Depois de dar uma vista de olhos nas estatísticas e, considerando que há excepção de uns franceses demasiado barulhentos eu era a única visitante, acho que posso afirmar que o Museu do Oriente, em Lisboa, é uma pérola ignorada pela larga maioria da população portuguesa. É uma pena já que ao longo da exposição repartida em 2 pisos, são dadas explicações culturais numa linguagem bastante acessível sobre a História de Portugal com o Oriente, sobre as religiões autóctones e a sua (pouca) miscigenação com o Cristianismo e ainda, numa exposição de carácter temporal, sobre o Chá.
A exposição que pretende revisitar a presença dos portugueses na Ásia apresenta como testemunhos diversos objectos artísticos e documentais. Gostei particularmente dos biombos chineses e japoneses, a maioria dos Séc.XVII e XVIII, das caixinhas de casquinha da Birmânia, do imenso património cultural que resulta das relações entre Portugal e Macau e Portugal e Índia e da exposição sobre o Chá. Mais do que a representação do mero percurso histórico do Chá do Oriente em direcção ao Ocidente, a exposição convida a ver, apreciar e reflectir sobre a forma como a simples ingestão de folhas processadas de diferentes plantas marcaram inegavelmente as sociedades que as acolheram num diálogo proficuo e diversificado, embora não isento de tensões, inovações e rupturas.
A Religião
Exceptuando uma visão muito geral sobre o Budismo, confesso que sou uma ignorante em relação às religiões orientais. Um amiga que viajou por diversos países orientais e que repetiu a Índia, contou-me que existe uma diferença muito grande no que concerne à limpeza e organização dos espaços. Normalmente os ambientes budistas são impolutos onde reinam a limpeza e a harmonia (na exposição do museu são recriados espaços budistas próprios para a toma do Chá).
Segundo o que pude perceber tanto na China, como no Japão existem muitas religiões populares e a crença em grandes mitologias. No caso da China embora aceitem o monoteísmo não adoram esse único Deus pela sua condição imaterial e não são capazes de o representar graficamente. Normalmente apelam a uma “espécie” de santos.
Na exposição está também representada a presença dos Jesuítas no Oriente. Uma presença pacífica até à morte de São Francisco Xavier, grande impulsionador do Cristianismo.
Estão igualmente expostas outras práticas religiosas levadas a cabo em diferentes países orientais, sendo que as do Bali me pareceram as mais curiosas pela quantidade de parafenália cromática.
O Chá, a jóia da Coroa
Na exposição está representada a História do Chá passando pelo cultivo, os diferentes recipientes utilizados no consumo, a ocidentalização do Chá e diferentes métodos de transporte. É destacada a importância dos portugueses e, em especial de D. Catarina de Bragança, nos hábitos de consumo do Chá porém, ao contrário do que muitos vezes é afirmado em Portugal a rainha portuguesa casada com D.Carlos II de Inglaterra teve um papel decisivo mas não teve um papel exclusivo na massificação do consumo de Chá, na Europa. Já antes os holandeses se tinham interessado pelo produto e os ingleses já eram grandes importadores de Chá.
Caixinhas para transporte do Chá |
Em Portugal, como é nosso apanágio, o hábito do Chá- assim como tantas outras coisas- chegou tardiamente, sendo normalmente utilizado em ambientes exclusivamente aristocratas.
Aliadas aos hábitos europeus do consumo de Chá foram desenvolvidas novas formas e materiais de apresentação do mesmo. Por exemplo, os serviços de Chá passaram a incluir o açucareiro e a leiteira etc...No entanto, uma vez mais os orientais são mestres no consumo de Chá. Na província de Jianxi utilizam a cerâmica Yixing. É uma cerâmica não vidrada, com barro de diferentes cores- púrpura, laranja...- ideal para conservar os sabores e aroma do Chá. Este é distribuído em bules em quantidade máxima para 1 ou 2 chávenas afim de manter a qualidade da infusão. As cerimónias de Chá podem ter uma duração de 4 horas e são influenciadas pela estética e princípios espirituais do Taoísmo e do Budismo Zen.
Fiquei com o bichinho da curiosidade. Quero ler mais e aprender mais sobre as relações de Portugal com o Oriente. Creio que em geral sabemos muito pouco. Limitamo-nos ao Caril e ao Arigatô. Na loja do museu há bastantes referência bibliográficas, no entanto achei-as todas muito caras. Vou procurar livros sobre o assunto em feiras de 2ª mão.
O ultimo andar do museu é um restaurante com umas vistas maravilhosas para o Tejo mas achei igualmente um bocadinho caro (15€ buffet).
Caixinhas para transporte do Chá |
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