quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Fiel, Fiel




A minha mae vive numa zona do país que é mais uma entre as zonas do país onde os animais sao abandonados no Verao ou em època de caça.
Quando a minha mae foi viver para essa zona eu apaixonei-me por um cao preto e branco com cara de desenho animado e muito divertido. Este sr. cao gostava particularmente de me roubar as havainas ou o saco da comida. Ao principio ficava assustada com a energia sem limite do quadrupede mas lá fomos ganhando confiança e, acabámos apaixonados um pelo outro (sem direito a beijinhos que eu nao gosto dessas confianças com os caes. Amigos, amigos, beijinhos à parte).
Sucede que o cao era do meu vizinho e estava a ser "experimentado" para ver se "dava para a caça", senao "logo se via o que ia fazer com ele". Quando, por fim, o meu vizinho, um macho ribatejano muito homem, descobriu que o animal nao dava para a caça (qual deles, já agora?) decidiu oferecer-me o cao preto e branco. Andámos ali indecisos entre continuar a chamar-lhe Fiel ou começar a chamar-lhe Fidel (até lhe pusemos um lenço vermelho-comunista ao pescoço). Por fim, decidimos chamar-lhe fiel. Ia bem com ele, com a sua personalidade.

Foi a nossa primeira adopçao canina. Depois dessa seguiram-se 1 dúzia de adopçoes mais. Quase todos acabaram mortos ou pelo venatório* ou por animais notívagos. E o Fiel ia sempre resistindo a tudo. Depois de uma época áurea como o maior sedutor das redondezas, tinha-se reformado e passava os dias debaixo ou da palmeira, ou da betoneira. No Inverno tinha autorizaçao para subir ao alpendre e deitar-se no baloiço com uma mantinha. Agora que o Fiel tinha reunido todas as condiçoes para viver uma reforma tranquila, eis que o bicho-porco, um desses bichos nojentos que vivem no sub-solo, que atacam pela calada da noite, apareceu e matou-o. Chupou-lhe o sangue e deixou-o abandonado na vinha do Vitor Jorge. De manha, quando a minha familia o encontrou, fez-lhe um enterro digno de um amigo de 4 patas. Está previsto plantarmos uma árvore em memória dele, no Passeio dos Amigos. E assim, a árvore dele ficará junto a outras arvores de outros amigos de 2 patas.

Poderia passar o dia a contar histórias divertidas sobre o Fiel, como por exemplo, que no Natal comeu as galinhas do Zarolho mas, uma vez patente o carinho que sentiamos e a saudade que vamos sentir dele, prefiro utilizar este espaço para sensibilizar-vos para a importância de tratar bem os animais. Nao têm de viver como principes, nem têm de ser tratados como Deuses mas nada justifica que sejam abandonados em meio de auto-estradas. Nao vos apetece levar o vosso fiel amigo nas próximas férias? Vao ter um bebé e já nao vos apetece que o Bobby partilhe casa convosco? Pois bem, há lares de acolhimento para esses animais. E, sobretudo, há gente que procura um fiel amigo, que tem o bom senso de nao pagar 500€ por ele e que, recorrem a esses centros de acolhimentos. Para esses centros de acolhimento funcionarem é apenas necessário que enviemos donativos para a alimentaçao dos animais ou que lhes levemos diretamente sacos grandes de comida seca. Um bocadinho aqui e um bocadinho ali e haverá uma data de Fiéis que deixarao de ser pisados pelos nossos carros, no asfalto português.

*Venatório= entidade semi-clandestina e gerida por caçadores. Tem como finalidade prevenir que os fiéis amigos nao cheguem aos coelhos, lebres e perdizes antes deles. Para isso têm uma soluçao simples: distribuem carne envenenada por regueiras e terrenos nao habitados. Quando os caes comem a carne, os caçadores ficam automáticamente sem concorrência.....A minha familia há uns anos acordou e tinha 4 caes mortos, espalhados pelo quintal....

1 comentário:

António V. Dias disse...

Este post é uma óptima forma de homenageares o "teu amigo". E com a tranquilidade de, em vida, o terem tratado bem (o que muitas vezes não acontece).

De resto, como é que vai tudo?

Beijinhos