremos distantes neste dia,mas também o que importa é que estejamos felizes e eu estou feliz porque tu estás e porque sabes voar,voas para cuidares de ti e dos teus propósitos de vida e é realmete o que importa,estamos sempre perto mesmo longe na distância,garanto-te.
...Para mim és sem duvida a filha que qualquer mãe que ensina os filhos a voar gostaria de ter,a tua valentia enche-me de orgulho,mas também preocupação...”