Desde
a antiguidade que algumas minorias reclamam os seus direitos, mas foi sobretudo
depois da revolução francesa que essas reinvidicações se tornaram mais banais.
No século XIX, passado o auge da revolução industrial e com as ideias marxista
a apelarem ao espírito reinvidicativo e sindical, as ruas foram cenário de
lutas sociais por direitos que hoje em dia nem sequer questionamos. Na luta e
pela luta morreram centenas de pessoas às quais devemos, em parte, a nossa
liberdade.
Um
dos episódios revolucionários mais apaixonantes do século XX foi a “Queima dos
soutiens”, a 7 de Setembro de 1968, quando um grupo de mulheres americanas considerou
públicamente os concursos estilo “Miss America” ou “Miss Universo” etc...uma
opressão e manipulação da beleza e liberdades feminina e, por isso, nesse dia, em Atlantic City , juntaram-se
cerca de quatrocentas pessoas que, simbólicamente
“queimaram” signos da beleza feminina segundo os padrões vigentes. Alguns
soutiens, espartilhos, cintas, maquilhagem e muitos pares de sapatos de salto
alto foram atirados para um recipiente e alguém sugeriu que fossem queimados.
Como o local onde se encontravam era privado nunca o puderam fazer, mas ficou a
intenção e o simbolismo do acto. No dia seguinte os principais tablóides
apelidaram o momento de “Bra-burning”. O zum-zum-zum começou e, um pouco por
todo o mundo, activistas e manifestantes copiaram o acto protagonizado em Atlantic City.
Braburning - Atlantic City - 1968 |
O que é que isto tem a ver com os
Palop?
Ora,
como viajo sempre ligera de equipaje
o meu único luxo desde há muitos anos é um velho portátil multifacetado. É
através dele que contacto com o mundo, me divirto, me informo, escrevo, sou
feliz e infeliz (atenção: há mais vida para além da minha relação com o meu
portátil). Uma
das funcionalidades do meu portátil é trazer-me as ondas FM de umas quantas
rádios que gosto de ouvir. Se vocês também gostam de rádio gostava de vos
sugerir as seguintes frequências:
Portugal
– RFM Oceano Pacifico
Espanha
– Radio 3
Irlanda
– Sunshine Radio
Angola
– Radio Kizomba
Bom,
e é aqui, nesta última referência radiofónica, que reside o meu espanto. Em
Lisboa, quando o corpo pedia a alegria nata dos países africanos, ligava ao meu
querido Nzinga e lá íamos nós abanar a anca. Fiquei, pois, fã de alguns grupos
de música africana e recordei os dois concertos do Bonga e o concerto dos
Tabanka Djaz a que assisti há muitos anos. Adquiri conhecimentos sobre novos
artistas tais como o Paulo Flores. Considero que todos eles são artistas de
mérito, que têm uma mensagem a passar, umas vezes mais profunda, outras vezes de
desbunda, mas em geral têm qualidade. Pensava eu que a Radio Kizomba
andava dentro desta linha, mas encontrei algo que os meus ouvidos e o meu
cérebro preferiam não ter encontrado. Sem me alongar demasiado aqui vão algumas
das pérolas que fazem com que o Quim Barreiros pareça um menino de coro:
“olha
moça pode parar se isso continuar vais-me arranjar confusão vou logo avisar se
a minha esposa chegar ela vai-te dar tau tau não arranja confusão se a minha
esposa te mete a mão JA TE AVISEEEI...TAS A VER A IDEIA???...” Leopoldo Saide – Não me arranja confusão
“Me da tua maçã pra eu provarééé eu
estou com fomé quero comer” Dj Machine feat. Caudio Ismael –Maça
“Tudo o que eu tenho
para te dar babyyyy....é só amoooor, já sei que não foi a melhor forma de te conquistar...vamos
formar o nosso proprio lar...a mansão que te levava era do meu patrão...o carro
era da minha tiiiia...” lili saint- só amor
“Ele: não voltas a mexer na porcaria
do telemovel...
Ela:Corri o mundo só por ti....fui
até ao fundo escalei montanhas para te encontrar e tu não soubeste
valorizar...tu es como a lua tens várias caras e não sei qual é a tua...
Coro: chez besoin de toi... já nao
vale a pena sofrer, ja nao vale a pena continuar...
Ele: eu sempre de amei e tu nao me
davas atenção , baby eu não sou de ferro, por isso cai na tentação, amor eu
sempre fui sincero, eu não consigo parar de chorar para ti...por favor
acredita eu não estou a mentiiiirrr yyeeehhh”, JessicaFerrao feat. Zimous - Ja Nao Vale a Pena
Sem
falsos pudores, considero que estas letras são machistas. Não têm nada de
divertido (ao contrário do Quim Barreiros). São pura violência sexista. E o que
me deixa mais triste é que a maioria destas “épicas” palavras são cantadas por
angolanos e por moçambicanos. Angola e Moçambique pariram alguns dos mais
bonitos poemas e canções de amor à liberdade. Agora, mais do que nunca, ambos
países têm muitas liberdades pelas quais lutar e um largo caminho a percorrer
que vai muito além dos sumptuosos edíficios e das neo-elites “colonialistas”
que estão a surgir da chamada classe média. Ainda bem que o Craveirinha já não
está por cá...e ainda bem que esta canção um dia foi inventada:
“...Antigamente a
velha Chica vendia kola e gengibre e lá pela tarde ela lavava a roupa do patrão
importante, e nós os miudos lá da escola perguntávamos à vovó Chica qual era a
razão daquela pobreza, daquele nosso sofrimento...Xé menino não fala política...mas quem vê agora o rosto daquela senhora, já não vê as rugas do sofrimento...Xé
menino já posso morrer, já vi Angola independente...”
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