“Que eu não perca a
vontade de doar este enorme amor que existe em meu coração, mesmo sabendo que
muitas vezes ele será submetido a provas e até rejeitado.” Chico Xavier
Escrevi anteriormente que o coração e os instintos nunca nos
enganam. O que acontece é que por vezes gostamos de ser enganados. Também vos
contei algumas vezes que desconheço os segredos para se ser feliz no amor e, no
último ano escrevi aqui muitas palavras carregadas de dor que mil espinhos, uns
atrás dos outros como rajadas de balas, me provocaram.
Até então tinha tido uma vida plácida no que ao amor
concerne, i.e, tinha amado muito e tinha sido sempre correspondida, porém sem
pré-aviso conheci a rejeição. Quando ainda nem me tinha recomposto bem, o otário
do meu coração – que é mais ingénuo que a puta que o pariu- voltou a meter-se noutra. Coitado, ele até nem
teve bem a culpa. Foi a cabeça que o enganou cheia de falinhas mansas. O certo é
que eu é que paguei as favas destes mambos todos.
Segui a minha vida e curei-me dessa tristeza agónica que só
os desgostos de verdade provocam. Olhei sempre em frente e encontrei alguns
momentos de alegria (que não tem o mesmo significado que felicidade). Não
deixei nunca de sonhar com o amor mas a verdade é que pela primeira vez comecei
a olhar para ele com alguma desconfiança.
Um dia estava deitada na minha cama, muitos meses depois de
todas essas turbulências e do meu coração irriquieto já me ter dado uma trégua,
quando comecei a sentir um formigueiro
no meu peito. O mesmo aconteceu no dia seguinte. O fenómeno não parou de
repetir-se durante semanas. Percebi depois que se tratava de algo muito português.
Tratava-se de saudade e eu tratei de pôr uma cara a essa saudade. Não demorei a
encontrar o responsável.Tinha um nome muito concreto que memorizei durante
cerca de 20 anos. Tinha um cheiro na pele digno de Deuses que de repente
comecei a sentir nas ondas do vento irlandês, no autocarro, na fila do
supermercado, nas toalhas turcas, nos meus sonhos...
Na minha cabeça começaram a sair balões com pontos de
interrogação. Perguntava-me frequentemente “E se ele sente o mesmo e pensa que
eu não sinto e por isso nenhum dos dois diz o que sente?”. Só se vive uma vez e
eu sou consciente disso, portanto não tive dúvidas que ele ia saber que coisas
se andavam a cozinhar no meu coração. Tomei a decisão mas mesmo assim reuni a
minha equipa de conselheiros para falar sobre o assunto. A resposta não tardou “se
sabes o que queres avança...não tens nada a perder”.
Neste ponto é importante referir que o meu instinto, esse
cabrãozinho que tem sempre razão mesmo quando nós queremos muito, mesmo muito
que não tenha, começou-me a dizer coisinhas ao ouvido sem eu lhe ter perguntado
nada. Coisas do género “nunca lhe fechaste as portas, se não voltou foi porque
não quis”. Eu até compreendia o instinto, no entanto repito “só se vive uma vez”
e perdido por cem perdido por mil.
Num acto kamikase disse-lhe tudo o que se passava
dentro de mim. Há sempre esperança que a resposta do outro lado seja digna dum
conto de fadas, mas assim que cliquei no botão “Send” o meu bichinho interior pôs
os pontos nos is e, sem papas na língua disse-me com todas as letras “não
esperes nada em troca”. Foi tão peremptório que, sem jamais me arrepender do
meu acto kamikaze, percebi claramente que tinha sido em vão, que do outro lado
não seria compreendida. Sabem quando apostam duas vezes no mesmo número de
lotaria? Quais são as probabilidades de que esse número saía? Eu apostei duas
vezes neste homem e nas duas vezes perdi. Perdi também o amigo porque já não
creio nesta amizade. O amigo, quando não quer como homem, diz na cara que não
quer porque...é amigo.
Na vida tudo tem um sentido e essa dor agónica de que vos
falei no inicio deste texto é, hoje em dia, a carapaça que me permite passar
incólume por estas experiências. A desconfiança com que olho agora o amor é algo
que passei a considerar extremamente positivo. Que um homem não me queira, que
o mesmo homem não me queira duas vezes já não me derruba. Escrevo-vos isto do
fundo do coração e um sorriso na cara. Porque acredito no amor, na lógica das trocas
baldocas que a vida tem, nas surpresas e sobretudo na minha máxima favorita “What
goes around comes around”.Sei que algo muito, mas muito melhor está reservado
para mim. Não me arrependo de ter tentando lutar uma vez mais por algo que poderia
eventualmente ser recíproco. Temos de lutar por aquilo que acreditamos, contudo
também é importante sairmos de cena com dignidade quando percebemos que do
outro lado não há...nada.
Sinto-me livre depois de muito tempo, cheia de esperança e
de amor tonto para dar a quem o queira de verdade. Limpei a despensa cheia de
teias de aranha e agora cheira a Primavera :)
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Primavera no Alentejo |
(reparem que
o instinto levava meses a tentar avisar-me que isto ia acontecer. O maldito tem
sempre razão. IRRA!!!)
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