segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Um avôzinho de conto: a história de uma alhaja

O avô do meu namorado está no hospital há 15 dias. Não há esperança de vida e também não há de morte. A avó, uma senhora de 79 anos, muito doce e especial recusa-se a sair do hospital. Há 15 dias que dorme nos bancos da sala de espera. Este fim-de-semana vi-a e entendi o mobil: está perdidamente apaixonada pelo marido. Tão apaixonada que não pode imaginar a vida sem ele.
Entre muitas lágrimas e muitos soluços, à medida que me apertava a mão com força, repetia vezes sem conta palavras de carinho dedicadas ao seu quase defunto marido e desesperava. Dizia "o que é que vai ser da minha casa sem ti, alhaja", "o que é que vão ser dos nossos filhos e dos nossos netos alhaja, alhaja" ; " ai ele estava tão feliz com os netos".
Alhaja significa jóia ou pedra preciosa. Esta velhinha , 50 e tanto anos depois, ao ver que o seu "camarada" não sobrevive aos anos e às doenças sussurra em desespero palavras de amor e ternura. E isto que vos estou a contar não é uma lenda que ouvi por ai. Tem ainda mais valor por ser uma história real, de um casalinho de velhotes a quem nunca vi darem beijinhos. Lembro-me, contudo, dos conselhos carinhosos que este avôzinho-dotado das 3 mais importantes característica inerentes a um avôzinho de conto:forte, barrigudo e fofinho-me dava "Coño, abriga-te", "Coño, que calças são essas que trazes hoje"...e tinha uns olhos muuuito sorridentes, sempre.

Ora, sendo eu uma romântica incurável não posso deixar de me comover com esta história de amor e de desejar que estas coisas sejam genéticas. Na verdade, cada vez mais me convenço que uma pessoa sabe, sem grandes rodeios, quando está perante o amor da sua vida. Por exemplo, este fim-de-semana o meu namorado, um doce de homem mas incapaz de grandes demonstrações de carinho em público, disse-me que se não fossem as circunstâncias [6 meses de relação+ eu trabalhar em Madrid+não-sei-quê(suponho que sejam estas as "circunstâncias)] me pediria em casamento agora mesmo porque tem muita vontade...Eu, romântica mas também muito independente e livre, corei e disse-lhe "NIM" enquanto sentia que os joelhos me fraquejavam, a boca do estômago se contraía e a espinha era percorrida por um calafrio ora agradavél, ora assustador...E, embora também ache que as circunstâncias não são as mais indicadas, sinto que este homem é a minha alhaja. E mais, no seguimento da imagem que tenho de mim própria, costumava constar uma aversão quase repulsiva à maternidade. E agora que esta alhaja española me saiu no El Gordo, até já estou disponivel para negociar a ocupação do meu útero e do meu ventre e nem me importo se o ocupante sair parecido com ele (claro, desde que tenha a minha inteligência, tolerância e sentido de justiça , a minha tendência esquerdista, o meu sorriso, as minhas sardas,a minha vontade de viver, a minha nacionalidade, os meus apelidos, enfim, tudo meu).

Posto isto caros leitores, esperando que o comentário que se segue não vos pareça egoísmo do mais feio, confesso que vendo a avó do meu namorado sofrer pelo que lhe vai custar viver sem a sua jóia, tive a certeza que o amor eterno afinal existe. Acredito que nem tudo será magia e que um amor assim não sairá espontaneamente das entranhas. Concerteza haverá um polimento constante. E a melhor noticia de todas, depois desta, é que afinal há Esperança porque de um momento triste, nasce um momento feliz e um leque de outras coisas ainda mais positivas.

Resumindo 1: Se o meu namorado um dia destes se fizer acompanhar de um anel (com a proveniência da pedra preciosa devidamente reconhecida que eu não quero patrocinar assassinos), dos olhinhos lindos que tem e de um pedido de casamento eu: desmaio, desmaio outra vez, soluço, choro, digo-lhe que sim e beijo-o perdidamente.

Resumindo 2: Já me afastei do tema inicial deste texto: el abuelo Jesus Melar Lopéz, um senhor infinitamente bonito por dentro e por fora, de quem vou ter muita saudades e que me vai fazer sentir muita falta das conversas que nunca tivemos :(


El abuelo

2 comentários:

D. disse...

E eu agora tenho os olhos cheios dumas poucas lagrimas feitas das lembranças dele, e o corpo vazio pela ausencia tua

Ofélia Queirós disse...

morreu esta tarde,poucas horas depois de eu escrever este post :(