sexta-feira, 11 de julho de 2014

As portas irlandesas

Detalhe de portas em Galway
Cartão de visita da Dublin, as portas coloridas não são um exclusivo da capital irlandesa. Também noutras cidades, vilas e aldeias, as portas dos irlandeses são coloridas e, geralmente, de madeira, de estilo georgiano.

Existem várias motivos e lendas urbanas que justificam esse facto. Eu andei a investigar na internet e, embora tenha encontrado algumas justificações bastante plausíveis, decidi quebrar o gelo e perguntar directamente a quem melhor me saberia responder: os irlandeses.

Infelizmente, a resposta não foi tão romântica como eu esperava. Primeiro pareciam estranhar o facto da Irlanda, sobretudo Dublin, ser conhecida pelas portas coloridas. Depois disseram-me que não era por motivo nenhum em especial. A escolha da cor das portas tinha a ver com o gosto pessoal do dono da casa.

Não satisfeita, continuei à procura de mais explicações e, consegui que as memórias ou conhecimento, fossem rebuscar informações mais elaboradas. Soube que as portas são coloridas porque as pessoas as pintavam segundo o Condado (distrito) do qual eram provenientes. Por exemplo, portas verdes para as pessoas de Cork. Assim, a tradição foi-se mantendo até aos nossos dias. Embora, a maioria da gente desconheça esse motivo, há uma espécie de lei municipal que impede os donos das casas de mudarem a cor das portas.

Mas, será  só esse o motivo?

Um amor muito real

Bom, vou então repetir as lendas urbanas que vi repetidas em enúmeras páginas da internet. Parecem-me bastante mais interessante e, segundo as minhas pesquisas, são essas lendas e teorias misturadas com factos históricos mas sem fundamento cientifico, que são apresentadas aos turistas nas visitas guiadas em Dublin.

Diz-se, pois, que a apaixonada Rainha Victória ficou devastada com a morte do seu Principe Albert, em 1861. Até aqui tudo coincide com a História. Aliás, o amor da Rainha Victoria pelo seu primo e marido Alberto é bem conhecida e costuma fazer parte dos livros que relatam as mais belas histórias de amor. O imponente Albert Memorial, em Londres deixa patente a devoção que a essa mulher tinha por esse hmem. E foi essa devoção e amor que a internaram num luto tão profundo que a afastou da vida pública e fez com que na época a monarquia perde-se bastante popularidade e os republicanos ganhassem terreno.

Voltando às portas irlandesas, na época da morte do Rei Alberto, a Irlanda estava anexada ao Reino Unido. Ora, isso era algo que desagradava muito aos irlandeses. Assim, quando a Rainha Victoria mandou que todas as portas fossem pintadas de negro como sinal de luto e respeito pela morte do seu amado, os irlandeses como protesto, fizeram exactamente o contrário e pintaram as portas o mais colorido que lhes foi possível para a época (reparem que então ainda não existia o rosa fuschia, o verde petróleo nem o azul klein).

Na minha cama com ela

Mas a minha teoria preferida tem a ver com esse costume tão irlandês de beber até cair para  lado.

Parece que muitos vizinhos, ao regressarem bêbedos, não conseguiam distinguir qual a sua casa e, por isso, repetidas vezes, se metiam na casa do vizinho. Conta a lenda que essa confusão de portas iguais e mulher-do-vizinho- com-direito-a-bastardos acabou numa recambolesca noite em que um irlandês, ao chegar a casa bêbedo, encontrou a mulher na cama com outro e os matou ali mesmo. O sanguináreo crime foi fruto da confusão das portas monocolor, porque em realidade, a mulher do bêbado –e agora- assassino dormia plácidamente numa casa ao lado, servida por uma porta normal e corrente, igualzinha à dos vizinhos assassinados.

Assim, as mulheres irlandesas, acostumadas ao assédio dos vizinhos que lhes irrompiam em casa a meio da noite e assustadas com esse terrível facto, decidiram pintar as portas de cores diferentes, para que os seus maridos bêbedos não se confundissem na hora de entrar em casa e não se pusessem para ali a esquartejar gente.

Como sempre as mulheres são a pedra e a cal das grandes decisões que se tomam neste mundo. Agora, a minha pergunta imediata ao ler esta última teoria lendária que justifica a palete de cores das portas irlandesas, foi “ Mães de Bragança, porque é que vocês não pensaram numa coisa assim, em vez de irem chorar a dignidade dos vossos pacatos maridos para as páginas da Time?”

Capa da Time, Outubro de 2003



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