terça-feira, 16 de abril de 2013

Breve reflexão sobre a Cooperação e a Sacanagem


"Que pequeña es la luz de los faros de quién sueña con la libertad" J. Sabina


Tal como deixei patente neste texto, a cooperação está para ajudar a impulsionar o crescimento e desenvolvimento  dos países mais pobres. No meu ponto de vista, o papel das agências de cooperação, assim como dos cooperantes é de actores secundários. Em nenhum momento deverá ser desconsiderada a opinião, participação e posição das populações intervidas. Só assim os projectos criados podem ser factíveis e sustentáveis, i.e, só assim o trabalho desenvolvido poderá ter uma larga vida.


O logotipo da fundação África Directo está muito bem conseguido e espelha bem essa urgência do homem branco saber trabalhar como background do homem negro, ou amarelo, ou castanho ou, porque não, branco outra vez. Porque achamos sempre que o homem branco não precisa de ajuda ao Desenvolvimento? Até há pouco tempo Portugal era um dos principais beneficiários da ajuda comunitária que é, em grande medida, ajuda ao Desenvolvimento, apenas lhe deram outro nome e apelido.

Voltando ao meu ponto de partida, o papel da cooperação, sobretudo a cooperação no terreno. Até há muito pouco tempo tinha uma visão idílica. Imaginava o cooperante um tipo valente, uma espécie de Zorro moderno, que deixava o seu país, as suas origens, a família, amigos e domingos perdidos no sofá a ver os programas dos Julios Isidro para ajudar os mais desprotegidos. Não digo que não o sejam, eu própria de vez em quando visto a pele de “Zorro”, mas já não acho que as coisas sejam tão lineares.

Primeiro, descobri (ou decidi assumir) que há almas que andam pelo mundo a um compasso diferente do corpo. São, por assim dizer, gente que tem  inquietações tão grandes que não conseguem estar quietos. A vida, o dia-a-dia no mesmo sítio, com as mesmas rotinas terminam assumindo um papel depressivo. Por isso, essa gente vai pelo mundo curando os demónios dos demais na expectativa latente de curar os seus próprios demónios. Não siginifica que o façam conscientemente mas...fazem-no. Taõ pouco significa que não sejam pessoas mais que válidas para ajudar a “resolver” algumas das lacunas dos países mais pobres. Simplesmente, quero dizer que deixei de olhar para os cooperantes como beatos dos tempos modernos.

Por outro lado, é mais que sabido que, assim como há sacanas em todas as raças e credos, também há boas pessoas, portanto dizer que X ou Y países ou regiões no planeta são mais propícias a um tipo de comportamento seria, como pouco, generalizar e roçar a injustiça.

O que sim posso afirmar sem me sentir culpada ou generalista é que há sítios onde, por ausência de autoridade jurídica e moral ( e não me refiro à moral religiosa, refiro-me à moral aprendida nos bancos da escola) se assemelham a uma  anarquia e que são propicias à corrupção “ da alma”.

Fazendo um paralelismo com o mundo da cooperação, o que eu quero dizer é que, há pessoas que quando chegam a países onde existe total ausência de autoridade e, não têm muito claros os propósitos da sua presença, perdem a noção do certo e do errado, mesmo que anteriormente tenham sido boas pessoas e que os seus propósitos iniciais fossem genuínos.

Não é ,pois, de estranhar que algumas ONG´s no terreno se dediquem à boa vida e a gastar dinheiro público e privado em, literalmente, putas e vinho verde. Alguma dessas ONG´s, de vez em quando patrocinam alguma infraestructura e fazem corpo de presença em alguns actos, para a foto.  Outras há que nem sequer patrocinam, nem fazem corpo de presença porque o dinheiro já foi todo gasto em alojamento em bairros de ricos, em vinhos tintos de alta qualidade, em contas de telefone que farião corar de vergonha a Paris Hilton. Mesmo assim continuam a apregoar a boa fé do seu trabalho e a pseudo-sapiência sobre costumes e hábitos locais.

Hoje em dia, eu não sou cooperante, nem pseudo-cooperante, nem coisa nenhuma. Sou só uma pessoa com altos níveis de frustração, depois de meses e meses a tentar recalcar a minha criatividade.  Na minha vida existe uma ONG que trabalha nessas condições que acabo de descrever e o que mais me lixa é que Moçambique é um pais propício à pouca vergonha e anarquia. Sinto-me impotente porque sei que há dinheiro mal canalizado, que poderia ajudar a impulsionar o cresicmento e desenvolvimento de bairros e pessoas através de construção de escolas, hospitais, bolsas de estudo por  mérito ( e não por beleza wonderbra). Chateia-me saber que não há ninguém a quem possa denunciar a má gestão de uma ONG que é gerida com fundos privados de ricalhaços ex-dirigentes de bancos e gestores de bens alheios. E sinto-me profundamente enganada e desenganada porque, por mais que procure outras oportunidades, chego à conclusão que o mundo está cheio de padrinhos, de compadres e de filhos da puta...





* Que conste que a ONG à qual me refiro não é a Fundação África Directo. Com a FAD só tive boas experiências e fartei-me de conhecer gente de alto gabarito humano.

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