Ponte suspensa de Bristol Fonte:google.uk |
Eu queixo-me, aborreço-me, reclamo mas a verdade é que há
uma parte de mim que sente certo fascínio pelas Ilhas Britânicas, aka, Irlanda e
Reino Unido. Se todos os dias pudessem
ser secos ainda que cinzentos, frescos mas sem vento, este poderia bem ser o cantinho
do mundo com uma das melhores qualidade de vida, mas...o clima torna a vida
impossível de aguentar. Mesmo assim vou descobrindo lugares belíssimos, com
pessoas muito simpáticas que não têm nada a ver com o estereotipo de gentio
frio e fechado.
Desta vez vou-vos contar como foi a minha viagem a Bristol e
a Bath, no sudoeste de Inglaterra, a cerca de 200 Km de Londres.
Bristol e a
ecofilosofia
Embora o ícono da cidade seja a Ponte de Cliffton, Bristol é
este ano a Capital Verde da Europa e
foi recentemente considerada a cidade do Reino Unido com melhor qualidade de
vida.
Imaginem uma cidade com metade do tamanho de Lisboa, quizás
menos, cheia de jovens e pessoas cosmopolitas que andam de bicicleta para todo
o lado porque a cidade tem mais de 25 Km de ciclovia. E não vos estou a falar de uma cidade plana
porque Bristol tem encostas capazes de fazer suar o mais alfaçinha da Penha de
França. Mesmo assim o espírito é percorrer a cidade, fazer tarefas diárias, ir
trabalhar sem prescindir da bike.
Á parte as pessoas sorriem sempre. Desde os condutores de
autocarro que são uma simpatia até às velhotas sentadas no banco do jardim,
todo o mundo sorri. Talvez porque seja Verão (18ºC +/-), talvez porque a percorri
de uma ponta à outra com o meu amigo das Canárias naturalmente simpático como
todos os da sua terra (dúvido que nas Canárias haja pessoa antipáticas).
Não foi a primeira que estive em Bristol. Antes já tinha
estado como visita numa casa de fachada inglesa e conteúdo espanhol, mas esta
vez ia decidida a ser turista. Fiquei na mesma casa no bairro de Bedminster,
que cada vez tem mais espanhóis, e embuí o meu canário com o meu espírito de
turista. Nao calçamos as peúgas brancas e as sandálias mas partimos à
descoberta.
Ponte suspensa de
Clifton
De Beminster fomos a pé até à estação de comboios e bus Bristol Temple Meads. Quisémos
poupar-nos à subida desesperante que liga o centro da cidade com a zona alta e
nobre Clifton e apanhámos o
autocarro (1,5£). Eu tinha muita vontade de conhecer a Ponte suspensa
construída no século XIX pelo engenheiro Isambard Brunel. Assim que descemos do
autocarro senti-me apaixonada pelo bairro de Clifton. São pequenas casas de
quatro pisos no máximo com estilo georgiano, portas coloridas e fachadas cor de
bolacha. O bairro está cheio de lojas de comércio alternativo: restaurantes,
lojas de arte, lojas de caridade, lojas de bicicletas etc...O barrio está
circundado por uma pequena floresta verde intenso, património municipal, lá em
baixo a cerca de 75 metros
está o Rio Avon, negro e algo sinistro.
No alto a Ponte suspensa. Não é
apenas a ponte que é bela, é tudo o que rodeia, o facto de estar tão alta e
distante do rio, os balões de ar quente que alegram o céu, as curvas do Avon e,
ao fundo, a cidade. Só para ver esse cenário valeu a pena viajar a Bristol
Contudo Bristol tem muito mais que este cantinho...
Vista desde Clifton e Ponte suspensa |
Mercado de St. Nicolas
Embora o falafel
seja uma comida típica do Médio Oriente, no mercado de St. Nicolas, no centro de Bristol está o melhor posto de
venda desta iguaria. Gerido por espanhóis que acreditam que a comida é para ser
desfrutada a 100% e com sabor, o falafel ocupa quase um papel secundário entre
a cenoura, a salada, o homus, o molho de iogurte que sabem mesmo a comida e que
todos juntos, custam a módica quantia de 4,5£, tanto faz que seja em caixa de
plástico ou em pão pita.
À parte esta valiosa descoberta gastronómica, o mercado de
St.Nicolas cheira a comidas do mundo e artesanato. Entre os cerca de vinte
postos de comida de qualidade está um posto de comida portuguesa que, dizem os
locais, tem um bacalhau com natas de fazer comer e chorar por mais. Eu provei a
bica e, embora me tenha custado 1,20£, posso garantir que estava óptima e que
valeu a pena o roubo. Uma das
características mais interessantes do mercado é que apostam no consumo de
produtos biológicos produzidos localmente em quintas dos arredores de Bristol.
Ao tratar-se de comidas do mundo óbiviamente que nem todos os produtos podem
ser locais, mas isso não é escondido do consumidor final.
Mercado de St.Nicholas, Bristol Fonte: guardian.com |
Vida ribeirinha,
Banksy e a Ovelha Xoné
Desde idos tempos que Bristol compete com Manchester e ambos
reclamam ser o porto de maior importância no Reino Unido. O certo é que Bristol
é uma cidade que respira Avon e ao longo dos braços do rio, que alguns
kilómetros depois desembocam no Atlântico, há muita actividade sociocultural. O
que outrora foram docas de chegada e partida de barcos, hoje em dia são bares
com esplandas viradas para o rio.
Numa dessas esplanadas, no bar “The Olive Shed” que promete tapas meditterâneas e tem vinho
português no menú, passei uma agradável tarde na esplanada entre um
“tira-e-põe-casaco” típico do clima destas paragens. Os meus amigos consumiram
cerveja da Galiza. Eu não queria nada e, sem que fosse necessário pedir, a
empregada trouxe-me uma garrafa de design com água da torneira. Haverá maior
simplicidade que esta? Não querendo consumir, não fui induzida a tal...Pois
esse é o espírito da cidade de Bristol que embora seja a capital verde não
apresenta sintomas de desinfeção. É uma cidade também suja mas em vias de
conseguir o equilíbrio entre sustentabilidade, desenvolvimento e meio-ambiente.
É uma cidade que promete a melhor qualidade de vida de Inglaterra mas sem
deixar de ter carácter próprio.
As obras de graffiti repetem-se
em cada esquina da cidade deixando de boca aberta até o mais conservador
fanático da National Gallery. São obras de arte, em grande parte desenhadas
pelo filho da cidade Bansky.
Bansky é um artista grafiteiro anónimo. Embora faça
exposições, seja director de cinema e activista político a sua identidade é
ainda desconhecida para o grande público. Em Bristol consideram-nos um Deus e
qualquer das paredes pintadas por ele, são agora património municipal, depois
de a polícia ter mandado derrubar há uns anos uns quantos muros como forma de
perseguição aos artistas de graffiti.
Uma das obras de Bansky mais conhecidas mundialmente é a
“Ballon Girl”, no South Park em Londres. A minha favorita de Bristol é
“Well-Hunger Lover”, mesmo ao lado do pub mais antigo da cidade, o “The
Hatchet” de 1606.
Outra famosa de Bristol é a “Ovelha Choné”. Desenhada nos Estúdios de Animação Aardman. Actualmente existem várias réplicas da ovelha
recriadas por diferentes artistas em diferentes pontos da cidade (parecido à
exposição das vacas em Lisboa). A minha favorita está em frente à escola de música, já por si um edificio
muito bonito e que merece ser visitado nem que seja por fora.
“Well-Hunger Lover” |
Bath
Por um dia deixei Bristol e fui até à pequena cidade de Bath, Património da Unesco desde 1987.
Bath está para Bristol, como Sintra para Lisboa. Têm um
carácter muito distinto uma da outra mas completam-se na perfeição. Visitar
Bristol e não ir a Bath teria sido um erro muito grande. Assim, desde a mesma
estação Bristol Temple Meads apanhámos a guagua
(bus em dialecto canário) e seguimos até Bath. A viagem durou menos de uma
hora.
Chegámos e encontrei uma cidade de traça aristocrática, de
fachadas românticas e georgianas, envolvida no mesmo verde intenso que
caracteriza a região. A diferença é que Bristol é descaradamente urbana, mas
em Bath se fecharmos os olhos podemos
ouvir o corrupio de coches e o som do roçar no chão dos vestidos de nobres
senhoras. Chegar a Bath é como entrar directamente numa cena daquelas séries da
BBC que retraram a vida dos ricos de séculos XVIII e XIX.
Há mais de mil anos que Bath chama a atenção de visitantes
e invasores que acodem pelas águas termais que dela emanam. Ao longo dos
séculos a cidade foi-se desenvolvendo em torno aos banhos e ao templo de
Minerva construidos pelos romanos
por volta do século VI e, mais tarde, em torno à Abadia de Bath.
A Abadia tem entrada gratuíta, mas a entrada para os banhos
custa cerca de 16£. Achámos caro e decidimos deixar para outro dia. Preferimos
passear ao longo das margens do rio e subir a Gay Street até ao Circus, uma praça em forma de círculo
com uma imponente árvore no meio, que em pleno século XXI estava rodeada de
japoneses, mas que outrora era visitada por nobres que escolhiam Bath como
destino de férias, o que na época era sinónimo de status social.
Vista Bath, Rio Avon |
Bristol again, again
and again
Há muito mais para ver e contar sobre Bristol. Vale mesmo
a pena. É uma cidade frenética e cheia de actividade cultural sem, contudo, ser
cansativa como acontece nas grandes cidades. Em Bristol ainda é possível
cumprimentar o vizinho e, o facto de ser uma cidade verde e amiga da bicicleta,
faz com que todo o mundo se cruze nas ciclovias ou nos autocarros urbanos. Há
trânsito mas não é caótico e a cidade pode perfeitamente ser percorrida a pé.
Ter transporte próprio não é um requisito obrigatório. As compras podem ser
feitas ora no supermercado, ora nos mercado tradicionais. O município criou uma
moeda própria. São libras de Bristol que podem ser usadas em lojas locais que
tenham aderido à rede e servem para fomentar as compras no comércio local.
Uma vez mais adorei voltar lá, talvez pela companhia, talvez
pelas good-vibes da cidade, a verdade é que penso voltar outra vez. Quero muito
visitar o bairro dos jamaicanos e voltar a comer falafel no mercado de St.
Nicholas.
Não sei que tal é a conexão entre Portugal e Bristol mas no
caso de quererem passar um fim-de-semana no Reino Unido mas longe da caótica Londres esta é a
melhor sugestão até ao momento. O bus do aeroporto à cidade custa cerca 11£ e o
trajecto não dura mais de 30 minutos.
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