Li
no blog da famosa Pipoca a história do Miguel, um pai que está impedido de ver
o filho, porque a mãe da criança entendeu que deveria ser assim.
Todas
as histórias têm duas ou mais versões, segundo o número de intervenientes. Talvez
o Miguel não seja tão inocente como à primeira vista deixa transparecer, no
entanto, a menos que seja um potencial perigo para o filho, não existe nenhum
motivo aparentemente plausível que justifique o comportamento da mãe. Aparentemente
este pai é um “gajo normal”. De
qualquer forma, mesmo que este pai não seja tão “normal” como aparenta, o filho
de sete anos é que sofre o efeito borboleta da relação entre os pais
desavindos. E este comportamento entre casais divorciados repete-se demasiadas
vezes. Ora por uns motivos, ora por outros, a criança é que paga as favas. Segundo
especialistas, a infância é a fase mais importante na formação do carácter,
assim como é a fase onde se fomentam os pilares que vai ter quando se tornar
adulta. Nem é preciso ser assim tão especialista para perceber que é tal e
qual. A cabeça das crianças é uma esponjinha que absorve o que lhe vamos dando.
Então porquê é que lhes damos coisas más?
Aos
trinta e um anos já passei pela fase dos casamentos, i.e, dos amigos que se
casaram ao dois e três durante meia dúzia de verões. Depois veio a fase do babyboom e por aí ainda andamos. Infelizmente,
já tenho também alguns amigos que passaram a uma das fases seguintes, que
obviamente não é uma fase de passagem obrigatória, o divórcio.
Bom,
este caso do Miguel chamou-me muito a atenção por uma situação que vivi há
cerca dum ano. Um amigo de infância com quem falava frequentemente por telefone, durante meses foi-me contando o dia-a-dia numa família à beira da separação, a
dele. Nalgum momento ele sentiu que já não estava a conseguir conectar com a
esposa. Segundo ele, tentou falar com ela várias vezes sobre a forma como se
sentia. Parece que as coisas continuavam sem funcionar e ele percebeu que já não
gostava dela, a filha que ambos têm era pequena mas já começava a perceber muitas
coisas, ele não queria que ela crescesse num lar sem amor e decidiu pedir o divórcio.
Para ele a família é o mais importante, portanto foi uma decisão dificil.
A
esposa recusou-se a aceitar, embora pouco ou nada fizesse para conquistar o
amor dele (nestas situações in extremis
muitas mulheres recorrem ao golpe da barriga...foi mais ou menos o que poderia
ter acontecido). O ambiente foi ficando cada vez mais dificil e o final era
quase previsível. Não vou entrar em detalhes mas as coisas não acabaram bem
entre ambos. Por fim, estava cada um para seu lado, em casas separadas, cada um
com o seu sofrimento. Não a conheço e não sei qual é a versão dela. Com certeza
tem uma e sei também que o meu amigo não é um santo. Mesmo assim, ao longo do
ultimo ano, de todas as vezes que falei com ele e perguntei pela filha a
resposta era sempre idêntica. Penso que vocês já sabem qual é. A ex-mulher não só não assinava os papéis do
divórcio, como também não o deixava ver a filha. Ou deixava muito raramente mas
na presença de terceiros, ou deixava falar ao telefone umas vezes sim, outras
vezes não, ou fazia ameaças etc...
Há
dois meses que não tenho notícias. Nessa altura o meu amigo estava contente porque podia
falar com a filha ao telefone todos os dias. Durante todo este tempo não houve
uma ordem do tribunal que o impedisse de estar com a filha, mas ele não quis
forçar a situação para que tudo não ficasse pior. Na minha opinião, o pior que
poderia acontecer numa situação destas seria que eles se reconciliassem como
casal. Por muito boa vontade que tenham, dúvido que seja possível perdoar algo
assim. Mas a verdade é que estou sempre à espera que ele me escreva a contar
que as coisas se “recompuseram”. Sinceramente, oxalá que não. Nem eles se merecem um ao outro, nem nenhuma criança
merece ser tratada como bola de ping-pong ou arma de arremesso entre dois
adultos que padecem dos mais variados problemas, tais como auto-estima.
Sei
o que é levar com os pés e sei que doi muito e abala de todo o amor própio,
sobretudo quando ainda gostamos e queremos mais. Não sei o que é ser mãe, ter à
minha responsabilidade uma criança e achar que tenho o poder de decidir se está ou não com o pai. Sei
o que é crescer numa familia com pais divorciados. Os meus pais divorciaram-se
quando eu tinha cerca de quatro anos. Nunca os vi juntos. Ouvi-os queixaram-se
um do outro algumas vezes (e com razão). Senti o sofrimento do meu pai por não
poder ter a custódia partilhada. Naqueles tempos os juízes davam a custódia
total às mães e o meu pai vivia no estrangeiro, portanto nem sequer se punha
essa questão. Nunca a minha mãe nos impediu de passar as férias com o meu pai. Ele
só precisava avisar quando chegava e lá estávamos nós, de vestido bonito à
espera dele. Não ouvi gritos, nem vi empurrões entre os meus pais (talvez os
houvesse mas eu não me lembro). Naõ foi sempre tudo pacifico. Na esponjinha
duma criança com pais divorciados há sempre “purpurinas” e perlimpimpins
familiares que nunca chegam a ser absorvidos. Falta alguma magia, muitas vezes responsável
pelos tropeções que damos em adultos. Parece que procuramos sempre alguma coisa,
alguma emoção que perdemos algures e que jamais vamos encontrar, porque só se é
criança uma vez. É a derradeira oportunidade para aqueles que nos fizeram, nos
criaram e nos amam, fazerem de nós gente boa, sólida e segura,
independentemente da confusão que possa ser a vida dum casal em conflito.
Não
sei porque vim com este tema aqui para o blog. Não sei se o meu amigo me lê. Se
lê talvez fique chateado por contar a história dele. Não me importa. Só desejo
que o Miguel e o meu amigo se possam reunir com os filhos que amam e que os
deixem ser pais dessas duas crianças. Que a vida não lhes poupe mais a magia da
purpurina. Eles e todos os outros, pais e filhos, que se encontrem na mesma
situação...
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