domingo, 16 de dezembro de 2012

Maputo, Matola e outras coisas insólitas


No 2º dia em Moçambique fomos à Matola visitar a Casa do Gaiato. O trânsito para sair de Maputo é caótico. Confesso até que estou um bocado assustada. Aparentemente não existe qualquer ordem prévia. Pessoas, carros e cabras misturam-se na estrada. Pelo meio a polícia, com as suas largas metralhadores, vai mandando parar. Mesmo que esteja tudo em ordem eles encontram sempre algum motivo para pedir dinheiro e, quando não têm a mínima possiblidade (o que é dificil porque, por exemplo, a inspeção é obrigatória mas ninguém faz e os carros são muito velhos) não têm papas na língua e pedem directamente uma ajuda pessoal.
O mesmo sucede com os passaportes. Nós, os estrangeiros, temos de levar sempre o passaporte caso contrário, se um polícia nos pede a identificação, temos problemas no entanto, é dito e sabido que a polícia é extremamente corrupta e aceitam qualquer suborno. Segundo pude entender o mínimo aceitável são 100 meticais (aproximadamente 3€). Se eventualmente só tivermos disponível 1 nota de bilhete superior os polícias oferecem-se para dar o troco!!!
Gostava de ter coragem para tirar uma foto aos carros de polícia e às armas que levam á cintura mas acho que isso me poderia trazer sérios problemas. De qualquer forma, para terem uma ideia de como são, imaginem as imagens das guerrilhas que nos chegam através dos noticiários: Ruanda, Libéria, Sudão etc...

Bom, como vos contava, fomos à Matola. Assim que saímos de Maputo-cidade a paisagem muda e passa a ser bastante mais agrícola. Há casas semi-construídas e casas de palha à beira da estrada e outras mais metidas dentro do mato. As mulheres caminham com grandes mercadorias na cabeça e, por vezes, também com os filhos pendurados nas costas. Ao longo da estrada há plantações imensas de milho.
Cerca de Massacra há uma ponte que ruíu por causa de umas chuvas. Foi há mais de 1 ano. Como o rio que passa por debaixo da ponte não tem nem 50cm de profundidade a solução encontrada pela população foi continuar a cruzar o rio como se nada fosse. Atravessámos, pois, o rio com o carro e de um lado e doutro havia gente a tomar banho, inclusivé mães de familia vestidas de capulanas da cintura para baixo mas despidas da cintura para cima. Assim estavam com os seus proeminentes seios ao léu enquanto chapas, machibombos e gente normal cruzava o rio dentro de veículos.

Ponte ruída em Massacra

Em todo o caminho vi pessoas sairem de dentro do mato e caminharem na beira da estrada. Por fim, chegámos ao Gaiato. No caminho vi 2 lagartos a cruzarem a estrada. No Gaiato fomos recebidos pela Irmã Quitéria, pelo Padre José e por uma série de miudos muito simpáticos que se encarregaram de nos mostrarem as instalações. Quando estavamos a menos de 1 hora do pôr-do-sol e já nos tínhamos despedido de toda a gente percebemos que o carro não funcionava. O drama, o horror, a tragédia. Foi um miudo aprendiz de mecânico que fez a maior parte do trabalho e deu ideias bem interessantes para resolver a situação. Os outros, já homens feitos, ficavam parados a olhar para o capot do carro aberto a darem a sua opinião sobre o problema. Por fim, conseguimos voltar, mas apanhou-nos a noite ainda longe de Maputo. Uma vez mais as pessoas misturavam-se com os carros. É realmente perigoso. Soube então que há muitos mortos por acidentes de tráfico e que quando alguém atropela mortalmente a um peão se subornar a polícia pode seguir em liberdade, i.e, a vida do ser humano vale nada por estas bandas.

 O carro avariado e o Mr.Boss a observar a paisagem


Foi a primeira noite que dormimos sem o efeito do cansaço provocado pela viagem e tivémos, ambos, uma valente insónia apesar do cansaço. Tudo porque o nosso mosquiteiro é pequeno demais para a nossa cama. Se um puxa de um lado o outro fica com o corpo descoberto e, pior, o mosquiteiro desprende-se e cola-se ao corpo. Ficamos, pois, cheios de calor porque o ar não se move debaixo do mosquiteiro e, além disso, ficamos à mercê dos mosquitos. 

A nossa cama enorme com o mosquiteiro pequenino

Hoje andámos a passear. Fomos ao banco e levantámos os nosso primeiros meticais. Fomos conhecer a Embaixada e o Consulado de Portugal e, pelo meio, encontrámos uma pastelaria portuguesa com bolos tradicionais: bolo de arroz, bola de berlim, palmier recheado etc...Na rua comprámos 4 maçãs, 1 limão e uma papaia e pagámos 100 Meticais. É uma pena que nos roubem só porque não somos daqui. Eu adoro comprar aos vendedores ambulantes mas, no fim das contas, terei de começar a comprar no supermercado onde os preços estão regulamentados.

Estou de rastos...Vou dormir.

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