Faltam-me as palavras para descrever a “espécie” de
desilusão...
Parece-me que há aqui um mal entendido entre o que
eu esperava que fossem as obras deste autor tão falado nos últimos anos e entre
o que são na realidade. Oxalá se deva à minha pouca sensibilidade para com os
seus enredos e palavras e, mais que nada,à minha falta de conhecimentos sobre a
cultura japonesa porque, se não for assim, temos um caso sério de
escritor-impostor.
É verdade que não fiz um esforço sobrehumano para
terminar de ler “Kafka en la orilla” (2002). Não tanto pelo conteúdo da
história mas porque queria avançar rápido para ver até onde é que este Mr. Susih era capaz de chegar. E, foi
também embalada por essa curiosidade que parti para a leitura de uma segunda
obra “Tokio Blues: Norweigain Wood” (1987). E parti tão embalada que fui
incapaz de travar a tempo. Agora estou toda desfarfelada e com uma maldita
vozinha dentro da cabeça que não pára de me dizer “ahahaha, o gajo andou dois livros a gozar contigo, ahahaha...és mesmo
totó”.
Repito, não sei práticamente nada sobre a cultura
nipónica. Sei que eles dizem “Arigatô” por causa dos portugueses. Sei que nós
contamos do mindinho para o polegar por causa dos japoneses. Sei que são uma
monarquia, uma ilha, que bebem chá verde a dar com pau e que por isso vivem
tanto. Tenho desde pequena metida na cabeça a voz doAxl Rose a dizer “Good evening in Tokyo”, no concerto que eles gravaram emTokyo, na “Use Your Illusion World Tour 1992”. Conheço o protocolo de Kioto e a
Central Nuclear de Fukushima. E confesso que gostaria de conhecer muito mais,
aliás, Japão é um dos países onde gostaria de viver, mas por agora a minha
ignorância em relação aos japoneses e à sua cultura é mais que muita. Talvez
por isso, o meu primeiro contacto sério com um escritor japones tenha dado
barraca (já tinha lido fugazmente a autores de hayku
quando estava na faculdade).
Por um lado, fiquei um bocado apreensiva com a
questão do suicidio. Será mesmo assim? Os japoneses suicidam-se por dá cá
aquela palha? E a sexualidade é vivida de forma tão natural desde a mais tenra
idade? Fazem sempre amor como se fossem adultos? Nunca experimentam coisas, têm
dúvidas como os adolescentes do mundo inteiro? E porque é que Murakami insiste
em personagens adolescentes que são demasiado inteligentes e maduros para a sua
idade?
Por outro lado, compreendi a tristeza que o personagem Watanabe, de Tokyo Blues: Norweigain Wood sente. Essa
passagem de adolescente para adulto que tanta dor lhe provoca. Essa dor de
sentir, pensar, existir que faz com que lhe apeteça baixar todas as persianas e
ficar em casa sossegadinho à espera que a dor passe.
De enaltecer a quantidade de referências musicais
que o autor faz: Blood, Sweat and Tears, Cream, Simon&Garfunkel, The
Beatles, The Beatles, The Beatles outra vez, Prince, Burt Bacharach, Antonio
Carlos Jobim, Jim Morrison etc... Incrível!
Sei que é um escritor surrealista que aborda muito
a questão da solidão e, ambos aspectos, estão patentes as duas obras que li. Como
não tenho a certeza se o problema é meu ou do Mr. Sushi vou arriscar a leitura de outra obra lá mais para a
frente. Entretanto, sugiro que não se deixem influenciar pelas minhas
impressões. Leiam Murakami e contem-me o que vos parece.
Arigatô!
“Cuando
terminó abril llegó el mes mayo; mayo fue mucho peor que abril. En mayo, en
plena primavera, ya no pude evitar sentir como se estremecía y temblaba mi
corazón. Solía ocurrirme al atardecer. En la pálida oscuridad, impregnada del
suave aroma de magnolias, mi corazón, sin previo aviso, empezaba a henchirse, a
estremecerse, a temblar, atravesado por un pinchazo. En estos momentos, cerraba
los ojos y apretaba los dientes con fuerza. Y esperaba a que pasara. Poco a
poco, despacio, este dolor se alejaba, dejando tras de si un dolor sordo.”
( Tokio Blues: Norweigian Wood, pág.333, 20ª edição, colecção Maxi,
em espanhol)
2 comentários:
O problema não é teu nem dele!
Li um livro de Haruki Murakami (Sputnik, Meu Amor) e não consegui parar de ler, tão embalado estava pela curiosidade por aquela história fascinante no conteúdo e agradavelmente leve no estilo. Mas chegado ao fim, a desilusão de não ter todas as respostas foi maior do que o prazer de me ter sido dado espaço para interpretar à minha maneira. Não sei se voltarei a ler algum livro de Murakami, mas para mim um livro só entra na galeria dos "muito bons" quando perdura na memória muito depois de o ter lido, quando o revisito de vez em quando (mesmo que só em pensamento) e quando fico com uma sensação de satisfação quando me lembro dele ou o menciono a alguém. Sputnik, Meu Amor ficou no terrível "meio termo", mas com o tempo tem-se vindo a desvanecer... não me parece que o venha a ganhar lugar na galeria...
Olá António, tens razão. Há uma altura nos livros do Murakami que a leitura é agradável e quase viciante por causa dessa atmosfera melancólica e húmida que ele cria...mas acho tudo demasiado surreal e os finais de ambos livros que li, ficam muito aquém de tudo. Pode ser falta de sensibilidade para com a cultura nipónica ou pode ser simplesmente um escritor que entrou na moda pelo exotismo das suas origens e todos nós seguimos a "Movida Murakami".
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