quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Irlanda: ponto de situação

Quando vivia em Moçambique conheci uma mulher nigeriana chamada Blessing. Tinha os olhos grandes e sorriso aberto. Uma simpatia tão espontânea que parecia que a qualquer momento ia pedir dinheiro emprestado. Sabem quando a gente não acredita que um estranho possa ser tão simpático? Na realidade, ela jamais pediu nada e fartou-se de convidar para irmos à casa dela.
Bom, mas o que ia dizer da Blessing é que ela era uma business woman lá na Nigéria e tinha deixado tudo porque se tinha apaixonado pelo marido, um business man instalado como comerciante num caótico bairro de Maputo.
Lembro-me que ela nunca entrou em detalhes sobre o que lhes tinha acontecido, mas afrimava que todas as provas que a vida lhe ia dando, ela ia superando, juntamente com o marido. E quando alguém lá na Nigéria lhe perguntava como estavam a correr as coisas, ela nunca dizia que estavam mal. E eu perguntei-lhe se ela era capaz de esconder os seus ânimos até mesmo da família, das melhores amigas e como é que conseguia. Já não recordo exactamente qual foi a resposta tintim por tintim mas a mensagem que ela me trasmitiu foi que quando somos irreverentes e fazemos algo que sai fora dos padrões a tendência das pessoas, mesmo aquelas que mais nos amam, é apontar-nos o dedo e dizer “vês? Eu bem te disse que isso ia acabar mal”. Fazem-no por amor ou por raiva por não puderem ser tão irreverentes. E, sobretudo, fazem-no porque os seres humanos temos todos um lado negro que não conseguimos controlar. Segundo ela, se ela contasse tudo o que lhe tinha acontecido, toda a gente ia dizer “volta para cá, não sejas louca”. Ela não queria voltar porque estava apaixonada e porque as dificuldades a mantinham cada vez mais próxima do marido.
Naquela altura, eu estava a viver uma situação muito delicada.Um dia a dia que me afastava cada vez do homem que eu amava e que queria acima de tudo. E, por isso, invejei a Blessing pela união que tinha com o amor dela e pela diligência com que contava o que lhe parecia conveniente. Até hoje, quando passo por momentos de dificuldades e dor, a minha tendência é expressar esses sentimentos, não guardá-los. E dá-me igual a gestão que cada um faz com aquilo que eu conto. Mas eu conto...Mesmo assim, penso muito na Blessing nestes tempos em que a Irlanda se tem revelado um fiasco às minhas expectativas.

Vim para cá, porque além de ser um país que me despertava muita curiosidade, recebi feed-back de algumas empresas ao meu CV. Diziam-me que me haviam de contactar quando eu já estivesse cá. Cheguei há dois meses, tive três entrevistas de trabalho e enviei já bem perto de um milhar de candidaturas a postos que requerem perfis iguais ou inferiores ao meu, candidaturas espontâneas, em toda a Irlanda, Bristol, Manchester, Madrid e Lisboa (os últimos dois já por desespero de causa e saudades de casa). Passam-se semanas inteiras sem que eu ouça o ridículo toque do meu telemóvel irlandês. Eu até entendo que tenham sido meses dificéis já que a maioria dos elementos dos departamentos de RH estão de banhos no Algarve e em Mallorca, mas a sério que já ponho a acéfala possibilidade de estar a ser vítima de bruxarias, porque não é normal haver tantas ofertas e tão poucas possibilidades de eu chegar até elas, e quando chego algo corre mal (espero ter a oportunidade de vos contar como têm sido as entrevistas. É insólito).

É muito lixado estar num país estranho, sem ter amigos, alguém com quem falar sobre o tempo, com o coração noutra parte e mesmo assim continuar a lutar todos os dias. Há dias em que termino apenada de mim mesma (e isso é o pior sentimento de todos e que traz mais complicações psicológicas), e outros dias em que acredito mesmo na velha máxima “tudo passa nesta vida. As coisas boas e as coisas más. Mas tudo passa”. Depois de tanto tempo a dar voltas às coisas- oito semanas quando se está numa situação apertada parecem uma eternidade muito pior que o fogo do mármore do inferno-só já penso em voltar para casa (e nesta parte fico confusa entre se a minha casa é Madrid ou Lisboa), recuperar os meus contactos, as minhas referências e assumir que dar à volta à questão é mais inteligente que continuar a insistir num caminho que não funciona.

E por isso, quando já me estava a mentalizar que o momento de encarar a realidade não podia mais ser adiado, aconteceu algo que me provou que nada acontece por acaso e que a vida é mas é uma grandessíssima cínica...

Mesmo assim, se se sentirem sózinhos, perdidos, desamparados, sem rumo ou ideias, não se esqueçam de rir de vocês próprios mesmo que por momentos vos pareça que estão a enlouquecer. Não percam a vossa irreverência e a vossa essência porque mesmo que isso não vos traga trabalhos, ajuda a atrair até vós pessoas de alto gabarito humano, capazes de vos pagarem em géneros valores que o dinheiro não alcança. (hoje estou optimista, normalmente quando estou chateada penso bastante em dinheiro e em como tê-lo poderia melhorar a minha vida).

Kanimambo a toda a gente que esteve desse lado de lá do meu email, skype e 96 sempre disposta a mais uma brainstorming.

O que será feito da Blessing?

Agora que reli este texto chego à conclusão que não era bem isto que eu queria escrever, mas vai fcar assim... 

Eu a enloquecer e a achar que estou em Ascot

1 comentário:

Ana Passarinho disse...

Sóniaaaaaaaa
Um beijinho do tamanho do mundo e um xi-<3 apertadinhoooo