segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Fundação José Saramago, Lisboa

Vista para o Tejo e para a cidade desde o interior da Fundação José Saramago
fonte: google.pt
Há qualquer coisa no Saramago que me emociona. Admito que parte dessa emoção seja fruto dos remorsos que sinto. Como já vos contei, durante muito tempo ignorei a sua obra e vida, em parte porque cresci num contexto social e numa geração para quem o Saramago trazia a sensação de sabor amargo da traição ( "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" foi publicado em 1992) e a dificuldade de ter obras de leitura obrigatória que, segundo o mito, estavam desprovidas de pontuação e que posteriormente seriam tema de avaliação nos exames nacionais, logo, à partida, uma porta directa para o chumbo.

"Um pequeno país, uma grande língua." J.S

Também, parte da emoção que o mundo Saramago me provoca prende-se com o facto da obra dele me ter sido generosamente apresentada por um amigo com quem, casualmente, me reencontrei no dia do meu aniversário, em 2010, o dia da morte do escritor. Menos de dois anos depois esse amigo também desapareceu trágicamente num acidente de moto...
Se na vida após a vida existirem encontros oxalá eles se encontrem. Tenho a certeza que o José haveria de apreciar muito a companhia do Álvaro.

"Mas não subiu para as estrelas se à terra pertencia." ultima frase d´O Memorial do Convento

Desde que voltei para Portugal que a Fundação José Saramago me parecia tentadora.
Logo à entrada troquei umas palavras com a recepcionista sobre Kalevala, compilação de poemas finlandeses, e os Kalevala, um grupo de música da Macedónia.

Despois desfrutei do imponente interior do edificio e do ambiente de homenagem ao escritor.
A exposição é uma mistura de edições dos livros em diferentes línguas, de objectos pessoais que decoraram os espaços onde o escritor viveu e trabalhou, de entrevistas dadas a diferentes meios de comunicação de diferentes países e, claro está, um destaque especial para o momento de atribuição do Prémio Nobel da Literatura, em 1998.
A medalha com o perfil de Albert Nobel que ele recebeu, assim como documentos audiovisuais do momento da entrega do prémio e o discurso sobre os Direitos Humanos que ele proferiu, em Estocolmo,  estão em exposição.

Eu chorei o tempo todo. Chorei porque é um escritor extremamente humano e humanista, distinto das etiquetas que, por vezes, ainda insistem em colocar-lhe. Na exposição está patente a preocupação do homem e do escritor pelo mundo que o rodeava e, sobretudo, pelas pessoas, sempre as pessoas.

Penso talvez que essa seja a maior surpresa para aqueles que desconhecem quem foi Saramago e que, ao aproximarem-se do seu universo, vão descobrir que por detrás da aparência algo fria e seca, estava um homem capaz de aquecer corações, fazer rir e despertar consciências. Capaz de nos fazer ver que o caminho do bem é possível e viável, não obstante o pessimismo. Que tu+eu é uma fórmula possível e universal independente das religiões ou crenças. É uma fórmula feita de Amor e que um mundo bonito e perfeito mas sem Amor é um mundo vazio.

"Os livros levam dentro uma pessoa, o autor." J.S.

Esta é a minha interpretação pessoal (e emocionada) de José Saramago e do seu legado.

"Eu creio que estamos necessitados efectivamente de uma insurreição (...) sim uma insurreição ética, mas não no sentido corrente moralizador porque no fundo seria ir pelo mesmo caminho. Eu diria, antes, uma ética de responsabilidade." J.S.


Túmulo de José Saramago, frente à Fundação
fonte: google.pt



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Querido Madiba


“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”