"Que pequeña es la luz de los faros de quién sueña con la libertad" J. Sabina
Tal como deixei patente neste texto, a cooperação
está para ajudar a impulsionar o crescimento e desenvolvimento dos países mais pobres. No meu ponto de
vista, o papel das agências de cooperação, assim como dos cooperantes é de
actores secundários. Em nenhum momento deverá ser desconsiderada a opinião,
participação e posição das populações intervidas. Só assim os projectos criados
podem ser factíveis e sustentáveis, i.e, só assim o trabalho desenvolvido poderá
ter uma larga vida.
O logotipo da fundação África Directo está muito
bem conseguido e espelha bem essa urgência do homem branco saber trabalhar como
background do homem negro, ou amarelo, ou castanho ou, porque não, branco outra
vez. Porque achamos sempre que o homem branco não precisa de ajuda ao
Desenvolvimento? Até há pouco tempo Portugal era um dos principais
beneficiários da ajuda comunitária que é, em grande medida, ajuda ao
Desenvolvimento, apenas lhe deram outro nome e apelido.
Voltando ao meu ponto de partida, o papel da
cooperação, sobretudo a cooperação no terreno. Até há muito pouco tempo tinha
uma visão idílica. Imaginava o cooperante um tipo valente, uma espécie de Zorro
moderno, que deixava o seu país, as suas origens, a família, amigos e domingos
perdidos no sofá a ver os programas dos Julios Isidro para ajudar os mais
desprotegidos. Não digo que não o sejam, eu própria de vez em quando visto a
pele de “Zorro”, mas já não acho que as coisas sejam tão lineares.
Primeiro, descobri (ou decidi assumir) que há
almas que andam pelo mundo a um compasso diferente do corpo. São, por assim
dizer, gente que tem inquietações tão grandes
que não conseguem estar quietos. A vida, o dia-a-dia no mesmo sítio, com as
mesmas rotinas terminam assumindo um papel depressivo. Por isso, essa gente vai
pelo mundo curando os demónios dos demais na expectativa latente de curar os
seus próprios demónios. Não siginifica que o façam conscientemente
mas...fazem-no. Taõ pouco significa que não sejam pessoas mais que válidas para
ajudar a “resolver” algumas das lacunas dos países mais pobres. Simplesmente,
quero dizer que deixei de olhar para os cooperantes como beatos dos tempos
modernos.
Por outro lado, é mais que sabido que, assim
como há sacanas em todas as raças e credos, também há boas pessoas, portanto
dizer que X ou Y países ou regiões no planeta são mais propícias a um tipo de
comportamento seria, como pouco, generalizar e roçar a injustiça.
O que sim posso afirmar sem me sentir culpada ou
generalista é que há sítios onde, por ausência de autoridade jurídica e moral (
e não me refiro à moral religiosa, refiro-me à moral aprendida nos bancos da
escola) se assemelham a uma anarquia e
que são propicias à corrupção “ da alma”.
Fazendo um paralelismo com o mundo da
cooperação, o que eu quero dizer é que, há pessoas que quando chegam a países
onde existe total ausência de autoridade e, não têm muito claros os propósitos
da sua presença, perdem a noção do certo e do errado, mesmo que anteriormente
tenham sido boas pessoas e que os seus propósitos iniciais fossem genuínos.
Não é ,pois, de estranhar que algumas ONG´s no
terreno se dediquem à boa vida e a gastar dinheiro público e privado em,
literalmente, putas
e vinho verde. Alguma dessas ONG´s, de vez em quando patrocinam
alguma infraestructura e fazem corpo de presença em alguns actos, para a
foto. Outras há que nem sequer
patrocinam, nem fazem corpo de presença porque o dinheiro já foi todo gasto em
alojamento em bairros de ricos, em vinhos tintos de alta qualidade, em contas
de telefone que farião corar de vergonha a Paris Hilton. Mesmo assim continuam
a apregoar a boa fé do seu trabalho e a pseudo-sapiência sobre costumes e
hábitos locais.
Hoje em dia, eu não sou cooperante, nem
pseudo-cooperante, nem coisa nenhuma. Sou só uma pessoa com altos níveis de
frustração, depois de meses e meses a tentar recalcar a minha
criatividade. Na minha vida existe uma
ONG que trabalha nessas condições que acabo de descrever e o que mais me lixa é
que Moçambique é um pais propício à pouca vergonha e anarquia. Sinto-me
impotente porque sei que há dinheiro mal canalizado, que poderia ajudar a
impulsionar o cresicmento e desenvolvimento de bairros e pessoas através de
construção de escolas, hospitais, bolsas de estudo por mérito ( e não por beleza wonderbra). Chateia-me saber que não há ninguém a quem possa
denunciar a má gestão de uma ONG que é gerida com fundos privados de ricalhaços
ex-dirigentes de bancos e gestores de bens alheios. E sinto-me profundamente
enganada e desenganada porque, por mais que procure outras oportunidades, chego
à conclusão que o mundo está cheio de padrinhos, de compadres e de filhos da
puta...
* Que conste que a ONG à qual me refiro não é a
Fundação África Directo. Com a FAD só tive boas experiências e fartei-me de
conhecer gente de alto gabarito humano.
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