terça-feira, 30 de outubro de 2012

Viagens por mi España: Sierra de Gredos

Em Julho de 2011 fui ver o meu artista espanhol preferido, Joaquin Sabina, à Serra de Gredos, num festival pró-ambientalista que pretende promover o respeito pela natureza: Musicos en la Naturaleza. Logo o concerto foi no meio das árvores, num entorno espectacular e fresco, com direito a siesta à beira de um ribeiro com água límpida como eu não pensava que ainda existisse.

A Serra de Gredos está situada entre as provincias de Cáceres, Toledo, Ávila e Madrid. Entrei pela província de Ávila e o cenário é brutal, natureza, natureza e natureza. Vales verde-intenso com casinhas de chocolates e vacas a pastar ao melhor estilo Heidi rodeados de montanhas que no Inverno estão cobertas de neve e no Verão estão despidas. Numa das auto-estradas da montanha tivemos de parar para deixar passar uma manada de vacas castanhas enormes. Uma paisagem realmente idílica apenas perturbada pela acção do Homem: poluição e fogos de Verão.


Gostava de vos poder mostrar fotos mas não tenho nada. Se forem à Província de Ávila sugiro que comam chuletón (uma costeleta gigante e muito tenrinha) e provem os queijos de cabra montés.

Fonte.Photaki


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Moçambique: crónicas de uma sem partida anunciada



Diz que vamos para Moçambique...

Há cerca de 1 ano soubemos que ambos seríamos aceites numa pequena ONG na Matola, distrito de Maputo.

Bom, começaram os preparativos. O mais importante deles: a mentalização. No meu caso confesso que não custou muito. Ir para África é o meu sonho desde há pelo menos 1 década. Ponho reticências ao convívio com animais selvagens, com os quais prefiro manter uma distância traduzida nuns largos milhares de quilómetros. Tudo o resto me parece um desafio que estou disposta a aceitar. E como tenho experiência em internacionalizações já sei que posso sempre voltar para onde eu queira porque a minha casa é a Língua Portuguesa e, agora- um bocadinho- a língua de Quixote.

Começaram os preparativos no sentido de estabelecer prioridades, objectivos e aquisição de novas competências. Na prática deixei de comprar roupa ou passei a evitar gastar dinheiro em coisas supérfluas porque em Moçambique vou precisar vestir-me, sobretudo, de paciência, coragem e boa disposição. Fiz formações e cursinhos para poder estar profissionalmente mais preparada. Tirei a carta de condução e deixei o meu trabalho. Abdiquei da minha vida livre, próspera  e independente em Madrid em prole de este sonho de ir para África e trabalhar em Desenvolvimento. Aportar algo ao Mundo e seguir uma filosofia de vida onde não cabem fronteiras nem raças.

Para poder iniciar a viagem a este sonho só seria necessária uma coisa de 3 parágrafos chamada “Carta de Convite” que por sua vez daria acesso a um “Visto de Residência”. Segundo um refrão tradicional “os europeus têm os relógios e os africanos o tempo” portanto supõem-se que não deveria reclamar por um atraso de quase 2 meses. Diz que em África as coisas são assim. Fazem-se tarde e a más horas mas com todo o coração.

Não se me acaba a ilusão com tão pouco mas há dias em que na minha alma irrompe o Inverno e nem melancolia posso sentir.


Talvez o Pessoa tenha razão quando diz: (ele tem sempre razão)

"Um dia de chuva é tão belo como um dia de soL.
 Ambos existem; cada um como é."




Pela via das dúvidas hoje dedico-me esta música dos Rádio Macau:

Há dias assim
dias d'alma vaga
tão perto de Deus
tão longe de mim
sem horas boas nem más
sem horas sequer
apenas vazio na alma
apenas dias assim

Há dias assim
feitos de silêncio
com a voz de Deus
a soar em mim
dias sem riso nem choro
sem horas sequer
apenas silêncio d'ouro
apenas dias assim


domingo, 28 de outubro de 2012

Viagens por mi España: Albarracín

Ao fim de quase 3 anos a viver em Espanha creio que chegou a hora de homenagear este país maravilhoso que me acolheu tão bem e me fez (quase) sempre sentir em casa.

Foram 3 anos em que aprendi a romper estereótipos sobre os nuestros hermanos (ou, em raras excepções, compreendi que os estereótipos existem por algum motivo...). Não poderia ser espanhola não só porque sou demasiado portuguesa e adoro ser-lo mas também porque há aspectos da cultura espanhola que repudio profundamente. Coisas que me fazem pensar “menos mal que isto não é nada comigo”.Creio que os 2 maiores erros que cometemos ao tentar interpretar a cultura espanhola são achar que eles são muito mais desenvolvidos que nós (e ricos e cheios de poder) e achar que em Espanha não há nada para visitar, nem para comer. Que exceptuando a Sagrada Família, os touros e o Flamenco,a Paella e a Tortilla, Espanha é um enorme vazio. Engamo-nos, meus amigos. Espanha tem algumas das paisagens mais bonitas que vi na minha vida, desde montanha, a planície, cidades históricas, praias com água de cor indefinida etc...Pensado nisso resolvi fazer um resumo dos lugares mais bonitos que visitei e que ainda não escrevi aqui sobre eles.

Começo por um dos meus preferidos: Albarracín


Adorei esta pequena aldeia na província de Teruel, comunidade de Aragão. Quando chegamos e a vemos ao longe, embutida na paisagem, não sabemos muito bem se é verdade ou se é uma miragem. Albarracín já foi eleita pelos espanhóis como a aldeia mais bonita de Espanha e é Património Unesco. A poucos quilómetros da aldeia, na Serra de Albarracín, encontra-se a nascente do nosso Rio Tejo. Acho sempre bonita a nascente de um rio, sobretudo se importante, mas sendo lisboeta e uma amantíssima da influência cultural do Tejo sobre Lisboa e seus habitantes confesso que foi para mim o mais emocionante da viagem a Albarracín. Vê-lo ali tão pequeno e saber que 1100 Km mais adiante é toda uma estrela....

Nascente do Rio Tejo, Serra de Albarracín


Nota: visitar a Casa de la Julianeta e comer queijo de cabra

Na mesma viagem visitei Teruel e Cuenca. Ambos muito bonitos mas aquém da pequena aldeia montanhesa.

Albarracín

Albarracín: detalhe de uma casa típica


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Museu do Oriente, Lisboa



Depois de dar uma vista de olhos nas estatísticas e, considerando que há excepção de uns franceses demasiado barulhentos eu era a única visitante, acho que posso afirmar que o Museu do Oriente, em Lisboa, é uma pérola ignorada pela larga maioria da população portuguesa. É uma pena já que ao longo da exposição repartida em 2 pisos, são dadas explicações culturais numa linguagem bastante acessível sobre a História de Portugal com o Oriente, sobre as religiões autóctones e a sua (pouca) miscigenação com o Cristianismo e ainda, numa exposição de carácter temporal, sobre o Chá.

A exposição que pretende revisitar a presença dos portugueses na Ásia apresenta como testemunhos diversos objectos artísticos e documentais. Gostei particularmente dos biombos chineses e japoneses, a maioria dos Séc.XVII e XVIII, das caixinhas de casquinha da Birmânia, do imenso património cultural que resulta das relações entre Portugal e Macau e Portugal e Índia e da exposição sobre o Chá. Mais do que a representação do mero percurso histórico do Chá do Oriente em direcção ao Ocidente, a exposição convida a ver, apreciar e reflectir sobre a forma como a simples ingestão de  folhas processadas de diferentes plantas marcaram inegavelmente as sociedades que as acolheram num diálogo proficuo e diversificado, embora não isento de tensões, inovações e rupturas.


A Religião

Exceptuando uma visão muito geral sobre o Budismo, confesso que sou uma ignorante em relação às religiões orientais. Um amiga que viajou por diversos países orientais e que repetiu a Índia, contou-me que existe uma diferença muito grande no que concerne à limpeza e organização dos espaços. Normalmente os ambientes budistas são impolutos onde reinam a limpeza e a harmonia (na exposição do museu são recriados espaços budistas próprios para a toma do Chá).

Segundo o que pude perceber tanto na China, como no Japão existem muitas religiões populares e a crença em grandes mitologias. No caso da China embora aceitem o monoteísmo não adoram esse único Deus pela sua condição imaterial e não são capazes de o representar graficamente. Normalmente apelam a uma “espécie” de santos.


Senti-me particular curiosidade pelo Taoísmo, no caso da China, e pelo Xintoísmo, no caso do Japão.

Na exposição está também representada a presença dos Jesuítas no Oriente. Uma presença pacífica até à morte de São Francisco Xavier, grande impulsionador do Cristianismo.
Estão igualmente expostas outras práticas religiosas levadas a cabo em diferentes países orientais, sendo que as do Bali me pareceram as mais curiosas pela quantidade de parafenália cromática.

O Chá, a jóia da Coroa

Na exposição está representada a História do Chá passando pelo cultivo, os diferentes recipientes utilizados no consumo, a ocidentalização do Chá e diferentes métodos de transporte. É destacada a importância dos portugueses e, em especial de D. Catarina de Bragança, nos hábitos de consumo do Chá porém, ao contrário do que muitos vezes é afirmado em Portugal a rainha portuguesa casada com D.Carlos II de Inglaterra teve um papel decisivo mas não teve um papel exclusivo na massificação do consumo de Chá, na Europa. Já antes os holandeses se tinham interessado pelo produto e os ingleses já eram grandes importadores de Chá.

Caixinhas para transporte do Chá
 Em Portugal, como é nosso apanágio, o hábito do Chá- assim como tantas outras coisas- chegou tardiamente, sendo normalmente utilizado em ambientes exclusivamente  aristocratas.

Aliadas aos hábitos europeus do consumo de Chá foram desenvolvidas novas formas e materiais de apresentação do mesmo. Por exemplo, os serviços de Chá passaram a incluir o açucareiro e a leiteira etc...No entanto, uma vez mais os orientais são mestres no consumo de Chá. Na província de Jianxi utilizam a cerâmica Yixing. É uma cerâmica não vidrada, com barro de diferentes cores- púrpura, laranja...- ideal para conservar os sabores e aroma do Chá. Este é distribuído em bules em quantidade máxima para 1 ou 2 chávenas afim de manter a qualidade da infusão. As cerimónias de Chá podem ter uma duração de 4 horas e são influenciadas pela estética e princípios espirituais do Taoísmo e do Budismo Zen.

Fiquei com o bichinho da curiosidade. Quero ler mais e aprender mais sobre as relações de Portugal com o Oriente. Creio que em geral sabemos muito pouco. Limitamo-nos ao Caril e ao Arigatô. Na loja do museu há bastantes referência bibliográficas, no entanto achei-as todas muito caras. Vou procurar livros sobre o assunto em feiras de 2ª mão.
O ultimo andar do museu é um restaurante com umas vistas maravilhosas para o Tejo mas achei igualmente um bocadinho caro (15€ buffet).

Caixinhas para transporte do Chá

sexta-feira, 12 de outubro de 2012