Peripécia - Segundo Aristóteles, "Peripécia é
a mutação dos sucessos no contrário". Assim, poderemos considerar um
acontecimento imprevisível que altera o normal rumo dos acontecimentos da acção
dramática, ao contrário do que a situação até então poderia fazer esperar.
Quando
voltei de viagem só tive vaga na casa dos horrores aka Abraham´s Hostal um par de dias mais por isso mudei-me para o
Kinlay House Hostal, mesmo em frente ao Castelo de Dublin.
Enganam-se
se pensam que tive vida de princesa. O quarto feminino de seis/oito beliches do
anterior hostal foi substituído por uma camarata mista de dezoito camas.
Acrescenta-se o facto de ter chegado na véspera de Halloween. Havia um rodopio
tremendo de lobisomens e bruxas que podiam facilmente ser confundidas com senhoras da vida. A luz estava constantemente acessa e eu estava na
cama de cima a levar com toda aquela incandescência. Até fiquei bronzeada! Depois,
dormir em frente a tão Eminente monumento como vem a ser o Castelo de Dublin pode
eventualmente ser interessante para os nepónicos que gostam muito de fazer
fotos. Na prática não tem interesse nenhum porque os sinos tocam a cada quinze
minutos.
Entretanto, a gang do ronco tinha-se multiplicado quais coelhinhos e
naquele quarto não se podia dormir. A noite de Halloween tinha vindo de golpe
direitinha a mim, logo eu que só queria estar na minha cama tranquilamente a
ler.
“Se não podes com eles, junta-te a eles”. Foi que fiz e nem precisei pestanejar. Sabem aqueles autocolantes que se usam no
Verão para atrair moscas? Eu venho equipada de fábrica com uma coisa do
género, mas em vez de atraír moscas, atraí cromos:
Cromo 2: Gay até na maneira de respirar, brasileiro, trinta
e dois anos, giro, giro, giro.
Cromo: “Hello, I am from Brazil
and you?”
Sónia:
Ah, eu sou de Portugal.
C:
Oi?
S:
Eu disse que sou de Portugal
C: Oi? Ah,entendi…Nossa, so
we can speak portuguese, don´t you think so?
S:
Claro! De onde é que és mesmo lá no Brasil?
C:Oi?
Sorry?
S:
Qual é a tua cidade lá no Brasil?
C:
Ah, eu sou do Rio. Nossa, os portugueses falam bonitinho mas é bem dificil
entender vocêis.
S:LOL
C:
Adoro Paris. É a minha cidade de sonho. De onde é você lá em Portugal?
...
Depois
de termos encontrado uma zona de conforto no portinglish ele disse-me que estava triste. A minha cabeça
gritou-me “ainda estás a tempo de te
despedires educamente e de te virares para o outro lado”, mas o meu coração
AAAHHH O MEU CORAÇÃO esse maldito coscuvilheiro não se conseguiu conter e
perguntou-lhe o que se passava. Contou-me que o namorado o tinha deixado mas
mesmo assim ele o tinha convidado para a festa de Halloween. Se o namorado
estivesse receptivo a uma reconciliação ele alinhava. Mas se o namorado não
estivesse “se fodeu”. Contou-me que o
plano dele era beijar toda a gente que estivesse na festa, escarrapachado na
cara do outro. Eu apelei ao bom-senso e à auto-estima dele mas ele já não me
ouvia. Aliás, estava tão absorvido pelo seu próprio mundo que dava duas
stickadas de perfume na roupa, pousava o frasco, e voltava a agarrar nele dois
segundos depois para dar mais stickadas. Pelo menos cheiroso devia estar!
...
No
outro dia encontro-o (forma de dizer porque ele dormia na cama ao lado. Era só
abrir os olhos e lá estava ele) e pergunto-lhe como tinham corrido as coisas.
Falou, falou, falou só para me dizer que tinham corrido mal. O outro não queria
nem saber dele e, por isso, ele tinha tido uma grande canseira a tentar seduzir
pessoas na festa e tinha bebido até “cair
di porri”. Já ao final da tarde,
voltei a encontrá-lo e comentou comigo que o namorado ia passar pelo Hostal a
apanhá-lo para irem tomar algo e que ele, embora soubesse que o outro não
merecia, tinha-lhe comprado um presente caro.
TO
BE CONTINUED...
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