quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Crónica das horas perdidas e do quanto vos quero


Madrid por la noche
Fonte: Google


Tenho muitas saudades de escrever. Para vocês. Para mim. Escrever com a ilusão que as minhas palavras vão mudar o mundo. Perder as horas nos bares de cadeiras confortáveis e jogar com palavras e ideias para depois partilhar convosco.

Não tenho tempo. Dirão que é a desculpa perfeita, o clichê. Mas não é. Não tenho tempo para desfrutar da vida através das palavras. E quando me sobra o tempo escasseia a paciência e o animo para inventar um mundo novo.
Resumindo, meus amigos, estou sem rumo! Tenho tudo o que quero: vivo no "meu" país, falo diáramente numa lingua estrangeira, tenho trabalho, saúde, amor e, pela primeira vez na vida, dinheiro .Pela primeira vez não tenho de esticar até ao fim do mês e, mesmo assim, não tenho tudo.
Quem me conhece sabe que sempre fui uma mistura de existencialismo, melancolia e optimismo sem fim porém, ultimamente, quando o despertador toca ás 6h30, sento-me na cama e penso "para quê isto? sou uma escrava das minhas ambições".

Visto-me, a apanho o cabelo (porque não me apetece arranjar-lo) e saio para a rua com o saquinho da mamita. Entro no metro cheio de gente com a mesma cara de apatia.Lemos todos os mesmos livros: os que estão de moda. No fundo, somos todos irmãos gémeos, de diferentes proveniências. Trabalho 8 horas num escritório sem pés, nem cabeça. Estimo os clientes porque também são meus gémeos. Pico o cartão e digo "au revoir". Cruzos as ruas da cidade e refaço-a comos meus olhos (é nestes momentos de intimidade com Madrid que mais tenho saudades de escrever). Chego a casa, leio se me apetece. Cozinho porque a marmita não pode ir vazia no dia seguinte. Deito-me. Ás vezes também durmo. Aos fins-de-semana sou feliz mas até essa felicidade me agonia um pouco porque é controlada. Não será um "espelhismo"? Uma tentativa de encontrar o meu par? A verdade, verdadinha, é que continuo a viajar sózinha de avião .

E as semanas repetem-se neste ciclo vicioso. E o mais deprimente é que pela primeira vez estou sem criatividade. Não importa querer saltar se não sei para onde. E pela primeira vez não encontro a mulher valente que há/houve em mim. Em suma: estou só e perdida. Apetece-me voltar a Lisboa, quero ir para África mas já não sei viver sem Espanha. Preciso reformar o meu roupeiro de ideias e voltar a sorrir com a cara e os olhos. Estou cansada de brincar ao "ter uma vida" porque, tal como o poeta, sou uma sombra da minha existência.

E nestes momentos tenho a certeza que a acompanhada a vida é muito mais divertida.