segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Bilhete de Ida e Volta

Hoje, quando voltava de comboio observei um casal de meia-idade, sentado à minha frente. A viagem durou cerca de 30 minutos e não trocaram quaisquer palavra, olhar de cumplicidade ou carícia. Não são, infelizmente, o primeiro casal de meia-idade, que observo nas mesmas condições.
Normalmente tento encontrar semelhanças físicas que me levem a acreditar tratar-se de um casal de irmãos catitas de meia-idade que ainda saem de comboio como nos velhos tempos de solteiros. Até consigo encontrar essas semelhanças-os olhos rasgados, o nariz pontiagudo- porém, invariavelmente, os meus olhos encontram em ambas as mãos esquerdas alianças de compromisso, com a mesma cor dourada desgastada de mais de 25 anos de vida em comum.
Fico sempre,sempre, sempre perdida no vazio que encontro nestes casais. Encontro, imagino, vidas de sacrifício ao lado de pessoas que já não nos completam, ou nalguns casos, nunca completaram.
Não quero que este post soe a julgamento. Não quero que o interpretem como crítica a estes casais de olhar triste e aborrecido. De certa forma até posso entender porque continuam ali, estagnados, à deriva. Este post é,tão somente, um grito de revolta e glória!Um grito de sustento a todos aqueles que queiram procurar o coração de cristal que lhes pertence, mesmo que esse coração de cristal seja o seu proprio coração.É um grito de vontade para mim própria.Pelos momentos de estar só que me esperam, pelas saudades do abraço nocturno e do cheiro familiar do shampôo do cabelo, por aquilo que encontrei e que perdi. Pelo meu pobre coração que já não sabe o que dizer mas que encontra forças para me guiar no meu caminho.
Talvez um dia acorde, já depois dos 30, com o relógio biológico em modo speed. Talvez acorde cansada de não ter desconto de 50% no jogo de lençois com 2 fronhas. Talvez, mais tarde ainda, já depois dos 40, acorde triste porque não tenho nenhum Dom Casmurro para viajar comigo de comboio e mostrar aos outros passageiros o quanto somos indiferentes um ao outro. Talvez acorde até deprimida porque nunca tive ninguém que me gritasse porque pús demasiada pimenta-rainha no macarrão mas agora, com 26 anos e poucas rugas, ainda acredito que é possível ser feliz, verdadeiramente feliz. Tão feliz que até chateia. Chegar aos 50 e rir muito ao lado de alguém que pode até já nem me acender a líbido mas que me faça rir perdidamente. E que eu possa dizer entre lágrimas de gargalhadas “não te preocupes meu amor, pús um tenalady.deixa-me rir.conta-me mais dessas!”

É por isso que,embora se tenha apagado a minha luz-guia e este post nasça de um fracasso, eu continuo a procurar o meu coração de cristal, que não guarde nada que eu não possa ver. A luz da minha fogueira!


3 comentários:

Anónimo disse...

Já tinha saudades disto.......

Alhita disse...

muito bom!!

Marta disse...

Talvez um dia, percebas que esse coração não é de cristal, mas sim de lã bem quentinha e aconchegadora que te envolve num abraço de calor de onde não queres sair mais. Talvez...