domingo, 28 de dezembro de 2014

A luz de Lisboa

Belém, Outubro de 2013 (dia de um reencontro muito especial)
Assim que o avião começou a sobrevoar a foz do Sado a paisagem vista da mínuscula janela encheu-se daquela luz que só Lisboa tem. Aiiii, e já sei que sou uma melga porque repito sempre isto mas Lisboa é tão boa, tão bonita, tão única. Porque será que não há lá forma para todas as botas?

Aproveitem vocês que estão ai e fazem de Lisboa e de Portugal um lugar deveras especial...A luz só por si não brilha sem vocês.

FELIZ NATAL
O meu Natal 2014 em família

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Vitamina D

Antes de voltar às "peripécias" passei por aqui só para dizer que preciso de SOL e de SUL


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Insólitos Irlanda #9


Sabem quando vamos a um restaurante pré-pagamento e a comida que pedimos ainda não está cozinhada? Normalmente há duas opções: ou ficamos no balcão, junto à caixa e esperamos, ou nos sentamos e depois o empregado vem trazer à mesa.

Na Irlanda, numa situação semelhante, o empregado da caixa entrega-nos uma maquineta e diz para esperarmos sentados. Quando a nossa comida está pronta, a maquineta farta-se de piscar umas luzinhas vermelhas visivéis até do outro lado do mundo. Dirigimo-nos ao balcão et voilá!


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Peripécias irlandesas: Hostal III

Peripécia - Segundo Aristóteles, "Peripécia é a mutação dos sucessos no contrário". Assim, poderemos considerar um acontecimento imprevisível que altera o normal rumo dos acontecimentos da acção dramática, ao contrário do que a situação até então poderia fazer esperar.

Bom, não quero que fiquem a pensar que as pessoas que estão nos hostal pertencem todas a um estereotipo psicológico que varia entre o louco e pirou de vez. Muito pelo contrário, nesta minha experiência encontrei pessoas incrivelmente simpáticas e lutadoras. Partilhei quarto com mais de trinta pessoas em meia-dúzia de dias. Os cromos contam-se pelos dedos de uma mão. Todas as demais pessoas com quem me fui relacionando eram muito agradáveis. É impossível falar com toda a gente que está de passagem por um Hostal, mas hà sempre caras que se repetem porque têm os mesmo horários de refeição ou os mesmos hábitos.

O Abraham´s Hostal deixa muito a desejar em termos de instalações, mas por ser o mais barato da cidade é muito procurado para instâncias de vários dias. Foi por isso que conheci muitos jovens, sobretudo espanhóis, que estavam nas mesmas condições que eu. Tinham deixado para trás os seus países e traziam na bagagem formações topo de gama e vontade de fugir ao desemprego. Os espanhóis vêm sempre dispostos a trabalhar em qualquer coisa porque sabem à partida que o nível básico de Inglês que têm não lhes permite inicialmente sonhar muito além dos típicos trabalhos não-qualificados. Era frustrante encontrar-nos cada final de tarde na cozinha, cada um sumido no seu silêncio. Quando abriamos a boca era para contar onde tínhamos ido distribuir CV´s. Cada dia uma nova ilusão que se acabava por se romper semanas depois. Eu estive assim demasiado tempo para saber o quão dificil é e compreendo aquela sensação de desespero e de inutilidade que se vai instalando em nós, quando já buscámos em todas as partes e não encontrámos um emprego que nos devolva alguma dignidade. O dinheiro vai diminuindo na conta e o caminho começa a ser tão estreito que o ar parece que rareia. E o mais frustrante é que o dia que encontramos um trabalho não podemos acreditar. Achamos que a qualquer momento nos vão ligar a dizer “desculpe mas foi engano. Você não vale para este posto, nem para nenhum outro. Vamos dá-lo a outro desgraçado”

Foi, pois, com grande alegria, que as primeiras pessoas a saberem que tinha encontrado um trabalho, foram os companheiros de Hostal. Foi uma coincidência. Eu estava na cozinha metida comigo mesma e com a cara quase dentro do ecrã. À minha volta estavam três ou quatro caras conhecidas igualmente sumidas. Ligaram-me para dizer que o posto era meu e quando desliguei fiquei abobada. Levantei a vista  e estavam todos a olhar para mim. Foi então que lhes disse “Tengo trabajo, I got a job” e todos aplaudiram.  Dias antes tinha estado num hotel em Madrid com muito mais estrelas que o Abraham´s (que em caso de ter estrelas devem ser cadentes) e tinha sentido um vazio e uma solidão muito maiores que a familiaridade que sentia no Hostal.

Não sou hipócrita e sei perfeitamente que não quero voltar a repetir a experiência. Adoro chegar à minha casa e encontrar tudo limpo e organizado. Gosto de ter os meus shampôos todos dispostos na banheira, sem estarem encafuados numa bolsinha. Se me apetece ando descalça e nem por isso apanho pé-de-atleta. Se desaparecer alguma coisa é porque a mudei de lugar e não me lembro, e não porque alguém a roubou. Mesmo assim, vejo que a vida está cheia de malditos atalhos que nos vão maltratando e deixando marcas. Umas esquecem-se rápidamente, outras nem por isso. Uns arriscamos e vivemos mais. Outros nem por isso. Talvez aos olhos desses outros, estes relatos das minhas peripécias não passem de loucuras, de perdas de tempo, de coisas sem utilidade. Mas há sempre alguém, algum livro, alguma paisagem nos quais tropeçamos que fazem com que cada segundo destes “tempos perdidos” valham a pena. Que justificam o sofrimento, a solidão e o rancor que tantas vezes sentimos quando escolhemos viver fora da “zona verde”.

Da experiência de viver num Hostal, trago além de todas estas histórias e outras tantas às quais vos poupei, três pessoas: o Manel e o Pedro, dois portugueses da margem Sul e a Francis, uma canadiana de 75 anos que ainda viaja de mochila.
Eu já tinha feito o check-out e pensava que já não voltaria a ver essa Lady tão simpática e jovem (que há noite se transformava numa máquina de roncar com direito a diferentes ritmos e sinfonias). Eis que numa dessas casualidades que a vida tem a voltei a encontrar nas ruas de Dublin. Fomos caminhar e almoçar juntas e falámos muito sobre muitos assuntos: livros, viagens, família etc...Ela dizia que tínhamos o mesmo sentido de humor. Foi-me levar ao meu novo Hostal e na despedida disse-me algo que me marcou muito e fez com que me emocionasse. Disse-me que nunca mais me esqueceria. Garanto-vos que se alguém jovem me dissesse o mesmo não teria um impacto tão grande. Que uma pessoa de 75 anos, depois de ter vivido tanto, viajado por aí e conhecido tanta gente me diga isso é porque realmente houve algo que fez com que eu me tornasse especial para ela.  

TO BE CONTINUED...

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O que é doce nunca amargou...

Desculpem a presunção mas não se pode ser sempre humildezinha.
Uma pessoa gosta de ouvir ao longo dos anos coisas como "aii tu és tão parecida com aquela actriz..." ou "Ui fazes-me lembrar a cantora tal"

Hoje no trabalho disseram-me que pareço uma das actrizes dum filme do Fellini (não vou dizer qual)...e foi uma senhora casada e já entradota de idade que me disse, ou seja, sem segunda sintenções.

Ufff...os cremes funcionam mesmo :)

Fellini
E ter dado beijos ao Marcello Mastroianni teria sido mamma mia!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Peripécias irlandesas: Hostal II

Peripécia - Segundo Aristóteles, "Peripécia é a mutação dos sucessos no contrário". Assim, poderemos considerar um acontecimento imprevisível que altera o normal rumo dos acontecimentos da acção dramática, ao contrário do que a situação até então poderia fazer esperar.

Quando voltei de viagem só tive vaga na casa dos horrores aka Abraham´s Hostal um par de dias mais por isso mudei-me para o Kinlay House Hostal, mesmo em frente ao Castelo de Dublin.

Enganam-se se pensam que tive vida de princesa. O quarto feminino de seis/oito beliches do anterior hostal foi substituído por uma camarata mista de dezoito camas. Acrescenta-se o facto de ter chegado na véspera de Halloween. Havia um rodopio tremendo de lobisomens e bruxas que podiam facilmente ser confundidas com senhoras da vida. A luz estava constantemente acessa e eu estava na cama de cima a levar com toda aquela incandescência. Até fiquei bronzeada! Depois, dormir em frente a tão Eminente monumento como vem a ser o Castelo de Dublin pode eventualmente ser interessante para os nepónicos que gostam muito de fazer fotos. Na prática não tem interesse nenhum porque os sinos tocam a cada quinze minutos. 
Entretanto, a gang do ronco tinha-se multiplicado quais coelhinhos e naquele quarto não se podia dormir. A noite de Halloween tinha vindo de golpe direitinha a mim, logo eu que só queria estar na minha cama tranquilamente a ler.

“Se não podes com eles, junta-te a eles”. Foi que fiz e nem precisei pestanejar.  Sabem aqueles autocolantes que se usam no Verão para atrair moscas? Eu venho equipada de fábrica com uma coisa do género, mas em vez de atraír moscas, atraí cromos:

Cromo 2: Gay até na maneira de respirar, brasileiro, trinta e dois anos, giro, giro, giro.

Cromo: “Hello, I am from Brazil and you?”
Sónia: Ah, eu sou de Portugal.
C: Oi?
S: Eu disse que sou de Portugal
C: Oi? Ah,entendi…Nossa, so we can speak portuguese, don´t you think so?
S: Claro! De onde é que és mesmo lá no Brasil?
C:Oi? Sorry?
S: Qual é a tua cidade lá no Brasil?
C: Ah, eu sou do Rio. Nossa, os portugueses falam bonitinho mas é bem dificil entender vocêis.
S:LOL
C: Adoro Paris. É a minha cidade de sonho. De onde é você lá em Portugal?

...

Depois de termos encontrado uma zona de conforto no portinglish ele disse-me que estava triste. A minha cabeça gritou-me “ainda estás a tempo de te despedires educamente e de te virares para o outro lado”, mas o meu coração AAAHHH O MEU CORAÇÃO esse maldito coscuvilheiro não se conseguiu conter e perguntou-lhe o que se passava. Contou-me que o namorado o tinha deixado mas mesmo assim ele o tinha convidado para a festa de Halloween. Se o namorado estivesse receptivo a uma reconciliação ele alinhava. Mas se o namorado não estivesse “se fodeu”. Contou-me que o plano dele era beijar toda a gente que estivesse na festa, escarrapachado na cara do outro. Eu apelei ao bom-senso e à auto-estima dele mas ele já não me ouvia. Aliás, estava tão absorvido pelo seu próprio mundo que dava duas stickadas de perfume na roupa, pousava o frasco, e voltava a agarrar nele dois segundos depois para dar mais stickadas. Pelo menos cheiroso devia estar!

...

No outro dia encontro-o (forma de dizer porque ele dormia na cama ao lado. Era só abrir os olhos e lá estava ele) e pergunto-lhe como tinham corrido as coisas. Falou, falou, falou só para me dizer que tinham corrido mal. O outro não queria nem saber dele e, por isso, ele tinha tido uma grande canseira a tentar seduzir pessoas na festa e tinha bebido até “cair di porri”.  Já ao final da tarde, voltei a encontrá-lo e comentou comigo que o namorado ia passar pelo Hostal a apanhá-lo para irem tomar algo e que ele, embora soubesse que o outro não merecia, tinha-lhe comprado um presente caro.


TO BE CONTINUED...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Peripécias irlandesas: Hostal I

Peripécia - Segundo Aristóteles, "Peripécia é a mutação dos sucessos no contrário". Assim, poderemos considerar um acontecimento imprevisível que altera o normal rumo dos acontecimentos da acção dramática, ao contrário do que a situação até então poderia fazer esperar.

Depois da experiência Aupair chegou a vez de dar passo a um novo e não menos surpreendente capítulo da minha vida: viver num Hostal.

Talvez viver não seja bem o termo, porque o objectivo inicial era hospedar-me apenas por uns dias enquanto procurava trabalho em Dublin e ia e voltava de Madrid. Tinha esperança que me dessem o posto de trabalho que ocupo actualmente, mas confesso que estava já tão céptica em relação a tudo que nem criei demasiadas expectativas. Só queria encontrar um trabalho, ganhar dinheiro, pagar as minhas contas e voltar a viver de forma independente. Para isso precisava estar no centro de Dublin e como não conheço ninguém nesta cidade, procurei um hostal cêntrico e o mais barato possível. Abraham´s Hostal, numa paralela da O´Connell Street foi o escolhido. Além de ser barato, incluí matabicho e no tripadvisor tinha críticas positivas. Embora a limpeza tivesse uma cotação baixa, os hóspedes pareciam excepcionalmente satisfeitos com o staff e com a organização do hostal (ou foram pagos para cotizarem ou não calharam irremediávelmente com a cabra ruiva da recepção).

Descrever como uma experiência negativa não seria de todo justo mas...
É extremamente incómodo partilhar um quarto minúsculo com seis ou oito raparigas. Umas que roncam, outras estão tão animadas com a viagem que  em vez de se dedicarem a dormir, dedicam-se a dar voltas no beliche da loja dos trezentos e a desgraçada que está na cama de baixo (ou de cima) tem de levar com aquele chiar suplicante toda a puta santa noite. Depois os W.C. partilhados são óptimos museus de memória de cabelos que estiveram nas cabeças de alguém e que já não estão...e há sempre algum objecto pessoal que desaparece e fica aquele ambiente estranho num espaço de quatro metros quadrados e apinhado de beliches. Quase se ouve aquela gota do suor nervosa a escorrer na espinha.

No primeiro dia é divertido porque cada pessoa que chega é de um país diferente. No meu primeiro dia ainda nem tinha os dois pés dentro do quarto e já tinha uma miuda asiática a perguntar-me “Whele you come flom?”. Sorri e respondi educadamente. Calamba, que culiosidade, a tipa ia dileitinha a Lisboa no dia a seguil. Claro, que lhe escrevi uma longa lista de locais recomendáveis, entre os quais o Martim Moniz (ihihihihihhi). Mas depois, invariávelmente começa um desfiladeiro de perguntas standard e das cromas do costume (eu sei que para algumas eu também devo ser croma).

Croma 1: Na cama em frente à minha estava uma miuda de cabelos compridos, pesadona sem ser gorda, que ora lia um livro, ora falava em inglês com sotaque francês. Perguntou-me de onde era e eu devolvi a pergunta. Quando me disse Israel respondi com um sorriso algo forçado “Ah, que fixe! Nunca conheci ninguém de Israel” (precisamente eu andava metida numas discussões pseudointelectuais pró-palestina). Contou-me que cada dois anos o avô convida toda a família para uma larga viagem e no ano anterior tinham estado em Portugal. Eu falei-lhe no meu adorado filme “ A viagem do director” e já não sei em que momento é que a conversa descambou para o tema óbvio. Bom, nesse momento a miuda de cabelos compridos foi embora e deu passo à croma na sua essência. Nalguns argumentos tinha razão. Óbviamente que os dirigentes palestinianos não são inocentes mas, a tipa estava super orgulhosa de ter feito a tropa, da mesma forma que as miudas portuguesas estão orgulhosas de ir cinema com as amigas num Sábado à tarde. Reconheceu que isso lhe trouxe consequência psicológicas irreparáveis e admitiu que a tropa não prepara os israelistas para um eventual ataque bélico à escala mundial, senão exclusivamente para combater os palestinianos. Os exercícios práticos são passar a “fronteira” sem ser vistos, nem mortos pelos palestinianos. Depois começou o discurso anti-islâmico que a meu ver não deveria ser permitido, assim como não o é o discurso anti-semita. Quando eu já desejava que se abrisse um buraco no chão e me engolisse, eis que se abriu a porta da casa-de-banho onde uma das hóspedes tinha estado emergida num banho sem fim qual Cleópatra, e foi assim que me consegui escapulir a uma conversa que me era cada vez menos grata...Só para concluir, antes que a casa-de-banho me engolisse, a croma estava deitada de lado na cama, mesmo em frente a mim, com a cabeça apoiada na mão e com um olhar cada vez mais distante e repetia que estava muito orgulhosa de ser israelista e poder pertencer a um país que tem capacidade de se defender dos mulçumanos e que a Europa estava a cometer um erro terrível ao deixar entrar toda essa “gentalha” ao mesmo tempo que abolia o serviço militar obrigatório...E eu ouvia aquilo e sentia-me cada vez mais orgulhosa de ser europeia.

Abraham´s Hostal

TO BE CONTINUED...

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Peripécias irlandesas: Au pair

Peripécia - Segundo Aristóteles, "Peripécia é a mutação dos sucessos no contrário". Assim, poderemos considerar um acontecimento imprevisível que altera o normal rumo dos acontecimentos da acção dramática, ao contrário do que a situação até então poderia fazer esperar.

Quando escrevi este texto acabava de atravessar uma fase dificil depois de oito semanas a procurar trabalho e a sentir-me perdida e sózinha. Tentava agarrar-me à restia de criatividade que ainda tinha mas para mim  o caminho estava a ficar cada vez mais sem saídas. Ou voltava para casa sem ter conseguido nada além de uma grande frustração, ou continuava na Irlanda mas para isso teria de dar alguns retoques nos planos que havia traçado para mim.
Na vida dos imigrantes, os trabalhos de Kitchen Porter estão para os homens, como os trabalhos de babysitter estão para as mulheres, ou seja, quase o último recurso, porque além de serem mal pagos, exigem uma carga laboral muito grande e uma energia que nem o Tarzan tem. Inscrevi-me na página das Aupair na Irlanda e começaram a aparecer diferentes propostas. Era pegar ou largar. Fui contactada por várias familia e fiz uma pré-seleção de cerca de quatro delas. Por exclusão de partes, escolhi uma família no Condado de Kildare, com dois pequenos gémeos de seis meses.

Assim, no inicio de Setembro deixei Cork, fiz as malas e levei uma lista de coisas que queria fazer nos tempos livres para ganhar uns trocos extra. Depois duma brainstorming com uma amiga, cheguei à conclusão que o melhor seria procurar trabalhos como tradutora. Não ia demasiado animada porque trabalhar como babysitter. Fugia em muito ao meu objectivo inicial, mas ia de cabeça erguida, com energia para agarrar o novo projecto e, sobretudo, com um sorriso na cara porque o mundo não tinha a culpa das minhas desavenças internas.

Fui recebida por uma familia de classe média-alta (diria talvez mais alta que média), numa casa de campo deslumbrante, no meio do nada. A loja mais perto estava a cerca de meia-hora a pé, assim como a única farmácia, supermercado e estéticista num raio de não sei quantos kilómetros.Não me importei. Era tratada com educação, tinha longas conversas com a mãe dos amorosos gémeos e toda a comunicação era feita em inglês o que me ajudou bastante. Como a mãe é professora de Educação Física, magrérrima mas convencida de estar à beira da obesidade mórbida (confesso que me inspirei nela para escrever este texto), toda a comida era biológia, home-made, todos os dias fazíamos caminhadas de passo rápido pelos magníficos campos irlandeses e depois de jantar uma sessão de Insanity. Era óptimo e estava feliz com a minha rotina saudável. As noites eram terminadas num quarto com decoração de revista e com uma casa-de-banho privada enorme.

Até aqui tudo óptimo mas, assim que cheguei percebi que o meu velho computador se negava a conectar à wireless da casa, portanto os planos de trabalhar como tradutora estavam fora de questão. Assim como os planos de fazer cursos à distância, procurar trabalhos ou escrever longos e-mails aos meus amigos. Nunca se opuseram a que eu usasse o computador lá de casa ou o ipad, mas a verdade é que era dificil escrever num apple com teclado irlandês, entre outras pequenas comodidades perdidas tais como a privacidade ao fazer downloads de coisas que me enviavam por e-mail etc...Depois cada vez que me tinha de deslocar a Dublin porque a família ia passar o dia com os amigos/familiares, tinha de gastar muito dinheiro em transportes. O salário de aupair não está mal mas não é nenhuma fortuna e muito menos compatível com o standard de vida. Por fim, viver no local de trabalho não é de todo recomendável porque é um non-stop na actividade laboral, assim como na relação com os “colegas”, neste caso os pais dos gémeos.

No inicio de Outubro disse à mãe que ficaria até ao final do mês porque precisava de outros recursos financeiros. Ela não só não se opôs, como se alegrou. Acredito que para ela também tenha sido intenso passar tanto tempo sózinha com uma estranha de sotaque português, dois bebés que não a deixavam dormir à noite e um marido sumido de espírito e útil apenas nas tarefas mínimas. Depois um milagre aconteceu e fui chamada para a primeira entrevista do meu actual trabalho e, mais tarde, para a segunda entrevista.

Então, eu acho que se não tiverem uma pressão muito grande para ganharem dinheiro e se conseguirem trabalhar abstraíndo-se da relação intensa que se cria com a familia de acolhimento, aupair pode ser uma boa opção. O contacto com a cultura e a língua é total. A mim ajudou-me muito a estar mais confiante na hora de falar inglês, assim como na curiosidade que tinha sobre muitos tópicos da cultura irlandesa.  Contudo, sofri com a falta de tempo para coçar o nariz. Cuidar de dois bebés é um compromisso de 24 horas. A privacidade só existe quando há uma porta fechada. Eu só estava “livre” à noite, no meu quarto de revista e mesmo assim não era uma liberdade total. Depois, há alturas em que vemos que as crianças estão a ser mal habituadas mas não somos quem para o dizer aos pais. No meu caso, a mãe não queria ouvir os bebés a chorar. A única forma de o evitar era estando constantemente a entretê-los ou a pegar-lhes ao colo, num ciclo vicioso. Um dos gémeos era muito gordinho, robusto e adorava-me, portanto acabava sempre no meu colo e eu acabei com as costas feitas num oito. Por fim, embora a família fosse extremamente amável comigo, eu era a babysitter e imigrante. Nunca senti por parte deles qualquer hostilidade em relação a isso, mas algumas vezes vinham a casa amigos que me tratavam educadamente como a empregada. Creio que ao facto de serem preconceituosos, juntava-se o factor classe social, porque estamos a falar de pessoas de classe alta (tudo fachada, porque a mãe era muito cínica e assim que eles iam embora contava-me todos os podres e a maioria andava com os tostões mais contados que eu).

Depois, por fim, encontrei um trabalho. Meus caros, tudo nesta vida é experiência adquirida e sumada. Não desistam de ser livres nos vossos sonhos. E sonhem um sonho, detrás do outro.

"Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida, tão concreta e definida como outra coisa qualquer..." Pedra Filosofal, Manuel Freire

cama com colchão aquecido

banhos de luxo
TO BE CONTINUED...

domingo, 30 de novembro de 2014

Feijoada brasileira num Irish Pub

Na Estauce Street, no coração do Temple Bar, há um típico irish pub que esconde um “segredo” no seu interior. Entramos e imediatamente apertamos os olhos na expectativas de que se acostumem à tipica penumbra que caracteriza os pub irlandeses. As paredes estão forradas com velhos flyers de bandas rock n´roll old school. Logo à entrada há um enorme dos Guns n´Roses, por debaixo de um espelho posto gentilmente para que as senhoras se possam admirar e repintar os lábios (digo eu que é com esse propósito). À esquerda está um palco e logo depois um balcão enorme com cadeiras de pele dispostas a toda à volta. Por detrás um barman, um jovem roqueiro com barbas à zztop. À altura da cabeça dele há uma corda onde estão pendurados uma centena de soutiens que as clientes gentilmente cedem para a decoração do espaço.

Aos fins-de-semana não se ouve rock neste típico irish pub, nem se tomam guiness e quase não se ouve falar inglês. As guitarradas são substituitas pelo forró, o duro inglês pelo doce sotaque do português do Brasil e as Guiness por um prato de feijoada com farófia com sabor a comida de mãe. Um dos segredos mais bem guardados de Dublin é, afinal, conhecido por todo o mundo, sobretudo pela comunidade brasileira. Ao fundo do pub há um cantinho dedicado a um buffet de feijoada brasileira. Custa 6 euros o prato servido pelo próprio consumidor ou 8 euros com direito a repetir até rebentar. A bebida não está incluída e pode ser pedida ao simpático barbudo de sotaque impenetrável, mas tudo aquilo a que os admiradores da feijoada brasileira têm direito está lá: feijão preto, feijão manteiga, carnes, arroz no ponto, farófia, legumes, salada e pão.

Segundo as minhas “investigações”, a pessoa responsável por este sucesso, um brasileiro radicado em Dublin, há alguns anos decidiu começar a cozinhar  a feijoada aos fins-de-semana no seu apartamento e a convidar os amigos e os amigos dos amigos. O preço era simbólico e a qualidade boa e rápidamente o passa a palavra começou a atrair mais amigos de amigos de amigos. Uma colega de trabalho brasileira a quem comentei o caso contou-me que ela chegou a ir a casa desse tal patricio, sem o conhecer de lado nenhum. Havia uma fila grande nas escadas do prédio onde ele vivia e a feijoada era comida no colo, nos sofás ou nas cadeiras da sala de estar entre molduras com fotos de família e almofadas decorativas. Depois a coisa foi crescendo até chegar ao The Mezz, no centro de Dublin.

Recomendo vivamente pela qualidade e porque é muito mais barato que a maioria dos restaurantes dublinenses, muitos com um menú bastante mais pobre.

Na mesma rua aos fins-de-semana há também um mercado de comidas do mundo e uma loja vintage que eu adoro e que tem os vestidos de festa mais incrivéis.

a feijoada

o palco ao fundo com música ao vivo

o balcão e os soutiens 



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Outra forma de maus-tratos sobre as crianças


Li no blog da famosa Pipoca a história do Miguel, um pai que está impedido de ver o filho, porque a mãe da criança entendeu que deveria ser assim.
Todas as histórias têm duas ou mais versões, segundo o número de intervenientes. Talvez o Miguel não seja tão inocente como à primeira vista deixa transparecer, no entanto, a menos que seja um potencial perigo para o filho, não existe nenhum motivo aparentemente plausível que justifique o comportamento da mãe. Aparentemente este pai é um “gajo normal”. De qualquer forma, mesmo que este pai não seja tão “normal” como aparenta, o filho de sete anos é que sofre o efeito borboleta da relação entre os pais desavindos. E este comportamento entre casais divorciados repete-se demasiadas vezes. Ora por uns motivos, ora por outros, a criança é que paga as favas. Segundo especialistas, a infância é a fase mais importante na formação do carácter, assim como é a fase onde se fomentam os pilares que vai ter quando se tornar adulta. Nem é preciso ser assim tão especialista para perceber que é tal e qual. A cabeça das crianças é uma esponjinha que absorve o que lhe vamos dando. Então porquê é que lhes damos coisas más?

Aos trinta e um anos já passei pela fase dos casamentos, i.e, dos amigos que se casaram ao dois e três durante meia dúzia de verões. Depois veio a fase do babyboom e por aí ainda andamos. Infelizmente, já tenho também alguns amigos que passaram a uma das fases seguintes, que obviamente não é uma fase de passagem obrigatória, o divórcio.
Bom, este caso do Miguel chamou-me muito a atenção por uma situação que vivi há cerca dum ano. Um amigo de infância com quem falava frequentemente por telefone, durante meses foi-me contando o dia-a-dia numa família à beira da separação, a dele. Nalgum momento ele sentiu que já não estava a conseguir conectar com a esposa. Segundo ele, tentou falar com ela várias vezes sobre a forma como se sentia. Parece que as coisas continuavam sem funcionar e ele percebeu que já não gostava dela, a filha que ambos têm era pequena mas já começava a perceber muitas coisas, ele não queria que ela crescesse num lar sem amor e decidiu pedir o divórcio. Para ele a família é o mais importante, portanto foi uma decisão dificil.
A esposa recusou-se a aceitar, embora pouco ou nada fizesse para conquistar o amor dele (nestas situações in extremis muitas mulheres recorrem ao golpe da barriga...foi mais ou menos o que poderia ter acontecido). O ambiente foi ficando cada vez mais dificil e o final era quase previsível. Não vou entrar em detalhes mas as coisas não acabaram bem entre ambos. Por fim, estava cada um para seu lado, em casas separadas, cada um com o seu sofrimento. Não a conheço e não sei qual é a versão dela. Com certeza tem uma e sei também que o meu amigo não é um santo. Mesmo assim, ao longo do ultimo ano, de todas as vezes que falei com ele e perguntei pela filha a resposta era sempre idêntica. Penso que vocês já sabem qual é.  A ex-mulher não só não assinava os papéis do divórcio, como também não o deixava ver a filha. Ou deixava muito raramente mas na presença de terceiros, ou deixava falar ao telefone umas vezes sim, outras vezes não, ou fazia ameaças etc...
Há dois meses que não tenho notícias. Nessa altura o meu amigo estava contente porque podia falar com a filha ao telefone todos os dias. Durante todo este tempo não houve uma ordem do tribunal que o impedisse de estar com a filha, mas ele não quis forçar a situação para que tudo não ficasse pior. Na minha opinião, o pior que poderia acontecer numa situação destas seria que eles se reconciliassem como casal. Por muito boa vontade que tenham, dúvido que seja possível perdoar algo assim. Mas a verdade é que estou sempre à espera que ele me escreva a contar que as coisas se “recompuseram”. Sinceramente, oxalá que não. Nem eles se merecem um ao outro, nem nenhuma criança merece ser tratada como bola de ping-pong ou arma de arremesso entre dois adultos que padecem dos mais variados problemas, tais como auto-estima. 

Sei o que é levar com os pés e sei que doi muito e abala de todo o amor própio, sobretudo quando ainda gostamos e queremos mais. Não sei o que é ser mãe, ter à minha responsabilidade uma criança e achar que tenho o  poder de decidir se está ou não com o pai. Sei o que é crescer numa familia com pais divorciados. Os meus pais divorciaram-se quando eu tinha cerca de quatro anos. Nunca os vi juntos. Ouvi-os queixaram-se um do outro algumas vezes (e com razão). Senti o sofrimento do meu pai por não poder ter a custódia partilhada. Naqueles tempos os juízes davam a custódia total às mães e o meu pai vivia no estrangeiro, portanto nem sequer se punha essa questão. Nunca a minha mãe nos impediu de passar as férias com o meu pai. Ele só precisava avisar quando chegava e lá estávamos nós, de vestido bonito à espera dele. Não ouvi gritos, nem vi empurrões entre os meus pais (talvez os houvesse mas eu não me lembro). Naõ foi sempre tudo pacifico. Na esponjinha duma criança com pais divorciados há sempre “purpurinas” e perlimpimpins familiares que nunca chegam a ser absorvidos. Falta alguma magia, muitas vezes responsável pelos tropeções que damos em adultos. Parece que procuramos sempre alguma coisa, alguma emoção que perdemos algures e que jamais vamos encontrar, porque só se é criança uma vez. É a derradeira oportunidade para aqueles que nos fizeram, nos criaram e nos amam, fazerem de nós gente boa, sólida e segura, independentemente da confusão que possa ser a vida dum casal em conflito.


Não sei porque vim com este tema aqui para o blog. Não sei se o meu amigo me lê. Se lê talvez fique chateado por contar a história dele. Não me importa. Só desejo que o Miguel e o meu amigo se possam reunir com os filhos que amam e que os deixem ser pais dessas duas crianças. Que a vida não lhes poupe mais a magia da purpurina. Eles e todos os outros, pais e filhos, que se encontrem na mesma situação...


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Spotify

OMG! Existe uma "coisa" chamada Spotify e eu não sabia...
Trata-se duma aplicação para ouvir música. A música pode ser ouvida gratuitamente, mas nesse caso só em áreas com wi-fi e temos de levar com publicidade de cinco em cinco faixas, ou mediante pagamento podemos adquirir o Premium e nesse caso a música fica gravada no dispositivo e sem publicidade pelo meio.
Eu ainda não decidi se vou pagar ou não a mensalidade. Por enquanto oiço a música em modo "Aleatório", ou seja, aquilo que o Spotify bem entender. Não posso escolher eu a faixa que me apetece ouvir. Mesmo assim estou a adorar e já conheci uma série de novos artistas.
Deixo-vos a minha playlist do momento:

- The Black Mamba;
- Suzanna Owiyo (aiii gosto tanto);
- Os Tubarões (este Ildo Lobo acaba com o meu coração);
- Kalevala (da Macedónia);
- Joe (R&B)

fonte:facebook.com

domingo, 23 de novembro de 2014

Papa Francisco

Ay Dios que estoy viciada en él. 
Ojalá no sea sólo más de lo mismo, pero hasta a una no creyente es capaz de dejarle con los pelos de punta. 

Es que le quiero con locura a este viejo boludo. Escuchad lo que dice:



"Las instituiciones son para salir, sino salen la Iglesia se convierte en una ONG"

"Esta civilización mundial se pasó de rosca"

"Espero lío"

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Festa do cinema espanhol volta a Lisboa


Sou descaradamente uma entusiasta de Espanha. Embora seja de todo contra esse sonho esquiziofrénico chamado União Ibérica, acho fantástico cada passinho dado no sentido das duas culturas tão pluripintas, mas ao mesmo tempo tão gémeas entre si, se aproximarem. É tão bom quando Portugal e Espanha se deixam seduzir entre si sem preconceitos e sobranceirismo ou sentimos de inferioridade.

Foi há cinco anos quando assisti à primeira mostra de cinema espanhol, no Cinema São Jorge. Naquele ano “Ay Carmela” e “14 Kilómetros” ficaram gravados na minha retina, creio que para sempre.
Estava a pouco mais de dois meses de partir para Espanha e, nas horas vagas, dedicava-me a ser autodidata e a aprender espanhol por minha conta, com a preciosa ajuda do Sabina e do Fito. Vivia no Largo de São Carlos e partilhava casa com a Denise, a Sónia, a Lisa, o Mimi e um rato não convidado. A Bea tinha partido depois do DocLisboa dedicado aos nossos amados Balcãs. Quando perguntava aos meus amigos espanhóis referências cinematográficas de cinema espanhol todos me diziam que me deixasse disso, que o cinema espanhol era só mamas, cús e drogados, em suma, nada digno de memória.
Não foi exactamente o que senti naquela noite lisboeta de Outono quando me dirigi à minha casa no Chiado abalada pela perfomance da Carmen Maura e uma abordagem tão directa à Guerra Civil Espanhola. Nessa noite acenderam-se vários interruptores na minha alma que até hoje, felizmente, continuam acesos, tais como a minha paixão legionária pelo cinema espanhol.
Mais tarde, já em Madrid e com o cartão da biblioteca municipal, requisitei dezenas de filmes. Escolhia ao calhas e, como os espanhóis, não consomem cinema nacional, normalmente tinha todos os filmes disponivéis para mim. Alguns foram autênticas banhadas, outros fomentaram a minha fidelidade. Arrisquei-me fora de Espanha, experimentei o cinema hispânico e tropeçei no Ricardo Darín: “El secreto de tus ojos”, “El baile de la Victória”, “Kamchatka” e “El hijo de la novia”, este último aborda o Alzheimer e, por razões muito pessoais, fez-me chorar o tempo todo. Mas há tantas referências e tão bons actores. “Lunes al Sol”, com o Bardem e o Luis Tosar. “Los santos inocentes” e “Las verdes praderas”, com Alfredo Landa etc...

O cinema espanhol está de volta a Lisboa. Este ano não vou estar lá mas deixo-vos aqui o link do anúncio, porque o site ainda não está disponível. Vai decorrer entre os dias 5 e 9 de Dezembro, em Lisboa e no Porto, e este ano há muitos mais filmes que nos certames anteriores.
Felizmente, nesse fim-de-semana, vou receber em Dublín a visita dum amigo lisboeta, também ele entusiasta da cultura espanhola. Somos tão cromos que muitas vezes falamos em espanhol e, portanto não dúvido que faremos uma homenagem à nossa maneira a esse mundo que tanto nos apraz.



"3 bodas de más": vi este filme no festival do ano passado e posso afirmar que a história dessa muchacha podia muito bem ser a minha...muito resumidamente, ela tem muitos namorados, todas as relações acabam e ela vai-se tornando amiga e confidente de todos. Vai sendo convidada para ir aos casamentos deles e parece que a felicidade insiste em não lhe bater à porta, até que...



segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Dress Code

Uma das cláusulas do meu contrato diz respeito ao dress code. Supostamente a aparência deve ser cuidada e formal e, nas alíneas, referem-se expressamente ao tipo de roupa que devemos utilizar. Também por essa cláusula, antes de começar a trabalhar, eu, a rapariga informal, fui a correr a Lisboa buscar alguns blazers e comprar coisas novas. Contudo, acho incrível o conceito de formalidade e elegância de alguns colegas. Vi mamanas moçambicanas com a capulana amarrada bastante mais formais e bem parecidas quando comparadas com aquilo que vejo diáriamente lá no escritório. E olhem que eu estou logo à entrada duma sala onde trabalham mais de cinquenta pessoas, por isso vejo muita coisa...




domingo, 16 de novembro de 2014

Começou a temporada gastronómica




Para mim um novo capítulo não está ainda sobre carris até ter a minha cozinha a funcionar, com as minhas receitas das quais só eu entendo e que improviso no momento. Posso, pois, anunciar que este fim-de-semana iniciei definitivamente uma nova fase da minha vida: novo trabalho, nova língua, nova cidade, novos vizinhos, novos amigos e nova cozinha. Deixo-vos a receita do primeiro prato inventado:

Nuevo Pisto Dublinense:
- refogado com azeite e muita cebola;
- adicionei, depois, pimento vermelho e courgette picadinhos;
- mais tarde, cogumelos também picadinhos;
- deixei suar bem e, entretanto, adicionei alho em pó. Nunca ponho sal;
- juntei grão;
-à parte cozi massa integral durante 9 minutos para ficar al´dente;
- cortei beterrada em vacum às rodelas;
- queijo feta em cubinhos;
-Hummus que já estava a ponto de passar de prazo;
- fiz chá verde (que deve ser bebido morno);
-acendi uma vela e ouvi isto com muito gosto.

E tudo isto com um sorriso não forçado na cara :)

sábado, 15 de novembro de 2014

Playlist ÁFRICA

Enquanto conto os dias para voltar a esse lugar mágico chamado África vou desfrutando da minha nova playlist:



sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Cheers

Chegou ao fim a minha primeira semana de trabalho na Irlanda. Foi óptima e promete ser a primeira de muitas semanas dinâmicas e atarefadas. Para mim e por mim, um presente de Sexta-feira  à noite:

Kaki, coconut rolls e Ribera del Duero

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Lisboa nunca é demais...

Praça da Figueira 6.11.14
Volto e parto outra vez e de cada vez que volto sinto que sou um vaivém espacial mal sucedido porque por muito que tente levantar voo, cada vez que dou de caras com Lisboa, espatifo-me toda no chão.

Talvez fosse o ar Outonal que a acompanhava reverendamente, deixando-a perdida entre o fumo das castanhas, como uma miragem, o certo é que assim que saí pela porta da Estação do Rossio, pensei “Oh my God és tão linda Lisboa”. Bom, não seria por algo tão concreto como a estação do ano, porque eu tenho sempre essa mesma sensação mesmo que seja no pico do Verão. Lisboa continua a ser a cidade mais bonita onde vivi e que visitei. É majestosa sem que seja necessário ser imperial. Uma metáfora do próprio fado do povo, dos bairros pobres.

E à noite, depois de ter passado o dia entre conversas e bicas com amigos que tiraram preciosos minutos dos seus dias para me verem, caminhei desde as Portas de Santo Antão até ao Cais e subi pelo Alecrim, baixei o Chiado e fui dar ao Rossio, com a mesma sensação de estupefação que Lisboa me provoca sempre, quando vivo e não vivo nela. Na última temporada que passei em Portugal, quando me aborrecia de ver o Tejo e o Panteão da minha janela da Penha de França, descia à cidade e passava longas horas a caminhar por essas ruas, sem jamais me aborrecer. Sou uma frikie de Lisboa e, até hoje, só encontrei um frikie como eu, que me acompanhava mano a mano nessas deambulações citadinas e sem horas( Diogo, o que será feito de ti louco?)

Casa do Alentejo

Com a Ruth tomei um moscatél na Casa do Alentejo, nas Portas de Santo Antão. Já não ia lá há alguns anos e encontrei algumas novidades. A lojinha continua lá, assim como o toucador, aka, W.C feminino no seu melhor estilo frou-frou. Contudo, parece que o restaurante do primeiro andar está fechado, tendo sido substítuido por uma tasquinha que está no R/C à direita, assim que terminamos de subir as escadas.
Não vou falar outra vez da minha congénita paixão pelo Alentejo. Embora ache que este antigo palacete estilo mourisco fica muito aquém das pobres casas de adobe das minhas tias velhinhas, a intenção é a melhor e desde os cantares alentejanos que dão a música ambiente ao edifício, até aos queijinhos conservados em azeite (como deve de ser), a Casa do Alentejo é o sítio perfeito para se ter uma conversa em sussurro com a mais genuína intenção de mudar o mundo, sabendo à partida que não o mudaremos. Mas as mulheres somos assim, quando nos juntamos, sem nos darmos conta, já estamos a fazer a diferença.


fonte: manuelacolaco.blogspot.ie
Descontos no cinema

No Sábado foi a vez de me dedicar às minhas pessoas preferidas. Perguntei o que queriam fazer no meu último dia  e sugeri que fossemos ao teatro. Qual não foi o meu espanto, quando muito encabulados, acabaram por admitir que não gostam nada de teatro. Fiquei com o coração partido porque adoro teatro e gostava que eles adorassem também, mas ao mesmo tempo agradeci a sinceridade. A sinceridade é sempre a melhor recompensa e o melhor remédio para tudo. Por isso, e depois de pormos os pontos nos is, dedicámo-nos a uma tarde de cinema no Cascaisshopping.
Não sei se sabem, mas há uma série de cinemas que fazem desconto no segundo bilhete ou até o oferecem mediante apresentação do cartão Nos ou do cartão da CGD. O cartão do Sporting também dá direito a 50% de desconto num bilhete. Como as três entradas foram tão baratas, comprámos um grande balde de pipocas e um IceTea gigante e divertimo-nos como loucos a ver “Os Monstros dasCaixas” e a fazer  blhherk de cada vez que o “Larápio” inchava. Para aqueles que não querem gastar dinheiro nos extras, sugiro que comprem as pipocas doces do Pingo Doce. Custam uma pechincha e são muito melhores que as dos cinemas.

Para aqueles que gostam de levar as crianças ao teatro, sugiro que consultem aqui a agenda do grupo de teatro Chão do Olivo, em Sintra.


E ainda...

1. Já há algum tempo que me perguntava porque chamam Terreiro do Paço à Praça do Comércio. Descobri que antes do terramoto de 1755, os reis habitavam os edifícios amarelos e, portanto, era o Paço. Depois do terramoto, foi construído um palacete provisório na Ajuda, ao qual chamaram "a real barraca" por o mesmo ser de madeira. Mais tarde, "a barraca" ardeu, e os reis com receio dum novo terramoto e, não querendo misturar-se com a plebe que negociava com os barcos de comérico chegados ao Terreiro do Paço, decidiram fixar residência oficial em Queluz ou Mafra. Assim, o espaço ficou reservado às transações comerciais e, daí, passou a designar-se Praça do Comércio.  Mais tarde, já no século XX, albergou diferentes ministérios públicos. Hoje em dia é um espaço de consumo(para ricos) e lazer. A nossa Praça do Comércio é um espaço metamórfico e uma espécie de museu a céu aberto. Estando debaixo do Arco a olhar para o rio como se a Praça fosse um quadrado, sugiro que visitem os cantores inferiores esquerdo e direito. Vão tropeçar na História...

2. Na Culturgest começa dia 19 deste mês a Festa do Cinema Romeno. Não sei se todos podem entender o humor balcânico e surreal dos filmes romenos, mas um olhar sem preconceito pode revelar uma grande e divertida surpresa. Vejam aqui a programação. Adoro este filme, que embora não sendo romeno, foi gravado na Roménia e vai muito ao encontro do tipo de filmes que se fazem por lá.

Praça do Comércio 6.11.14


domingo, 9 de novembro de 2014

Alguém consegue partir sem olhar para trás?


Portela, 9 de Novembro de 2014
Hoje enquanto esperava na fila do check-in pude observar dois tipos de passageiros que iam subir ao mesmo avião que eu. Por um lado os irlandeses a quem se acabavam as férias, já àquela hora da manhã a cheirarem a alcóol, de calções curtos e chinelos (não todos). Por outro lado os portugueses que emigram. Embora a comunicação social insista que são os jovens recém-licenciados os que mais emigram, isso não é certo. Eu vi algumas pessoas com mais de quarenta anos na fila do check-in, com a já costumada mala de medidas exactas, com um ar pouco animado de quem não vai de férias.

De uma forma geral o discurso é o mesmo, independentemente da idade. E vai mais além do lírico queixume lusitano. Hoje dizia uma rapariga com uns 35 anos, emigrada na Escócia "A mim o que mais me custa é deixar este clima maravilhoso e ir para o meio daquele nevoeiro"
Quem me conhece e quem me lê sabe que sou emigrante por opção, que adoro a minha mochila e as minhas aventuras, mas cada vez mais me custa partir. Talvez por cansaço de andar para cá e para lá, talvez por tantas coisas, mas cada vez é mais complicado. Ao contrário do que alguns amigos me dizem quando me vêm mais desanimada "tu vais mas podes sempre voltar que aqui é a tua terra", a verdade é que não é bem assim. Quem está fora, sabe que a opção in extremis não é voltar. Voltar é para ficar pior. Mesmo que o trabalho que nos espera no estrangeiro esteja desenhado para mão-de-obra não-qualificada, sempre permite ter uma vida mais digna do que aquela que teríamos no nosso Portugal a exercer funções para as quais nos preparámos numa universidade. E os que somos solteiros vemos o panorama ainda mais negro porque não temos com quem partilhar nem as misérias, nem as contas.

Quanto mais viajo, mais reparo no potencial do país. E fico triste por saber que dificilmente voltarei à minha terra. Mesmo que o meu exílio não se faça nestas terras de nevoeiro (e não se fará com toda a certeza), creio que não estou destinada ou preparada para viver a minha vida nessa miséria consentida. 

Então, por agora só nos resta viver reféns no estrangeiro. Portugal é o nosso inimigo, o nosso carrasco, liderado por um "cascais" que andou na faculdade até aos quarenta sem jamais ter trabalhado, esteve indiciado por crime de violência doméstica e passou por clínicas de desintoxicação...Visto de fora o quadro é desmotivante.

eu e a minha mãe estamos na parte branca :)

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Insólitos Irlanda #7

Depois das sanitas aquecidas no Qatar, agora é a vez do aeroporto de Dublín ter placas alisadoras de cabelos nos W.C. de Senhoras.


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Pongamos que hablo de Madrid

Cibeles e Correos
"Estás en mi lista de sueños cumplidos" 
Boa Mistura

Quantas vezes vos falei de Madrid? Acredito que a maioria dessas vezes tenham sido coisas boas, maravilhosas, embora me lembre de uma vez ter passado por aqui e ter dito que algo de estranho me passava porque eu não me estava a divertir em Madrid. Hoje em dia já sei qual era o meu "problema" e Madrid, óbviamente, não era a culpada.
E de pensar que Madrid foi um imprevisto na minha vida...a Bolsa já estava ganha, estava tudo pensado para eu ir para Sevilha e aquele e-mail inesperado onde me informavaram que "ah..pois..afinal..não pode estagiar no Consulado de Portugal...". Depois de meses a correr atrás dessa oportunidade não a ia deixar escapar. Faltei ao trabalho e sentei-me toda a tarde no Costa, da Baixa ( e nesse dia conheci uma das minhas almas gémeas, o meu amigo Jan). Enviei centenas de e-mails a centenas de fundações espanholas. Recebi alguns feed-backs e foi a Guadalupe, da África Directo que me convenceu a ir para Madrid. Pensei que as coisas fossem mais dificiéis. A bolsa era de 600€ e metade ia para a renda. Tinha tudo para dar errado mas Madrid facilitou tudo...

A relação que me une a esta cidade inesperada é diferente da que me une a Lisboa. Madrid é ritmo, Lisboa é poesia...Madrid é ruído e movimento, Lisboa é serenidade e delicadeza. Lisboa sofreu e é hoje uma boémia madura. Madrid nem por isso. O melhor de tudo é que uma não substitui a outra, portanto posso estar apaixonada pelas duas sem que se considere infidelidade.

Voltei, pois, a Madrid. Embora saiba que Madrid, reflexo metafórico do seu ritmo alucinante, passa quase directamente do Verão para o Inverno, esperava ainda assim encontrar algum vestígio do Outono. A cidade recebeu-me com vinte e tantos graus e ter-me-ia zangado com ela, não fossem as noites um convite a sair sem casaco. E saí.

Encontrei-a mais fashionista e, reflexo da "crise mentirosa" que levou à ruina tantos empresários de toda la vida, com menos bares castiços e sujos, substituido por outros que deturpam a alma madrileña e, entre outras coisas, cobram 3,50€ por um Rioja servido numa taça-espécie-de-cinzeiro sem tapa, sequer umas míseras batatas fritas de pacote embebidas em óleo rasca. La Latina foi invadida por este espírito. Menos mal que ainda existem tavernas como "El Diamante", mesmo à saída do metro.


bar altamente NÃO-RECOMENDADO na La Latina


Mercado de San Fernando

Tapapiés, SanFernando
O espírito do mercado de bairro tem tudo a ver com os tempos de (suposta) crise que vivemos. Num mundo onde há escassez de alimentos é quase um crime ir ao supermercado e comprar um tabuleiro de seis bifes quando sabemos à partida que só vamos comer quatro; comprar queijo embutido e deixar que crie bolor num canto do frigorifico. O mercado de bairro apresenta-se assim como uma alternativa à compra massiva e despersonalizada. Supõe-se que só compramos o que realmente precisamos e fazemo-lo de forma personalizada e humana. No mercado do meu bairro, em Madrid, a vendedora oferecia-me as ervas aromáticas e ensinava-me receitas de cozinha.

O Mercado de SanFernando encontra-se em processo de abrir portas hà dois anos,i.e, aos pouquinhos vai-se rehabilitando, enchendo de espaços, ideias e caras novas que convivem com as caras de sempre, e sempre ao melhor estilo de Lavapiés. Ao contrário do  primo chique (e óptimo) Mercado de SanMiguel, este novo/velho mercado está pensado para as gentes daquele bairro e o ambiente, como seria de esperar, é bastante alternativo.
Faltou-me tempo para visitar as instalações porque tinha muita fome, muitas conversas para pôr em dia e o dia estava tão agradável que nos convidou descaradamente a ficarmos sentados na escadaria frontal com as tapas no colo (só por este detalhe já podem ver a diferença SanFernando vs. San Miguel).
Mesmo assim investiguei um bocadinho e sei que há uma livraria na qual o preço do livro é estabelecido de acordo com o peso do mesmo. Uma livraria daquelas típicas de Lavapiés para espíritos que sonham diferente e que acreditam nessa tal Liberdade...
E há também uma inovadora loja de coméstica natural criada e gerida por uma botânica e uma química. Não só ajudam a fazer um diagnóstico das necessidades da nossa pele, como criam uma fórmula específica para cada pele que permite desintoxicar a pele das porcarias que nos pomos e hidratar de acordo com as características da mesma.

O Mercado de SanFernando tem força para ser um espaço in alternativo. Eu adorei e dou nota 10!

Madrid das pastelarias: bom ou mau?


Bica e Pastéis de Nata na Plaza Mayor
Quando vivía em Madrid sentia sempre saudades dos encontros nas pastelarias. Ao contrário dos portugueses, que se encontram para "tomar um cafezinho", os espanhóis encontram-se para "tomar una caña". Ao pequeno-almoço comem porras com café e o mais próximo ao bolo de pastelaria que têm são as napolitanas de chocolate e donuts cheios de açúcar. As coisas mudaram e desta vez encontrei Madrid com novas pastelarias que ocupam espaços que outrora foram bares de toda la vida.
Por um lado fiquei satisfeita de ver que os hábitos mudam, por outro lado sinto certa nostalgia desses lugares que deixaram de existir, cheios de papéis e caroços de azeitonas no chão, agora substituídos por sumptuosas montras cheias de luz artificial, brilho e açúcar refinado. Por exemplo, na Plaza Mayor abriu uma sucursal do "Melhor Pastel de Nata do mundo" e, por fiiiiim, Madrid tem uma bica decente e a um preço normal (nunca tão barata como em Portugal).

Resumindo, Madrid continua igual a si própria. Não tive oportunidade de conhecer muitos espaços novos, mas adorei rever amigos e sentir a energia pujante dessa aldeia castiça. Sol contínua a parir gente, o "Tio Pepe" continua lá apesar de ter mudado de casa, os empregados do El Corte Inglés continuam a achar que são parentes da Rainha Sofia, as tapas continuam a fazer arder o estômago e uma clara será sempre uma clara, mas só se for em Madrid.

O calor dos amigos de verdade