domingo, 28 de fevereiro de 2010

The fuckin crisis



Dizia um intelectual espanhol que o desemprego afecta a dignidade das pessoas.

Pelas ruas de Madrid, de 10 em 10 metros, há pessoas com aspecto não-indigente a pedir esmola. Não têm, a maioria, mais de 45 anos e ostentam discretos cartões que nos elucidam sobre a sua situação social. Normalmente estão desempregados.

O que mais me impressiona é o olhar de humilhação, nos 3ºC médios de temperatura diária.
Imagino que têm famílias e que pedir nas ruas foi a solução mais radical que tomaram nas suas vidas. Como escrevi aqui é mais fácil ser um deles que ser um Director com salário chorudo!

Isto sim, assusta!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Fado de Toledo




Está a cerca de 1 hora de carro e comboio de Madrid.
Chegamos e deparamo-nos com uma Vila de traço Medieval, com edifícios de um amarelo-pálido fascinante, telhados antigos e campos e montes verdes que derretem até os corações de pedra. Um verdadeiro apelo ao romantismo. Um encanto!

Não obstante a beleza flagrante de Toledo o que mais me emocionou foi a presença do nosso (meu Deus, tão nosso) internacional Rio Tejo (Tajo, em castellano)
Aqui ele não é como nós, os lisboetas, o conhecemos. É mais discreto, escuro e está perfeitamente integrado na paisagem. Não sendo, de todo, ignorável, aqui não é a estrela!
Apaixonei-me ainda mais pelo seu carácter, pela sua beleza. E sorri de regozijo e cumplicidade porque alguns nunca saberão que o discreto rio em tons outonais que atravessa Toledo, 600Km adiante,transformar-se-á numa DIVA, namorada de Lisboa e musa de tantos poetas e transeuntes.




(clicar nas fotos para ver em tamanho original)
Mas quem é que (coño) disse que em Espanha é tudo mais barato? Quem disse que se vive melhor?
Oh senhores, por favor, não me incomodem com a vossa estúpida falta de auto-estima cultural, ok?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Kwa Heri


Depois desse episódio mais sensível já o ouvi falar outras vezes,em directo, com outros voluntários e missionários instalados em África. Normalmente falam de problemas de logística.Outras vezes vão ao nosso escritório voluntários jovens, acabados de chegar das suas missões. Trazem facturas, relatórios,sorrisos que não têm tradução e a pele dourada e sardenta do sol africano.


Também vêm muitos missionário de congregações religiosas. Do Congo, da Tânzania, Quénia, Angola etc...Alguns são inesquecíveis. A irmã da Tânzania, além de ser amável, doce e simples falou-me em “português com açucar” e ofereceu-me 1 Pin com o símbolo da Tânzania que trago religiosamente no meu sobretudo.


O Padre não-sei-quê do Congo trocou comigo algumas palavras em Suaíli.


Nunca sei como cumprimentá-los (parece-me sempre que nao sao nem pessoas, nem divindades) mas o que me apetece sempre é beijá-los e abraça-los e dizer-lhes kanimambbo, kwa heri, encantada!

007, Missão Impossivel, Niger em Directo


Há dias, quando houve o atentado contra o Presidente do Níger, Mamadú Tandja, o boss começou a sentir-se preocupado porque numa cidade a cerca de 300 Km da capital, Niamey,há 1 voluntária nossa italiana. Não corria riscos porque estava tão longe do palco de violência que, provavelmente, nem estava informada porém José (rrrroocé) estava preocupado.


Eu pesquisei em jornais espanhóis e italianos e ele, entre contactos, conseguiu falar com ela. O telefone estava em alta-voz por isso todos podemos ouvir em tempo real, com a voz entre cortada pelos defeitos das linhas de comunicação, a doce voluntária italiana dizer que estava tudo bem e que nem sabia exactamente o que se tinha passado!!


Foi muito bonito

Apaixonada



Apaixonada pelo meu trabalho, aqui em Espanha.

Trabalho numa ONG que angaria fundos estatais e privados para desenvolver projectos interessantíssimos em África. O escritório é muito aústero assim como os rendimentos de cada um. Eu tenho 1 bolsa Leonardo Da Vinci que me rende quase 620€/mês. A ONG não me dá qualquer recompensa monetária, apenas o conhecimento e o prazer que sinto cada dia ao levantar-me pela manhã (¿¿¿que pasa conmigo???)e, durante cerca de 4 horas diárias (às vezes mais) perder-me na organização do ficheiro de projectos. Entre documentos, fotos e cartas pessoais vejo um mundo que, sem dúvida, está perdido, mas pelo qual não podemos deixar de lutar.
Todos os dias admiro um pouco mais as minhas colegas de trabalho. Nota-se que são ladies de classe média/alta e, portanto, o trabalho que desenvolvem gratuitamente é uma atitude de altruísmo. São 2 irmãs com mais de 65 anos mais 1 prima da mesma geração e, representam em atitude, o que eu quero ser quando tiver a idade delas. Além disso são umas queridas e, ás vezes, trazem-me comidinha caseira.O Presidente é o estereotipo de um visionário: cabelo desgranhado, fala mais rápido que as próprias palavras e tem o mundo no sorriso dos olhos azuis. Praticam, sem dúvida, cooperação e desenvolvimento. E fazem-no de forma tão genuína que arrastam com eles 1 teia de solidariedade entre amigos e conhecidos que, mais ou menos, ocupados, mais ou menos snobs, dão 1 mãozinha à ONG.
E eu sou atraída pela teia e estou ali no meio deles a aprender com os verdadeiros mestres da acção. (entretanto sinto cada vez mais desprezo pelos professores universitários acomodados aos seus postos e de duvidoso prestígio, que nos fazem perder tempo e dinheiro)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Genética mania de escrever

Caros Leitores

É só "manientos" na família por isso publico agora o Conto que a minha MamaMia escreveu para um concurso da Radio Sim.
Chama-se "Conto de Primavera" e, juntamente com outros contos que concorreram, está publicado aqui.






Conto de Primavera



Já está aí mais um Ano Novo. Chama-se 2010 vai andar por cá 12 meses. Festejaram-no beberam-no, juntaram-se todos, viajaram etc…etc…tudo por algo que tem tão pouca duração, sendo que o somatório de vários pode traduzir-se numa vida e várias primaveras.

Sou uma andorinha nasci no campo num qualquer beiral de telhado escrupulosamente caiado, conheci o amanhecer dos meus pais que se deslocavam em voos de muitos km, todos os dias, para um ganha pão transportado no bico, que vinham amorosamente depositar nos nossos pequenos bicos.
A paisagem ao redor era deslumbrante, tanto o fascínio das águas da Ribeira de Tera, como o Monte onde mãos hábeis de trabalhadores incansáveis construíram a bela Torre de Évora-Monte, cujo céu é povoado pelas mais belas e raras aves de entre as quais as andorinhas: as minhas irmãs, as minhas primas e toda a minha família que voa por aí anunciando a liberdade e causando inveja aos seres humanos por não poderem voar também.
O que vos quero contar é sobre uma outra andorinha , uma pequena e irrequieta andorinha que nasceu num qualquer beiral de telhado, duma casinha branca com listas azuis em redor das janelas, no campo onde o sol ganha um brilho tão intenso quase insuportável. Vemo-la alegre, esvoaçando em círculos, elegante e esbelta, sempre de negro vestida mas com uma alegria tão grande que diria que nos convida a participar dessas correrias. Esta andorinha que vos dou a conhecer é uma andorinha especial. Ainda anda lá para África onde agora está mais quentinho. Chega sempre a meio do mês de Fevereiro, pouco antes do nascer da sua prima, a Vera, quando os rebentos começam a surgir nos galhos das árvores de folha caduca e os barros ainda estão frescos, de forma que possam ser moldados com o pequeno bico para construírem ou reconstruírem as suas pequenas e acolhedoras casinhas.
Já sei que quando chegar trará consigo a alegria do costume e os dias tristonhos de chuva e frio já estarão longe das nossas lembranças.
Apaixonar-se-á ao encontrar o companheiro ideal com quem formará uma família de pequenos andorinhos. Todos juntos, ficarão por aqui a alegrar os nossos dias.

Quando lá para Outubro nos apercebermos que estão de partida começar-nos-emos a preparar novamente para a época de festas que agora terminou, aguardando outro ano com uma certeza: que se mais nada de bom o 2010 nos trouxe, as andorinhas, pelos menos essas, não nos faltaram, e voltarão para renovar a esperança em todos os corações humanos que de alguma forma a perderam . Oxalá consigam aperceber-se da sua presença.

Adelina Trindade

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

o meu Dia da Mãe é todos os dias que a minha vizinha cozinha!



Pior do que trabalhar com a barriga a dar horas é ter uma vizinha, nas redondezas do escritório, que faz uma comida com cheiro de "comida de mãe". Agora mesmo cheira-me a sopa de feijão-verde e bifes tenrinhos com molho de vinho branco e alho!!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Eu estou totalmente de acordo com Angela Merkel ( e com o estupor do Sarkozy)



Não é justo que uns trabalhem e outros disfrutem sem terem qualquer mecanismo que faça frente à Corrupção.

A Grécia está na banca rota. Ameaçou a estabilidade do €uro e por isso correu o risco de perder a moeda. Seguem-se, na lista negra, Portugal e Espanha.
Não produzimos e não enfrentamos as fragilidades com o pretexto de que é tudo uma "questão de cultura". Sabemos também que a UE estará ai para nos salvar dos sucessivos afogamentos. É contraproducente.

Os alemães, que são os mãos largas da UE, começam a insurgir-se contra esse facilitismo e eu estou de acordo. É uma vergonha este dolce far niente dos países de Sul.

(http://www.elpais.com/articulo/economia/dia/Europa/rozo/catastrofe/elpepueco/20100214elpepieco_1/Tes)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Amo tanto la vida

Se um dia me puserem as coisas nestes termos penso 2 vezes antes de recusar:

Amo tanto, tanto la vida, que de ti me enamoré,
y ahora espero impaciente ver contigo amanecer.
Si se acaba este milagro, si se consume mi voz,
si me das un último portazo, ¿en qué calle moriré yo?

Estás tan bonita esta noche, te sienta el pelo recogido tan bien.
Pídeme cualquier deseo, poco te puedo ofrecer.
Lloras, gritas, bajo la lluvia, como el ángel Lucifer.
Somos de nuevo herida abierta, mala tierra trágame.

Trágame.

Amo tanto, amo tanto la vida, que de ti me enamoré,
y de amarte tanto, tanto, puede que no te ame bien.
Si yo fuera tu asesino conmigo nunca tendría clemencia,
y me condenaría a muerte, que es condenarme a tu ausencia.

Que no haya mas despedidas, que no eres Ilsa Lazlo ni yo Rick Blaine,
ni yo soy tan idiota, no te dejaría ir con él.
El próximo avión que tomes conmigo lo tendrás que hacer,
y el camino de regreso yo te lo recordaré.

Yo te lo recordaré.

Amo tanto a la vida, por Ismael Serrano, do albúm Atrapados en Azul, de 1995

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Por los Madrilezz



(La memoria de la mujer-niña, Dali, 1929)


Que alegria! Hoje, por fim, fui ao Museu Reina Sofia e vi o Guernica, de Picasso, ao vivo!
É um estrela! Enorme, menos bem parecida que nas fotos mas sempre IMPRESSIONANTE!

Impressionantes são também os quadros do louco Salvador Dalí. Podemos perder 1 tarde a tentar interpretar “A memória de uma mulher-criança”.
Aos Sábados a entrada no Museu é gratuíta a partir das 14h. Estava cheio de gente, inclusivé muitooos portugueses ( e um actor português famoso, tão famoso, tão famoso que agora não me lembro do nome dele. Faz sempre papel de “tio bem-zoca”).

A caminho do Museu –depois de subir a GranVia, descer a Alcalá e passear demoradamente pelo Paseo del Prado- passei por Atocha para espreitar o monumento às vítimas do 11 de Março. Nada justifica tamanha violência.

Bueno, después terminé mi tarde cultural con un gofre de chócola, un té de manzanilla y ahora voy a cenar en casa con mis nuevos amigos y una botella de Porto, que no final das contas são estes momentos que nos fazem ser felizes e espontâneos.


(Guernica, Pablo Picasso, 1937)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010




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Perdoem-me. Sei que o meu discurso pré-Espanha se assemelha ao discurso de um candidato em campanha eleitoral. Prometi-vos que iria escrever e partilhar convosco esta experiência porém consegui que este blog se tornasse num espaço adormecido.

Se me permitem passo a justificar-me .

Haverá concerteza coisas interessantes sobre as quais escrever : cafés, ruas, museus, festas, comida, etc... contudo é sobre pessoas, culturas e câmbios entre as mesmas que gosto mais de escrever e, sobre isso, não há muito que contar. Estou 100% integrada e profundamente feliz. Aquilo que aqui é diferente não me incomoda. Sou bem tratada e, na maioria das vezes, tratam-me como um deles. Entendo o que dizem e faço-me entender. Sinto-me em casa e feliz como alguém que encontra um amor pelo qual lutou e esperou. Não há volta a dar: assumo-me como lusocastelhana sem qualquer pudor.
Poderia perder-me em redundantes comparações entre Portugal e Espanha no entanto parece-me pejorativo para ambos os países porque têm tanto em comum como de diferente (mais tarde farei algumas considerações sobre o tema, hoje não,que estou enamorada).

Penso que no final do estágio vou continuar por cá. As oportunidades de trabalho são as mesmas e os salários, embora sejam mais elevados, resultam no mesmo - os preços são os mesmos ou ligeiramente mais altos na maioria das coisas e o aluguer das casas é o triplo (1 apartamento de 3 assoalhadas custa em média 300.000€)- mas Espanha é tolerante e isso, mais que tudo, atraí-me. Respira-se Igualdade e há lugar para todos.
A crise afectou muitissimo a ecónomia e, sobretudo, a autoestima dos espanhóis. Exacerbou ainda mais o nacionalismo separatista e a descrença no Socialismo porém ninguém diz que a culpa é dos imigrantes, tal como não se acusa o governo de estar mais preocupado com os gays do que com a Educação. Aqui todos os assuntos são importantes e têm de ser discutido!Ninguém poderá dizer que foi discriminado ou defraudado em expectativas em Espanha. E não falo de la fiesta española e outros estereotipos, falo de desenvolvimento pessoal, profissional e social.
Já não me convencem os países desenvolvidos da Europa central considerados sempre como exemplo. A vida real é feita de uma música que Espanha sabe bailar como nenhum outro, Olé!