sábado, 12 de junho de 2010

Um dia típico na procura de quarto:

Passo as manhãs a ver anúncios, escolho os que gosto através da relação foto/preço, ligo para as pessoas e marco um encontro. Chego ao local, que nunca está "logo ali à saida do metro" como eles dizem. Pergunto aos transeuntes, que neste país sempre respondem com "joder, guapa isso está muito longe", e eu, que vou a pé para todo o lado, pergunto-lhes o que significa "longe" e eles fazem um movimento com a mão, põem a cabeça para trás e um jeito na boca como se fossem a assobiar e dizem "Guapa pelo menos uns 15 minutitos!!" e eu respondo-lhe "isso é canja meu!".
Bom, ando, ando, pergunto, ando mais um bocadinho, às vezes constato que vou na direcção errada,chego ao encontro atrasada mas, por fim, chego. Abrem-me a porta e eu sinto logo as energias. (gostava de um bocadinho mais de suspense, de utopia mas o sexto sentido não permite grandes percas de tempo). Normalmente é gente simpática. Uns são mais rápidos,outros explicam com mais detalhe, contam mais da vida, perguntam donde sou "Ah, Lisboa. Uauh, é preciosa!!", " Obrigada, Obrigada, também acho!". O mais difícil é quanto imediatamente percebo que a casa é desordenada ou suja e tenho que fazer uma série de sorrisos amarelos ou então fazer perguntas que não têm nada a ver com o contexto para disfarçar o mal-estar, a vontade de fugir dali para fora.

Normalmente se as casas estão perto vou a pé. Adoro caminhadas. São momentos de comunhão com o espaço envolvente. Ontem entre rua e rua tive alguns momentos de galanteio com Madrid. Que pena que não tenho máquina fotográfica. Foi impressionante quando cheguei à Rotunda de Atocha, em hora de ponta e vi a Estação, o Museu Reina Sofia, as árvores de Embajadores e, ao fundinho os subúrbios de Madrid, todos no mesmo campo de visão. Uah! E depois perdi-me sem pressas nos becos de Lavapies (já estava mais de 45 minutos atrasada).Sem dúvida o bairro mais bonito de Madrid.

E já que estava por ali entrei numa taberna e sentei-me a escrever enquanto comia um triângulo de tortilla e uma coca-cola. Quando já estava a terminar uma idosa pediu-me para se sentar na minha mesa. Eu já estava de saída mas deixei-me estar mais um bocadinho e desfrutei da companhia da Mercedes das Astúrias, 80 anos de idade e viuva há onze, que já não tem "ilusion por nada hija mia" e que, como se não bastasse, a melhor amiga caiu e espatifou-se toda. Por isso, agora come empanadas galegas e fanta de laranja sózinha. Bom, nem vos conto a vontade que tive de ficar ali a falar com esta velhota catita mas decidi sair antes dela para não pensar que lhe podia fazer algum mal. Há que ter sensibilidade nestas coisas que os velhotes são a coisa mais fofinha mas também são prós em teorias da conspiração!

Segui o meu passeio pelas ruelas do colorido bairro e entrei numa pasteleria árabe. Comprei um biscoito de não-sei-quê mais duro que um osso que me custou 0.90€. O dono da loja perguntou-me " Portugal é um pais tão rico em pastelaria o que estás tu a fazer nesta espelunca de país??". "Desculpe siim??" e, claro, apressei-me a defender Épáñá....

Depois segui para a Biblioteca da Puerta de Toledo e aí tive uma animada conversa com a bibliotecária, fã de Pessoa e que insiste em sugerir-me livros dos quais ela não gosta. Que estranho, verdade?

E assim se passa um dia à procura de um sítio para viver :)

1 comentário:

Anónimo disse...

Sónia!
Sempre te vais quedar por aí mais um tempo?
A ver se te visito
un biquito

inês reis, vinda de um casamento na galicia