terça-feira, 30 de setembro de 2014

Insólitos Irlanda #4

Nem todos os insólitos têm que ser negativos ou chocantes. Este insólito que se segue é adorável.

Aqui em Carbury há uma vizinha que vende ovos caseiros. Em vez de lhe tocarmos à porta, ela pôs essa amorosa casinha em frente ao portão. Quando queremos ovos só precisamos abrir a porta e depositar o dinheiro correspondente à nossa compra na caixinha. Com toda a confiança e sem que, segundo ela, jamais alguém tenha roubado nada.


Epá, estes irlandeses caíem-me mesmo bem!



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Amor enjoativo

Entre os tratamentos cutchi-cutchi que os casais se chamam entre eles, há dois que me parecem autênticos cubos de gelo: filho/a e gordo/a.

NÃO MESMOO!


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A vendedora da Macaneta e o cessar-fogo entre a Renamo e a Frelimo

A praia da Macaneta, em Moçambique, tem uns bons kilómetros de areal. A água, não sendo azul coral, é de fazer inveja a muitas praias de resort turístico. Embora esteja nas águas do Índico, o mar ainda que quentinho, pode ficar bravo.
A Macaneta é o paraíso dos expatriados, aka, mulungos a viverem em Moçambique. Aos fins-de-semana e nos feriados, há longas filas que esperam pelo velhinho ferry. Para os entretantos há um par de agradáveis restaurantes montados à sombra de folhas de palmeira onde são servidos pedaços de paraíso em forma de peixe fresco e grelhado. Isso sim, o serviço é ao melhor estilo moçambicano: sorrisos grandes e bonitos e duas horas de espera para comer uma espetada. Afinal quem se importa com o tempo em África, senão os brancos? Desesperam ao longo dessas horas de espera, abanam a cabeça, pedem o livro de reclamações, tornam-se rezingões, prometem falar mal do serviço mas...depois voltam sempre porque, a final de contas, vale a pena esperar pelo produto final como em nenhuma outra parte.

Na única vez que estive na Macaneta passei 99,9% dentro de água como um peixe voador aos pinotes. O restante tempo -0,01%- estiquei-me no areal e fiquei com um escaldão horroroso. África não é para meninos!
Num desses poucos momentos em que estive no areal, uma vendedora de peixe que ia a passar pediu-me ajuda para tirar o alguidar da cabeça porque precisava descansar um pouco. Eu acudi muito empolgada e quase parti os pulsos quando apanhei a carga. O alguidar pesava uns bons dez kilos. Estava cheio de peixe fresquinho e crostáceos.
A vendedora ficou sentada na areia a descansar cerca de vinte minutos e depois voltou a pedir ajudar para pôr o alguidar na cabeça. Tinha percorrido a totalidade da praia para entregar o peixe fresco nos restaurantes. Essa era a realidade diária daquela mulher: percorrer kilómetros de areal com um alguidar pesado na cabeça. Em casa teria um marido bêbado e tantos filhos quanto a impossibilidade dos alimentar a todos. Quantas vezes não teria acartado um filho às costas, enquanto caminhava com o alguidar à cabeça? E quantas mulheres não haverá em Moçambique nas mesmas condições? E quantas dessas mulheres, que foram mortas nos últimos meses no centro do país nos ataques proliferados entre a Renamo e a Frelimo, não estariam a passar por casualidade com um alguidar na cabeça, quando levaram um tiro e não são sequer um número porque, de acordo com a comunicação social “...a crise político-militar, que provocou um número indeterminado de mortos e de feridos..."?

[Trouxa das oito couves
D. Josefina Amélia dos Prazeres Santos Tembe
viajando no tejadilho do calhambeque "Chapa 100"
ia à cidade de Maputo vender
uma trouxa de 8 couves
quando aquele frufru
da rajada não deixou.
José Craveirinha]


Por isso, quando hoje abri o jornal digital e li sobre o “sentido” abraço entre o Gebuza e o Dhlakama e os vi caminhar de mãos dadas como um apaixonado casal de namorados, não pude conter a raiva dentro de mim e reflectir sobre a irresponsabilidade deste momento que eles consideram cheio de simbolismo. E mais não digo porque me faltam as palavras e me dói a inteligência por saber que assim que as eleições terminarem, as vendedoras de alguidar na cabeça vão voltar a cair como “números indeterminados”.

Praia da Macaneta
Fonte: 
radified.com

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Irlanda: ponto de situação

Quando vivia em Moçambique conheci uma mulher nigeriana chamada Blessing. Tinha os olhos grandes e sorriso aberto. Uma simpatia tão espontânea que parecia que a qualquer momento ia pedir dinheiro emprestado. Sabem quando a gente não acredita que um estranho possa ser tão simpático? Na realidade, ela jamais pediu nada e fartou-se de convidar para irmos à casa dela.
Bom, mas o que ia dizer da Blessing é que ela era uma business woman lá na Nigéria e tinha deixado tudo porque se tinha apaixonado pelo marido, um business man instalado como comerciante num caótico bairro de Maputo.
Lembro-me que ela nunca entrou em detalhes sobre o que lhes tinha acontecido, mas afrimava que todas as provas que a vida lhe ia dando, ela ia superando, juntamente com o marido. E quando alguém lá na Nigéria lhe perguntava como estavam a correr as coisas, ela nunca dizia que estavam mal. E eu perguntei-lhe se ela era capaz de esconder os seus ânimos até mesmo da família, das melhores amigas e como é que conseguia. Já não recordo exactamente qual foi a resposta tintim por tintim mas a mensagem que ela me trasmitiu foi que quando somos irreverentes e fazemos algo que sai fora dos padrões a tendência das pessoas, mesmo aquelas que mais nos amam, é apontar-nos o dedo e dizer “vês? Eu bem te disse que isso ia acabar mal”. Fazem-no por amor ou por raiva por não puderem ser tão irreverentes. E, sobretudo, fazem-no porque os seres humanos temos todos um lado negro que não conseguimos controlar. Segundo ela, se ela contasse tudo o que lhe tinha acontecido, toda a gente ia dizer “volta para cá, não sejas louca”. Ela não queria voltar porque estava apaixonada e porque as dificuldades a mantinham cada vez mais próxima do marido.
Naquela altura, eu estava a viver uma situação muito delicada.Um dia a dia que me afastava cada vez do homem que eu amava e que queria acima de tudo. E, por isso, invejei a Blessing pela união que tinha com o amor dela e pela diligência com que contava o que lhe parecia conveniente. Até hoje, quando passo por momentos de dificuldades e dor, a minha tendência é expressar esses sentimentos, não guardá-los. E dá-me igual a gestão que cada um faz com aquilo que eu conto. Mas eu conto...Mesmo assim, penso muito na Blessing nestes tempos em que a Irlanda se tem revelado um fiasco às minhas expectativas.

Vim para cá, porque além de ser um país que me despertava muita curiosidade, recebi feed-back de algumas empresas ao meu CV. Diziam-me que me haviam de contactar quando eu já estivesse cá. Cheguei há dois meses, tive três entrevistas de trabalho e enviei já bem perto de um milhar de candidaturas a postos que requerem perfis iguais ou inferiores ao meu, candidaturas espontâneas, em toda a Irlanda, Bristol, Manchester, Madrid e Lisboa (os últimos dois já por desespero de causa e saudades de casa). Passam-se semanas inteiras sem que eu ouça o ridículo toque do meu telemóvel irlandês. Eu até entendo que tenham sido meses dificéis já que a maioria dos elementos dos departamentos de RH estão de banhos no Algarve e em Mallorca, mas a sério que já ponho a acéfala possibilidade de estar a ser vítima de bruxarias, porque não é normal haver tantas ofertas e tão poucas possibilidades de eu chegar até elas, e quando chego algo corre mal (espero ter a oportunidade de vos contar como têm sido as entrevistas. É insólito).

É muito lixado estar num país estranho, sem ter amigos, alguém com quem falar sobre o tempo, com o coração noutra parte e mesmo assim continuar a lutar todos os dias. Há dias em que termino apenada de mim mesma (e isso é o pior sentimento de todos e que traz mais complicações psicológicas), e outros dias em que acredito mesmo na velha máxima “tudo passa nesta vida. As coisas boas e as coisas más. Mas tudo passa”. Depois de tanto tempo a dar voltas às coisas- oito semanas quando se está numa situação apertada parecem uma eternidade muito pior que o fogo do mármore do inferno-só já penso em voltar para casa (e nesta parte fico confusa entre se a minha casa é Madrid ou Lisboa), recuperar os meus contactos, as minhas referências e assumir que dar à volta à questão é mais inteligente que continuar a insistir num caminho que não funciona.

E por isso, quando já me estava a mentalizar que o momento de encarar a realidade não podia mais ser adiado, aconteceu algo que me provou que nada acontece por acaso e que a vida é mas é uma grandessíssima cínica...

Mesmo assim, se se sentirem sózinhos, perdidos, desamparados, sem rumo ou ideias, não se esqueçam de rir de vocês próprios mesmo que por momentos vos pareça que estão a enlouquecer. Não percam a vossa irreverência e a vossa essência porque mesmo que isso não vos traga trabalhos, ajuda a atrair até vós pessoas de alto gabarito humano, capazes de vos pagarem em géneros valores que o dinheiro não alcança. (hoje estou optimista, normalmente quando estou chateada penso bastante em dinheiro e em como tê-lo poderia melhorar a minha vida).

Kanimambo a toda a gente que esteve desse lado de lá do meu email, skype e 96 sempre disposta a mais uma brainstorming.

O que será feito da Blessing?

Agora que reli este texto chego à conclusão que não era bem isto que eu queria escrever, mas vai fcar assim... 

Eu a enloquecer e a achar que estou em Ascot

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Ébola e a discriminação


"dis·cri·mi·na·ção 
(latim discriminatio-onisseparação)

substantivo feminino

1. .Ato ou efeito de discriminar (ex.: o exercício envolve discriminação visual). = DISTINÇÃO

2. .Ato de colocar algo ou alguém de parte.

3. Tratamento desigual ou injusto dado a uma pessoa ou grupocom base em preconceitos de alguma ordem.notadamente sexualreligiosoétnicoetc."

Fonte:priberam.pt


Esta história do vírus da Ébola começa a ganhar contornos assustadores, não só por questões óbviamente sanitárias, mas também por questões relacionada com os Direitos Humanos.

Vi esta foto no Expresso e não pude evitar ficar chocada, não pelo facto do presumível infectado ter dado à sola para procurar comida, mas pela forma como foi resgatado pelas autoridades sanitárias. Isto é um homem ou um animal? Se fosse loiro de olhos azuis seria tratado desta forma?

Fonte: expresso.pt

Lembro-me de há bem poucos anos se ter criado um histerismo absoluto em relação a uma gripe que já nem recordo como se chamava exactamente porque teve duas variantes, cada uma com o seu código. Uma dessas variantes vinha das aves e, portanto, cada vez que víssemos um pombo morto na rua, tínhamos como bons cidadãos de ligar para uma linha 24horas criada para o efeito e um grupo de astronautas recolhia o pombo e analisava-o em laboratório para descobrir se era ou não um foco de contaminação. As televisões acampavam em frente aos hospitais e às casas dos infectados e os telejornais abriam com um circo montado à volta dessa palhaçada.

Depois, veio a outra variante da gripe e não havia nem cão, nem gato que não tivesse à mão uma embalagem de alcóol em gel para desinfectar tudo e mais alguma coisa. Era a loucura...
Na ultima empresa onde trabalhei queixei-me por escrito às chefias do facto de o WC comum estar recorrentemente sem papel higiénico e sabão dias e dias a fio. E na altura lembro-me de pensar que isso há uns anos atrás seria impensável, caso contrário a M#p*$% poderia bem ser alvo de inspecção e visita dos astronautas de laboratório.

Agora o que eu nunca vi foi um mal trato humano tão descarado como vejo nesta nova crise sanitária. Nunca vi um português ser metido assim à força numa ambulância, muito menos um francês ou um americano. O primeiro espanhol contaminado com o vírus da Ébola, Miguel Pajares um missionário na Libéria, chegou a Espanha com toda a pompa e circunstância. Depois, coitado, acabou por morrer, mas dúvido que em algum momento o tenham tratado como gado.

Missionário Miguel Pajares à chegada a Madrid
Vejam as diferenças e tirem as vossas próprias conclusões...


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Webuy.com

Há cerca de duas semanas, como estava aborrecida dos filmes de baixa qualidade e dobrados em espanhol, fui a uma loja de electrónica em segunda mão e, na secção de dvds, comprei três filmaços. No total paguei 9,90€.

Escolhi “A árvore da vida”, com o Brad Pitt e o Sean Penn; “The Good Shepherd”, com o De Niro, o Matt Damon e a Jolie; “My left foot” com o Daniel Day-Lewis. Todos eles filmes premiados e que eu há muito deseja ver.

Como gosto de andar ligeira de bagagem e, como dentro de pouco vou mudar de cidade, voltei à mesma loja para negociar com eles a revenda dos DVDs. Foi tudo muito rápido, com muita simpátia e agilidade. E como o último dado a ser mencionado é o preço inegociável do negócio, enquanto aquilo tudo se processava de forma automática, eu ia pensando com os meus botões “bom, pelo menos há-de dar para pagar o almoço, uns cinco euritos, quase de certeza”.

Qual não é o meu espanto quando a grande CABRA me diz “Se quiseres levar outros produtos da loja pagamos-te 2,5€, se quiseres o dinheiro pagamos-te 1,20€”...eu ainda pensei que fosse esse valor por cada um dor artigos, mas não...era mesmo a totalidade. Eu ia receber 1,20€ pela revenda de três filmes premiados, comprados duas semanas antes por 9,90€. Acabei por fechar o negócio por 1,70€ mas saí da loja com instintos violentos e arrependida de não ter doado os filmes às mil e uma lojas de caridade que existem em Cork.

E muitas vezes meus caros, este é o lado negro do conceito “segunda-mão pelo bem do meio-ambiente”. Óbviamente que fico satisfeita por poder aceder a artigos de segunda-mão que estão em muito bom estado e a preços acessíveis, mas nalguns casos ( talvez em mais casos do que seria desejável) há um tubaraozão a comer os pequenos peixinhos bem intencionados.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014