"Gracias por haber existido Álvaro"

Se as boas pessoas deixam de lutar, as más acabam por vencer.

Foi no dia em que morreu o Saramago que comemos juntos, mais de 1 ano depois da despedida na Macedónia. Era também o dia do meu 27º aniversário. Combinámos em Lavapiés e, ao longe, reconheci imediatamente o casaco com riscas azuis e negras Curiosamente- e para infortúnio da minha memória- é o mesmo casaco com o qual sai retratado no anuncio da sua morte. Acompanham a foto palavras de reconhecimento e mérito. Retratam-no quase tal e qual como ele era porque, desconfio que aqueles que escrevem sobre ele, foram, algum dia, brindados com a sua beleza e, senão é assim, acredito que foram de alguma maneira bafejados pela sua grandiosidade.

Eu por mim continuo de alma partida pelo seu desaparecimento. Sinto-me tão indignada por tamanha injustiça como no dia em que os nossos amigos em comum me telefonaram para dizer que “o Álvaro já não está”. Penso e volto a pensar no sentido de tudo isto. Se as pessoas como o Álvaro partem assim, antes de tempo, quem vai ficar por cá para nos dar força para seguir a lutar contra as injustiças sociais? Quem nos vai ensinar a receber sempre com um sorriso? É que não estou a descrever um Zé Ninguém. Ele era realmente um tipo que se implicava com o contexto em que estava inserido e, sobretudo, que deixava uma marca profunda por onde passava. Tinha alma para dar e vender e, por isso, Madrid e o mundo estão mais tristes desde que ele foi brutalmente eliminado por uma condutora em excesso de velocidade e com demasiado álcool no corpo.

Consola-me pensar que garantidamente o Álvaro ia a sorrir e que foi assim que deixou este mundo mas…e agora quem me vai perguntar pela milionésima vez “Já leste o Ébano?”

Referência para que conheçam um bocadinho melhor a pessoa de quem falo:

- http://elpais.com/diario/2012/01/30/necrologicas/1327878001_850215.html