sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Lisboa, gosto tanto de ti

O meu  novo bairro 
Três meses volvidos sobre o meu regresso eis o momento de fazer uma abordagem à realidade da minha cidade. Depois de cinco anos como turista em Lisboa, estou de volta. Não está a ser uma volta tão intensa como eu esperava, ora por falta de dinheiro para alinhar em programas outdoor, ora por falta de companhia, já que a realidade dos meus amigos portugueses mudou bastante nos últimos anos, ora porque já não desfruto tanto da solidão absoluta.

Mesmo assim, quando há três meses voltei para casa, percebi algumas mudanças positivas e que são visíveis a olho nú.

Em África aprendi uma grande lição que eu espero que se instale no meu carácter para sempre. Lá na terra do Pandza aprendi que o copo está sempre meio cheio. Por isso, embora hajam muitas coisas criticáveis, decidi fazer um "apanhado" de aspectos e costumes sociais dos lisboetas que considero que sofreram uma melhoria significativa e que ajudam a que cada vez mais nos pareçamos um país do século XXI sem que, contudo, percamos a nossa identidade.

Lisboa, cidade da Tolerância

Dizer que Lisboa é a cidade da Tolerância por excelência ainda me parece um pouco exagerado, mas na capital continua-se a respirar multiculturalidade e, cada vez mais, os portugueses de todas as cores têm uma atitude de respeito e civismo para com os outros. 

fonte:olhares.sapo.pt
A reabilitação

Não sei de quem é a culpa. Ouvi dizer que o presidente do município, um tal de António Costa, é o culpado da boa cara que Lisboa começa a ter. 
Em cada rua, em cada beco, já há edifícios recuperados ou em via de recuperação. Afinal, debaixo das fachadas okup@das pelos pombos existem edíficios elegantes, dignos de postal e capazes de fazer corar de vergonha outras cidades bastante mais famosas.

Lisboa: novo destino turístico

Que boom de turistas é este que torna a cidade tão bonita, tão movimentada, tão alive?
Antigamente só os nuestros hermanos nos vinham visitar e algum ou outro americanóide perdido na velha Europa. Agora há gente de todas as partes: brasileiros, eslavos, franceses e italianos (estes últimos dois aos magotes), americanos etc...

É um prazer ter-vos por cá. A vossa presença traz mais cor às nossas vidas ( e mais trabalho também...)

A Rádio em Portugal

Como já vos tinha aqui, a rádio em Espanha é um meio de comunicação abominável no que concerne à música. Em Moçambique idem idem e, inclusivé, escasseam espaços de debate intelectual.
Em Portugal a rádio, mesmo as frequências mais mainstream, são muito ecléticas. Passam todos os estilos de músicas e há horas e horas de conversa. Enfim, a rádio em Portugal continua a exercer o seu papel de janela para o mundo e para a revolução (de ideias, leia-se).

Made in Portugal

Afinal o nosso país tem muito mais que mil e uma maneiras de cozinhar bacalhau. 
Meu Deus, de onde saem tantas ideias, tantos materiais e tudo tão giro? E os preços são cada vez mais competitivos. 
Na verdade, à excepção da Zara (não consigo abdicar da Zara), quando quero procurar algum presente original ou algo fora de comum para vestir ou comer, instintivamente já procuro as lojas de distribuição de produtos nacionais. 



Comércio Tradicional

Não é, pois, de admirar que o comércio tradicional esteja a viver uma espécie de nova "idade dourada". E a verdade é que é um prazer entrar nas lojinhas de antigamente, encontrar um empregado que também é de antigamente e comprar bolachinhas às gramas, perfume a decilitros e sabonetes de enxofre que há uns anos já eram impossíveis de encontrar e que tanto bem fazem às impurezas da pele.
Eu estou encantada com a minha porta do lado, a "Mimosa da Penha" e com o Pedro que me vende carcaças como as de antigamente.

Fashionismo, ou o bom aspecto

As pessoas estão muito mais bonitas, mais cuidadas e com melhor aspecto. 
Embora, muito a meu pesar, se vejam cada vez mais fashionvictims nas ruas da cidade, podem-se encontrar pessoas muito originais na maneira de vestir sem terem nem aquele ar cinzentão de antes, nem um aspecto estereotipado. Há também cada vez mais criadores profissionais e amadores que apresentam sugestões. 
Ora vejam estas duas criadores que me fornecem uma jóias e a outra acessórios de lã.

A comunidade africana no seu melhor

Já quase a terminar este post, não poderia deixar de mencionar a minha querida comunidade africana. Aquela que, no meu ponto de vista, traz mais ruído ao nosso mundo tactiturno; que traz mais cor, mais cheiros e mais movimento à nossa doce melancolia lusitana. 
Pois bem, a mim parecem-me cada vez mais integrados, cada vez melhor recebidos. Os "zébonés" já não metem medo a ninguém. Devagarinho vão-se afirmando através do intelecto e, neste ponto, como sempre, as mulheres vão muuuuuito mais à frente que eles.

Homens portugueses

Gordos, magros, feios, bonitos, altos, baixinhos, os homens portugueses continuam a ser os mais doces na hora de dar um piropo a uma mulher. Logo, com o tempo são todos farinha do mesmo saco, portugueses, espanhóis, chineses etc..., mas na hora de apreciar uma mulher continuam a ser GRANDES, sedutores e sem roçarem a vulgaridade. Agradece-se muito que continuem como sempre, como dantes ( até o piropo à trolha é mais doce em Portugal).

detalhe de muro no Cais do Sodré
Podem ler mais piropos aqui e aqui

Depois de beber de tantas culturas quase me sinto uma estrangeira no meu próprio país. Gosto mais dele quando estou fora, confesso. Os salários e as dificuldades estruturais do dia a dia minam a vontade de ficar cá que costumo ter quando não estou, no entanto, se me dessem a opção de voltar a nascer, não tenho dúvidas que escolheria Portugal para ser a minha Pátria, o meu berço para sempre. E Lisboa continua a ser ante os meus olhos curiosos a cidade mais bonita que já vi. Ainda continuo a querer casar com ela. Só não sei quando...

" Talvez que eu morra de noite 

Onde a morte é natural 

As mãos em cruz sobre o peito 

Das mãos de Deus tudo aceito 

Mas que eu morra em Portugal."