quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Cemitério S. Francisco Xavier, aka, Cemitério da Ronil

Foi há quase 10 meses que cheguei a Moçambique e desde as primeiras viagens de carro pela gigante Av. Eduardo Mondlane que me sinto intrigada/fascinada pela presença de um cemitério fantasma.  Aliás, ao principio eu não sabia que era um cemitério fantasma mas chamou-me a atenção o facto de,através de muro, ver sumptuosos jazigos no meio de tantas árvores gigantes e mato que ultrapassa a altura das construções.
Um dia espreitei por cima dos muros e fiquei impressionada com o cenário halloweenesco. Os jazigos e as sepulturas estão violados e tudo estava coberto de mato. O imponente portão principal serve de entrada ao W.C que há anos os transeuntes improvisaram. No cemitério da Eduardo Mondlane é caso para dizer que se mija em cima da campa dos outros!
E não foi menor a minha supresa quando, ao virar da esquina, encontrei um cemitério judaico que parece o próprio paraíso, e um cemitério mulçumano que, embora não esteja tão bem conservado como o anterior, não tem aspecto de estar abandonado.

Fui indagando e, até hoje, não consegui respostas muito esclarecedoras. As pesquisas na internet acrescentam poucos dados à minha curiosidade. Os nativos pouco sabem sobre o passado e o futuro do cemitério mas dizem-me para me dirigir ao Município, no entanto tenho aprendido que em Moçambique a curiosidade e as autoridades públicas não são uma boa mistura.

Mesmo assim consegui descobrir que se chama Cemitério S. Francisco Xavier ou Cemitério da Ronil. É o priméiro cemitério da cidade de Maputo, construído ainda durante o séc.XIX. Até 1974 foram sepultados corpos em jazigos e campas familiares mas desde 1955 que já não se faziam funerais. Os defuntos são sobretudo cidadãos de origem portuguesa e, após a independência, o cemitério foi abandonado por motivos óbvios. Aliás, não deixa de chamar a atenção que numa cultura onde os antepassados têm uma importância tão grande,  se deixem ao abandono e se permita vandalizar centenas de sepulturas sob o olhar pacifico das autoridades. Porque é uma questão de permissão já que o cemitério está no epicentro da cidade. Logo, é impossível ignorar a sua existência e aparência.

Nas minhas pesquisas boca-a-boca, falaram-me de uns quantos mitos urbanos sobre as intenções do Município em relação ao espaço que o cemitério ocupa. Uns dizem que se fala da construção de um parque de estacionamento, outros na construção de um centro comercial. Várias pessoas- moçambicanas e estrangeiras- disseram-me que há alguns anos a cooperação portuguesa recebeu uma verba avolutada para a rehabilitação do cemitério e adaptação a monumento histórico, ao estilo Père-lachaise, em Paris, no entanto, até hoje nada foi feito. Outras vozes reclamam que o espaço, devido ao seu carácter histórico e beleza arquitectónica, deveria ser convertido em Panteão Nacional e acolher os corpos de personalidades importantes de Moçambique.

O mais preocupante é que não é o unico cemitério de portugueses que está vetado ao abandono. Em Mueda, na provincia de Cabo Delgado, há um cemitério onde foram sepultados soldados mortos na guerra colonial/libertação, que está exactamente nas mesmas condições. Deixo-vos aqui o link de um documentário da SIC que denuncia a situação.

Entretanto, o Cemitério de São Francisco Xavier é utilizado como morada de muitos sem-abrigo VIVOS. As sepulturas são vandalizadas e a madeira dos caixões é utilizada para fazer fogos que aquecem as noites mais frias ou para preparar alimentos. Em Julho, houve um incêndio que destruíu, ainda mais, parte do cemitério. As fotos que aqui vos deixo foram tiradas há cerca de duas semanas, já depois do incêndio, por isso o mato não está tão grande.

Visto desde fora

Entrada Principal
Sepulturas violadas e caixões abertos

Sepultura violada

Jazigos violados

Vista parcial


Cemitério Judaico



Cemitério mulçumano, com todas as campas direccionadas a Meca.


Entrada no Cemitério mulçumano


2 comentários:

Unknown disse...

Aqui vejo nitidamente o túmulo da minha avo , sepultada em 1955,completamente "vandalizado"....

Ofélia Queirós disse...

Querido leitor/a, lamento imenso esta situacao e reitero o meu máximo respeito pela memoria de todas as pessoas sepultadas no cemiterio da Ronil. Por favor indique-me qual é a foto para eu poder remover.muito obrigada