terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O quotidiano

A nossa vida depois do 4-0, em Lisboa.

Namorar com um estrangeiro é...

-Ficar impressionada com as expressões idiomáticas e querer sempre aprender mais uma.;
-sentir-se um bocadinho preocupada ao pensar que "se as coisas correrem bem" Portugal já era;
-sentir-se um bocadinho menos preocupada se o país do namorado estrangeiro for um bocadinho mais desenvolvido que Portugal;
-ficar furibunda porque no país do namorado estrangeiro utiliza-se o pronome relativo para falar de uma pessoa a quem queremos muito e que está mesmo ali ao nosso lado e isso não tem nada de depreciativo;
-ficar contente de ir à casa da sogra porque já se sabe que há sempre uma novidade culinária;
-nunca mais ter de ouvir "fod*** car**lho" mas poder dizer "fod*** car**" sem que resulte incómodo para nenhuma das partes;
-estar com muita atençãozinha aos "false friends" (Ex: em Espanhol espantoso significa uma coisa muito má e esquisito significa uma coisa muito boa)
-tentar explicar, sem sucesso, a importância da presença do Mar.

etc...etc...



segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Um avôzinho de conto: a história de uma alhaja

O avô do meu namorado está no hospital há 15 dias. Não há esperança de vida e também não há de morte. A avó, uma senhora de 79 anos, muito doce e especial recusa-se a sair do hospital. Há 15 dias que dorme nos bancos da sala de espera. Este fim-de-semana vi-a e entendi o mobil: está perdidamente apaixonada pelo marido. Tão apaixonada que não pode imaginar a vida sem ele.
Entre muitas lágrimas e muitos soluços, à medida que me apertava a mão com força, repetia vezes sem conta palavras de carinho dedicadas ao seu quase defunto marido e desesperava. Dizia "o que é que vai ser da minha casa sem ti, alhaja", "o que é que vão ser dos nossos filhos e dos nossos netos alhaja, alhaja" ; " ai ele estava tão feliz com os netos".
Alhaja significa jóia ou pedra preciosa. Esta velhinha , 50 e tanto anos depois, ao ver que o seu "camarada" não sobrevive aos anos e às doenças sussurra em desespero palavras de amor e ternura. E isto que vos estou a contar não é uma lenda que ouvi por ai. Tem ainda mais valor por ser uma história real, de um casalinho de velhotes a quem nunca vi darem beijinhos. Lembro-me, contudo, dos conselhos carinhosos que este avôzinho-dotado das 3 mais importantes característica inerentes a um avôzinho de conto:forte, barrigudo e fofinho-me dava "Coño, abriga-te", "Coño, que calças são essas que trazes hoje"...e tinha uns olhos muuuito sorridentes, sempre.

Ora, sendo eu uma romântica incurável não posso deixar de me comover com esta história de amor e de desejar que estas coisas sejam genéticas. Na verdade, cada vez mais me convenço que uma pessoa sabe, sem grandes rodeios, quando está perante o amor da sua vida. Por exemplo, este fim-de-semana o meu namorado, um doce de homem mas incapaz de grandes demonstrações de carinho em público, disse-me que se não fossem as circunstâncias [6 meses de relação+ eu trabalhar em Madrid+não-sei-quê(suponho que sejam estas as "circunstâncias)] me pediria em casamento agora mesmo porque tem muita vontade...Eu, romântica mas também muito independente e livre, corei e disse-lhe "NIM" enquanto sentia que os joelhos me fraquejavam, a boca do estômago se contraía e a espinha era percorrida por um calafrio ora agradavél, ora assustador...E, embora também ache que as circunstâncias não são as mais indicadas, sinto que este homem é a minha alhaja. E mais, no seguimento da imagem que tenho de mim própria, costumava constar uma aversão quase repulsiva à maternidade. E agora que esta alhaja española me saiu no El Gordo, até já estou disponivel para negociar a ocupação do meu útero e do meu ventre e nem me importo se o ocupante sair parecido com ele (claro, desde que tenha a minha inteligência, tolerância e sentido de justiça , a minha tendência esquerdista, o meu sorriso, as minhas sardas,a minha vontade de viver, a minha nacionalidade, os meus apelidos, enfim, tudo meu).

Posto isto caros leitores, esperando que o comentário que se segue não vos pareça egoísmo do mais feio, confesso que vendo a avó do meu namorado sofrer pelo que lhe vai custar viver sem a sua jóia, tive a certeza que o amor eterno afinal existe. Acredito que nem tudo será magia e que um amor assim não sairá espontaneamente das entranhas. Concerteza haverá um polimento constante. E a melhor noticia de todas, depois desta, é que afinal há Esperança porque de um momento triste, nasce um momento feliz e um leque de outras coisas ainda mais positivas.

Resumindo 1: Se o meu namorado um dia destes se fizer acompanhar de um anel (com a proveniência da pedra preciosa devidamente reconhecida que eu não quero patrocinar assassinos), dos olhinhos lindos que tem e de um pedido de casamento eu: desmaio, desmaio outra vez, soluço, choro, digo-lhe que sim e beijo-o perdidamente.

Resumindo 2: Já me afastei do tema inicial deste texto: el abuelo Jesus Melar Lopéz, um senhor infinitamente bonito por dentro e por fora, de quem vou ter muita saudades e que me vai fazer sentir muita falta das conversas que nunca tivemos :(


El abuelo

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O pé da meia-laranja

A minha cama pediu-me que te dissesse que sente a tua falta, que as noites não são iguais se tu não vens ocupar aquele espacinho que fica vazio, no lado esquerdo. Diz que não dorme igual se tu não estás.

Pediu-me também que te dissesse que por muito quentinha que eu seja, não há calorzinho como o teu, sobretudo agora nestas noites invernosas de frio, chuva e, alguma vez, neve. Já sabes que a noite madrileña sem ti não é a mesma coisa.

Vê lá se reservas um espacinho na tua agenda para vires dormir na minha cama, para ver se ela se acalma e deixa de me perguntar por ti.