quinta-feira, 19 de setembro de 2013

João Baptista: a destruição de um mito

Na tentativa de dignificar o “monstro” João Baptista acabei por destruir o mito.(para quem não sabe quem é o dito cujo sugiro que click aqui)
Numa bela manhã de Quinta-feira, antes das 9h da manhã, o João Baptista veio ao orfanato. Ao contrário das aparições anteriores, chegou calmo, e esteve todo o tempo sentado ao pé do tronco da mangueira, numa atitude bastante introspectiva.
Mais de duas horas depois seguia na mesma posição, com o mesmo semblante pacifico. Decidi aproveitar a oportunidade para conhecê-lo um bocadinho melhor e fui falar com ele. Pensei também que o facto de as meninas me verem falar com ele faria com que fossem um bocadinho mais tolerantes.
Sentei-me muito perto e cumprimentei-o. Perguntei como estava, se já tinha comido etc...Respondeu-me com um doce sorriso tridental. Disse-me que estava tudo bem, que as irmãs já lhe tinham oferecido um chá e que ele estava só a descansar. Comecei a puxar por ele. Jamais havia visto um “monstro” tão fofinho (confesso que os velhinhos/as são o meu ponto fraco).

Falámos muito. Contou-me que lutou na guerra pelo lado dos portugueses. Perguntei-lhe descaradamente porque era tão alto. Pensei que talvez fosse descendente de algum somali. Disse-me que é filho de um americano com uma moçambicana. E depois o tico e o teco começaram a dar mostras de estarem avariados. Contou-me que ele é assim alto quando está doente, porque normalmente costuma ser mais pequeno. Contou-me também que é negro porque apanhou muito sol e mais umas quantas histórias da carochinha.

Logo no inicio da nossa conversa perguntei-lhe como se chama. Senti-me muito desapontada por saber que afinal o nome dele é Helder. Contei-lhe que as meninas lhe chamam João Baptista e ele riu-se muito. Chamei-as para o pé de mim e apresentei-lhes o Sr. Heldér. Algumas apertaram-lhe a mão. Enquanto falávamos elas começaram a sentar-se à volta dele. Quando me despedi de ele, já estavam umas dez a pulular por ali. Disseram-me que queriam que ele lesse para elas mas tinham vergonha de lhe pedir. Achei a situação tão extraordinária que fui a correr buscar a máquina das fotos.
Conseguimos tirar quatro fotos antes de ter ficado sem bateria. Fui-me embora e muito tempo depois elas continuavam à volta dele a ouvir-lhe a histórias.






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