terça-feira, 29 de dezembro de 2009

E depois do Adeus




Nunca pensei que a estadia no call-center se prolongasse por tanto tempo. Todos os dias uma luta interna para me auto-motivar, questionando-me sempre se o problema seria meu ou se as outras pessoas sentiam o mesmo. Questionava os meus colegas.Perguntava-lhes como suportavam aquela luta diária.Respondiam-me que gostavam do bom ambiente de trabalho.

Num call-center a tarefa árdua é esquecer que somos pessoas a atender outras pessoas.

Em cada chamada temos de nos identificar com o nosso nome. As empresas pedem-nos que sejamos educados e simpáticos porém, indirectamente, é suposto tratarmos os clientes como números.


Ter de ouvir serenamente(fingir até algum prazer) os desaforos de alguém que não paga as facturas há 3 meses e, mesmo assim, liga a reclamar. Sem se atrapalhar, usa um vernáculo ordinário e, após 16 minutos a gritar sem se ouvir a si próprio diz “ olhe vá apanhar no olho do cú...*****...a senhora trabalha ai porque é uma burra e nem a 2ª classe tem...*****...bip bip bip”


Ou por outro, receber, já depois das 22h, a chamada de uma velhinha doce, só, e que após um problema inexistente no seu telemóvel, ligou porque, certamente não podia estar mais tempo naquele silêncio de solidão.

Depois de fazer o despiste e verificar que estava tudo operacional rematei com a frase mecânica “posso ser útil em mais alguma questão?” e ela responde-me “sabe menina, tenho 80 anos, fui médica e só uso o telemóvel para receber telefonemas da minha filha...silêncio...” e eu, mecânicamente, mas de coração partido, desejei-lhe Boa Noite e desliguei com a certeza de que a fiz sentir a velhinha mais sózinha de Lisboa.


Ela queria conversar comigo e eu com ela...


Ou ainda, receber dia após dia, de sorriso irónico, as queixas do Sr.Mamadu que só tinha 0.05€ e comprou um serviço extra que custa 1€ ficando automáticamente com saldo negativo. Não pensem que o Sr.Mamadu se atrapalha. Telefona a reclamar e a exigir que lhe devolvam o dinheiro...quando percebe que não vai ser sucedido diz, num tom amoroso “ e não me podem carregar que eu amanhã telefono a devolver?”

Ou a Srª não-sei-quantas que precisa do código PUNK e do PINK original.


Todas as questões têm de ser geridas em piloto automático embora, como já referi, sejamos obrigados a dizer o nosso nome verdadeiro e , não obstante, tenhamos de nos comportar como robôts.Em suma não gosto de trabalhar num call-center porque não me permitem ser humana.

Ainda assim tive sempre boas avaliações dos clientes e, foi muito bom, ouvir na despedida que a equipa estava a perder a assistente (nome do profissional de call-center)mais simpática.

Sendo assim, talvez tenha sido produtivo o semestre no call-center: gosto mais de mim e dos outros; sou mais de esquerda e anti-lobby capitalista porém menos partidária; mantive a minha indepêndencia apesar de não ser rica.


Talvez por isto este dias de LIBERDADE me estejam a saber tão bem. Poder aproveitar Lisboa sem relógio. Dormir até tarde, ir ao café e pedir uma sopa. Sentar-me por aí, escrever e ser de novo pseudo-intelectual.

Caminhar tranquilamente desde Picoas ao Cais do Sodré fazendo pequenas pausas para namorar as monstras, ligar para os meus sobrinhos e sonhar para o meu próximo projecto.


Agora já não preciso dizer Até Já!


(por favor cliquem no título deste post e riam muito)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

"Quando eu morrer, dá-me um cravo vermelho, simbolo da liberdade, e leva-me ao mar. Não chores, a vida é o que mais bonito temos e eu procurei sempre viver a minha da forma mais pura possível... Porque sei sorrir e sei chorar... "

Autor: http://vadiando.blogs.sapo.pt
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Já tenho o bilhete de avião para Madrid...só ida. Estou di putra madre feliz. Estive quase 1 ano à espera deste momento e,hei-lo aqui a provar que a minha persistência, apesar dos nervos, desânimo e queda de cabelo, é a minha melhor amiga.


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Ainda sobre o que vos tenho dito sempre sobre migrações...



Por favor vejam o artigo escrito por Henrique Burnay, publicado no Jornal Metro, hoje 22 de Dezembro.

http://www.readmetro.com/show/en/Lisbon/20091222/1/10/

Gracias :)

sábado, 19 de dezembro de 2009

Igra bez granica*

*significa jogos sem fronteiras, em macedónio



Hoje é um dia histórico para a Macedónia, Montenegro e Sérvia.
Dia 19 de Dezembro de 2009 marca o dia em que, ambos os países, não terão de voltar a passar pelo processo humilhante de obtenção de Visto para viajarem para o espaço Schengen.
Não significa que haverá livre circulação de pessoas e bens. Na verdade trata-se apenas da abolição (termo perfeito para este contexto) da necessidade de visto turístico.
Até então tinham de se deslocar à Embaixada do país para o qual queriam viajar e passar por um longo e penoso processo onde, entre outras coisas, era necessário apresentar os extractos bancários. Pretendia-se que o viajante comprova-se que tinha recursos para ir, pagar hospedagem e voltar. Nos casos em que o viajante era convidado através de carta por alguém do país a viajar, o cicerone ficava responsável pelo comportamento cívico do seu convidado.

Não imaginam como todo este processo influência de forma atroz e perigosa a mentalidade dos povos que vivem prisioneiros no seu próprio país sem, no entanto, terem cometido qualquer crime.
Criam-se monstros culturais. Várias vezes ouvi jovens macedónios com discursos dignos de um diácono retrógado e cinzento. Indignei-me de todas as vezes porém, entendo, também que não podem pensar de forma diferente porque toda a informação que lhes chega passou por um processo de triagem, de “lápis azul” e, não têm, porque não lhes permitiam, comparar, informarem-se e perceberem, através do contacto com outras culturas, que o mundo não é como lhes foi pintado. Afinal há mais cores!

Por isso um bem-haja ao pseudo-primeiro-mundo por terém concedido o “favor” aos macedónios, montenegrinos e sérvios. Assim se constrói a verdadeira Democracia que nos impingem nos bancos das escolas.

Uma nota de descontentamento, solidário para com os povos da Bósnia-Herzegovina, Kosovo e Albania. Continuarão a ter de passar pelo mesmo processo humilhante.

E já agora porquê a ausência de notícias sobre o acontecimento nos Media ibéricos?

Para os xenófobos do costume, “acagaçados” com a enchente de imigração ilegal destes povos e, que utilizam como argumentos a crueldade das guerras balcânicas nos anos 90 e, consequentemente a crueldade do povo, peço que reflictam sobre a vergonha que foi a Guerra Colonial protagonizada por nós, poucas décadas antes e, que mesmo assim, continua a ser desculpada, mesmo por aqueles que não são apoiantes do Estado Novo.

Para os ignorantes que acham que estes povos são feios , com aspecto de deliquentes de guerrilha sugiro que façam pesquisas nos Arquivos Históricos para verem como eram o Joaquim, com ar de pastor analfabeto, e a Maria de lenço na cabeça e bigode proeminente.
Chegaram à Europa Central e América durante todo o século XX e, de facto, tinham muito mau ar mas na verdade, eram gente limpa e trabalhadora. Quando lhes foi dada a oportunidade pela qual lutaram conseguiram brilhar e com duplo mérito: ajudaram no Desenvolvimento dos países que os acolheram e, com as remessas e construções de vivendas colossais nas aldeolas, ajudaram o Desenvolvimento português.

Devemos permitir que todos tenham a mesma oportunidade. Querer e lutar por uma vida melhor é um Direito e um Dever de Todos!

P.S:Finalmente, acabaram-se os polícias com caras de cães feios e raivosos nas fronteiras destes países. Ufffaa. Só por isso já valeu a pena!


Fonte:www.travelblog.org

Lago Prespa, Sul da Macedónia

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Kanimambo




Moçamar é uma ideia que nasceu em Lisboa, mas que crescerá e dará frutos em Moçambique. A partir da observação directa das crianças, nas ruas de Maputo, surgiu a ideia de participar no seu desenvolvimento pessoal...."tirá-las da rua" é o grande objectivo deste projecto, que embora possa ser considerado uma gota no oceano, pode realmente mudar a vida de muitas crianças.
Pretendemos inscrevê-las nas escolas pré-primárias da região, local onde permanecerão todo o dia. A permanência de uma criança na escola custa 12€ por mês (com direito a pequeno almoço, almoço e lanche).
As vendas de moçamar revertem para esta dádiva pessoal que é extensível a quem dela quiser participar.

Se estiverem interessados em alguma coisinha do blog http://moamar.blog.pt/, (que ainda está em construção), por favor enviem e-mail para mocamar2010@gmail.com

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Waterloo

Há cerca de 2 semanas estava sentada no magnífico capitalista café da baixa, Brown´s, quando comecei a falar com um simpático casal sueco. Eles já estavam de saída mas ficaram para mais de 1 horas de conversa ultra interessante.
Têm cerca de 50 anos. Ela, Birgitta, é psicóloga. Ele, Jan, é psiquiatra (mesmo o que estou a precisar). Têm 2 filhos. Um estuda algures nos EUA, o outro no norte da Suécia.
Falàmos muito. Trocamos ideias. Fomos pela Literatura, por viagens, por pontos de vista, pelo António Damásio, por Lisboa.

Recebi um email dele que quero partilhar convosco:

“…We really had a wonderful time in your fascinating Lisbon. A bit peculiar feeling, I mean we´ve seen some different countries and cities through the years but never felt so pleasant and warm inside and comfortable before in a new place. It´s a bit difficult to explain but we met so much of warmth, integrity, (and as you said, Sonia - happiness), and a living history during the few days…”

Se neste Natal o génio da lâmpada me aparecer e me conceder 3 desejos eu digo-lhe que quando for grande quero ser profissional-de-intercâmbios-culturais-de-preferência-em-cafés-e-comboios-de-preferência-comboios-de-2ª-classe. Depois mando-o conceder os restantes 2 desejos a quem ele entender(caridade natalícia).

Que bom!

P.S: Quando o casal sueco me perguntou que estudos fiz e lhes respondi com um ar feliz “Estudos Africanos”, eles fizeram o ar mais natural do mundo...reflictam sobre isto, por favor.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

...



Só passei por aqui para dizer que, definitivamente, adoro Pastéis de Nata, de Belém ou não...Têm um je ne sais quoi :)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Até já!




Não esta mal dizer Até Já quando se tem vontade mas quando não se tem custa 1 tonelada cada dia. Por isso aqui vou eu. Já tenho o dia da partida.Levo o Fado na bagagem mas também umas ganas maior que o mundo de atravessar a fronteira e convidar a vida para umas palmitas ao som do flamenco.
Está a ser bom demais aprender Espanha...

Hasta pronto Guapos!

O cheiro do Outono

Perdoem-me os anti-nostálgicos mas nestes dias de Outono há outro cheiro que se veio juntar ao meu amado cheiro das castanhas assadas. Cheira-me a Macedónia. Cheira-me ao caminhar sózinha pelas ruas.Tentar descobrir com cada sentido. Encontrar semelhanças e sentir-me confortável nelas para logo depois as repudiar. Sentir-me forte e sentir-me frágil. Sentir-me, mais do que tudo, dona da minha vida.
Hà encantos que só um primeiro amor nos pode oferecer. Embora, de todo, não tenhamos sido feitas uma para a outra, a Macedónia tatuou-me a alma e a vida. E aqui estou eu, numa tarde triste a recordá-la com saudade. Porque sou triste e porque sou saudosa. Essa é a minha maneira de sentir.É a herança portuguesa. Tudo o resto já não é um exclusivo luso. A mais dura lição que a vida no pequeno país balcã me deu foi mostrar-me que já não pertenço a Portugal. Que estou perdida por aí, pelo mundo, e por aí me sinto bem e viva!
Deixem-me estar. Deixem-me ser assim. Não me invejem nem me rezem o fracasso.
Este é o meu jeito.


O meu quarto, frio, escuro às 18horas, 1 vela com cheiro a canela e uma tristeza que não se sabem de onde vem.É um cenário típico de um Lisboeta .
Felizmente a Lisboa 2009 do Verão prolongado já foi. Ficou perdida no regozijo dos turistas e dos amantes do suor a cair em bica. Para mim já chega. A chuva não calha bem se ando na rua mas, aqui deitada, com a bateria do portátil a aquecer-me as pernas estou bem, Obrigada!

Bilhete de Ida e Volta

Hoje, quando voltava de comboio observei um casal de meia-idade, sentado à minha frente. A viagem durou cerca de 30 minutos e não trocaram quaisquer palavra, olhar de cumplicidade ou carícia. Não são, infelizmente, o primeiro casal de meia-idade, que observo nas mesmas condições.
Normalmente tento encontrar semelhanças físicas que me levem a acreditar tratar-se de um casal de irmãos catitas de meia-idade que ainda saem de comboio como nos velhos tempos de solteiros. Até consigo encontrar essas semelhanças-os olhos rasgados, o nariz pontiagudo- porém, invariavelmente, os meus olhos encontram em ambas as mãos esquerdas alianças de compromisso, com a mesma cor dourada desgastada de mais de 25 anos de vida em comum.
Fico sempre,sempre, sempre perdida no vazio que encontro nestes casais. Encontro, imagino, vidas de sacrifício ao lado de pessoas que já não nos completam, ou nalguns casos, nunca completaram.
Não quero que este post soe a julgamento. Não quero que o interpretem como crítica a estes casais de olhar triste e aborrecido. De certa forma até posso entender porque continuam ali, estagnados, à deriva. Este post é,tão somente, um grito de revolta e glória!Um grito de sustento a todos aqueles que queiram procurar o coração de cristal que lhes pertence, mesmo que esse coração de cristal seja o seu proprio coração.É um grito de vontade para mim própria.Pelos momentos de estar só que me esperam, pelas saudades do abraço nocturno e do cheiro familiar do shampôo do cabelo, por aquilo que encontrei e que perdi. Pelo meu pobre coração que já não sabe o que dizer mas que encontra forças para me guiar no meu caminho.
Talvez um dia acorde, já depois dos 30, com o relógio biológico em modo speed. Talvez acorde cansada de não ter desconto de 50% no jogo de lençois com 2 fronhas. Talvez, mais tarde ainda, já depois dos 40, acorde triste porque não tenho nenhum Dom Casmurro para viajar comigo de comboio e mostrar aos outros passageiros o quanto somos indiferentes um ao outro. Talvez acorde até deprimida porque nunca tive ninguém que me gritasse porque pús demasiada pimenta-rainha no macarrão mas agora, com 26 anos e poucas rugas, ainda acredito que é possível ser feliz, verdadeiramente feliz. Tão feliz que até chateia. Chegar aos 50 e rir muito ao lado de alguém que pode até já nem me acender a líbido mas que me faça rir perdidamente. E que eu possa dizer entre lágrimas de gargalhadas “não te preocupes meu amor, pús um tenalady.deixa-me rir.conta-me mais dessas!”

É por isso que,embora se tenha apagado a minha luz-guia e este post nasça de um fracasso, eu continuo a procurar o meu coração de cristal, que não guarde nada que eu não possa ver. A luz da minha fogueira!


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

in Vogue




Suscitada a curiosidade pelo post que li no blog da prima Lolita decidi comprar a Vogue portuguesa.

Lembrei-me das teorias da Carrie Bradshaw relativas à revista e, senti-me, por fim, Poderosa.
Bom, a desilusão começou logo na falácia relativa ao preço/brinde, i.e, ao comprarmos a revista, compramos automática e involuntariamente , por mais 1€, o brinde. Na edição de Setembro uma pochet de palhinha muito gira mas que, não combina com nenhuma das minhas roupas...

Seguiram-se as reportagens fraquinhas e as propostas de moda muito Fashion, demasiado.
Existe a vertente criativa dos criadores de moda, o show-bizz, a festa das passereles e, depois a griff para as mulheres reais. Mulheres que independentemente de estarem sempre impecáveis, caminham na rua, vão ao supermercado, entram e saiem do Metro.
A Vogue limita-se a mostrar a moda que é apresentada nas grandes Semanas da Moda mundiais. Até mesmo a edição especial do “must-have” apresenta sugestões que não estão ao alcance das Carries e das Joanas e Carolines pelo preço e lado pouco prático não obstante, porém, a classe, beleza e qualidade.


Apenas me deixou satisfeita saber que as calças de pinças e cintura subida estão aí por mais uma estação. Confesso que adoro o modelo. Embora não disfarçem as ancas, adelgam a cintura e tornam-nos mais femininas.


Vou continuar a prestar atenção à Máxima. Adoro as propostas que fazem- do sonho à realidade- gosto das reportagens e têm óptimas crónicas. È mais barata e, se quisermos, não temos de comprar os brindes.

Bollywood


N.A: Este não pretende ser um post xenófobo ou com pretensões de denegrir raças, credos ou géneros.

Quantas de nós, mulheres, não nos perdemos já em sonhos cor-de-rosa, azul marinho ou verde tropa, com homens,militares de profissão?
Lembram-se de Richard Gere em “Oficial e Cavalheiro”? E de Ben Affleck em “Pearl Harbor”?
Pois continuem a sonhar porque cinema, infelizmente, é apenas cinema.

Há algumas semanas, estava sentada na Praça D. Pedro IV e eis que os vejo surgir. Eram muitos, não caminhavam em câmara lenta, nem se ouviram sininhos e plim-plim-plins.
Músculos?1,95m?Sorrisos sedutores? Qual quê... Eram oficiais da Marinha indiana e pareciam saídos de uma comédia bollywoodesca de baixo orçamento.
Desde os bigodes, cabelos médios à fraca figurinha tudo era pejorativamente perturbador.

Oh tirem-me deste filme...


A Hora do café



O “tomar cafézinho” tornou-se imprescindível em diferentes contextos e culturas.
É um gesto que, desde há séculos, é sinónimo de cortesia, hospitalidade e saudade acompanhado do prazer que o sabor e cheiro do café provocam,com a mais-valia de ser uma industria ainda bastante artesanal. Tudo no café me agrada.
Em Portugal gosto sobretudo do preço e qualidade. Se posso consumo café dos CPLP. São óptimos e permitem-me contribuir para a ecónomia de países que gosto particularmente e com os quais me identifico.
Contam-se pelos dedos das mãos as vezes em que pedi 1 café ao balcão e o digeri num trago. Não gosto desse gesto. Demonstra alguma falta de auto-estima. Sentarmo-nos a tomar café deve ser aproveitado como espaço de reflexão estejando sós ou acompanhados.

A maioria dos post que publiquei neste blog foram escritos em cafés.
Tenho saudades do Ethnic Café. Sempre que me sentava, o Matheus vinha ter comigo e desenrolava um festival de simpatia e hospitalidade. Sentava-se na minha mesa e expressava-se com as mãos. Ali, eu observava a vida, via entrar e sair gente. Se algum dia escrever um livro, por certo, terei como inspiração alguns dos personagens reais que por lá vi desfilarem(que será feito do arqueólogo aventureiro??).
Também o mercado barulhentno de Sofia de onde vos escrevi (quando ainda gostava de Sofia) e um outro em Madrid onde me inspirei em ideias de apaziguamento ibérico, em parte inspiradas nuns quantos abraços desfeitos.




Em Portugal tenho descoberto nos últimos meses uma série de espaços interessantes onde nos podemos sentar e usufruir do espaço envolvente.
Há pouco tempo entrei pela primeira vez n´A Brasileira. É um sítio onde se deve ir mas não é obrigatório. Vale a pena pelas cadeiras lindíssimas e velhas.
E o meu tempo, leituras, escritas e conversas são passados entre as máquinas de costura d´O Fábulas, junto à rua Ivens(embora me canse horrorores os critérios de utilização livre de Wi-Fi e a forma como o chefe da sala trata os colegas ); na Travessa do Carmo perco-me entre sonhos, cafés e letras no Vertigo Café, uma antiga mercearia transformada num espaço acolhedor; na Panificação do Chiado, na Calçada do Sacramento, compro bolinhos de canela que tanto me lembram a minha especial e doce avó; no Il Café di Roma dos Armazéns do Chiado perco-me com a vista para a Encosta do Castelo, Rio e Castelo de Alcácer do Sal enquanto me delicio com um “soberbo”(gelado com café); do Terraço da Polux fico deslumbrada com a proximidade com o Elevador de Santa Justa, as Ruínas do Carmo, os telhados cheios de pormenores e, entre eles, a cabeça do D.Pedro IV a espreitar até ao Terreiro do Paço.
Junto ao Largo de S.Carlos existem 2 espaços óptimos: o café austríaco que vale a pena pelo espaço amplo e tranquilo e, do outro lado do Largo, a esplanada do Auditório Mário Viegas. Este é também, na minha opinião, um dos cantos mais bonitos e românticos de Lisboa. Adoro a escadaria (quase) limpa, com floreiras a cair das janelas, o candeeiro clássico e a vista para o histórico teatro e para a casa onde nasceu o Pessoa (transformada em escritório de advogados).
Na Rua da Vitória, na baixa, há A Outra Face da Lua. Um espaço vintage, onde se pode tomar café num cenário de anos 50/60 e/ou espreitar as “novidades” das roupas em 2ºmão que o pronto-a-vestir, no mesmo espaço, tem. A sensação é de estarmos numa peça de teatro ou numa viagem ao tempo do Estado Novo.
Ainda na onda vintage,junto ao Beco do Quebra-Costas, nas traseiras da Sé, há o Pois Café, decorado com candeeiros de largos abajours floridos e sofás que lembram as alcatifas dos anos 80.

Desde as sugestõs que vos apresentei passando pela esplanda com chair-longs do Campo Pequeno ao Chill-Out em puffs, na Enconsta do castelo, tudo vale a pena. O que não vale- e está OUT- é ficar em casa a pensar como a vida é triste e que as coisas boas só acontecem aos outros.
É verdade que como seres humanos, somos institivamente ambiciosos e invejosos mas a vida é, sobretudo, feita de pequenas delícias e momentos que, todos juntos, formam um Moisaico incrível.
Aproveitem os últimos cheiros de Verão, os últimos sorrisos dos portugueses e enchentes de turistas bonitos. O Outono, felizmente, já está ai à porta. Trará as folhas tricolor desmaiadas na Calçada, a vontade dos casacos de lã, as idas ao teatro, os serões caseiros e,acima de tudo, a Nostalgia portuguesa.

Deixem-se levar. Ponham um Fado no vosso MP3 e aproveitem esta cidade tão linda, tão feminina e jovial, tão senhora de si e dona de encantos mil.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A hora do filme



A minha vida ainda se divide em 3 fases:

1)O pré-Macedónia;
2)Na Macedónia ( e no Mundo)
3)Pós-Macedónia

Na fase 1 (quando ainda sabia falar português fluentemente e conseguia escrever sem dar muitos erros ortográficos) estava bastante afastada do cinema. Às vezes via uns filmes mas tinha sempre outras prioridades. Uma palermice! O melhor era que quando via um bom jamais me esquecia dele.

Na fase 2 iniciei-me nos filmes sem legendas em português. Percebia menos de 30% do que se dizia e, por isso, prestava mais atenção à representação.
Nesta fase vi bastantes filmes alternativos da Islândia, Républica Checa, Macedónia...
Foi também nesta fase que o meu querido amigo Nenad Trpovski me deu a conhecer o Lisbon Story. Fantástico! Para mim um filme não muito interessante pela estória que retrata mas divino na forma como interage com Lisboa e a fotográfa.
Nesta linha é importante ver também o Fados, de Carlos Saura e Sostiene Pereira,de Roberto Faenza.

Na fase 3 tenho-me esforçado para pôr em dia a visualização de clássicos, conhecer novos realizadores e, sobretudo, reiniciar o prazer de usufruir de 2 horas relaxantes numa sala escura de cinema.
Vi o Elegia e amei. Vi toda a filmografia do Almodóvar e amei ( a Penélope Cruz é, sem dúvida, muito má actriz). Vi o Crush e amei (qual o caminho?).

Ontem fui pela primeira vez ao cinema com os meus formosos e soberbos sobrinhos e amei. É fantástico ver um filme pelos olhos de uma criança. Eles imaginam coisas e não têm receio de partilhar mesmo que seja uma verdadeira tontice! Com eles sinto sempre que o mundo é uma obra de arte e que eles são os artistas, que falam sem receios, nem conhecimento de causa. Apenas sentem e expôe.

Bem haja aos irmãos Lumiére e aos artista em geral!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A hora do livro


O único aspecto que aprecio no facto de não ter internet em casa é o tempo que passei a dispensar, novamente, à leitura: mais e melhor.
Lugares comuns à parte ler é mesmo um prazer. Sente-se um formigueiro na boca do estômago e, quando chega ao fim a última página, sente-se um vazio nos dias seguintes.

Lembro-me que quando acabei de ler O Testamento do Sr.Napomuceno da Silva Araújo, de Germano de Almeida, senti que perdera algo. Instalou-se, até, uma angústia que me acompanhou quase 1 semana.
Sentia saudades profundas do velhote catita. Quis ter o poder de o transportar para uma taberna de São Vicente e sentar-me com ele sabendo, à partida, que essa seria uma situação improvável tendo em conta o carácter do Sr.Napomuceno.
Quando acabei de ler O Rio das Flores, de Miguel de Sousa Tavares,tive insónias. Fiquei tão perturbada com o final – injusto por um lado, honesto pelo outro- que jurei que nunca mais iria ler nada do autor. Ele não tinha o direito de me partir o coração.
O mesmo se passa com o Fernando Pessoa. Por vezes tenho de me afastar da sua obra e vida para não me sentir perdida. Para controlar as saudades que sinto de passear de mão dada com ele e passar-lhe a mão no cabelo até que ele perceba que não está sózinho, que estou com ele e que, graças a ele, aprendi a controlar a minha metafísica e sou feliz.

Assim, prossigo com as leituras dos livros que requisito gratuitamente nas bibliotecas municipais de Lisboa.
Iniciei-me na literatura espanhola mas ao fim de 2 livros desisti. As traduções estão muito más.
Continu a minha relação de estupefação com o Saramago (caminhamos a passos largos para uma relação de deslumbre muito embora eu continue a achar que ele não percebe muito de pontuação e escreve assim só para disfarçar!).
E, claro, já não posso fugir ao prazer que Lobo Antunes me proporciona. Ele é tão humano que me magoa. Escreve tão simples e bem e retrata tão bem o lado cinzento de cada um de nós que entendo porque já foi nomeado para o Nobel da Literatura. Poderia ser fotógrafo.
O mundo precisa de escritores assim. Que ao lermos os seus livros nos façam sentir que somos, também nós, personagens daquela história, sem nos perdermos nas duplas adjectivações e outras tretas da estética literária.

Literatura é sonho. Para quê etiquetas elitistas? Raios que os partam, às etiquetas. (esta foi à Lobo Antunes).

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Primeiro vestígio arqueológico pós-Macedónia



Olá !Olá

Encontrei um português ex-SVE na Macedónia,que vive em Portugal.
Já entrei em contacto e aguardo resposta.

Também agora sugiro que não percam as cenas dos próximos capítulos.

Por coincidência também se chama André. Desconfio que os Macedónios pensam que é o nosso único recurso em nomes masculinos!!

Ajde Macedónia. Ce gledam (já com algumas Saudades. Há horas que mudam as nossas vidas)

terça-feira, 7 de julho de 2009

Porompompero



Prezados leitores

A imaginação continua em grande, tal como a preguiça e a falta de tempo.
A minha mente continua a passear, por enquanto e, intensivamente, em Lisboa, mas a partir de Janeiro , e durante 6 meses, levar-vos-ei por passeios a Sevilha. Vale chicos?

Não percam as cenas dos próximos episódios.

Até que a voz me doa

Quem nunca fez listas que ponha o dedo no ar e fique de costas para a turma com umas orelhas de burro. É o castigo pela incapacidade de sonhar!

Lista de coisas que quero fazer até ao fim da minha vida:

-Aprender a cozinhar saladas apetitosas e coloridas
-Aprender a costurar
-Gostar de desporto
-Saber escrevercomo ninguém
-Saber colocar a voz perante o público
-Desenvolver capacidades na área da floricultura
-Viajar
-Viajar com os meus sobrinhos
-Tocar Viola




Lista de viagens que quero fazer até ao fim da minha vida:
-Açores
-Amsterdão
-Paris
-Itália (outra vez)
-Cabo-Verde
-Marrocos
-Islândia
-Macedónia
-Arquipelago dos Bijagóz
-Nova York
-Egipto
-Vilnius
-América Central
-India
-Japão
-Barcelona
-Patagónia (a Grande, a tal viagem da vida)


National Geographic, a Sérvia e Eu



A edição 100 da National Geographic portuguesa, Julho de 2009, tem na página 69 uma reportagem fantástica do jornalista norte-americano Chris Carrol, intitulada “Os Sérvios, uma Nação divisível”. Não que seja uma obra-prima do jornalismo mas porque descreve em palavras e imagens exactamente o meu ponto de vista sobre os Balcãs, a ex-Jugoslávia e a questão do Kosovo: um misto de amor e respeito intenso que vem da alma com uma profunda confusão sobre os factos, mais a frustação de não entender por mais que pense, reflicta e questione.
Não controlei a emoção ao ler as palavras de Carrol. Com palavras e imagens ele mostra aquela que foi a minha realidade durante 8 meses. Ele percorre as mesmas ruas, vê as mesmas gentes e depara-se com as mesmas questões perante uma sociedade tão fortemente dividida por questões étnicas.
Oxalá a vida me leve de novo à ex-Jugoslávia

(cliquem no título para terem acesso à reportagem)

Sim, eu sei que às vezes os momentos são tão somente isso: Momentos.
São para ser vividos com toda a intensidade e, posteriormente, lembrados com nostalgia mas sem segundas intenções. Sim, eu sei isto. Afinal quando amigos me pedem conselhos é esta a filosofia que lhes vendo. Acrescento ainda que devemos continuar o caminho orgulhosos porque temos mais uma história bonita para contar e que, em ultima análise, é melhor ter vivido um verdadeiro momento do que uma realidade que não nos faz feliz. Para terminar digo que o tempo tudo cura.
Ora, claro está, que eu acredito, por experiência, nestes conselhos. Acredito mais ainda quando não sou eu a precisar deles. Não quer dizer que eu não saiba que o tempo é um grande aliado, não quer dizer que eu não ame intensamente as minhas histórias...porém é tão dificl esperar que o tempo venha e nos ajude a arrumar as nossas próprias memórias no Passado.
Assim, sigo saudosa dos teus abraços, do teu intenso calor humano. Relembro consecutivamente um momento em que, já sendo dificil voltar atrás e ceder às tentações da carne, me disseste “adoro este poder latino”, e outro em que transtornado pela intensidade do momento, interrompeste um beijo, agarraste o meu rosto entre as tuas mãos, disseste entre um palavrão de incredulidade “amo-te, amo-te” e ainda um outro em que caminhávamos lado a lado e tu, depois do meu comentário ao teu convite para jantar na tua casa, me beijaste como se o mundo fosse acabar amanhã. Eu disse-te “agora sim, estas-me  seduzir”. Desfilo estas recordações e vou-lhes acrescentando diálogos e conversas que não chegámos a ter.
Sei que um dia destes hei-de acordar melhor, sei que o tempo também me irá beneficiar, sei também que não há espaço nos nossos mundos para esta relação contudo não posso deixar de sentir uma saudade que me desespera...Foste um grande momento. Oxalá te transforme rápidamente nisso, apenas nisso.

segunda-feira, 6 de julho de 2009


Quando as vi a primeira vez achei-as nada atraentes. Pensei, para comigo, como é possível um homem com uma alma tão brilhante, tê-las neste estado de pequenez. Tinham até um ar desengonçado, meio torto e desproporcional.
Fiquei desapontada.

Quase decidi ali que não queria estar com ele por causa delas. Felizmente, por necessidade ou por uma atração fatal que sentia pelo seu brilho interior, decidi ignorá-las, pô-las de parte, como um acessório de inferior importância e parti à conquista deste homem que por algum motivo me fascinava.

Falo das suas mãos.O meu encontro com elas não foi, com toda a certeza, um Amor à primeira vista porém 1 ou 2 tentativas e revelaram-se o elemento mais marcante da nossa relação e o que me fazem recordá-lo com uma saudade sem fim.

A suavidade com que pousavam no meu corpo quando era hora de descansar, sem antes,porém, me terem tocado com insaciedade, curiosidade, decisivas e inesquéciveis, quando eu queria estar acordada -e ele também.

E quando percorriam o meu rosto e eu as sentia a percorrem a minha alma. Quando se detiam no meu cabelo acompanhadas pelo seu olhar que me esmurrava o estômago e me acendia as entrepernas.

Se me guiar pelo raciocínio confesso-vos que,inicialmente, não gostava da sua maneira de beijar contudo, hoje, recordo aquela urgência de tocar lábios e linguas e felicidade e desasossego e almas como algo inesquecível. E as suas mãos a acompanharem-no, como a Lua acompanha a noite e o Sol o dia. A percorrem a minha pele. Pousavam certeiras na minha cintura inquieta. Primeiro eram como uma pluma, lentas e leves, depois eram a larva do vulcão em que eu me transformava.

De todas as mãos que conheci estas foram as que menos espelhavam a promessa do que traziam consigo.

Nunca lhe disse como, no fim das contas, as suas mãos, parte do todo que ele era, significaram para mim.
Um dia, se ele,finalmente, responder aos meus emails, digo-lhe, sem rodeios, que quero casar com as maõs dele.