segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Moçambique: crónicas de uma sem partida anunciada



Diz que vamos para Moçambique...

Há cerca de 1 ano soubemos que ambos seríamos aceites numa pequena ONG na Matola, distrito de Maputo.

Bom, começaram os preparativos. O mais importante deles: a mentalização. No meu caso confesso que não custou muito. Ir para África é o meu sonho desde há pelo menos 1 década. Ponho reticências ao convívio com animais selvagens, com os quais prefiro manter uma distância traduzida nuns largos milhares de quilómetros. Tudo o resto me parece um desafio que estou disposta a aceitar. E como tenho experiência em internacionalizações já sei que posso sempre voltar para onde eu queira porque a minha casa é a Língua Portuguesa e, agora- um bocadinho- a língua de Quixote.

Começaram os preparativos no sentido de estabelecer prioridades, objectivos e aquisição de novas competências. Na prática deixei de comprar roupa ou passei a evitar gastar dinheiro em coisas supérfluas porque em Moçambique vou precisar vestir-me, sobretudo, de paciência, coragem e boa disposição. Fiz formações e cursinhos para poder estar profissionalmente mais preparada. Tirei a carta de condução e deixei o meu trabalho. Abdiquei da minha vida livre, próspera  e independente em Madrid em prole de este sonho de ir para África e trabalhar em Desenvolvimento. Aportar algo ao Mundo e seguir uma filosofia de vida onde não cabem fronteiras nem raças.

Para poder iniciar a viagem a este sonho só seria necessária uma coisa de 3 parágrafos chamada “Carta de Convite” que por sua vez daria acesso a um “Visto de Residência”. Segundo um refrão tradicional “os europeus têm os relógios e os africanos o tempo” portanto supõem-se que não deveria reclamar por um atraso de quase 2 meses. Diz que em África as coisas são assim. Fazem-se tarde e a más horas mas com todo o coração.

Não se me acaba a ilusão com tão pouco mas há dias em que na minha alma irrompe o Inverno e nem melancolia posso sentir.


Talvez o Pessoa tenha razão quando diz: (ele tem sempre razão)

"Um dia de chuva é tão belo como um dia de soL.
 Ambos existem; cada um como é."




Pela via das dúvidas hoje dedico-me esta música dos Rádio Macau:

Há dias assim
dias d'alma vaga
tão perto de Deus
tão longe de mim
sem horas boas nem más
sem horas sequer
apenas vazio na alma
apenas dias assim

Há dias assim
feitos de silêncio
com a voz de Deus
a soar em mim
dias sem riso nem choro
sem horas sequer
apenas silêncio d'ouro
apenas dias assim


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