quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Fernando, le taxi


(Este texto foi escrito sem fins publicitários. Acredito mesmo que o protagonista nem sonha que lhe dedico estas palavras)

Viram o filme taxi-drive? Ouviram a musica da Vanessa Paradis “Joe, le taxi”? Driving Miss Daisy?

A história que vos vou contar não tem um cariz tão afectivo e intimista entre os personagens principais mas vale a pena partilhar convosco porque é real e vivida na 1ª pessoa.

Na Azambuja aquilo que poderia ser uma simples viagem de taxi, com musica banal de fundo e conversa de ocasião é, para mim, um deleite, sempre que o taxista seja o Dr. Fernando. Pela minha teimosia em não querer tirar a carta de condução viajei com ele um sem fim de vezes e é sempre uma experiência para contar aos demais “no sítio onde vive a minha mãe há um taxista que é diferente...juro”.

O Sr. Fernando não é baixinho, nem pequenino, pelo contrário. Usa uma longa cabeleira grisalha e está-se a borrificar para o lucro por isso cobra sempre o mesmo. Tem uma bonita opinião formada sobre os mais variados assuntos que vão além da política, do futebol e da metereologia. Pratica a tolerância e fala de boas- energias e de ser bom com a mesma facilidade empírica com que outros taxistas falam do Benfica.

A ultima viagem de taxi que fiz na Azambuja foi com ele, em finais de Novembro de 2012. Eu ia para Espanha para depois vir para Moçambique. Contei-lhe e ele ficou genuínamente feliz. Falámos de literatura Palop- ele nasceu em Angola- e divagámos um bocadinho sobre África. O taxi dele está cada vez mais apetecível porque além da conversa agradável reparei que está cheio de livros.

Contou-me o Sr.Fernando que por agora deixou de pintar. Segundo ele, perdeu as boas vibrações. Não sei o que lhe terá acontecido. Jamais me atreveria a perguntar-lhe mas desejo que este homem tão simpático volte a encontrar as boas vibrações que, em tempos, o levaram a criar peças de Arte. Desejo tudo isto com a mesma transparência desinteressada com que ele me disse na despedida “Tu tens luz miúda. Tu vais conseguir”.

Já sabem, se alguma vez passarem pela Azambuja não se esqueçam de entrar no taxi do Sr. Fernando.

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