domingo, 28 de julho de 2013

Insólitos sala de aula #5


A crueldade infantil

Chamei a maioria das meninas para lhes fazer fotos para enviarem aos padrinhos, em Itália. Algumas ainda não tem padrinho, tais como a V., de 11 anos, que ficou orfã em 2013 e por isso está cá há muito pouco tempo. Ficou muito triste por não ter a quem escrever mas a colega, a A., de 10 anos, não lhe deu muito espaço para a depressão:

-Não tem padrinho sabe porquê? Porque a você lhe deitaram na lata do lixo.

A crueldade juvenil

Aqui algumas meninas estão contaminada com HIV. A R., 17 anos, que está sempre na palhaçada, pôs pose e voz de fina e disse:

-Eu quero um homem rico, com carro, com dinheiro, com...

A Ri., 18 anos, cortou-a e disse-lhe sem papas na língua:

-Homem rico não que homem rico é sidoso.

sábado, 27 de julho de 2013

Insólito sala de aula #3



Já não há respeito pela professora!

No outro dia andavam atrás de mim, com as mãos em concha encostadas ao meu rabo.
Disse-lhes:
- mas o que é que vem a ser isto meninas?
E elas responderam muito sinceramente:
- O rabo da mana Sónia está a mexer muito e nós pomos a mão porque temos medo que ele caía.

Fonte. ego.globo.com


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Insólitos sala de aula #4

Uma pessoa sabe que os cremes e protectores solares não estão funcionar, quando uma delas diz com uma cara estranha:

-Txé, porque é que a mana Sónia está a ficar com a cara cheia de manchas?

Consola-me saber que não sou a única!!

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Haruki Murakami



Faltam-me as palavras para descrever a “espécie” de desilusão...

Parece-me que há aqui um mal entendido entre o que eu esperava que fossem as obras deste autor tão falado nos últimos anos e entre o que são na realidade. Oxalá se deva à minha pouca sensibilidade para com os seus enredos e palavras e, mais que nada,à minha falta de conhecimentos sobre a cultura japonesa porque, se não for assim, temos um caso sério de escritor-impostor.

É verdade que não fiz um esforço sobrehumano para terminar de ler “Kafka en la orilla” (2002). Não tanto pelo conteúdo da história mas porque queria avançar rápido para ver até onde é que este Mr. Susih era capaz de chegar. E, foi também embalada por essa curiosidade que parti para a leitura de uma segunda obra “Tokio Blues: Norweigain Wood” (1987). E parti tão embalada que fui incapaz de travar a tempo. Agora estou toda desfarfelada e com uma maldita vozinha dentro da cabeça que não pára de me dizer “ahahaha, o gajo andou dois livros a gozar contigo, ahahaha...és mesmo totó”.

Repito, não sei práticamente nada sobre a cultura nipónica. Sei que eles dizem “Arigatô” por causa dos portugueses. Sei que nós contamos do mindinho para o polegar por causa dos japoneses. Sei que são uma monarquia, uma ilha, que bebem chá verde a dar com pau e que por isso vivem tanto. Tenho desde pequena metida na cabeça a voz doAxl Rose a dizer “Good evening in Tokyo”, no concerto que eles gravaram emTokyo, na “Use Your Illusion World Tour 1992”. Conheço o protocolo de Kioto e a Central Nuclear de Fukushima. E confesso que gostaria de conhecer muito mais, aliás, Japão é um dos países onde gostaria de viver, mas por agora a minha ignorância em relação aos japoneses e à sua cultura é mais que muita. Talvez por isso, o meu primeiro contacto sério com um escritor japones tenha dado barraca (já tinha lido fugazmente a autores de hayku quando estava na faculdade).

Por um lado, fiquei um bocado apreensiva com a questão do suicidio. Será mesmo assim? Os japoneses suicidam-se por dá cá aquela palha? E a sexualidade é vivida de forma tão natural desde a mais tenra idade? Fazem sempre amor como se fossem adultos? Nunca experimentam coisas, têm dúvidas como os adolescentes do mundo inteiro? E porque é que Murakami insiste em personagens adolescentes que são demasiado inteligentes e maduros para a sua idade?
Por outro lado, compreendi  a tristeza que o personagem Watanabe, de Tokyo Blues: Norweigain Wood sente. Essa passagem de adolescente para adulto que tanta dor lhe provoca. Essa dor de sentir, pensar, existir que faz com que lhe apeteça baixar todas as persianas e ficar em casa sossegadinho à espera que a dor passe.

De enaltecer a quantidade de referências musicais que o autor faz: Blood, Sweat and Tears, Cream, Simon&Garfunkel, The Beatles, The Beatles, The Beatles outra vez, Prince, Burt Bacharach, Antonio Carlos Jobim, Jim Morrison etc... Incrível!
Sei que é um escritor surrealista que aborda muito a questão da solidão e, ambos aspectos, estão patentes as duas obras que li. Como não tenho a certeza se o problema é meu ou do Mr. Sushi vou arriscar a leitura de outra obra lá mais para a frente. Entretanto, sugiro que não se deixem influenciar pelas minhas impressões. Leiam Murakami e contem-me o que vos parece.

Arigatô!

“Cuando terminó abril llegó el mes mayo; mayo fue mucho peor que abril. En mayo, en plena primavera, ya no pude evitar sentir como se estremecía y temblaba mi corazón. Solía ocurrirme al atardecer. En la pálida oscuridad, impregnada del suave aroma de magnolias, mi corazón, sin previo aviso, empezaba a henchirse, a estremecerse, a temblar, atravesado por un pinchazo. En estos momentos, cerraba los ojos y apretaba los dientes con fuerza. Y esperaba a que pasara. Poco a poco, despacio, este dolor se alejaba, dejando tras de si un dolor sordo.”
( Tokio Blues: Norweigian Wood, pág.333, 20ª edição, colecção Maxi, em espanhol)

quarta-feira, 24 de julho de 2013

polícia moçambicana, uma questão de autoridade


Na volta de Xai-Xai para Maputo montámos num chapa. 200 Meticais e 23 pessoas num veículo desenhado para transportar no máximo 12.

Chapa "Big Miúdo", Rota Xai-Xai- Maputo
De 20 em 20 kilómetros havia um controle policial, situação típica nas estradas moçambicanas. Os controles policiais decorrem do seguinte modo: os polícias mandam parar, pedem os documentos e se está tudo bem com os documentos pedem ao condutor para acender as luzes, para mostrar isto, aquilo ou o outro. Procuram deliberadamente uma desculpa para passar uma multa. Aqueles que não têm tempo a perder vão directos ao assunto e aqueles que têm mais paciência ficam tranquilos à espera da estocada final do Sr. Polícia.
Normalmente há sempre um motivo e, então, o polícia informa que vai ter de passar multa. Nesta fase já muitos condutores entregaram ao dito cujo uma nota de 100 Meticais (100 Meticais é o preço para os moçambicanos, 200 meticais é o preço para os brancos) para se livrarem dele. Quando o condutor diz “passe a multa Sr. Agente, passe lá” o polícia começa a ficar preocupado e, num tom amistoso, aka cínico, pergunta ao condutor se está realmente interessado em que ele passe a multa e informa que podem resolver a coisa de outra maneira. Pergunta se o condutor não lhe quer dar dinheiro para um refresco ou para as boas festas, segundo a época do ano em que se encontre. A maioria dos condutores acaba por ceder e paga ao polícia porque se quer ver livre dele. Como passageira de um carro que foi mandado parar, eu já assisti a uma destas cenas e posso-vos garantir que a sensação de impotência e injustiça é tremenda. Até porque muitas vezes quem manda parar os condutores são os “cinzentinhos”, polícias municipais que, segundo a lei, não têm o direito/dever de passar multas. Caso detectem alguma situação irregular a obrigação deles é chamar a polícia de trânsito. A maioria não faz isso e invariavelmente pedem dinheiro para um refresco.
E estas situações não são pontuais. Fazem parte do quotidiano da vida em Moçambique e todo aquele que conduz já teve seguramente de pagar refrescos a algum polícia. Todos conhecem a situação da policia em Moçambique e todos são conscientes que não podem fazer nada. Os próprios policias são instruídos para agir dessa forma e, portanto, não têm vergonha de roubar o seu semelhante. Para um moçambicano 100 Meticais é dinheiro.

Para agravar a situação, os polícias moçambicano circulam com espingardas, logo têm um ar bastante ameaçador. Também me contaram que muitos não são alfabetizados. Durante a guerra lutaram e, posteriormente, a FRELIMO teve de os reinserir na sociedade. No pós-guerra, como o país precisava de forças de segurança, uma boa parte dos militares foram recrutados e incorporados nas diferentes policias: municipal, civil, trânsito.
Resumindo, a polícia moçambicana é um dos maiores cancros da sociedade. Não estão para proteger o cidadão, senão para lhe complicar a vida. E, segundo aquilo que observo e ouço, têm uma postura bastante arrogante. Quero acreditar que fora do local de trabalho são pessoas mais agradáveis, mas no exercício das suas funções dão uma péssima imagem do país e contribuem para que Moçambique seja um lugar mais inseguro, corrupto e triste.

Voltando ao ponto de partida, a viagem de volta de Xai-Xai, o chapa onde viajávamos foi mandado parar em cada controle policial que fomos encontrando ao longo dos cerca de 300 Km.  Numa dessa paragens, um chapa que viajava à nossa frente, foi igualmente mandado parar. Como já vos contei aqui, os chapas têm nomes muito engraçados e originais. Por exemplo, aquele em que viajávamos chamava-se “Big Miúdo” e o chapa que parou à nossa frente chamava-se “ Sinto pena de quem tem inveja de mim”. Ora, vi ali uma excelente oportunidade de fotografar um Insólito. Corri a janela e fiz a foto e então começou a tempestade. Uma das polícias de trânsito começou a gritar e a dizer para eu sair do chapa, que eu não tinha nada de fazer fotos à policia e que na minha terra de certeza que também não podia fazer fotos à autoridade. Tudo num tom muito ameaçador. Chamou os colegas da Polícia Civil e começaram a dizer num tom ainda mais ameaçador para eu sair do chapa. Eu tentei explicar que tinha feito uma foto ao chapa, não à polícia mas mesmo assim obrigaram-me a sair do chapa. Pediram para eu mostrar a foto que tinha feito e até comprovarem que eu não tinha feito foto nenhuma à polícia trataram--me como se eu fosse uma criminosa. Disseram que fazer fotos à autoridade sem pedir autorização é motivo para ir preso. Tentei justificar por todos os meios qual tinha sido a minha intenção e pedi imensas desculpas. Por fim, os Civis deixaram-me ir como se me estivessem a fazer um enorme favor e sem pedirem nada em troca.

A situação não durou mais de cinco minutos mas foi o tempo suficiente para eu ficar em choque o resto da viagem, corroída por uma grande sensação de injustiça e violação dos meus direitos como cidadã. Igualmente senti-me destratada. Posso até entender que seja proibido fazer fotos às autoridades e compreendo que até confirmarem que eu tinha feito uma foto ao chapa e não à polícia estava sob suspeita de incumprir a lei, mas não posso entender, nem justificar a falta de educação, a forma ameaçadora como me gritaram e o excesso te autoridade com que me trataram, a indisponibilidade para dialogarem comigo e para ouvirem a minha justificação. E numa situação assim percebi que o melhor é não tentar chamá-los à razão porque ao mínimo roce não sei o que pode acontecer.

Quando a polícia me gritou num tom ameaçador “Você na sua terra também faz isso? Também tira fotos à polícia?” eu gostaria de ter podido responder “Sim, minha senhora, na minha terra posso fazer fotos à polícia e eles não se importam porque não têm nada a esconder. Na minha terra os polícias não violam, nem estrangulam a liberdade dos cidadãos. Na minha terra os polícias não pedem dinheiro para refrescos aos patrícios que circulam nas estradas. E, no caso de fazerem alguma dessas coisas, são chamados corruptos e são devidamente punidos porque na minha terra ainda impera a Liberdade e a Democracia. E a senhora deveria ter vergonha na cara porque os seus patrícios lutaram e perderam a vida ao tentarem ver-se livres dos da minha terra, perseguindo a utopia dessa tal Liberdade e Democracia. Pessoas como você tornam Moçambique um país mais feio e contribuem para que pouco a pouco se transforme numa “simpática” Ditadura. A senhora é um cancro e apodrece Moçambique por dentro.”

Mas não pude, nem quis dizer nada disso. E na minha mente saltaram as palavras do poeta José Craveirinho:

Poema do Futuro Cidadão


Vim de qualquer parte
de uma Nação que ainda não existe.
Vim e estou aqui!
Não nasci apenas eu
nem tu nem outro...
mas irmão.
Mas
tenho amor para dar às mãos-cheias.
Amor do que sou
e nada mais.
E
tenho no coração
gritos que não são meus somente
porque venho dum país que ainda não existe.
Ah! Tenho meu amor à rodos para dar
do que sou.
Eu!
Homem qualquer
cidadão de uma nação que ainda não existe.
José Craveirinha- Moçambique


E eis a foto da discórdia:



Não sei se deva ou não publicar este texto. O que escrevo aqui é fruto do que observei, ouvi e vivi desde que cheguei a Moçambique mas aqui a liberdade de expressão não está de todo isenta de censura. Se algum dia tiver problemas por escrever o que penso e sinto espero que pelo menos os meus leitores me enviem um chocolatinho à cadeia. Os meus preferidos são os de leite com avelãs, de marcas suiças. Obrigada!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Viagem a Xai-Xai, província de Gaza


No fim-de-semana passado estivemos em Xai-Xai, capital da provínia de Gaza, a norte de Maputo.
O simpático Padre Alberto, espanhol da Rioja e membro da Ordem dos Mercedários, está a formar uma paróquia em Xai-Xai e pediu uma mãozinha ao David na qualidade de arquitecto. Eu, como apêndice, acompanhei-o.
Foram poucas as oportunidades que tive para sair de Maputo-cidade e, sempre que o fiz, o que mais me impressiona é o facto de assim que se ultrapassam os limites da capital a paisagem muda e transforma-se na África do meu imaginário: pessoa, animais e carga circulam pela beira da estrada ou através de corta-matos numa alegre comunhão de mil cores e o cenário natural é espectacular.

A cidade de Maputo está cheia de lixo. Tanto lixo como nunca vi na minha vida. Dentro das casas, nas ruas, nas lixeiras vivem pessoas etc...O ar por vezes torna-se irrespirável. Junta-se ao lixo a poluição produzidas pelos milhares de carros velhos de circulam por toda a parte.

Assim, sair de Maputo em direcção a Xai-Xai é um regalo para os olhos. Mesmo as casas mais humildes estão bem construídas. Não se limitam à palhota desengonçada com tecto de zinco cheio de buracos. Diria mesmo que as casas mais humildes, i.e, as de palha, quando estão devidamente construídas, são bem mais bonitas que as de cimento. E, normalmente, nas zonas rurais têm anexado à volta um pátio limpo e varrido, com árvores frondosas onde as pessoas cozinham e convivem. 

Vista parcial de um bairro de Xai-Xai
Praia de Xai-Xai

Chegados a Xai-Xai ficámos instalados na casa do Padre Alberto e do Padre Eduardo, muito perto da praia. No primeiro dia, depois de almoço, tivémos tempo de passear no areal e eu atrevi-me a um mergulho rápido. Não sei como se sente uma pessoa do interior ou da montanha perante a presença esmagadora do mar. Eu, portuguesa da costa Atlântica, sinto-me mil anos rejuvenescida quando sinto o vento salgado a bater na cara e posso ficar horas a ouvir aquele múrmurio das ondas quando chegam à areia Sshhhh....shhhhh.. massajar os pés, passear no areal à beira do mar e ficar com a roupa molhada até aos joelhos. É o meu conceito de saúde. E melhor se não for Verão para a praia ser exclusivamente para os amantes destas sensações extra balneárias!

A praia de Xai-Xai foi adoptada pelos colonos, a meados do séc.XX, como zona de veraneo. Em frente ao areal está um colossal hotel abandonado, assim como umas quantas casinhas baixinhas, típicas de praia, que aos poucos estam a ser reabilitadas, sobretudo por sul-africanos.
A praia tem um areal de uns bons kilómetros e, a zona que foi outrora e aos poucos volta a ser outra vez a zona turística, tem uma parte dentro da água delimitada por umas rochas. Aí, as pessoas podem estar à vontade, sendo apenas desaconselhado mergulhar quando as ondas do Oceano ultrapassam em altura a barreira feita pelas rochas. Como não era o caso, eu mergulhei e a sensação é a de estar dentro de uma piscina oceanica. Como nessa zona não há ondas a areia está dura e direita, tal e qual como uma piscina, e a água é transparente e quentinha, mesmo agora no Inverno ( não se esqueçam que no Hemisfério Sul agora é Inverno).

Hotel abandonado


ao fundo vê-se a delimitação feita com as rochas
Santo António de Chongoanine

Às portas da pequena cidade de Xai-Xai, Santo António de Chongoanine é, contudo, uma zona rural, muito pouco assimilida durante a época colonial. Por isso, a maioria da população fala Changana e as pessoas idosas têm dificuldade em expressar-se em português.
O Sr. António foi o anfitrião. Fala fluentemente a língua de Camões mas a mulher dele e as suas vizinhas, que tinham estado a rezar pela alma da vizinha Rosinha, que está muito mal, encamada e já encomendada ao S.Pedro, não falam práticamente português. Ficaram muito contentes por saberem que o meu nome é Sónia, chará* de duas filhas e porque eu uso capulana. Ensinaram-me a pôr o lenço na cabeça e tudo!
Já passavam das 13h quando os encontrámos a todos no terreno destinado à nova igreja e complexo paroquial mas mesmo assim, depois de sairem dali, ainda tinham de caminhar para casa durante mais de uma hora e preparar a comida. E nenhum tinha menos de 60 anos. Ao todo uns quinze vizinhos tinham ido rezar pela Rosinha e mostrar-nos o terreno.Perguntei-lhs se eram elas que tinham de fazer a comida e disseram que sim. Disse-lhes que achava que as mulheres em Moçambique trabalhavam demasiado, em contrapartida os homens têm uma plácida vida. Que não, que não é assim, que os homens também trabalham muito na machamba* etc...E quem sou eu para desmentir?

Santos Anjos e o Guilherme

No Domingo, o nosso amigo Padre Alberto presidiu uns vinte baptizados, na igreja de Santos Anjos. Uma igreja redonda com tecto de zinco. Contou-nos o Padre Alberto que naquela região existem umas quantas igrejas iguais porque há uns anos um religioso italiano ao receber a herança deixada pelos seus pais decidiu mandar construir essas igrejas.De acordo com a visão desse tal religioso, a igreja deve ser um sítio onde as pessoas se sentem em casa. Como ali muitas casas são redondas ele decidiu fazer as igrejas redondas para que os paroquianos não estranhassem o espaço. 

Igreja Santos Anjos
 Ao lado do Padre estavam três acólitas,  à esquerda estava o coro dirigido pela Mistéria, à direita aqueles que se iam baptizar, junto, em frente ao altar sentados em cima de umas esteiras de palha estavam cerca de cinquenta crianças, atrás destas umas vinte avózinhas também sentadas no chão e depois uma multidão sentada em bancos de madeira corridos ou de pé.
Coro da Mistéria
Crianças  na esteira e atrás as avózinhas
O Padre Alberto esforçou-se por falar em Changana mas, invariávelmente, acabava por ter de dizer qualquer coisa no mais puro portuñol. Para que ninguém perdesse pitada do que se estava a dizer, o Guilherme, um elegante senhor de 61 anos traduzia tudo para Changana.
Ao longo de três horas foram passando pelo altar todos aqueles que desejavam ser baptizados, acompanhados de um coro humano bem animado, com jambé, vozes em diferentes tonos etc... A pia baptismal era um alguidar preto que na minha terra serve para fazer chouriços ou lavar a roupa. A àgua benzida era entornada na cabeça dos baptizados com uma jarra de plástico e, quando já não havia mais água dentro da jarra, as acólitas enchiam-na num balde branco daqueles onde se vende a banha de porco em volume industrial. Depois, as hóstia foram distribuídas directamente dum tupperware para a mão, boca ou coração do “rebanho”.
 
A Pia Baptismal
Oferta de víveres
Tupperware com as hóstias


Guilherme e as crianças do baptismo ao fundo
No final, o Guilherme convidou-nos a subir à tribuna para que nos apresentassemos à comunidade. Depois, fomos com ele e com a família dele para casa festejar o baptismo da filha e de duas netas. Falámos, comemos, rimos e aprendemos. Eu fiquei deslumbrada com a elegância deste homem. A maneira como se expressa, a humildade com que diz as coisas. O mais interessante nos africanos é que falam sempre com muita calma, mesmo que estejam a contar aventuras ou detalhes que implicam emoção. Para eles não há tempo e desfilam histórias durantes horas. O Guilherme considera-se assimilado, ou seja, africano mas despudoradamente adoptado pela cultura portuguesa. Foi mineiro na África do Sul e teve oportunidade de conhecer pessoas de muitas partes e aprender muitas línguas africanas, assim como português e inglês na perfeição. Se um dia voltar a Xai-Xai quero voltar a vê-lo e sentar-me a ouvir a quantidade de histórias que tem para contar, debaixo da frondosa mangueira que tem no quintal.

mesa e padrinhos com afilhada (repaem nas chamusas)
 E há mais vida Católica para lá dos aborrecidos padres Europeus

Sobre a missa gostaria de fazer umas quantas observações. Quem me conhece sabe que não sinto simpatia por nenhuma religião em particular. Se Deus existe eu ainda não sei mas estou mais tentada a acreditar que o Homem nasce, reproduze-se e morre por acção e graça da natureza e não do Espírito Santo, seja lá isso o que for. Na Europa, as pessoas afastam-se e, inclusivé, repudiam a Igreja Católica (falo da Igreja Católica porque é aquela que me está mais próxima) por questões óbvias: a ostentação, o hermetismo descabido, os preconceitos e o constante julgamento em praça pública de minorias sem jamais se auto-analisarem/criticarem. Apregoam o perdão e a tolerância quando aparentemente são os primeiros a prevaricarem. Entre outros assuntos, hoje em dia a Igreja Católica soa a pedófilia e a mofo, um mofo milenar.
Aqui em Moçambique as coisas têm outro aspecto. Os religiosos no terreno fazem um trabalho excepcional e, em caso de catástrofe, são os últimos a abandonar o barco. São cooperantes em grande e têm um discurso muito mais aberto qe a maioria dos seus consorces na Europa. Há uns tempos, falando com uma freira sobre a realidade de muitos meninos que são abandonados pelas mães, que sucessivamente têm filhos que não querem, ela disse-me que não entende porque é que não evitam esses filhos deixando antever que falava do preservativo e do aborto. Possivelmente no velho continente jamais poderia dizer uma “barbaridade” desta grandeza. E, enquanto via o padre presidir a cerimónia entre alguidares, jarras, tupperwares e jambés,  pensava para com os meus botões que isso seria impensável para um padre a exercer na Europa.
Normalmente os nossos padres reparam  e reclamam se a madrinha leva um grande decote, passam sermões se a noiva chega atrasada e falam do fogo do inferno como quem fala do tempo que vai fazer amanhã. Aqui a igreja católica está muito mais conectada com a comunidade local. Por isso as pessoas vão felizes à igreja, porque sabem que vão encontrar os seus vizinhos, que vão cantar juntos e que o Padre não vai desfolhar banalidades e ameaças extra-terrenas com infernos, Satanás e pecados de não sei que espécie.

Hambanini Xai-Xai (adeus Xai-Xai)

Segunda-feira demos um breve passeio de carro pela Baixa da cidade, que me pareceu lindíssima, fomos ver o atrevido Rio Limpompo e montámos no Chapa com destino a Maputo. Se querem saber como foi essa viagem não percam as cenas dos próximos episódios.

TO BE CONTINUE...

*Chará=homónimo, pessoa com o mesmo nome

sábado, 20 de julho de 2013

El tiempo entre costuras, Maria Dueñas

Más de dos años después de que mi amiga Laura Ballesteros me sugiriera la lectura de “El tiempo entre costuras”, primera novela de la periodista Maria Dueñas, por fin la he leído.
Según sé están adaptándola a una serie de televisión. La verdad es que tiene chicha para ser transformada en algo más allá del libro. Tantos outfits, tantas imágenes sugestionadas del Madrid castizo y de Maruecos, esa mezcla de tonalidades, sabores y culturas de que nos habla la protagonista Sira Quiroga, que casi estoy deseando verla.

Este post os lo escribo el mismísimo 18 de julio de 2013, setenta y siete años después de que haya empezado la guerra civil española. La novela tiene como paño de fondo la pré, durante y pos-guerra, sobre todo la pos-guerra. Primero empieza por describir la pacata vida de Sira Quiroga en un castizo barrio madrileño como aprendiz de modista, luego conoce al seductor Ramiro (¿como puede alguien ser un seductor llevando encima un nombre tan feo?) y su vida da un giro. Siguen unos cuantos años y otras tantas aventuras en el Protectorado español en Marruecos. Y luego la vuelta a Madrid de los espías en la pós-guerra civil, con España haciéndose pasar por neutral, mientras alababa y colaboradora con Alemania, durante la Segunda Guerra Mundial, y al poco tiempo empezaba guiñando un ojo a la Inglaterra de Churchil.

He leído novelas sobre la Guerra Civil Española mucho más interesantes. De hecho hay momentos en que la novela aburre un poco, lo que hizo que me quedara a media vela sin poder encontrar del todo interesante la mezcla de romances de Sira Quiroga con los hechos históricos y sus protagonistas reales: el cuñadísimo Ramón Serrano Suñer, Juan Luis Beigbeder, el famoso embajador británico Samuel Hoare y unos cuantos espías que existieron de verdad.
Para el que está buscando informarse bien sobre la guerra y de cómo ha ido todo, al mismo tiempo que pretende pasarlo bien mientras disfruta de un romance entretenido y verosímil, esta no es la mejor novela. Pero si están buscando un romance que tutee a la guerra civil española  y que, además, aporte datos sobre como era la vida en ella, entonces “El tiempo entre costuras” es la compañía ideal para un par de noches. Además se deja leer muy bien y tiene un detalle curioso: normalmente- o según mi experiencia- la guerra civil como novela es abordada desde uno de los bandos: un carcelero, un guerrillero, una mujer enamorada y abandonada, una familia que va deshilando los hechos reales, mientras los mezcla con la ficción, pero siempre queda un sabor de pobreza y miseria. “El tiempo entre costuras”  huele a lujo, a telas de calidad, a gente perfumada y a meriendas con tartas de babear en esas pastelerías de Chamberrí, Salamanca o Castellana que al día de hoy siguen siendo inasequibles a los bolsillos de la gente de a pie de la calle.

Lo mejor de la novela, bajo mi punto de vista de orgullosa gata-lisboeta (como me llaman mis amigas gatísimas), vino a eso del capítulo cuarenta y algo, cuando a la protagonista le informan que tiene una misión en Lisboa. Es entonces cuando Sira Quiroga me hace sentir hormigas caminando a toda prisa por el estómago cuando dice lo siguiente:

“Callejeamos por una Lisboa llena de viento y luz, sin racionamiento ni cortes de electricidad, con flores, azulejos y puestos callejeros de verdura y fruta fresca. Sin solares repletos de escombros ni mendigos harapientos; sin marcas de obuses, sin brazos en alto ni yugos y flechas pintados a brochazos sobre los muros. Recorrimos zonas nobles y elegantes con anchas aceras de piedra y edificios señoriales vigilados por estatuas de reyes y navegantes: transitamos también por zonas populares con tortuosas callejas llenas de bullicio, geranios y olor a sardinas. Me sorprendió la majestuosidad del Tajo, el ulular de las sirenas del puerto y el chirriar de los tranvías. Me fascinó Lisboa, una ciudad un en paz ni en guerra: nerviosa, agitada, palpitante.”

Es decir, en poco menos de un párrafo describe a los años cuarenta en mis dos ciudades por adopción (una más que otra): Lisboa y Madrid.
Y esa luz de que habla la conozco muy bien. Por eso, os dejo no una foto de la portada del libro, sino una que hizo mi amiga Beatrice un día que nos dedicamos a recoger juntas una buena parte del casco antiguo en la zona del Castelo de São Jorge, Lisboa, en el pasado otoño del 2008 en que el frío tardó tanto en llegar .


Beatrice Andre

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Os segredos de Portugal ou "ora bolas, outra vez os espanhóis"



Perdi a conta ao numero de filmes e de livros que vi e que li no último ano. Diria mesmo que, em relação à desocupação de longa data que assola a minha vida desde finais de Setembro de 2012, este é o único aspecto positivo. Sinto-me feliz por ter tempo para ver filmes comerciais e de autor e para ler livros que tinha na prateleira há algum tempo ou que entretanto fui descobrindo. Porque é que quando tinha a minha vida laboral organizada estava sempre a adiar a leitura em deterimento da internet ou da televisão? Haverá melhor companhia que um bom livro? Haverá felicidade mais pungente que sentir aquele formigueiro no estômago quando já estou “dentro” do livro, totalmente abstraída da realidade que me rodeia? Ahhhhhhhhhh..... (longo suspiro)

Nas últimas semanas mantive um bom ritmo de leitura, sem fazer qualquer esforço. Fui lendo um e, quando ainda sentia saudades do personagem principal do livro anterior, já estava a ler outro. Entre eles li um clássico de George Orwell e dois do “new boy on the block”, Haruki Murakami.

A meados de Maio, comecei a ler o livro que a minha querida amiga Maria José me havia comprado nesse lugar especial do bairro de Lavapiés, em Madrid, a livraria “La Marabunta”: “Los secretos de Portugal: Del Iberismo a la Peninsularidad”, do jesuíta português Gabriel Magalhães, publicado em 2012 pela editora RBA.
Tinha lido sobre este ensaio sociológico que era o ponto de situação de Portugal no mundo, no contexto da crise económica que se vive na Europa e que trata por “TU” o pequeno país à beira mal plantado. Na contracapa o editor promete uma obra que apresenta e explica Portugal sem uma visão preconceituosa. Logo aqui eu devia ter tido a sensibilidade de perceber que “alguma coisa” não estava a ser dita. Preconceitos? Por parte de quem?

Como cidadã portuguesa muito orgulhosa das suas raízes e do seu pequeno país cheio de nostalgia, avózinhas vestidas de negro e mil e uma maneiras de cozinhar bacalhau, os primeiros capítulos foram um deleite. O autor explica em traços gerais a História da formação de Portugal e os restantes nove séculos de História, até aos nossos dias. Sem dúvida, escreve de uma maneira verdadeiramente apaixonada. Gabriel de Magalhães está perdidamento apaixonado pelo país que o pariu. E como não? Se a mim me dessem oportunidade de escrever um livro sobre o meu Portugal, também o faria nas mesmas amantíssimas linhas com que ele o fez.

Mas... porque é que há sempre um “mas”?

Começou-me a cheirar a esturro quando notei que o meu patrício não fazia outra coisa que enaltecer uma vez, duas vezes, mil vezes, capítulo trás capítulo os feitos heróicos de um outro patrício nosso, o Nuno Álvares Cabral. E já me pareceu que o propósito da obra era, nunca melhor dito, despropositado, quando percebi que estava escrito com o único objectivo de justificar aos espanhóis porque é que NÓS portugueses somos tão maravilhosos, tão geniais, tão importantes na História do Mundo. Sim, perceberam bem, Gabriel de Magalhães escreveu um livro onde não faz outra coisa que atirar à cara dos espanhóis que eles não nos ligam nenhuma e que são muito mais brutos e mal educados que o português mais bruto e mal educado que existe.  Senti vergonha alheia por ver que por mais que o tempo passe, somos incapazes de deixar de nos comparármos com o nosso irmão mais velho,a Espanha, e parar de reclamar a sua atenção.

Que alguém decida escrever um livro a explicar ao MUNDO porque é que Portugal é um pais mais que válido, um país lindo, parece-me legítimo. Confesso que enquanto lia algumas passagens, o meu coração batia mais forte de amor e saudade. Agora, é totalmente descabido escrever um livro com o único propósito de provar aos espanhóis que somos uma maravilha de gente, de país, de cultura e que, os nuestros hermanos não nos chegam nem aos calcanhares no que concerne à delicadeza, bons-modos e, porque não, cultura.

Vivi 3 anos em Espanha e sei que é inevitável fazer comparações, sobretudo tratando-se de portugueses. Não temos outro vizinho e foram sempre o nosso grande rival. Acredito mesmo que por culpa dos espanhóis, somos um povo que sempre olhou para o Atlântico como a porta de saída, como a chave para os nosso problemas. Olhar para terra, significava olhar para Espanha e tinhamos demasiado ressentimentos e receios. Melhor era virar-lhes as costas e impôr-lhes respeito através do nosso “aparente” desprezo. A entrada na União Europeia foi um acidente de percurso. A nossa História, ao contrário da História dos espanhóis, tem muito poucas páginas em comum com a História da Europa. Somos uma gente além mar. Talvez a mobilidade das novas gerações no que diz respeito às oportunidades de intercâmbios estudantis e mercado de trabalho europeu acabem com essa tradição transatlântica mas, por agora, a nossa cultura ainda cheira a mar salgado.

Seguramente vou voltar a ler a obra porque, como já referi, tem passagens apaixonantes. Além disso, Magalhães explica muito bem a portugalidade. Gostava de ter escrito algumas coisas que ele escreveu sobre Portugal e os portugueses mas acho o objectivo da obra pobre.  Penso que um espanhol que leia o livro vai pensar “pffff...este Magalhães deve-se achar...”.

Por isso, recomendo a obra a todos os portugueses, mas não a recomendo a nenhum espanhol. Se estiverem interessados em conhecer Portugal visitem-no, perguntem a quem o visitou ou consultem a Wikipédia (e também a Frikipédia).

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Insólitos sala de aula #2

Uma pessoa sabe que está a precisar fazer o buço quando as alunas dizem:

-" ehhhhhh a mana Sónia tá a ficar com barba na cara....".

Será a maldição da mulher portuguesa a perseguir-me?


terça-feira, 16 de julho de 2013

Insólito sala de aula #1



Primeiro dei-lhes uma aula de geografia moçambicana. Desenhei o mapa de Moçambique no quadro e elas tinham de me dizer onde estava cada província, como se chamava e respectiva capital.

Depois desenhei o mapa de África e pedi-lhes para localizarem Moçambique. Depois desenhei Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Principe, Cabo Verde, Brasil, Portugal e Timor-Lorosae e expliquei-lhes que nesses países a língua oficial é a lingua portuguesa.

Como sei que são muito distraídas e aquilo que lhes digo entra a 100 e sai a 200 pedi-lhes para repetirem comigo o nome desses países. E foi então quando percebi que alguma informação tinham retido porque a Maura chamou Guiné Verde à Ginué Bissau.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

domingo, 7 de julho de 2013

Monumento assim, assim e assim, em Maputo City


Na Avenida 24 de Julho, em frente às Forças Armadas, está este monumento, no meio das duas faixas de rodagem:



Curiosa sobre a utilidade, origem e nome, decidi pedir informações a uns vendedores que têm uma barraquinha mesmo em frente. Como já desconfiava, não sabiam explicar-me mas um deles, o mais acolhedor, tinha tanta vontade de me dar alguma informação que me disse assim:

“Então mamã, aquilo é...ahhh...aquilo tás a ver, então, eles chegaram e fizeram assim, assim e assim (e mimificou uma estrela de 3 pontas) com uns bancos de cimento, e dum lado uns carros vão assim, naquela direcção(e apontou a direcção com as mãos) e do outro vão asssim, na outra direcção (e apontou a outra direcção com as mãos)....”

Eu disse-lhe com o ar mais simpático que consegui “amigo, até ai já tinha chegado...” agradeci e fui embora a sorrir....