quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A hora do livro


O único aspecto que aprecio no facto de não ter internet em casa é o tempo que passei a dispensar, novamente, à leitura: mais e melhor.
Lugares comuns à parte ler é mesmo um prazer. Sente-se um formigueiro na boca do estômago e, quando chega ao fim a última página, sente-se um vazio nos dias seguintes.

Lembro-me que quando acabei de ler O Testamento do Sr.Napomuceno da Silva Araújo, de Germano de Almeida, senti que perdera algo. Instalou-se, até, uma angústia que me acompanhou quase 1 semana.
Sentia saudades profundas do velhote catita. Quis ter o poder de o transportar para uma taberna de São Vicente e sentar-me com ele sabendo, à partida, que essa seria uma situação improvável tendo em conta o carácter do Sr.Napomuceno.
Quando acabei de ler O Rio das Flores, de Miguel de Sousa Tavares,tive insónias. Fiquei tão perturbada com o final – injusto por um lado, honesto pelo outro- que jurei que nunca mais iria ler nada do autor. Ele não tinha o direito de me partir o coração.
O mesmo se passa com o Fernando Pessoa. Por vezes tenho de me afastar da sua obra e vida para não me sentir perdida. Para controlar as saudades que sinto de passear de mão dada com ele e passar-lhe a mão no cabelo até que ele perceba que não está sózinho, que estou com ele e que, graças a ele, aprendi a controlar a minha metafísica e sou feliz.

Assim, prossigo com as leituras dos livros que requisito gratuitamente nas bibliotecas municipais de Lisboa.
Iniciei-me na literatura espanhola mas ao fim de 2 livros desisti. As traduções estão muito más.
Continu a minha relação de estupefação com o Saramago (caminhamos a passos largos para uma relação de deslumbre muito embora eu continue a achar que ele não percebe muito de pontuação e escreve assim só para disfarçar!).
E, claro, já não posso fugir ao prazer que Lobo Antunes me proporciona. Ele é tão humano que me magoa. Escreve tão simples e bem e retrata tão bem o lado cinzento de cada um de nós que entendo porque já foi nomeado para o Nobel da Literatura. Poderia ser fotógrafo.
O mundo precisa de escritores assim. Que ao lermos os seus livros nos façam sentir que somos, também nós, personagens daquela história, sem nos perdermos nas duplas adjectivações e outras tretas da estética literária.

Literatura é sonho. Para quê etiquetas elitistas? Raios que os partam, às etiquetas. (esta foi à Lobo Antunes).

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