Preocupa-me
o estado do mundo. Como já comentei há algumas semanas, acho que em geral não
estamos a dar a devida atenção aos actuais conflitos armados que assolam o
mundo. E o mais grave é que estão a acontecer à nossa porta. É como se o nosso
vizinho do andar de cima desse uma tareia na mulher e nós fossemos dormir com a
consciência tranquila porque afinal “entre
marido e mulher ninguém mete a colher”. Felizmente já não é bem assim e a
violência é responsabilidade de todos e não apenas dos que a proliferam e dos
que a sofrem.
Acho,
também, que mais que indiferença, existe uma apatia muito grande em relação a
tudo. Precisamos de heróis e agarramo-nos a espectros, tais como Barack Obama.
Lembro-me do dia em que ele ganhou as primeiras eleições. Eu estava na Macedónia
e liguei contentíssima para casa, em Portugal. Do outro lado encontrei a minha mãe estava
ainda mais eufórica do que eu. Depois ganhou o Nobel da Paz e agora é o
cabeçilha de actos bélicos, seguindo a lógica
da “guerra em nome da Paz”. E
mesmo assim, sendo consciente desse facto, não consigo deixar de gostar dele.
Porque ele é o espectro dum Herói que eu não tenho. E como eu, existem milhares
de jovens da minha geração, que pressentem que algo está errado mas não sabem
como agir. Porque crescemos com todos os luxos e não podemos imaginar a
realidade dum jovem sírio, embora saibamos que não está nem ai para o
lançamento do Iphone 6, porque as preocupações que tem dizem respeito à
sobrevivência básica.
Mesmo
assim não cesso de procurar uma saída para a minha apatia. Procuro informar-me,
apesar da informação que me chega não ser –demasiadas vezes-imparcial.
Selecciono a informação. Não acredito nem em metade do que os jornais me contam
e agradeço não ter televisão. Importa-me muito mais a opinião dos heróis
anónimos que estão nos lugares de conflito a documentar a realidade e que põe
em risco a sua própria vida para que o mundo saiba o que se passa. A isto eu
chamo LIBERDADE. Não a deles, porque não são realmente livres, mas o fruto do
trabalho deles.
A
partir de hoje, ali do lado direito, juntamente com os blogs dos meus amigos,
vão encontrar alguns blogs de repórteres de guerra. Pessoas que pelo trabalho
que fazem, parecem-me descomprometidas com o sistema político e, logo, têm algo
deveras importante para contar. Algo que, espero, mexa um pouco com as nossas
consciências.
Para
começar vou pôr o blog do fotógrafo espanhol Gervasio Sánchez.
Há
dois anos vi uma exposição dele que me impressionou muito. Além do corpo de Sofia, mutilado pelas minas, em Moçambique, vi fotos dos sucessivos conflitos em Angola. Fotos que me
recordaram imagens que na minha infância eu via na televisão (na minha casa não
havia censura, nem essas frescuras de agora). Mas, o mais impactante foram as
imagens da guerra da Bósnia, nos anos 90, e dos conflitos que levaram à
independência forçada do Kosovo, em 2008.
Não pude evitar que me caíssem as lágrimas. Eu cheguei à Macedónia
poucos meses depois deste conflito. Da minha banheira via a cordilheira que
fazia a fronteira entre a Macedónia e o Kosovo. E visitei a Bósnia quatorze
anos depois da guerra ter terminado e, até hoje, continua a ser o país que
maior impacto me causou. Para mim, no meu "eu" como pessoa, existe um antes e um depois do “passeio”
à Bósnia.
Angola 1999 |
Kosovo 1999 |
Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança
e vive a sua luz.
Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor
e fá-lo conhecer ao Mundo.
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