“El
mundo habrá acabado de joderse – dijo entonces- el día en que los hombres
viajen en primera clase y la literatura en el vagón de carga.” (Pág.
462*)
A minha relação com este livro foi, durante muitos anos,
a mesma relação que em tempos mantive com os livros do Saramago, i.e, o rechaço
baseado em opiniões alheias. Assumo, pois, os meus preconceitos literários. E já
se sabe que os preconceitos são mesmo assim, pecam pela generalização. Mesmo
depois de me ter deliciado com uma boa parte das obras de Gabriel García Márquez
recuava sempre quando se tratava de começar a ler “Cem Anos de Solidão”.
Amedontrada pela complexa árvore genealógica dos Buendía, acabava por escolher outras
obras do Colombiano, por exemplo “Memória das minhas putas tristes” esteve durante muito tempo no meu top 3.
Foi a curiosidade que me levou a ler as primeiras páginas
de “Cem Anos de Solidão” com o objectivo de ver como estava escrito. Em menos
de 1 hora alcançei a 76ª página e sentia-me bêbeda de prazer. Parecia que a
minha existência já não estaria completa sem a existência do José Arcadio, da Úrsula e dos restantes habitantes do recondido Macondo.
Não mentiam os leitores meus conhecidos quando me
contavam que há momentos em que é difícil acompanhar a corrente sanguínea dos
personagens. Tal e qual uma profecia, foram surgindo ao longo dos capítulos um
sem fim de José Arcadios, Aurelianos, Amarantas, Remédios e Úrsulas.
Enredo
Inserido na corrente literária denominada Realismo Mágico
( género muito apreciado por Isabel Allende), o romance relata, ao longo de 7
gerações, o quotidiano da família Buendía, fundadores de uma aldeia chamada
Macondo, na remota região de Riohonda.
A história tem
passagens autobiográficas da vida de Garcia Marquéz, assim como acontecimentos
fictícios que se confundem com a História da Colombia: a Guerra Civil, a construção
dos caminhos de ferro, a exploração bananeira que permitiu um rápido
crescimento económico na região à custa do trato inhumano dado aos trabalhos e
que, em 1928, culminou com o Masacre de las Bananeras.
Escrito na voz de um narrador externo à história, que não
julga os personagens, limitando-se a relatar os acontecimentos, muitas vezes de
cariz surreal e/ou fantástico, como se fossem acontecimentos banais, o livro
aborda não só a condição do ser humano patente na solidão dos personagens, mas
também a degradação e a forma como o Homem corrompe o mundo.
Na minha opinião é um livro nada enfadonho. De leitura
fácil, é daqueles livros que se
pensarmos neles enquanto estamos no trabalho, ficamos a sonhar com a viagem de comboio
de regresso a casa só para termos o gostinho de avançar mais umas páginas.
Particularidades
Publicado em Maio de 1967, em Buenos Aires, através
da editora Sudamericana, o livro teve uma tiragem inicial de 8000 exemplares
que rápidamente foram vendidos. Em poucos anos, “Cem Anos de Solidão" era já um romance vendido e apreciado à
escala global.
Na época Gabriel García Márquez ainda não era um escritor
conhecido portanto, quanto apresentou o romance à editora que, então, era a
mais almejada pelos escritores que escreviam em castelhano, o editor disse-lhe
que achava que não ia ter êxito e que não o ia publicar.
Mais tarde, quando enviou por correio o primeiro exemplar
à editora em Buenos Aires
teve de o fazer em duas vezes porque não tinha dinheiro suficiente para pagar a
encomenda completa.
Não posso deixar que lamentar o facto de Gabriel García
Márquez estar desde há algum tempo incapacitado de escrever devido à doença de
Alzheimer (demência, como li nalguns jornais na altura em que a notícia foi
divulgada).
E, por fim, depois de escrever tudo isto e, contra as
vossas expectativas, “Cem Anos de Solidão”
continua a não ser o meu livro preferido de García Márquez. Escrevi este
post só para vos incentivar a ultrapassarem os vossos preconceitos literários e
a não darem ouvidos aos velhos do Restelo que afirmam que uma história é
ilegível só porque tem muitos personagens com o mesmo nome...**
“Había
de transcurrir algún tiempo antes de que Aureliano se diera cuenta de que tanta
arbitrariedad tenía origen en el ejemplo del sabio catalán, para quien la
sabiduría no valía la pena si no era posible servirse de ella para inventar una
manera nueva de preparar los garbanzos” (Pág. 476*)
*Plaza
& Janés Editores, S.A: Ediciones Debolsillo, edição de Novembro 2001.
** Consultei alguns dados para escrever este texto na
wikipedia espanhola.
1 comentário:
Realmente, um grande livro!
E quanto ao que as pessoas falam dele... pelo menos no meu caso como ouvinte, só diziam coisas secundárias, como a questão da sucessão dos nomes a cada geração. Parece que o insólito tão original da obra era ignorado pelos leitores que conheci.
Abraços! ;)
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