segunda-feira, 14 de julho de 2014

A casa dos trinta

fonte:google.br
Creio que aqueles que já passaram a barreira dos trinta conhecem bem essa sensação de engolir em seco e ver, pela primeira vez, que afinal é mesmo verdade que essa idade existe e que há qualquer coisa que muda dentro de nós. Não é uma mudança necessáriamente para pior. Aliás, devo referir que me sinto muito mais jovem e com energia numa série de aspectos da minha vida, desde que entrei nos intas. Sem dúvida, a maior vitória é mesmo a confiança que ganhei, a certeza de que nada é eterno e o domínio sobre as situações que me fazem sentir desconfortáveis ou que não quero de todo viver. Agora é mais fácil escolher o caminho porque já sei (quase) exactamente aquilo que não quero, logo chegar ao que quero é uma questão de paciência, disciplina e preserverança.

Mas sem dúvida que se dá um click interior. No meu caso, senti o caminho estreitar, não de forma definitiva mas numa espécie de chamada de atenção para tomar decisões que podem afectar o meu futuro, nomeadamente em termos profissionais. A estas alturas, aqueles que não estabelecemos como prioridade absoluta o êxito profissional, já chegámos à decepcionante conclusão que a esmagadora maioria das pessoas não trabalha naquilo que gosta. Que esse é um privilégio que assiste só a meia dúzia de privilegiados. Não que a esmagadora maioria não seja merecedora duma vida profissional prazerosa. Já conheci pessoas extremamente profissionais e dedicadas às suas funções. Mas porque ao fim e ao cabo é dificil saber o que é que afinal queremos ser quando formos grandes. E essa dúvida persiste mesmo quando já somos grandes. E quando sabemos, temos ainda de nos deparar com o factor C que domina uma boa parte dos postos de trabalhos interessantes.

Bom, mas este aspecto é um tema transversal aos trintas e, de uma forma ou outra, há sempre a possibilidade de mudar o curso da nossa vida profissional. Dependendo do carácter de cada, das possibilidades financeiras, da criatividade e das circunstâncias que vão surgindo ao longo da vida e que nos fazem repensar e actuar, eu acredito que é possível nos oitenta anos de vida expectáveis para a minha geração, que um executivo se torne, mais tarde, num carpinteiro, ou que uma mãe de família se torne numa pequena empresária de sucesso. Acredito que como nos videos jogos, a vida profissional tem vários créditos. É possível ressuscitar um morto no que toca à ambição profissional.

Já na vida amorosa, não estou tão segura que existem tantos créditos para consumir, sobretudo depois dos trinta. Talvez seja uma visão péssimista, mesmo para quem está habituada a ver o copo meio cheio. Para mim, a verdade é esta e é crua e dói. Dói muito.

São vários os factores que fazem com que cheguemos aos trinta solteiras e são raras as mulheres que se sentem plenas nessa posição de solteira inveterada. Podemos até apertar os dentes e encher a barriga de orgulho para dizermos que estamos solteiras por opção, mas a verdade é que bem lá no fundinho, já todas sonhamos com o dia em que finalmente alguém nos vai ajudar a carregar a porcaria dos sacos do supermercado e nos vai servir um copo de vinho antes do jantar, sem termos de andar à porrada com o saca-rolhas.
Não significa que sejamos todas umas solteironas, rejeitadas. Aliás, a prova disso é que cada vez mais as mulheres nos cuidamos e, já começa a ser dificil encontrar uma trintona que não seja gira, ou que pelo menos tente ser. Que não seja independente. Creio mesmo que a maioria das trintonas que ainda vivem em casa dos pais, o fazem para poupar dinheiro ou ter o dinheiro disponível para algo que as enriquece. Ao contrário dos homens trintões que vivem em casa dos pais, porque simplesmente lhes dá mais jeito que seja assim, e porque nunca tiveram o par de tomates para sair de casa.

Como dizia são vários os caminhos que nos levam a chegar aos trintas solteiras. Eu diria, sem qualquer base cientifica, que há dois motivos. O primeiro, a opção livre. Estudamos até aos vinte e quatro, vinte e cinco (recordem que somos pré-Bolonha) e depois demoramos algum tempo a encontrar o nosso cantinho no mercado de trabalho. Pelo meio vamos tendo namorados, mas nenhum que nos faça perder a cabeça. Segundo, porque estudámos, trabalhámos e encontrámos essa tal pessoa com quem um dia desejámos fazer conchinha, mas por algum motivo, perdêmo-la pelo caminho. (Eu encaixo-me em ambos perfis).



Os solteiros

Chegadas aos trinta, aquelas que gostamos de estar com homens da nossa idade e/ou geração encontramos três tipos de homens e, aviso já que a minha opinião muito resumida é “venha o diabo e escolha”.
Primeiro aqueles, que tal como nós, se mantém solteirões intactos, i.e, tiveram relações, algumas até duradouras e sérias, mas nunca assinaram papéis de qualquer ordem com uma mulher, bem seja de matrimónio, bem seja da conta do gás, água, luz.  E o que dizer destes homens? Na minha opinião, são o osso mais duro de roer porque não amadureceram numa série de questões e, sobretudo, não aprenderam a partilhar. E se aos vinte e tantos ainda torcem um bocadinho, a estas alturas já têm muito claro “antes quebrar que torcer”. Surpreendem-se que as muitas solteiras de trinta e tal anos queiram casar e ter filhos e falem abertamente disso, sem andar ali às voltas. Parece que lhes provocamos “muita pressão” (otários, vocês não sabem o que é viver numa borbulha chamada “Idade fértil”. Isso sim é uma verdadeira pressão).
Embora pela presente fique bem expressa a minha opinião, quero deixar claro que acredito que existam excepções. Que há homens de trinta e tal anos solteiros que merecem a pena e que tal como algumas de nós (como eu) tiveram um soluço forte, uma má aposta, um curva inesperada que lhes mudou inesperadamente o rumo da vida. Mas, já agora, onde é que estão esses? Alguém me pode deixar um para amostra de estudo?
  
Os casados

Depois existem os outros que são os casados ou divorciados, que hoje em dia são quase a mesma coisa, porque por um lado já ninguém casa, por outro a vida está dificil para descasar aquilo que há, mesmo que seja nada.
Lamento se vou ferir susceptibilidades, mas é neste nicho que eu gostaria de dizer que estão boa parte dos exemplares masculinos que valeria a pena explorar caso não estivessem na situação em que estão.
Depois de terem vivido uma vida conjugal cheia de dias bons e maus, cheia de sorrisos matinais e de remelas nos olhos, cheia de essa sensação de chegar a casa, abrir a porta e encontrar um ambiente familiar e roupa suja esquecida no chão da casa-de-banho, uma boa parte dos homens que já partilhou a vida com uma mulher, escolhida e amada por eles mesmo que numa época remota, já estão ligeiramente pulidos e, portanto são máis agradáveis no trato diário.  Estes homens já chegaram naturalmente à conclusão que as mulheres somos ora bichos do mato, ora puro mel e que uma coisa não implica a outra, portanto não se coíbem de comprar um ramo de flores ou preparar o jantar quando os ânimos assim o exigem. Que bom seria se não fossem casados!
Cuidado, muito cuidado, porque para estes homens, nós as mulheres de trinta e tal solteiras, somos uma perdição porque ainda somos jovens, mas já somos estáveis e suficientemente independentes. E mais cedo ou mais tarde todas vocês vão ter um atrás, a dar em cima. E todos nos vão dizer coisas que sabem bem ouvir, porque eles já aprenderam a dizer coisas bonitas e pulidas. E não é que não gostem de nós, tal e qual nos querem fazer acreditar, porque até gostam. Mas do que eles estão mesmo fartos é da rotina. Nós somos o raio de sol que eles perderam no dia imediato ao regresso da lua-de-mel em Punta Cana. Na grande maioria, em caso de aperto, não dúvidem que a escolha não vai recair sobre nós. Sobretudo se já há filhos a equação que eles fazem é muito simples: entre a rotina e uma só conta de débito para despesas e uma segunda oportunidade mas duas contas de débito para despesas...tirem as vossas conclusões. Vão dizer que somos o que eles andam à procura, que tudo faz sentido desde que nos conhecem, que a relação conjugal que têm não tem pés, nem cabeça. É mentira, mesmo que eles achem que é verdade. Mais tarde ou mais cedo, a esposa vai aparecer grávida ou linda e sorridente numa foto de familia tirada recentemente. Além disso, não podemos contar com eles para nada. Pensem que em caso de tristeza ou extrema alegria nem sequer lhes podemos telefonar porque nunca se sabe se o momento é “inconveniente”....
  
Os divorciados

Por último, estão os divorciados e neste campo vou falar como me der na gana porque tenho experiência e porque alguns dos meus amigos já estão divorciados, portanto já tenho suficientes casos de estudo.
Não sei muito bem em que posição colocar os divorciados neste ranking de três, porque a oferta é tão variada que até cansa, mas básicamente vou dividi-los em dois: os que sim e os que não.

Os que sim:
Estão divorciados e isso até poderia ser um ponto a favor. Do ponto de vista estritamente prático, são homens livres. Do ponto de vista romântico, são homens que viveram e que, ao menos uma vez na vida tomaram uma decisão (casar-se e/ou divorciar-se, partindo do principio que foi livre arbitrio ou uma decisão a dois). Dependendo da experiência que tiveram, são homens maduros, que adquiriram esse tal espírito de convivência, que amaram mas que por algum motivo as coisas não funcionaram. Até aqui tudo seria perfeito e, pode eventualmente ser, se esse divorciado não vier cheio de pica para “recuperar o tempo perdido” e “descobrir se ainda sabe seduzir”. Ou ainda, se for um desses homens que não deixou de acreditar no amor, mas sim deixou de acreditar na vida a dois.  Para aquelas que queiram ter uma relação com um homem que não deixa a escova de dentes mas que é, acima de tudo, um cavalheiro este pode ser uma opção. Para as que queremos pipocas no sofá, esqueçam.

Os que não:
Infelizmente são a maioria. Ora porque ser divorciados não foi uma opção pessoal e agora acreditam que todas as mulheres somos enviadas especiais do Belzebu -normalmente estes passaram por um processo de infidelidade e põem a culpa na mulher (será que a culpa foi mesmo só da mulher?)- ou, realmente tiveram má sorte e isso nem sempre se pode evitar.  Ora porque embora sejam aparentemente divorciados, na realidade ainda não o são. E não o são porque ainda estão em vias de...ou porque embora sejam, a ex-mulher ainda está tão presente na vida deles como Deus todo poderoso e omnipresente na vida dos crentes. E neste caso as coisas só pioram quando há filhos pelo meio. Normalmente, neste perfil de divorciados, os filhos são mesmo utilizados como bolas de ping-pong. E as novas/os parceiras/os dos papás/mamãs são vistas como madrastas e bruxas malvadas que vêm competir com as mães/pais.
Já vi casos em que o casal já estava divorciado há anos, que a mulher até já tinha um novo parceiro, mas quando o homem decidiu assumir uma nova relação as coisas pioraram. Eu imagino sempre que se o meu namorado tivesse crianças de anteriores relações, eu iria tratar essas crianças como se fossem meus sobrinhos: com todo o amor e carinho mas tendo claro que eu não sou a mãe e que o meu papel limita-se a ser de mimos e muita conversa pedagógica. É dificil encontrar uma familia onde os novos parceiros são aceites como novos membros da famiília e não como alvos a abater o quanto antes, mesmo quando a relação do casal já era inexistente. Quase sempre, estas novas pessoas que surgem, podem ser um ponto de união e não de fracasso e um virar de página para um novo capítulo de amor e familia.

Por fim

Assim, caras solteiras na casa dos trinta não sei muito bem o que vos dizer. Aliás, creio que não é necessário dizer nada porque a esta altura a grande maioria já percebeu que não existem formulas perfeitas e infalíveis. Mesmo assim, achei pertinente abordar este assunto. Como me dizia uma amiga de trinta e um, um destes dias, a grande vantagem que as mulheres temos sobre os homens, é que nós falamos sobre estas questões e aprendemos umas das outras. Isso faz com que amadureçamos. Os homens, ao contrário, saem para tomar cervejas ou falar de futebol, mesmo que no fundo da sua alma, estejam tristes e a precisar dum conselho.

Todas já nos sentimos a triste Bridget Jones naquela cena memorável do “all by myself” (ver aqui). Para as que sonhamos ter algo mais que uma one night stand, as coisas tornam-se ainda mais dificéis porque à nossa volta, aparentemente (e é mesmo só aparentemente) os amigos já têm as suas vidas orientadas. E não é que sejamos invejosas, porque não somos e estamos felizes por eles, mas inconscientemente perguntamos “quando vai chegar a minha vez, BOLAS? “.


Está claro que estou um bocado muito descrente nas relações e nos homens. Dói-me o coração e não estou muito disposta a que mo espatifem outra vez e me voltem a romper as ilusões. Mesmo assim, gostava de vos dizer que continuo o achar o AMOR o sentimento mais magnífico que alguém pode ser sentir por outra pessoa. E quando é mútuo é mesmo verdade que move montanhas e muda tudo, tudo, tudo...aiiiii e é tão bom e viciante que até chateia (suspiros).

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