Todas as línguas têm as suas nuances malandrecas,
falsos amigos etc...porém até começarmos a estudar uma língua e aprendermos os
seus mecanismos e truques não somos capazes de avaliar até onde é que nos podem
levar essas peculiaridades e riquezas linguísticas.
Sabemos que os espanhóis e portugueses somos perfeitos
desconhecidos uns dos outros. Se é verdade que os portugueses conhecem muito
mais dos nuestros hermanos do que ao
contrário, também é verdade que muito desse conhecimento está baseado em
estereotipos e mitos urbanos. Por exemplo, nós portugueses achamos que os
espanhóis têm salários muito superiores aos nossos, que têm uma rede industrial
muito mais potente que a nossa e que grande parte do consumo alimentício é
interno. Acreditamos também que os espanhóis são morenos e bonitos, sedutores
natos, e que as espanholas usam vestidos vermelhos com bolinhas brancas ou de
outras cores muito garridas nos dias
de festa. Além disso, todos os portugueses falamos espanhol fluentemente, por
isso, quando cruzamos a fronteira para comprar caramelos e entramos num bar de
um Pepe qualquer, seguros do nosso quase bilingüismo, pedimos sem nos
atrapalharmos “dois sanduíches de Ramón y dois cueca-cuelas”. Não
é, pois, de estranhar que com tanto “conhecimento” uma percentagem crescente de
portugueses considerem que Portugal seria um país muito mais próspero se
formasse uma união de Estados com a Espanha ( e, na minha opinião, seria também
um pais muito mais inculto, pobre e reprimido se assim fosse).
Bom, mas voltando ao meu ponto de partida, hoje quero
escrever sobre algumas peculiaridades que existem entre a língua portuguesa e a lengua española
e que podem levar a algumas situações constrangedoras se não houver certo
cuidado no manejo de ambos os idiomas.
Por exemplo, há muitas palavras que em espanhol
começam por H e que em português começam por F e que têm o mesmo significado.
Assim, Horno é Forno, Hijo é Filho, Harina é Farinha mas Hoja não pode ser
Folha porque Folha significa Fod*%a.
Logo, se estiverem em Espanha e quiserem comprar uma base de harina e pão para
fazerem no horno tenham cuidado com o que dizem ao panadero porque correm o
risco de que soe a algo assim “Por favor, dê-me uma base de massa fodi*%da para
a minha empanada”.
Falando de comida, se vos apetecer presunto devem ter algum cuidado quando
falarem com um espanhol sobre o assunto pelos motivos que detalho à continuação:
- presunto em espanhol significa presumível. Assim,
um assassino que ainda não foi julgado é um presunto
assassino ou está presuntamente
implicado num crime;
- devemos ter cuidado quando falamos de presunto, com
espanhóis, por causa da lusodificuldade em pronunciar o “R” e o “J” espanhóis.
Ora, como os portugueses bem sabemos, presunto diz-se “Jamón” mas, considerando a nossa dificuldade na correcta
pronunciação dos sons supramencionados o mais provável é que digamos “Ramón”. Não seria grave se “Ramón” não
fosse um nome típico e bem acolhido na nomenclatura espanhola. Assim, imaginem
que entram no talho do Ramón e ingenuamente lhe dizem “Oh Ramón põe-me aí 1
quilinho do teu Ramóncito...”.
Bom, a estas alturas já podem ver que há coisas que
definitivamente não soam bem e que, afinal, os portugueses, não dominamos assim
tão bem a língua dos nuestros hermanos,
no entanto, os equívocos não ficam por aqui.
Aqueles que viajaram a Espanha certamente já
repararam que não há jipes modelo Pajero,
da Mitsubishi. Não obstante, repararam que há um modelo que apenas pode ser
visto em Espanha, o Mitsubishi Montero e, seguramente, até os mais distraídos
já repararam que é gémeo do Pajero.
A explicação é simples: para os espanhóis Pajero é
aquele que faz uma paja. Paja, que
em português significa tão somente palha, é para os nossos vizinhos o acto de
masturbação masculino. Logo, ninguém quer ter um carro que acusa injustamente
aquele que o conduz e que leva a um sem fim de maus entendidos e alcunhas
desnecessárias que podem manchar um currículo e uma vida. Vocês gostavam de
conduzir um jipe da Mitsubishi, modelo “Punhetas” ou “Punheteiro”?
E a propósito de punheteiro,
em Espanha podem perfeitamente dizer a quem quer que seja que é um punheteiro
ou, inclusive, podem-no mandar fazer punhetas sem que isso seja ofensivo.
Punheta é o gesto que o “Zé Povinho” faz com os braços e o punho.
E há outras palavras e expressões de índole ordinária
que farião corar um português mas que para um espanhol são normais e
politicamente correctas. Cagar, me cago en la leche
(cago-me no leite) e di puta madre são expressões
corriqueiras. Também não devem estranhar se ouvirem na televisão ou até o
próprio Rei usar e abusar da interjeição Joder! E se alguém vos disser “La
madre que te parió” ( a mãe que te pariu) ou “Eres la hostia” (És a hóstia) isso significa que
disseram/fizeram algo muito bem feito.
Se estão convictos
que estas duas linguas-irmãs não podem ser mais false friends eu aconselho a que deixem de estar porque convicto
significa estar preso.
As mulheres espanholas não ficam grávidas, ficam embarazadas. Pobrezinhas. Nove meses de
atrapalhação e bochechas coradas!
E quando estiverem para parir- porque parir é o que
fazem as fémeas em Espanha- não chamem o INEM.
Aliás, o INEM é algo que em Espanha se quer ver pelas costas já que se trata do
Instituto Nacional de Emprego e é onde vai quem fica sem trabalho (equivalente
ao nosso Centro de Emprego).
foto cedida involuntáriamente pela minha amiga espanhola Vane |
Considerando que lâmpada de luz em espanhol se diz bombilha tenham muito cuidado quando
forem ao supermercado, não se distraiam e não peçam uma bomba de 40W. Bomba em
Espanha é uma palavra proibida e pode causar certo embaraço.
Ah, e nem falem da vossa tia Domingas porque isso vai fazer com que a espanholada se ria às
gargalhadas já que Domingas são as mamocas.
E se tudo isto vos parece esquisito aconselho que não o ponham nesses termos a um espanhol
porque exquisito é algo que está
muito bem, ao passo que espantoso é
algo que está péssimo. Logo, uma mulher bonita é esquisita e uma feia é
espantosa.
Os príncipes e as princesas dos contos de fadas do
“Era uma vez...” não foram felizes para sempre e viveram num palácio encantado
mas sim “foram felizes e comeram
perdizes...”.
Por fim, quando se despedirem dos espanhóis não
estranhem se vos disserem “Até logo tio”
mesmo que não sejam vossos sobrinhos e que estejam seguros que não os voltarão
a ver na vida. Eles são mesmo assim, optimistas por natureza e tio
significa gajo, bacano ou brother.
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