quinta-feira, 26 de junho de 2014

"Não te esqueças de quem és"

Vista nocturna desde as Portas do Sol (miradouro de St. Luzia)
Não me esqueço de quem sou mesmo que por vezes me distraía dessa e nessa certeza porque a vida não vem com livro de instruções - e se viesse seria mais fácil?

Embora tenha já muitas dúvidas de donde sou porque tenho muitas bandeiras hasteadas orgulhosamente no meu coração, é impossível esquecer o sítio donde venho. Porque o sítio donde venho ainda me provoca suspiros de paixão...porque o mundo pode estar cheio de lugares ainda mais belos e perfeitos mas nenhum é este sítio cheio de tropeções, tantos altos e baixos e lugares de calma para contemplar ou simplesmente partilhar a beleza do que a vista nos oferece, uma metáfora da própria vida.

Tive o enorme privilégio de crescer numa família que me deu a oportunidade de me deixar ver crescer as minhas próprias asas. Deixaram-me voar. E ainda estou nessa aprendizagem bela e tão dolorosa (não dúvido que hei-de estar até ao ultimo dia da minha vida).
Sei por experiência que práticamente todos os voos só podem ser feitos por nós próprios. Não há substitutos, nem aditivos. E a grande maioria dos voos são, infelizmente, seguidos de aterragens difícéis e dolorosas. 

É, pois, por ser consciente de tudo isso, que não posso evitar sentir que a minha cidade é  a mais bonita de todas, e que o seu encanto me faz doer nesta hora que é, uma vez mais de despedida. Não sei já quantas vezes me despedi de ti Lisboa...e tu sempre estás aqui com essa luz bela e esses traços tão teus que fazem de ti a mais amada por mim.

Assim, como não posso deixar de sentir um enamoramento e uma saudade (saudade, saudade, saudade, saudade) sem fim das pessoas que sempre me recebem de braços abertos de cada vez que volto. E que com o tempo aprenderam a respeitar os meus voos e perceberam que a minha vontade de voar não é sinónimo de arrogância ou sobranceirismo, mas sim de Liberdade. As mesmas pessoas que percebem através dos meus relatos que a Liberdade tem um preço e que exige a maior das responsabilidades ("...Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates..." Álvaro de Campos) 

Quanto mais vezes volto menos dúvidas tenho em relação às pessoas que levo aconchegadas no meu coração de cada vez que parto. São essas gentes que fazem com que este cantinho tenha um sabor especial para mim e é neles que penso quando a saudade aperta. Obrigada por terem estado aí, uma vez mais.

"...nostalgia dos caminhos e aromas, de praças quadradas de cal e campos rasos sem fim, ou simplesmente do relâmpago de um olhar..." Eugénio de Andrade


Manu e Marta estou à espera da nossa foto/ António depois de tantos anos ainda não temos nenhuma juntos.


quarta-feira, 18 de junho de 2014

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Lo mejor es lo que viene

Eu estou melhor de tudo. Talvez seja do bom tempo que voltou em força. Há mais de 2 meses que durmo submersa no meu edredon mas com a janela aberta de par em par toda a noite. Deixo entrar o ar puro e fresco da Primavera enquanto durmo. Também o Sol me recompôs as energias. Não vou sentir saudades dos últimos meses. A minha cabeça e o meu coração deram tantas voltas que ainda me sinto tonta. É como se tivesse estado metida durante muito tempo na zona de rebentação das ondas. Tentava escapar à força dos acontecimentos mas não conseguia. Fui acumulando muitas coisas dentro de mim e um dia o meu fusível quase estoirou.Não posso dizer que tudo passou porque ainda me sinto no limbo mas sinto-me finalmente a caminhar nalguma direção e recuperei parte da minha criatividade. Já olho em frente. É mesmo verdade que tudo passa e tudo são créditos acumulados no amadurecimento. Agora que a nuvem negra já quer passar, olho para trás, e parece que é outra Sónia que viveu tantas coisas e que estava sempre a sonhar acordada com África. E Moçambique parece que já foi noutra vida.

Sinto-me outra vez na minha posição de lutadora pelos meus sonhos. Tenho vontade de perseguir com a determinação de sempre as coisas que eu acho que me completam ou para apostar em novos desafios.  Adoro Portugal. Lisboa é o sítio mais bonito do mundo. É uma cidade velha e suja mas é linda. No entanto, desde que voltei, que tenho vontade de ir embora. Tentei adaptar-me. Levei uma vida normal mas definitivamente este ainda não é o meu momento de “voltar a casa”. Por isso vou embora de Portugal.

Preciso de dinheiro para completar parte dos meus sonhos e em Portugal só vou empobrecer. Ou dou o salto agora ou vou passar outro Inverno sem fazer nada e a queixar-me das más condições de vida do país.  Quero voltar a estudar, fazer um Master ou uma especialização. Estou apaixonada por África.Preciso voltar lá, nem que seja de férias. Depois, até aos 30 a vida passa como se fossemos durar sempre mas agora, quando olho para o futuro, é estranho, mas já começo a pensar “como é que queres estar quando chegares ao 40?”. Ainda falta tanto tempo mas eu sei que quero fazer upgrades no meu bem estar.

Estou-me a recompôr e a voltar à luta. Sei que o caminho se faz para a frente e não penso voltar a parar tão depressa.


Azulejo na Rua da Vitória, Chiado

sábado, 14 de junho de 2014

Viva o Fernando Martins de Bulhões e os balões de São João

Quero dizer viva o Santo António, o santo padroeiro de Lisboa e, quase que arrisco a dizer, o português mais globalizado, embora a grande maioria dos que falam dele não saibam que ele é um português genuíno (seja lá o que for que isso significa). Nasceu em 1195  em Lisboa com a graça de Fernando Martins de Bulhões. Imagino que seria o típico beto do seu tempo porque teve acesso a uma educação de excelência e morreu em 1231 em Pádua, Itália, por isso é conhecido como Santo António de Lisboa ou Santo António de Pádua.
É igualmente conhecido por ser o santo casamenteiro por excelência, embora a minha colega da Venezuela me tenha dito recentemente que lá o Santo António é conhecido por trazer namorados que mal tratam as mulheres.

Bom, mas vamos ao cerne da questão que eu não vim para aqui falar de santos, que vocês sabem qual é a minha opinião sobre esses assuntos....O que eu quero é falar da alegria e folia do Santo António, em Lisboa.
Há anos que não tinha a oportunidade de desfrutar das festas da minha cidade e este ano estava claro que não podia faltar. Algumas semanas antes já as ruas estavam enfeitadas e prontas para receber os arraiais mas o que mais me surpreendeu foi a neblina de fumo e o maravilhoso cheiro a sardinhas assadas que cobria toda a cidade. Não me lembrava desse detalhe. 
Depois do trabalho juntei-me com uns colegas e fomos, depois de petiscar numa casa particular no coração de Alfama, para o bailarico no Largo da Graça. Por lá estivémos até quase às 5h da manhã. O clima, que tinha andado mal disposto, nessa noite estava ao rubro e a lua cheia enchia o céu. Impossível ficar em casa a dormir.
  
12/06/2014 no entardecer
No meu ponto de vista, o mais bonito destas festas lisboetas é o cariz tradicional inesperado por se tratar de uma capital. A verdade é que Lisboa nestes dias se transforma, ainda mais, numa aldeia pitoresca, mais pequena e tradicionalista que uma aldeia sem nome perdida no meio da serra. E é bom ver turistas misturados com os castiços dos bairros e as ruas cheias como em nenhum outro dia do ano.

 Há muitos, muitos anos eu também fiz parte das marchas populares. Fui a mascote das marchas de São Marcos e até hoje lembro as músicas e aquela confusão à volta das marchas, a ilusão com que os fatos e os arcos eram preparados.

Há muitos anos nas marchas de Santo António