sábado, 9 de março de 2013

“Livro”, José Luis Peixoto



Há quem critique o José Luis Peixoto e o tache de “escritor light”, outros esperam a publicação de uma nova obra sua com a mesma religiosidade séquita com que esperam o 13 de Maio os crentes no milagre de Fátima.

No que a mim diz respeito não me revejo em nenhuma das actitudes fundamentalistas. Gosto do José Luis Peixoto e ponto. Penso que só li 2 das suas obras, no entanto, foram suficientes para que seja um dos meus escritores portugueses contemporâneos absolutos e recomendáveis. Porque é que um grande escritor tem sempre de escrever textos enfadonhos, com palavras caras? Porque é que a escrita deve ser encarada como uma instituição e não como algo que está em movimento, feita por e para as pessoas?

Gosto do José Luis Peixoto não só pela forma como escreve mas também como se apresenta. Cai-me bem esse homem meio tímido, nada snob, giro que se farta, cheio de piercings, que afirma que vive em Moscavide porque é um bairro familiar onde ele gostaria de ver crescer as suas 2 filhas. Além disso é alentejano e deixa esse facto bem patente na maneira como escreve. Quem o lê entende esse sentimento de Identidade em tantos detalhes que dá ao leitor através não só do vocabulário, como também do imaginário do mundo rural: o seu mundo rural. (Como é possível resistir e não levar o Alentejo dentro?)

Terminei de ler há algumas semanas o livro “Livro”, publicado em 2010, pela editora Quetzal. Ao fim de algumas páginas senti uma grande alegria por estar de volta ao “mundo Peixoto”.  Para mim é sinónimo de um mundo onde a família é o ponto de encontro emocional de toda a acção. Existe a ponta do iceberg que é a história, aparentemente simples, e existe o restante bloco de gelo submerso, que é a maior parte e que tem a impressão digital de família.

“Livro” é composto por 2 partes. Li algumas críticas em forúns da internet e parece que o público vibrou com a 2ª parte, com essa maneira directa e “inovadora” de escrever, de tratar o leitor por tu. Eu não gostei. Senti-me algo confusa e, inclusivé, chateada não pela mudança do narrador mas pela forma como está escrito. Oxalá Peixoto não se inspire em Lobo Antunes que, ao adoptar uma escrita experimental, tornou-se impossível (alguém me explica “Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?”).

Mesmo assim desejo larga vida ao escritor e, seguramente, voltarei a procurar o seu universo.

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