sábado, 29 de junho de 2013

Desculpe, está a falar comigo, Sr.30 Anos?


Eu pensava que ter 30 anos era uma coisa que só acontecia aos outros. E, muito bem resumindo, é do que trata o post que se segue.

Sabem aquela sensação que costumamos sentir quando na televisão falam  dos salários astronómicos dos jogadores de futebol ou nos valores dos desfalques cometidos pelos políticos? Os número astronómicos têm tendência a não caber na cabeça do comum mortal e a mesma sensação tinha eu em relação aos 30 anos. Eram um conceito abstracto ou longínquo, muito para além do que a minha imaginação podia alcançar.

Depois, o tempo foi passando e chegaram os primeiros vinte. - Agora que olho para trás vejo que os desfrutei ao máximo e que fiz quase tudo o que deveria ter feito.- Contudo, os 30 anos pareciam estar longe, longe, longe mesmo quando já tinha percebido há muito tempo que o tempo não brinca em serviço e só gosta de andar devagar quando esperamos por alguma coisa com muita ansiedade.

Mesmo quando alguns dos meus amigos mais próximos ou a minha irmã já passavam da fasquia dos 30 eu continuava a assobiar para o ar e achar que não tinha porque preocupar-me porque ainda faltava muito. E por isso, num belo dia de inverno, no hemisfério sul, fiz 30 anos e quase nem percebi.

Foi a primeira vez que fiz anos e não cantei aos sete ventos. Só o David sabia e só ele me brindou com um matutino “Quemé é que é uma flor, quemé é que é?” numa imitação quase perfeita do original mas, mesmo assim, aquém da criadora do costume: a minha mãe.
Para os que estão fora de contexto vou explicar um bocadinho de que se trata: desde pequeninas que a minha mãe nos acorda ou nos saúda no dia dos nossos aniversários com uma série de beijos ruidosos -que me deixavam embaraçada quando era pequena- e nos diz (grita) aos ouvidos “Quem é que é uma flor quem é?”. O costume transferiu-se para os meus sobrinhos e,no dia dos seus aniversários, são também assediados por uma avó beijoqueira e ruidosa.

Ora, parece que é uma coisa sem importância, mas estes são o tipo de detalhes que fazem a diferença e, portanto, memória. São as doçuras que acrescentam valor a uma vida que muda de página, no meu caso, cada 18 de Junho,. Talvez por esses beijos, talvez porque em Portugal o meu dia de anos foi sempre um dia solarengo, com cheiro a Verão, a verdade é que não posso ficar indiferente às memória que lhe estão inerentes, e por isso 18 de Junho consta no meu dicionário como um dia doce. Logo, quando é passado no anonimato, sem beijos ruidosos, nem essa luz de Verão que o caracteriza, parece que fica incompleto. Sabe a doce sem açúcar.

Mesmo assim não me quero queixar. Sou cada vez menos uma pessoa de listas mas ainda crio mentalmente objectivos daquilo que quero/não quero fazer. Parece-me legítimo pensar que os 30 anos sejam encarados como um objectivo alcançado e uma nova meta a partir da qual se saí. Claro está numa  perspectiva metafórica e filosófica.

Não acho que tenha sido muito freakie por ter imaginado metas, objectivos, sonhos a serem alcançados até chegar aos 30. Também não é segredo que viver/trabalhar em África era para mim um objectivo a ser alcançado.  Assim, como há pessoas que sonham, lutam e conseguem ter uma casa XPTO, ter um bom posto na empresa, atingir determinado patamar de salário eu sonhei, lutei e consegui estar em África. Que não corresponde às expectativas que eu trazia na bagagem? Não corresponde, mas isso já é um tema para ser tratado no campo das frustrações pessoais. E quem não tem frustrações pessoais?

Fica, pois, a sensação de dever cumprido (com várias lacunas noutros campos) e um pouco de receio da década que se aproxima e que, desde a minha posição actual, me parece definitiva no campo profissional e gestacional.

E o dia 18 de Junho de 2013 não foi mais doce porque me faltou muito, muito, muito o calor humano da minha família, sobretudo esse cheiro a gomas que têm os meus sobrinhos. Passei-o a aportar o meu grão de areia a um grupo de meninas que estão sozinhas no mundo e que precisam desesperadamente aprender as letras e os números para poderem ser alguém na vida e romperem o estigma do HIV e do desamparo que é a orfandade.

Obrigada!


Foto de flor oferecida pelo meu muito querido amigo Jan Dock
 

3 comentários:

João Pereira disse...

Quem é que é uma flor quem é?

Hoje, através de um post deixado no moral do nosso Face, percebi a qualidade da "rega" que alimentou essa flor. És uma aortuda.

João

João Pereira disse...

Quem é que é uma flor quem é?

Hoje, através de um post deixado no moral do nosso Face, percebi a qualidade da "rega" que alimentou essa flor. És uma sortuda.

João

Ofélia Queirós disse...

Olá Joao. Muito obrigada por comentar.É verdade, a àgua que me regou é de uma qualidade maningue nice. Beijinhos