terça-feira, 29 de junho de 2010

Espaços para as comunidades de leitores

Concordo que muitos dos crónistas, pseudo-jornalistas e outros, que escrevem nos jornais não passam de gente tendenciosa, com um discurso gasto e com duvidoso talento para a escrita. Quando os leio fico com uma sensação de cinzento invernoso e de não ter aprendido rigorasamente nada. Ainda assim congratulo-me por pensar que ainda existe algum critério de selecção nos recursos humanos, sobretudo nos jornais/revistas com maior prestígio. Ao ler os comentários anexos aos artigos, escritos por pseudo-intelectuais fico, normalmente, preocupada, com o estado e com o nível de cultura e lavagem cerebral da Nação. Em geral, nestes espaços dedicados aos leitores, abundam os lugares comuns e a fraca capacidade de reflexão individual.

Por exemplo hoje, ao dar uma vista de olhos pelos principais títulos, deparei-me com um artigo de um conhecido jovem humorista português. Gostei do que li, sobretudo pela capacidade de análise dos factos, um pouco tendenciosa, é verdade mas desculpável se considerarmos que se trata de um cronista e não de um jornalista. No entanto baixar a página não podia acreditar na ignorância e na violência verbal implícita nos comentários dos leitores.

Vamos lá a ser racionais. É um facto que a internet permite a qualquer borra-botas a possibilidade da ribalta - vejam o meu caso que com este blog me posso sentir super inteligente (a mais inteligente de todas) e posso ter os meus 5 minutos de fama semanais através dos mais de 1000 milhões de leitores que me visitam- porém sejam educados caros leitores-escritores dos comentários. Apelem um pouco mais ao vosso bom senso e deixem-se de pantominices e outras tretas. Usem o espaço que vos é concedido para contribuirem com algo útil à restante comunidade e leitores...

Obrigada

segunda-feira, 21 de junho de 2010

1494-2010


Fonte:publico.pt

Desde o Tratado de Tordesilhas que nao se falava tanto de Portugal na Nuestroshermanóslândia!!

Pfffff...deves-te achar!!

Há já bastante tempo que reparei que na calle San Bernando há uma loja com roupa feia e antiga, dos anos 50 e 60. Como as roupas de loja em segunda-mao estao muito em voga pensei que fosse mais uma e hoje, que ia com tempo e em passeio, decidi entrar e verificar as velharias...Disse boa tarde e perguntei com uma cara alegre (cara de 7 golos) "é tudo em segunda mao nao é?"...a mulher, também ela vinda directamente dos ano 50, com uns óculos de tartaruga super demodé respondeu-me com cara de dor de barriga "nao, nao é uma loja de segunda-mao"...e como se a minha situaçao nao fosse já suficientemente constrangedora, a mulher pôs uma cara ainda mais feia, mais mal-disposta, observou-me por cima dos óculos e perguntou-me "porquê?parece-lhe..." e eu fiz um gemido e abanei a cabeça...

Saí dali a fugir -da mulher e da sua horrorosa colecçao por estrear- e à saida da loja levantei a sobrancelha para demonstrar o meu desprezo pela indumentária tao pirosa...

estava apaixonada por ele há mais de 1 ano...

"Vai Ricardo Reis a descer a Rua dos Sapateiros quando vê Fernando Pessoa. Está parado à esquina da Rua de Santa Justa, a olhá-lo como quem espera, mas não impaciente. Traz o mesmo fato preto, tem a cabeça descoberta. [...] Fernando Pessoa sorri e dá as boas-tardes, respondeu Ricardo Reis da mesma maneira, e ambos seguem na direcção do Terreiro do Paço, um pouco adiante começa a chover, o guarda-chuva cobre os dois, embora a Fernando Pessoa o não possa molhar esta água, foi o movimento de alguém que ainda não se esqueceu por completo da vida, ou teria sido apenas o apelo reconfortador de um mesmo e próximo tecto, Chegue-se para cá que cabemos os dois, a isto não se vai responder, Não preciso, vou bem aqui. Ricardo Reis tem uma curiosidade para satisfazer, Quem estiver a olhar para nós, a quem é que vê, a si ou a mim..."

O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago




segunda-feira, 14 de junho de 2010

Feliz Aniversário Fernando Pessoa



Fernando Manuel Nogueira Pessoa
13-06-1888

Já sei que vou parecer louca por dizer publicamente que tenho muitas saudades tuas mas não me importo. Não podia deixar de te felicitar Mestre da melancolia lisboeta...

sábado, 12 de junho de 2010

Um dia típico na procura de quarto:

Passo as manhãs a ver anúncios, escolho os que gosto através da relação foto/preço, ligo para as pessoas e marco um encontro. Chego ao local, que nunca está "logo ali à saida do metro" como eles dizem. Pergunto aos transeuntes, que neste país sempre respondem com "joder, guapa isso está muito longe", e eu, que vou a pé para todo o lado, pergunto-lhes o que significa "longe" e eles fazem um movimento com a mão, põem a cabeça para trás e um jeito na boca como se fossem a assobiar e dizem "Guapa pelo menos uns 15 minutitos!!" e eu respondo-lhe "isso é canja meu!".
Bom, ando, ando, pergunto, ando mais um bocadinho, às vezes constato que vou na direcção errada,chego ao encontro atrasada mas, por fim, chego. Abrem-me a porta e eu sinto logo as energias. (gostava de um bocadinho mais de suspense, de utopia mas o sexto sentido não permite grandes percas de tempo). Normalmente é gente simpática. Uns são mais rápidos,outros explicam com mais detalhe, contam mais da vida, perguntam donde sou "Ah, Lisboa. Uauh, é preciosa!!", " Obrigada, Obrigada, também acho!". O mais difícil é quanto imediatamente percebo que a casa é desordenada ou suja e tenho que fazer uma série de sorrisos amarelos ou então fazer perguntas que não têm nada a ver com o contexto para disfarçar o mal-estar, a vontade de fugir dali para fora.

Normalmente se as casas estão perto vou a pé. Adoro caminhadas. São momentos de comunhão com o espaço envolvente. Ontem entre rua e rua tive alguns momentos de galanteio com Madrid. Que pena que não tenho máquina fotográfica. Foi impressionante quando cheguei à Rotunda de Atocha, em hora de ponta e vi a Estação, o Museu Reina Sofia, as árvores de Embajadores e, ao fundinho os subúrbios de Madrid, todos no mesmo campo de visão. Uah! E depois perdi-me sem pressas nos becos de Lavapies (já estava mais de 45 minutos atrasada).Sem dúvida o bairro mais bonito de Madrid.

E já que estava por ali entrei numa taberna e sentei-me a escrever enquanto comia um triângulo de tortilla e uma coca-cola. Quando já estava a terminar uma idosa pediu-me para se sentar na minha mesa. Eu já estava de saída mas deixei-me estar mais um bocadinho e desfrutei da companhia da Mercedes das Astúrias, 80 anos de idade e viuva há onze, que já não tem "ilusion por nada hija mia" e que, como se não bastasse, a melhor amiga caiu e espatifou-se toda. Por isso, agora come empanadas galegas e fanta de laranja sózinha. Bom, nem vos conto a vontade que tive de ficar ali a falar com esta velhota catita mas decidi sair antes dela para não pensar que lhe podia fazer algum mal. Há que ter sensibilidade nestas coisas que os velhotes são a coisa mais fofinha mas também são prós em teorias da conspiração!

Segui o meu passeio pelas ruelas do colorido bairro e entrei numa pasteleria árabe. Comprei um biscoito de não-sei-quê mais duro que um osso que me custou 0.90€. O dono da loja perguntou-me " Portugal é um pais tão rico em pastelaria o que estás tu a fazer nesta espelunca de país??". "Desculpe siim??" e, claro, apressei-me a defender Épáñá....

Depois segui para a Biblioteca da Puerta de Toledo e aí tive uma animada conversa com a bibliotecária, fã de Pessoa e que insiste em sugerir-me livros dos quais ela não gosta. Que estranho, verdade?

E assim se passa um dia à procura de um sítio para viver :)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Odisseia do Aluguer de Quarto

Todos os que alguma vez procuraram casa/quarto para alugar conhecem bem a sensação de chegar, sentir uma pontada no estômago e pensar " que raio estou eu a fazer aqui???"
Assim estou eu,outra vez. Confesso que depois da tournée de Fevereiro, em busca de quarto, já pouco me surpreende nesta cidade mas...
Madrid é um filme comicótrágico (mais trágico que cómico) no que concerne a aluguer de quartos.Como vive muita gente no centro, quase todos os edifícios estão ocupados e muitos por gente jovem logo há bastante oferta e, também, bastante falta de bom senso!

Lembro-me que na tournée de Fevereiro vi coisas do Arco da Velha:
-1 casa tão pequena, tão limpa e desinfectada que cheirava mal;
-1 rapariga pediu para ver o meu Facebook e nunca mais me deu notícias (nem me alugou o quarto)
-1 sotão onde tínhamos de caminhar de gatas porque o tecto, ao contrário do habitual, era plano, as escadas de acesso eram tão pequenas e inclinadas que tive medo de morrer e este cubículo da vergonha não tinha nem porta,nem janelas, apenas umas cortininhas que "garantiam" a privacidade.

Bom, agora que decidi ficar em Madrid comecei a procurar uma casa com sala e cozinha espaçosas. Estava tudo a correr bem até que uma insular, jovem por fora, louca por dentro, com uma casa espectacular, decidiu mostrar o devaneio/falta de ar puro que lhe vai na alma e brindou-me com 1 lista de perguntas em directo e por telefone que, segundo ela, a vão ajudar a escolher por afinidades com quem quer viver(reparem, afinidades, irra!):
- Costumas caminhar devagar ou depressa? (porque o soalho é de madeira)
-tens o sono leve ou pesado?
-costumas acordar muitas vezes durante a noite?
-Incomoda-te compartir a máquina de lavar? (ou seja, as cuecas dela com o meu pijama)
-Quantas vezes por semana lavas a roupa? (respondi 2vezes por semana. parece razoável, verdade?)
-Quanto a namorado quantas vezes o trarás para dormir? (desconfio que além de arquitecta também faz uma perninha no Gabinete de Planeamento Familar)

etc..etc...etc...

Conclusão: Medo, Muito Medo

Ah e mais esta:
-incomoda-te que eu me desperte às 8h da manhã??

F*@#-se Gralha do C*%@&** DESAMPARA-ME A LOJA!!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

La Faróla


Fonte: El pais

La Farola está para Madrid como a Cais está para Lisboa. Vende-na sobretudo às portas dos supermecados e "la fiesta" também está patente na abordagem e na maneira de vender.
Os vendedores são sobretudo imigrantes da África Subsahariana e têm um temperamento muito peculiar. Alguns estão cá há anos e só sabem dizer meia dúzia de palavras entre as quais cariño e guapa. Assim, mesmo quando não têm intenções libidinosas ou agressivas o discurso que utilizam para cativar os transeuntes por vezes é um pouco estranha.

Numa das entradas do El Corte Inglés de Quevedo está um jovem que diz num tom de voz esganiçada "Hey guapa,guapa...hey, hey, hey..que paaasa cariño???". E numa das ruas da Calle Princesa há outro que diz num tom de voz muito dramático "Hola cariño, estoy moriendo de hambre...una moneda..." e anda de um lado ao outro da rua como louco. A primeira vez que o vi fiquei bastante sensibilizada e voltei atrás para contribuir. Depois compreendi que é tudo uma questão de marketing e auto-confiança portanto agora ajudo em número ou em género os mais caladinhos, os que dizem com a voz quase sumida " Buenos Dias Señorita"...

E gosto de todos eles e apetece-me falar um bocadinho com cada um deles. Gosto sobretudo da alegria que imprimem às ruas madrileñas, dos sorrisos e do dircurso de abordagem tão diferente, da vontade que têm de ficar e no esforço que fazem a cada dia. Suponho que a maioria atravessou de barco os 14 KM que separam o continente africano do continente europeu portanto são já , à partida, CAMPEÕES!

(clicar no título s.f.f.)

S.O.S Rádio

Tinha a minha irmã à minha espera no aeroporto e assim que entrei no carro percebi de imediato que as estações de rádio portuguesas são das poucas coisas que me fazem falta aqui.
Sinto falta das playlist de Portugal. Mesmo sendo um bocadinho contra as playlist há que admitir que as portuguesas têm alguma qualidade porque há uma grande variedade de reportório, desde os grandes hits até aos lados B, desde os 60´s até à actualidade, em inglês, português, espanhol, italiano, francês etc...

Em Espanha as rádios limitam-se a passar os grandes êxitos de sempre e os mais conhecidos de agora: Beyonce, Rhiana etc...( não me lembro de ter ouvido Norah Jones) porém, passam, maioritáriamente musica espanhola de muito má qualidade: olé, olé, ti quiero, olé, olé cariño e já está!

Valham-nos os cantautores e alguma banda que vai fazendo alguma coisa de qualidade...

Vida de Avião



Enganam-se Vossas Excelências se pensam que para mim andar de avião ainda é uma tortura. Estou bastante mais tranquila. Claro, sinto sempre algum nervosísmo e quando vejo o avião parado na pista penso sempre "é este o malogrado" e quando tenho companheiro de viagem penso que talvez seja o último amigo que vou fazer na vida.Bom, há excepção disto estou praticamente adaptada à rotina dos aviões e já desfruto da quase totalidade da viagem o que me leva a reparar em pormenores que antes me eram indiferentes tais como a banalidade inerente aos aeroportos. No meu imaginário eram sítios mágicos, Torres de Babel e os sítios mais seguros do mundo. Constato agora que não passam de estações de comboio em hora de ponta, cheios de falhas de segurança onde abundam o excesso de tráfego e os sucessivos atrasos. Sobre as hospedeiras tenho a acrescentar que me parece que desempenham simplesmente tarefas de empregada de mesa portanto não entendo porquê tanta mariquice e sorrisos de plástico. por favor, sejam mais naturais e terra-a-terra (mesmo tratanto-se de aviões).

Mas o que me tira do sério é a pressa das pessoas para saírem. Calma pessoal, não é o comboio. Não se podem abrir as portas em andamento!!...Assim que o avião aterra desapertam imediatamente os cintos de segurança e põem-se de pé para tirarem a bagagem de mão (que se transformou em baús gigantes) mesmo após sucessivos avisos dos comandantes para permanecerem sentados. E depois ficam todos calados, com cara de caso, nos corredores estreitínhos, a olharem fixamente para o chão.As vezes o avião tarda mais de 5 minutos a abrir as portas.Ora imaginem se alguém se sente mal? Ou se eventualmente o avião tem de voltar a deslocar-se para outro estacionamento??

Tenham calma minha gente...Há que trazer de volta a magia dos aeroportos e convosco a comportarem-se assim como se estivessem no Carris 36 em hora de ponta é um bocadinho difícil, verdade??

Operação Tapa-Biquiní


Café Concha, C/S.Bernardo, Madrid

Não é segredo para ninguém que o que eu gosto mesmo em Espanha são as tapas. Dia que não me salga de tapas não é dia! Ás vezes nem me apetece muito beber álcool mas adoro a expectativa de saber o que me vai sair de tapa. É como um ovo kinder ou um presente de Aniversário oferecido por uma pessoa discreta: até abrir nunca se sabe o que vamos encontrar! E reza a boa educação que não se pode rejeitar a tapa que nos dão a menos,claro, que seja algo de que não gostamos mesmo nada como enchovas ou espargos em conserva. Felizmente costumam ser bocadinhos de pão com alguma coisa ou quadradinhos de tortilha ou pratos cheios (a abarrotar) de batatas fritas pala-pala.

Ora tudo seguiria sendo perfeito não fosse a chegada do Sr.30ºC a Madrid. Depois de 4 meses de intenso e inconsequente namoro com as tapas chegou o momento dramático de dizer ao empregado de bar "deixe estar, obrigadinha, só quero mesmo a cervejinha..."

Menos mal que Madrid não tem praia :)