terça-feira, 12 de março de 2013

“Montar no chapa”



No Sábado montei pela 1ª vez no chapa. Primeiro perguntei na rua onde ficava a paragem e informaram-me que a paragem era o coqueiro esquerdo do outro lado estrada. Assim fiz. Dirigi-me para lá mas vi que algumas pessoas se estavam a concentrar debaixo do coqueiro do lado direito porque havia mais sombra e fiz o mesmo porque“Onde fores faz como vires fazer”.

Tinha ouvido dizer que para entrar no chapa as pessoas têm de lutar por um lugar, portanto comecei logo a travar amizade com um senhor e disse-lhe que era a primeira vez que ia montar no chapa. Assim, quando chegou o chapa ele cedeu-me o lugar da frente, ao lado do condutor. Este homem foi um cavalheiro embora me tenha empurrado para o lado do Fernando Alonso. Quando olhei para trás para lhe agradecer fiquei horrorizada com o espectáculo: muitas pessoas sentadas e 3 homens de pé ( inclusivé o meu cavaleiro andante) em posição de se estarem a sodomizar uns aos outros.
Bom, creio que a estas alturas torna-se pertinente explicar o que é o chapa.
O chapa é o meio de transporte mais comum em Moçambique e personifica melhor que nada o nível de hermetismo que o Estado alcançou. Trata-se de uma carrinha de 9 lugares ou carrinhas de caixa aberta (4x4) onde são normalmente transportadas cerca de 20 a 25 pessoas. Lembram-se que eu vos falei de pessoas que viajavam com o rabo de fora da janela, desprovidas de dignidade?

Os chapas são de propriedade privada. Normalmente o chapeiro, dono ou condutor do chapa, quando quer operar dirige-se ao Município e diz que quer iniciar actividade. O Município disponibiliza as rotas existentes e o chapeiro escolhe. Depois paga um imposto por utilização da via pública e cobra 7Mt.pela viagem, embora os preços sejam estipulados pelo Estado.
Há poucos meses os moçambicanos, conhecidos pela sua passividade, chatearam-se e sairiam à rua para se manifestarem contra a subida do chapa. Quem esteve disse que houve muito barulho. Essa subida de preço aliada à subida de preços do combustível e ao aumento de tráfico na cidade fez com que muitos chapas deixassem de operar o que dificultou ainda mais a lomoção dos moçambicanos.
Os chapeiros são conhecidos pela sua maneira de conduzir veloz e autocrata. Ao cruzar a estrada, quando avistamos un chapa, mesmo que ainda esteja longe, o melhor é aguardar que passe porque as probabilidades do chapeiro vir a 100 Km/h no centro da cidade são muitos altas. Ah, e em Maputo os veículos têm sempre “prioridade” e nunca travam mesmo que o peão esteja numa passadeira ou semáforo verde. Também chamam a atenção pelas alcunhas que atribuem as suas "máquinas".
Nos chapas- e nos transportes públicos em geral- as pessoas são transportadas como gado, sem oxigénio próprio, nem 2cm para se movimentarem.
Não desejo mal ao Sr. Gebuza e, como tal, vou evitar lugares comuns tais como “Eu gostava era de ver o Presidente a montar no chapa” ou “Eu gostava era de ver a 1ª Dama a viajar em posição de cão e ser esborrachada por 2 homens depois de um dia de trabalho árduo.” Nada disso. O meu desejo é apenas que cada moçambicano pudesse viajar nos carros onde os Srs. Gebuzas viajam...
Detalhes:
Chapa perto da Praca de Touros


Chapa 4x4

Terminal Chapa no Zimpeto

Paragem do Chapa

Alcunha do Chapa I

Alcunha Chapa II



 

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