![]() |
Torre Eiffel |
“We will always have Paris ”
Se o Humphrey Bogard me viesse com esta história da promessa
eterna a ser vivida em Paris eu mandava-o à fava. Como é que alguém pode ser
feliz numa cidade à pinha de turistas?
Para mim visitar um lugar é sentir a sua alma. Paris é
lindíssima mas achei-a tão caótica que não consegue sequer entrar para o meu
Top 5. Visitei-a com pressa e talvez essa não seja a forma de visitar uma
cidade que à partida tem tanto para oferecer. Mesmo assim vou-vos contar os
quase quatro dias deliciosos que passei entre Paris e Rouen.
Depois de passar a noite a dormir dobrada nos cadeirões do
aeroporto de Dublin acordei bem disposta porque era o dia do meu aniversário. O
avião chegou a Paris às 9h30 depois de pouco mais de uma hora de voo. Foi muito
rápido. Esperava encontrar um clima maravilhoso que há dias estava anunciado no
boletim metereológico, mas a cidade estava cinzenta e parecia até que ia
chuviscar a qualquer momento apesar de não fazer frio. Desde o aeroporto de
Beuvais até Porte Maillot (muito perto do Arco do Triunfo) são cerca de 80
minutos mas o trânsito para entrar em Paris era caótico e demorou muito mais.
É já ali
![]() |
Notre-Dame |
Esta frase não cola com os parisienses. Mesmo que seja
realmente já ali eles dizem sempre que é muito longe e fazem um ar grave. Em
Porte Maillot disseram-me que a Torre Eiffel estava a mais de uma hora a andar
portanto tive de ceder ao metro. Comecei logo por pensar que era impossível os
parisienses não terem outra fama senão de antipáticos. A fila para comprar um
simples bilhete era enorme. Eu demorei mais de meia hora e, apesar de estar de
férias, sentia-me violenta. Éramos todos turistas. Percebi que algo diferente
estava a acontecer. Apesar de já ter viajado bastante não visitei grandes
metrópoles. Londres é a minha referência de cidade gigante e de ambas vezes que
estive lá nunca me senti sufocada pelos turistas. Na fila para o metro em Porte
Maillot vi que estava num sítio de turismo massivo.
Saí na estação Hotel de Ville e fui a pé até à Notre-Dame.
Não pude evitar pensar no Corcunda de Notre-Dame e no quão mais majestosa
parece a sua casa no filme da Walt Disney. Talvez a catedral seja lindíssima
mas tinha tantos turistas, tantos, tantos que não consegui sequer apreciar a
fachada. A fila para entrar era uma serpentina. Perguntei aos meus botões como
era possível...e esta era a fila mais pequenina que eu ia ver.
O Sena é lindíssimo. Dá à cidade uma aparência de romance,
boémia e paz que só as cidades com rio conhecem. Paris foi construída nas
margens portanto ele está em cada cantinho, em cada vista. Seguindo as suas
curvas durante horas tropeçamos nos principais monumentos parisienses:
Notre-Dame, Louvre, Torre Eiffel etc...
Eu tinha muito claro o que queria ver e sabia que estava
limitada de tempo. Dali parti para um passeio até ao Panteão onde me disseram
que havia um metro que me levaria até ao Pere Lachaise, porém algo aconteceu...
![]() |
Panteão |
Latinices...
Esta minha mania de falar com toda a gente já me fez perder
muitas horas utéis. Um gentil senhor de pele morena deu-me passagem numa rua
estreitinha encolhida por umas obras públicas. Eu sorri e agradeci e ele
devolveu-me o gesto. Perguntei-lhe então onde era o metro, ele perguntou-me
onde queria ir e disse-me para ir dali com ele que ele ia-me mesmo indicar.
Resulta que o cavalheiro era da República Dominicana e começamos num blablabla
desenfreado em español hombre y como no?
A entrada do metro nunca mais chegava e transformou-se num
passeio a passo de caracol até à paragem
do autocarro 21 que me ia levar até St. Lazaire onde podia depois apanhar o
metro até Pere Lachaise. Estava claro que ele queria conversa. Monumentos,
História, Paris, Lisboa 1974, filosofia, enfim...fuel pró meu cérebro
handicupado pela vida na Irlanda. Eu deixei-me levar até que já tinha passado mais
de meia-hora e o autocarro estava parado há muito tempo numa das avenidas
principais. Quando ele soube que era o meu aniversário convidou-me para tomar
um vinho e ir dançar salsa mais logo. Parece tentador verdade? Paris, sotaque
espanhol, culto, bem vestido...desenganem-se. Ai já estava com vontade de o
matar porque eu só lhe tinha perguntado onde era o metro e o cabrão tinha-me metido
num autocarro urbano em plena hora de ponta, ruas cortadas e uma manifestação
sindical a complicar. Mais de uma hora depois vi-me livre daquele caos e num
instante dentro do metro estava no meu destino.
Cemitério Pere
Lachaise
È o cemitério mais visitado do mundo porque, entre outros
“encantos” é a morada de uma lista infidável de nomes conhecidos: Delacroix, Oscar Wilde, Marcel Proust,
Balzac, Edith Piaf, Chopin, Maria Callas, Jim Morrison etc...
Pere Lachaise era um padre
jesuíta, ordem religiosa que ocupava o terreno do actual cemitério. O terreno
foi comprado na época do Napoleão para ser transformado num cemitério municipal
onde pobres e ricos seriam enterrados ora em valas comuns, ora em concessões
perpétuas, aka, túmulos. Ao tratar-se de um cemitério público a religião não
era condicionante para acolher os restos mortais de quem quer que fosse e, por
isso, Pere Lachaise acolhe até hoje sepultura de católicos, judeus, mulçumanos
e hindus. Aliás o primeiro mulçumano a ser sepultado foi uma mulher, a Rainha
Malka Kachwar.
Como ficava fora da cidade no
primeiro ano acolheu apenas cinco sepulturas. Hoje em dia conta com 1 milhão de
sepulturas mais cerca de 3 milhões de restos mortais. Pere Lachaise é tão
conceituado que existe uma lista de espera para se ser sepultado lá. Entre
outros requisitos é necessário provar que algum familiar de até duas gerações
se encontra sepultado lá. Depois é rezar até
morrer para se conseguir um nicho nesse mundo de mortos superpovoado...
Há muitos anos que queria
visitar o túmulo do Jim Morrison e assim que cheguei fui directa mas perdi-me
pelo caminho porque o cemitério é tão incrivelmente bonito que é impossível não
ficar rendido. Uma pequena rua de sepulturas ornamentadas com esculturas muito
belas, leva a outra etc...È um museu de escultura imperdível e sem filas como
os demais museus. É realmente incrível. Muito parecido com o cemitério do Alto
de São João, em Lisboa, mas muito maior e cheio de árvores.
Quando por fim cheguei ao
túmulo do Jim Morrison encontrei uma campa humilde, que quase passa
desapercebida não fosse o gradeamento à volta. Estava um tipo a olhar fixamente
a campa, com um sorriso nos lábios e a brindar com uma cerveja ao Jim Morrison.
O Pere Lachaise é o meu sítio
preferido de Paris. Gostaria de voltar lá tantas vezes quanto possível porque é
um lugar de Paz e arte.
![]() |
Cemitério Pere Lachaise |
![]() |
Túmulo dos amantes Abelardo e Eloísa |
![]() |
afinal os chineses também são enterrados... |
![]() |
Detalhe de uma campa de uma criança |
![]() |
Túmulo do Jim Morrison |
Os Hit-points de Paris
O resto da visita decorreu
sempre a andar porque não queria perder tempo em filas intermináveis de
turistas, muito deles que se estão a borrifar para o que estão a visitar e vão
para todas as partes com o pau de metal dos selfies em riste, quais mosqueteiros
da foto da treta.
O Museu do Louvre é imponente. O Palácio do Louvre, onde estão as
instalações do museu, é lindíssimo e enorme. Eu tinha muitas saudades de
rebolar na relva ao ar livre, por isso aproveitei a relvinha em frente ao
museu, estendi a minha capulana e dormi uma relaxante sesta. Para mim a
felicidade é feita sobretudo de pequenas coisas que nos dão prazer e pelas
quais lutamos. Agora que vivo num país onde é impossível ficar sentada num
banco de jardim mais de dez minutos sem que começe a chover, quando tenho oportunidade gosto de perder tempo na relva ou no jardim.
A livraria Shakespeare está mesmo ao lado da Notre-Dame. Para os mais
despistados é a livraria onde o Jen e a Celine se reencontram no filme “Before
the Sunset”. Infelizmente percebi que não sou a única seguidora do filme porque
a livraria estava à pinha, cheia de turistas. Foi impossível entrar.
É incrível pensar que a Torre Eiffel foi construída com o
intuíto de ser mostrada numa exposição e depois desmontada e atirada ao lixo.
Ainda bem que ficou onde está. Dizem que tem uma vista muito bonita e gostava
de subir algum dia mas Paris tem edíficios muito mais impressionantes, tais
como os palácios da Praça da Concorde.
Os Campos Elíseos são uma avenida enorme e larga entre o Arco do
Triunfo e a Praça da Concorde. Gostei muito de passear por lá, de entrar nas
lojas low-coast, sentar-me e ver passar os turistas. Não podia deixar de pensar
no quanto deve valer o aluguer duma casa ali. Na última noite fui jantar a uma cadeia
de baguetes low-coast que descobri, adorei e repeti todos os dias, a Pomme du Pain. Já estava esfomeada e
tinha percorrido Paris a pé. Nos Campos Elisios as baguetes são cerca de dois
euros mais caras mas como não aguentava mais decidi entrar e pedir a minha
vegetariana. Quando já estava servida percebi que a esplanada tinha ficado
vazia. Assim na minha última noite em Paris jantei nos Campos Elisios pela
módica quantia de 8EUR.
![]() |
Louvre |
![]() |
Livraria Shakespeare no Bairro Latino |
Rouen e o blablablacar
Tinha muita vontade de ir a
Paris não só para conhecer a cidade, mas sobretudo porque uma das pessoas mais
importantes da minha lista especial de amizades vive pertinho. A Edna foi minha colega de escola desde
os 10 anos. Nos últimos 15 anos contam-se pelos dedos duma mão as vezes que
estivémos juntas, mas cada vez que o fazemos é como se o tempo não tivesse
passado por nós...falamos com a mesma soltura com que o fazíamos quando éramos
adolescentes. A Edna e a família receberam-me em Rouen na casa deles e foram tão hospitaleiros que nem tenho
palavras...
Para chegar até eles a Edna
contratou-me um blablablacar. Nunca
tinha andado mas fiquei rendida à simplicidade e segurança do processo. São
cerca de 136Km entre Paris e Rouen. Combinei com o choffeur numa estação de
comboios e fomos toooooodo o caminho a falar. O rapaz por coincidência é filho
de uma portuguesa. Visita Portugal com frequência mas não fala a língua, só os
palavrões. Mesmo assim dança no Rancho Folclórico de Rouen. Tinha um inglês
óptimo e foi muito boa companhia. Fiz o trajecto de ida e volta com ele.
Rouen não é uma cidade muito
grande mas é lindissima e bastante mais acolhedora que Paris. Cruzada pelo Sena,
está rodeada de montanhas e entre outra efemérides é conhecida por ser a cidade onde a Joan D´Arc faleceu. No
centro da cidade há um catedral majestosa, a Catedral de Notre-Dame de Rouen. Perder-se pelas
ruas da pequena cidade é como dar um passeio numa época de arquitectura
medieval misturada com modernidade. No centro havia uma feira de solidariedade para com alguns países africanos e mulheres de todas as cores passeavam nas suas alegres
capulanas, tal como eu. Numa outra pequena rua entrei
numa loja de vinyl e fiquei enfeitiçada com o cheiro a disco vinyl antigo. Se
um dia tiver uma biblioteca quero que tenha aquele cheiro...
Fiquei cheia de vontade de
voltar. Rouen cheira a Normadia, a comida boa, vinho bom, largos passeios de
bicicleta e muito ar puro e saudável.
![]() |
Vista parcial de Rouen com o Sena |
![]() |
Estátua Joan D´Arc na Catedral Notre-Dame em Rouen |
![]() |
Detalhe ruas de Rouen |
![]() |
Relógio em Rouen |
Confesso que tinha certa
vergonha de não conhecer Paris. É estranho ser colecionadora de destinos e não ter uma cidade tão importante na
minha lista. Mesmo assim a cidade não entrou para o meu Top 5
embora os parisienses me tenham parecido simpatiquíssimos. Já a Normadia é outra história...
![]() |
Sena no centro de Paris. Lindo! |
Sem comentários:
Enviar um comentário